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mercoledì 31 dicembre 2014

O Ye Tongues (Tradução Bem Livre do Segundo Salmo, de Anne Sexton)

[Da última parte dos Death Notebooks de Sexton, em transmutação]

Porque eu rezo para que haja um Todo-Poderoso que abençoe esta sucupira preta onde todos mijam.
Porque eu rezo para que haja um Todo-Poderoso que abençoe os dálmatas que pulam como manchas no sol.
Porque eu rezo para que Bia Medeiros, a quem eu não conheço exceto por dizer bom-dia, encontre em mim com boa-vontade um simulacro desengonçado de algum clitóris master (ou infinito).
Porque eu rezo para que as borboletas tão assassinadas quanto John F. Kennedy não reparem que eu não reparo no seu voo messiânico.
Porque eu rezo para que meu hábito de inalar oxigênio não deixe Anaxímenes encabulado.
Porque eu rezo para que uma alegria saia de uma gaveta mal-fechada e consiga espantar as moscas que ficam dando volta em volta do seu nariz.
Porque eu rezo para que meu casaco que me faz coçar encontre repouso no cabide.
Porque eu rezo para que minha filha toque as sementes das frutas com orgulho.
Porque eu rezo para que eu não me torne o carcereiro dos meus desejos.
Porque eu rezo para que meus arquivos não parem de arquivar meus pontos finais e minhas vírgulas.
Porque eu rezo para que Reginaldo Gontijo, que aparece sorrindo na foto, sorria quando ouvir seu nome falado no meio das línguas.
Porque eu rezo para que caiba mais um livro ou dois na estante.
Porque eu rezo para que minha gata entre no paraíso carregando seus olhos.
Porque eu rezo para que eu encontre no bar da 408 a Annarquista de Cristo, o Camier e o Mercier e não o secretário-de-estado-xaxim.
Porque eu rezo para que o par do curioso de óculos redondo e a namorada de macacão jeans de alça caída observe que eu faço par com eles.
Porque eu rezo para que a comida que eu como de corpo e alma me queira gostoso.
Porque eu rezo para que a árvore-monstro da 406 solte a L2 do chão e faça ela levar a bicicletinha do Oziel para o alto-falante.
Porque eu rezo para que sejam abençoadas as esperas, mesmo as sem esperança.
Porque eu rezo para que a noite seja uma picada no mato com um caminho de volta do regato.
Porque eu rezo para que os formulários do ministério da saúde e os mosquitos da dengue encontrem um equilíbrio através de alguma mão invisível, ou pé, ou boca.
Porque eu rezo para que eu não me encolha de medo com o exílio.
Porque eu rezo para que eu não me encolha de medo com o buraco da morte.
Porque eu rezo para que Deus me engula.

lunedì 29 dicembre 2014

The intensity of pictures

I've been reading some poems of the Death Notebook of Anne Sexton.
I paused in her Hurry Up Please It's Time, named after that repeated verse in the second part of Eliot's The Waste Land. It is a verse that brings in the daily hurry through which time goes by - and how else could it pass by? Indigestion, buying bracelets, a dinner invitation on a warm day, ketchup. It is time "yet waiting to die we are the same thing".
Hurry up please it's time was the name of an Opera in a Parking Lot 5 years ago where I was a Heraclita, one of many, having the obscure perhaps being transformed in gender and number. Those old women we were, bleeding as if there were "twenty people in my belly"... they were rushing into waiting, rushing into being ready for something else. Slow like a butoh, I walked around the stage shouting few things. Maybe I was immortal, not immortality of achievement, but immortality of waiting. "Hi-ho the derry-o, we all fall down". Mortality is not about death - it is maybe about fear - but it is about waiting. The mortal is under an unknown spell - this is why I proclaimed that no star holds up my future, the insects do.
The intensity of the picture is enough for me. I don't mind how sad or upsetting a film or a book is - to have a convincing picture is the pinnacle of overcoming the uninspiring. In pictures also dwells Coetzee in his Elizabeth Costello episodes. Dialogues are indeed sometimes explicit scaffolding for pictures. Anne Sexton is summoned in the poem: "Interrogator: One day is enough to perfect a man. Anne: I watered and fed the plant."
Peter Handke, in his Essay on Tiredness, is also summoned by an interrogator of sorts. Handke speaks of the heartlessness of his attempt to content himself with "investigating the pictures, or images, that my problem engenders in me, with making myself at home in each picture and translating it as heartlessly as possible into language with all its twists and turns and overtones." Then the interrogator comes in asking about Handke's remarks on the tiredness of working in common and comparing it with the tiredness of solitary work. Handke replies: "When I told you all that, it wasn't for the sake of contrast, but of the pure picture; if such a contrast nevertheless forces itself on the reader's attention, it must mean that I haven't succeeded in communicating a pure picture. In the following, I shall have to take greater care than ever to avoid playing one thing off, even tacitly, against another or magnifying one thing at the expense of something else, in line with the Manichaean all-good or all-bad system, which is dominant nowadays even in what used to be the most open-minded, opinion-free mode of discourse, namely storytelling." Storytelling play on differences. Or rather, in affirmation. We bring something to the fore - in doing that, nothing is said about what remained at the backstage. Negation, in storytelling, is not a non-picture, is another picture with specific details to it. It is not a ready-made picture, dependent on an opposite picture. Negation always invoke the issue of how something is negated. The contrast is an after-effect.
Negation takes place within the space of intensities.
I suppose I think in pictures, in plots and not in oppositions: to affirm rather than to dwell in contrasts. Ontoscopy, maybe; we can find a picture to see something, maybe because perceiving is always creative. I wonder whether this is a non-religious, maybe mystical way of pursuing salvation: there is nothing in itself to be avoided, it is always a matter of how. The adverbs attract me. Pictures. Not substances. I don't believe in them. I don't believe in picture-less substances. In particular, I don't believe in structured negation - that ultimate substance with a ready-made intensity. It presents itself as if it is just the opposite, or rather, a opposite. To me, the macabre, the monstrous, the dark are themselves differences while negation make them all about the same thing. Determinate negation is the opposite of a picture. I'm not sure arguments can always be replaced with pictures - I bet they nevertheless do the complete service. Not the whining.
The picture is in line with the question. How. Questions are what friction pictures, shake them up. Not answers, not contrasts. Sexton closes the poem writing about the intensity of asking:
"Of course earth is a stranger,
we pull at its arms
and still it won't speak.
The sea is worse.
It comes in, falling to its knees
but we can't translate the language.
It is only known that they are here to worship,
to worship the terror of the rain,
the mud and all its people,
the body itself,
working like a city,
the night and its slow blood,
the autumn sky, Marry blue.
But more than that,
to worship the question itself,
though the buildings burn
and the big people topple over in a faint.
Bring a flashlight, Ms Dog,
and look in every corner of the brain
and ask and ask and ask
until the kingdom,
however queer,
will come."

The fury of God's good-bye (Anne Sexton)

One day He
tipped His top hat
and walked
out of the room,
ending the argument.
He stomped off
saying:
I don't give guarantees.
I was left
quite alone
using up the darkness.
I rolled up
my sweater,
up into a ball,
and took it
to bed with me,
a kind of stand-in
for God,
that washerwoman
who walks out
when you're clean
but not ironed.

When I woke up
the sweater
had turned to
bricks of gold.
I'd won the world
but like a
forsaken explorer,
I'd lost
my map

lunedì 22 dicembre 2014

"amar os pombos mais do que os humanos", de Nuno Oliveira

ainda agora vi um desses pobres possessos, o tipo amava mais os pombos que os humanos e esse foi o seu crime, estava no jardim da Gulbenkian... um puto de uma família que estava um pouco afastada, correu para os pombos que um quase pedinte tinha entre si como grupo de também pedintes, dava-lhes pão, usava um saco desses do expresso já quase sem as letras, o puto chega e vai de tentar dar um pontapé no pombo, o tal da rua tenta empurrar o puto, o pai e o amigo vai... pareciam desses ex-jugadores de ragby, vai... tentaram esmurrar e empurrar, o tal da rua, entretanto chamaram a policia, por certo para mais uma vez humilharam o parvo de parvo...
e neste caso ainda, podemos dizer que este pedinte está possuído de "amor de pombo"...

sendo assim "Quando a conduta de alguém se desviava do padrão comum, e se fazia acompanhar duma certa perturbação da razão, havia a suspeita que a pessoa andava dominada por um ou vários espíritos diabólicos.", poderemos pensar que a normalidade, desvio de uma comportamento normal, estará condicionado não pela média tirada entre todos o grupo de normais e anormais que existem, mas mais perante uma naturalização condizente com os valores, positividade por quem de direito, quem exercer a ideia do que é direito faz passar,
neste caso o tipo, poderia especulando ter tido infelicidade de se ter afeiçoado aos pombos, antes ou depois de pelas vestes ter ficado pobre, mas vamos ver qualquer lapso pode, burrice ou esperteza, pode fazer um tipo ficar pobre e numa espiral de incongruência um tipo ainda, já nem falando em fazer família, um tipo pode ainda ser preso porque deu um safanão e esse outro puto que destruía a fragilidade dessa outra espécie, os pombos, está bem que não eram borrachos, mas os pombos são frágeis comparadas com as gentes da nossa espécie. A possessão neste caso o desvio é provado por comportamento anormal, e implicaria não tanto a questão de como é que os ditos cujos são, o Pai do Pombo e o Pai do Puto, mas mais um desvio da positividade do sitio. E ainda neste caso aquilo que temos como assunto do foro psicológico poderá ser mais do foro político... Digamos se a normalidade, considerando for um assunto só por si não equivalente a uma ética, ela pode bem ser uma doença que cria os seus próprios pontos de vista do que é a cura, e estaremos aqui a digladiar não tanto valores universais mas mais ideologia. Voltando ao Pai do Pombo e ao Pai do Puto, (...)

Texto da estréia mundial do MC Bicho Bicha ontem



(Na árvore-monstro 3, em 20 de dezembro de 2014)

O poder da bicha
É o poder do bicho
Do bicho que devora quieto
Do bicho papo reto
Do bicho que se entrega
Tuas feras soltas, tuas asas
Teus ciscos, teus rabiscos.
O poder do que cresce no lixo,
do carrapicho e do capricho.

O poder do bicho bicha
É o poder larval
Que te seduz, como um animal
Que te desmonta
Não segura tuas pontas
Te afronta, te deixa tonta
Te espicha a salsicha
Te esguicha
Até que cai a ficha
Nem tenho filo nem espécie,
Sou só bicha.

Como todos os bichos
Concentrados num só animal
O filho da terra
Que não quer ser só mais um mano humano
Devastador.
Chama a mina colorida
Que é feroz e graciosa
A mina que é a pachamama,
É condor, serpente e llama
Peixe, girino, iguana
É uma mina americana
E pode mais do que o Obama,
Que o papa e o dalai-lama
Chega junto, te inflama
E não fica cercada, fechada,
Amordaçada, domesticada, encurralada,
Apertada, silenciada, atropelada
Que ela não é só natureza, morou?
Que é só coisa do IBAMA
Ela quebra a cama
Essa mina, a pachamama

E eu sou seu chifre Caribú
Dadivosa
Que eu sou homem-viado
O mestre das renas doces
Que se entregam aos caçadores
Que agradecem no jantar
Que este aqui é o meu planeta, vagabundo
E pra comer tem que pagar
Não com o dinheiro do açougue, filé
Mas com a carne do teu bucho
E a ossada que tu usa, mané
Pra te sustentar

Caribuuuuuu

O noise é o som da terra, mano
O som da lava, da água, do fogo, do chão
Da terra que não se compra
Nem se arrenda a prestação
É a nostalgia da onça,
Do pato, da cabra, do porco
Do mato, do tronco, da seiva, do lago
Da cinza, diamante, do ouro
Nas moedas de um milhão
A nostalgia dos processos indisciplinados
Nas máquinas que industriais engravatados
Entregam aos somalis escravizados
Que ficam milhões de horas encalacrados
No chão da fábrica amarelado
Telefones e chips contabilizados
Vendidos por outro imigrante proletarizado
E que é só material sem nome
É nostalgia do fundo da terra
O fundo disforme, queer, sem identidade
Onde o fogo engole o ar
Num flow de rap, neguin
O vulcão devora a pedra bolada
Num show de noise, que estremece os soldadin.
Caribuuu

Meu nome é ruptura,
É V de humanidade
É esquecer a espécie, parceiro
Quero som que faz teus osso requebrá
Geral enviadá, malandro revirá
Reprogramar teu travesseiro
Correr com os equezeiro
As nega colando velero
Misturada nos maloqueiro
E todos os batuqueiro
Montando açucareiro.

Nesta árvore monstro
Papai noel é o homem-caribú
Que te oferece cerdo cru
Pra tu comer ou pra comer teu macucu
Não é umas reninha, é trucuçu
É bicho broder, manda o som
computador no micro ondas
terremoto em teu angu.





martedì 16 dicembre 2014

Alfarrábio de caminhada

Pesado, isso é pesado eu queria ser lépido
Eu que sou.
Eu que sou
Metade sereia, metade hermafrodita.
Metade lobisomem, metade trans-humano,
metade cyborg.
Metade semideus.

lunedì 15 dicembre 2014

Revista das questões, lançada

Início do editorial da Revista das Questões, primeiro número.

Apresentamos com alegria o primeiro número da revista Das Questões. Ela é um efeito das nossas conversas sobre as tonalidades insuspeitas e subversivas no pensamento de Edmond Jabès. Com ele partilhamos o gosto pelas questões, partículas de hospitalidade, gatilhos de instabilidades. Quando uma questão perturba, o pensamento experimenta uma proliferação de começos. As questões sobrevivem nas respostas, mas como pensava Deleuze, elas sempre as transcendem. Assim, a demora nas questões nos levou a estes pontos de encontro que são também impasses: Filosofia Tradução Arte (sem hífens, nem vírgulas, nem espaço para respirações ou cesuras) . Era preciso por nossos pés na academia na largada do pensamento, e não mais na sua chegada. Era preciso acolher o pensamento indisciplinado, indisciplinarizado. Ocupado não com uma área, com uma linha, com uma língua ou com uma maneira de dizer – mas com as traduções, translações, entre elas.

A tradução é o lugar do meio onde alguma coisa é perdida, alguma coisa é recuperada, alguma coisa é ganha. É também diplomacia: um gesto das caras mas também uma coreografia improvisada de mãos, aquilo que escapa das mãos abertas, aquilo que fica preso entre pela força dos dedos. As traduções são sempre cheias de interstícios, mas porque elas mostram o incompleto do que já havia antes. Whitehead distingue entre o que precisa ser atenuado – que ele chama de aversion – e o que precisa ser enfatizado – que ele chama de adversion – para que a tradução entre a percepção física e o conceito possa ter lugar. Aversions e adversions são talvez ingredientes de toda tradução. É um balanço de intensidades. E as fronteiras são melhores quando elas balançam – e são permeáveis.

Como estamos ligados a dois grupos de investigação, o ANARCHAI e o Grupo de Estudos Blanchotianos e de Pensamento do Fora, a Revista se abre às produções destes grupos. O ANARCHAI pretende revirar o tema da proximidade e da distância entre ontologia e política, que muitas vezes é o espaço entre alguma coisa e nada de um lado, e alguém e ninguém do outro. O Grupo de Estudos Blanchotianos e de Pensamento do Fora se ocupa com o literário e o filosófico nas confluências que Blanchot e seu meandro insinuaram, e as pensa traduzindo. A Revista é uma sede para os temas destes grupos. Porém nosso intento é confabular uma comunidade mais ampla com quem não se apresse em parar de esticar, adensar e sacudir questões. Uma comunidade de quem faz questão do lapso, da deriva, da interferência presentes na experimentação quando ela arregala os ouvidos para captar o não-dito e o ainda-por-dizer.

Revista aqui.


Descontrole Perec Breton

L'automatisme avait toujours ses entrailles. Les règles les plus dures ses glissières. Je pense à toutes les premières lignes. Même de tout ce que je n'avais écrit jamais.

Christian Bök on slides (and bowels): even under duress, language expresses the uncanny.

Oui, ce soir-là plus beau que tous les autres, nous pûmes pleurer. On hissa sur son support. Des femmes passaient et nous tendaient la main, nous offrant leur sourire comme un bouquet. Ça n'alla pas trop mal. La lâcheté des jours précédents nous serra le coeur, et nous détournâmes la tête pour ne plus voir les jets d'eaux qui rejoignaient les autres nuits. Mais plus tard s'acharna un mauvais hasard.

giovedì 11 dicembre 2014

Griot (MC Marechal)

Meus rap são minha vida neguin
No show eu passo o sentimento que eles tem
Brota na mente dos amigo é minha também
Na mente de quem nunca viu, que isso tio, esse cara é quem?
Pergunta aos melhor que tu ouviu sobre as influências de onde vêm
Respeito pelos tapa na cara pra cada linha
E pelo foda-se pras gravadora, não rendo e monto a minha
Invisto em rap de mensagem com cultura porra
E ao mesmo tempo faço funcionar as calculadora
Se eu faço por dinheiro, às vezes sim Dom
Din que eu não posso dispensar pra continuar fazendo som
O que eu quero? o que faz eu me sentir mais vivo
Pois eu já me senti livre, hoje eu quero é sentir que eu livro
Sem querer ser o melhor, longe desses papo de vaidade
Quer ser o melhor vai ser o melhor pra tua comunidade
Um som por semana? não sou esse tipo de MC
Eu faço um som por ano e tu não fica uma semana sem ouvir

Mensageiro sim senhor
Vagabundo se emociona
Porque sente o espírito dos ancestrais, Griot!
Eu vim pra provar que a cultura não acabou

Sou mensageiro sim senhor
Vagabundo se emociona
Porque sente o espírito dos ancestrais, Griot!

(Mensagem Griot)
Eu sou o exército de um só
Sem facção, só faço a minha
Na VK ( vila kenedy ) Joaquim Oliveira , Santa Mata
ou Rocinha
Se parar pra perguntar, morador, moradora
Vai ver que eu fui por amor
A mensagem ainda é duradora porra
No botequin, com a rapazeada
Chego de chinelin, alguns neguin da nada
Só eu e os meus cdzin, batida mais bolada
Que eu e meu irmão Luizin produzimos de madrugada, Aí
Eu imendo a rima galopada cadência dobrada
Que os cara virada do nada ja viram pra cá pra pirar na flipada
Kickada que para a quebrada, quem tava ali fora já vem dar uma olhada
Quem tava indo embora já para e repara ficaram de bob
Bolaram no pique jogada de rir, malabares embala a levada
Sou tipo velin da embolada, pandeiro bolado me da coordenada
Palavra colada que são dedicado pra todos menor já com a mente focada
Ligado que cada parada que eu falo libera a verdade desmanipulada
Ja to nessa porra de rap da antiga e aprendi que o importante é mensagem passada
E não rimo nada, que não seja de coração
Os cara fala, filho da puta ele tem dez pulmão
E eu largo esses tipo de flow, às vezes só pra chamar a atenção
E falo que flow não é porra nenhuma se não tem nada de informação né não?

Mensageiro sim senhor
Vagabundo se emociona
Porque sente o espírito dos ancestrais, Griot!
Eu vim pra provar que a cultura não acabou

(Mensagem Griot)
E eles dizem que eu sou louco, ainda acredito em movimento
Mais que gravar, quero semear algo de valor pro tempo
"Mas a pista é São Tomé Marecha, a pista é que é exemplo"
As batalhas falavam merda, eu fiz a do conhecimento
Pra ter voz geral trabalha, nós por nós
Malcolm X forma que for necessária
Em breve coleta de livros nos evento em várias áreas
Incentivo pra ter mais bibliotecas comunitarias
Depois das bibliotecas um centro de estudo avançado
Pra substituir as escolas, seus métodos atrasados
Nos preparam pra ser escravos, não incentivam o raciocínio
Deviam mostrar marcos da história mais parecidos com Plínio
Explicam o domínio de quem fabrica o dinheiro
Faz quem produz seu sonho e suborna seu travesseiro
Faz tu acreditar que só sobreviver ja tá maneiro
O jogo é sujo, segundo grau pra ser lixeiro
Geral ta sem dinheiro, eu to bolado
Que volte a época que os MC's eram mais politizados
E quando show com renda pra revolução for anunciado
Isso é papo de 10 minutos os ingressos ter esgotados
Estádio lotado geral mostrando o que somos
Sobreviventes no inferno mais de 50 mil manos
Alguns deles descalços, pois jamais nos deslumbramos
Preferimos morrer assim, sendo donos de onde pisamos
Jesus, João Batista, Pensador, Gogh, Brown, Rakim, Gentileza,
Gandhi, Mandela, Marley, Fela, Lutherking
Pra ser mais um to na pista, filosofia Um só Caminho
E os meios justificam-se agora porque essa porra não tem fim.

lunedì 1 dicembre 2014

Extensão

Os mapas decepcionam as viagens como
os calendários decepcionam os dias.

Vendo tudo isto de bem longe de mim, o espaço
é o lugar atrasado, só abriga as ausências.
Impróprio.
Como uma ampulheta escoando grãos de areia
no acontecimento.
Também enxergam os besouros, os sapos,
os cisnes. Também enrugam.

Eu me recolho.

venerdì 28 novembre 2014

Ivaluardjuk

Para Lucas

Drogas, entorpecentes, substâncias (como se nada mais fosse, como se algo fosse), alucinógenos, plantas de poder (como se elas tivessem um ministério ou uma secretaria de Estado), psicodélicos, ontodélicos, geodélicos, tóxicos. Não sei falar delas. Nem sequer sei se todas elas tem o mesmo pedigree...
- Os antropólogos, ou a maioria deles, não fala dos acoplamentos entre as gentes que eles estudam e as ervas que elas ingerem. O Sonho dos totemistas da Austrália é a visão primordial que aparece em uma forma de consciência alterada. Mas os antropólogos preferem não falar das ervas associadas aos totens. Preferem deixar os totens ilúcidos, diz o Lucas.
Deve ser, eu penso, que não há mesmo uma antropologia, porque cada humano é uma circuitaria que envolve muitos tipos diferentes de elementos não-humanos. Não há Terenas, não há Campas, não há Arandas, não há Totonacas a não ser como associações de ingestões, de digestões, de rejeições. Cada uma destes emaranhados tem que ser tecido e retecido todos os dias - com materiais anônimos ou com as almas comidas. Uma gestão. Não há um máximo fator comum puramente humano por trás das associações devoradoras com os não-humanos. É por isso, eu digo, que não temos palavras para esta flora e fauna constituintes. Alteração de consciência - como se a consciência estivesse pronta e fosse alterada. Há coletivos, com elementos intragestivos e extragestivos. O tubo é que é o rio por onde nunca passa a mesma boiada duas vezes.
- Mas quando é que um estado entre tantos, uma certa configuração biológica, passou a ter estabilidade e a lucidez virou uma substância selada, certificada, etiquetada e empacotada?
O Lucas pergunta da caça às bruxas microbióticas. Pergunta às nuvens de chuva se armando no fim da manhã de novembro. Pergunta a uma Silvia Federici que procure o capitalismo nos rastros das microbiotas. Um regime alimentar, eu digo, é um regime: nós aprendemos que somos onívoros, e que tudo é comida. Comida, não mais que comida. Não é dádiva do não-humano. Não é roubo do não-humano. Não é peregrinação ao não- humano. Nem é acordo com o não-humano. É comida. Como se comer um boi fosse como comer um musgo. E chamar todo o resto de comida - nós não somos comida - é uma camuflagem.
- Mas a digestão, ele diz. Nas horas da digestão, a humanidade está em risco no corpo. É preciso andar na ponta dos pés como se estivéssemos no meio de um campo de batalha. Almoçou e tomou banho...
Na barriga, o palmito grudou na costela; a medula revirava soltando polvilho. Era uma tontura destas que não é nem ribanceira acima ou ribanceira abaixo. Era um estrangeiro em mim, muito acomodado, que eu acossava. Eu me contorço disfarçado: colocamos muitos joules de energia do planeta a serviço de manter a humanidade humana. Repetindo uma receita de híbrido. É um trabalho feito na surdina, como tantos outros nos supermercados, por trás das embalagens, dos pacotes, dos trabalhadores mal-pagos que carregam toneladas de mantimentos para as prateleiras da loja.





lunedì 24 novembre 2014

Namenlos

Todo acontecimento tem uma medula?
E nasce de um grotão como o que se passa conosco?
Um Rilke citado por C. Virgil Gheorghiu na página 383 da edição Bertrand
que traduz A Vigésima Quinta Hora, bem na hora em que
Traian Koruga se mata com um tiro dos outros
no último campo:
Erde du Liebe, ich will...
Namenlos, bin ich zu dir entschlossen - von weit her.

Tudo o que vem à terra vem assim de weit?
Ou apenas nós, medula de aço, nos entregamos à terra
como estrangeiros desconhecidos?

giovedì 20 novembre 2014

Carnaval e catástrofes

Um post deste blog de fevereiro de 2008, inspirou o texto que publico com o Ricardo Lobato em um livro sobre Carnaval e Filosofia a ser publicado em breve. Copio aqui dois trechos (um do início e um do meio do artigo):

Nas vésperas do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro de 2008, uma liminar da Justiça estadual impediu o desfile do carro alegórico que representava o terror dos campos de concentração e extermínio no enredo da Viradouro. O enredo tratava do que traz arrepio: dos maravilhamentos aos êxtases, dos medos aos horrores. A Shoah – a catástrofe judaica que adveio em concomitância com a Segunda Guerra Mundial - tem sido considerada um dos horrores da história recente e utilizada muitas vezes como parâmetro de massacre e extermínio,. Este parâmetro é usado nas comparações com a catástrofe palestina que se seguiu a 1948 (a Nakhba) , em outros massacres coloniais e até com o trato genocida de animais, como deixa explícito os discursos de Elizabeth Costelo no romance homônimo de Coetzee (2004). Ela é também uma medida das capacidades de controle pela destruição na modernidade (Bauman, 1989; Agamben, 2008). As imagens dos campos de concentração e das câmaras de gás se tornaram ícones do apavorante, da extrema violência e da crueldade na cultura ocidental. Muitos filmes, romances, peças de teatro e até mesmo poemas foram feitos sobre o extermínio como partes de diferentes mensagens e mostrando os acontecimentos sob diferentes vieses. Até então o tema não tinha aparecido nos desfiles de escolas de samba.

A liminar foi apresentada pela Federação Israelita do Rio de Janeiro alegando que o tema da Shoah era inapropriado para um desfile de carnaval, que tem espírito festivo e de alegria, humor, descontração e erotismo. Os desfiles não seriam lugar apropriado para pensar o horror – nem sequer sob a forma da questão sobre o corpo arrepiado – já que estão confinados à festa, onde não caberiam certos pensamentos. A liminar insinua que o tema da catástrofe judaica cabe em filmes, romances e até em poemas – mas não em desfiles de escola de samba. Que pensamento foi este que impediu a exibição do carro preparado pela Viradouro para representar a catástrofe? Aquele quinto carro teve que ser substituído por uma alegoria sobre a censura onde se lia “Liberdade ainda que tardia – Não se constrói futuro enterrando a história” em meio a pessoas amordaçadas – e uma imagem de Tiradentes. O carro com a escultura dos corpos retirados da câmara de gás não desfilou. Em seu lugar, o arrepio da mordaça.

Um dos elementos alegados pelo pedido de proibição da exibição da alegoria pela Federação Israelita do Rio de Janeiro foi o plano do carnavalesco, Paulo Barros, de colocar um passista vestido de Hitler sobre o carro no desfile. Paulo Barros havia já vinha introduzindo inovações em carros alegóricos nos desfiles que fez para a Unidos da Tijuca desde 2004. A concepção de Barros era de colocar elementos humanos na escultura das alegorias – e ao invés de passistas sobre um púlpito, ele introduziu dançarinos em grande quantidade fazendo movimentos sincronizados. A sincronia da dança dava um elemento vivo à alegoria ela mesma, e os movimentos refletiam eles também elementos do enredo. Foi assim com o carro do DNA onde pessoas pintadas de azul faziam movimentos espiralados. Também foi assim com os amordaçados que vieram na alegoria que substituiu aquela que havia sido proibida: pessoas amordaçadas faziam movimentos sincronizados, não dançavam samba, não eram passistas. Na Viradouro, Barros pretendia com este enredo transversal, tentar pensar o arrepio que, como algumas outras reações corporais, responde a humores muito distintos.

[...]

Nos últimos 50 anos, as escolas de samba aceleraram sua história tornando possíveis muitas transformações que vieram a permitir que diferentes coisas passassem a ser tematizáveis nos desfiles. Um elemento importante introduzido pelos desfiles do Salgueiro de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues nos anos 60 e início dos anos 70 foi os temas da história africana do Brasil. Pamplona, formado na Escola de Belas Artes do Rio e cenógrafo do Teatro Municipal, entrou no carnaval do Salgueiro em 1960 e procurou um enredo histórico ainda não abordado pelos desfiles no passado. Obteve naquele ano o primeiro título para o Salgueiro com o enredo sobre Zumbi dos Palmares. Em 1963 o Salgueiro ganhou outra vez o carnaval sozinho pela primeira vez com um enredo que tratava de Chica da Silva, como uma heroína negra. No ano seguinte, foi a vez de Chico Rei.

O desfile de 1964 foi, portanto, sobre a Maafa – a catástrofe africana. A Maafa foi composta pela organização de campos de trabalho forçado em dois ou três continentes, pelo organização da vida das pessoas em função da produção, do tráfico sistemático de pessoas e do extermínio de todos aqueles considerados inadequados para o regime de escravidão (ver, por exemplo, Roberson 1995) Assim como a Shoah ou outras catástrofes, a Maafa também foi um episódio (longo) de escravização e genocídio cometido de maneira sistemática e legitimada de tal maneira que não havia espaço, no sistema escravagista, para nenhum recurso, nenhum apelo, nenhuma instância de implementação de justiça. Assim como a catástrofe judaica, a catástrofe africana também é vista pela história dos vencedores como o massacre contra um povo (ou um conjunto dos povos). Do ponto de vista dos escravizados e dizimados, trata-se de um ataque sem razão nenhuma. Sem presságio. Sem antecedentes. Sem fio condutor. Como diz o samba do Salgueiro daquele ano, “um dia, ...[a] tranquilidade sucumbiu, quando os portugueses invadiram, capturando homens para fazê-los escravos no Brasil”.

A história contada no enredo do Salgueiro – a de Chico Rei – é uma história de adaptação ao status quo escravocrata. O rei capturado compra sua alforria – e a alforria de seu pessoal – e depois compra terras e tem escravos, adota o nome de Francisco e se converte ao catolicismo e, por fim, ergue a igreja de Santa Efigênia do Alto da Cruz em Ouro Preto, uma igreja para os negros alforriados. Trata-se de uma história de cooptação do escravo – mas também, como viu o enredo de Pamplona, de uma história negra de êxito. Uma história, contudo, traçada pela migração forçada, pelas mortes precoces e pelo assassinato dos inábeis. Também pela destituição de toda uma maneira de pensar e de saber – a cooptação de Chico Rei coroa um epistemicídio sistemático.
Os carros de navios negreiros, com todo seu sofrimento e desolação, passaram a se multiplicar nos desfiles. O tema já havia sido enredo do Salgueiro em 1957 (“Navio Negreiro”), e continuou sendo uma constante nos carnavais. Por exemplo, em 2012 dois carros exuberantes de navios negreiros entraram na avenida, da Beija-Flor (em “São Luís – Poema Encantado de Amor”) e da Vila Isabel (em “Você Semba De Lá Que Eu Sambo De Cá – o Canto Livre de Angola”). Nestas alegorias, frequentemente há passistas que seguem a cadência da escola, sorriem e dançam. Talvez se possa dizer que a presença dos navios negreiros banalizou a Maafa e que, talvez, a liminar procurou evitar que o mesmo se desse com a Shoah. O argumento não está presente nos documentos que nortearam a proibição do carro alegórico da Viradouro em 2008 que não faz nenhuma menção à catástrofe africana e nem sequer ao que aparece nos desfiles das escolas nos últimos anos.

Porém o argumento em si mesmo é duvidoso: os muitos carros alegóricos fizeram parte de uma presença constante do tema da catástrofe africana no carnaval em um país onde não há sequer um museu dedicado ao massacre perpetrado pelo status quo brasileiro e por seu antecedente colonial. Ainda que possa ter banalizado a associação entre carnaval e navios negreiros, as alegorias fixaram na cabeça do público que foi através de navios de concentração que a população africana chegou para quase toda morrer nos campos de trabalhos forçados no Brasil. Os carros também evocam a destituição dos coletivos que foi a catástrofe africana. Talvez um efeito similar pudesse ser alcançado com alegorias como aquela que Paulo Barros tentou colocar na Sapucaí. Talvez a história de muitos judeus, ciganos e outras vítimas da Shoah no Brasil ficasse evidenciada e refletida pela alegoria. De todo modo, aquilo que os desfiles promovem é múltiplo: é da ordem de um resgate de uma identidade, mas também da capacidade de crueldade, da memória e, potencialmente, do arrepiante.

Neurogenesis (by divij b.c)

Freaked out on the stair,
while staring at a hunchbacks flair.
soon he damn turned in to a flare.
Flames caught the curious eyes of a baby picture
collapsed in to pieces of a feathered creature,
tried to cry on the death of a faceless preacher.
Did i make this human portrait
which looks like a piece of wrinkled paper.

mercoledì 19 novembre 2014

Yes, indeed, words and us teach each other

fragmented, fragmented
tormented, tormented
demented, demented
cemented, cemented

i got it


venerdì 31 ottobre 2014

Colcheias soltas

Ao L. A. de Lima, que sabe lesmar


encontrei um pente fino
branco, daqueles que vem com os remédios
de exterminar piolhos da cabeça.

eu que sou acéfalo
passo o pente nas escritas do mundo
já que entre os fios das literalidades
tem muitas lêndeas de analogia
ou patas de metáfora.

largo as sobras na beira do rio
em uma pedra cheia de musgos.

como dentro dos conceitos só há cadência,
ficam colcheias escorregando no limo
como Luis Augusto de Lima
escorregando em um saco de dormir
pela sua cozinha
untada de manteiga.

venerdì 24 ottobre 2014

Sobre catástrofes (e não holocaustos)

Me perguntaram sobre a Nakhba e a Shoah depois de ver o filme
sobre os limoeiros de Salma.
Na história dos vencedores, uma justifica a outra:
uma ---------- a outra.
A história é dos vencidos
é a de quem viu o assombro chegar sorrateiro:
o outro que devasta,
o outro que pisoteia e é
demasiadamente humano e
pisoteia e devasta não os judeus ou os palestinos.
Quem morreu na Shoah, quem morreu na Nakhba,
morreu por porra nenhuma.



lunedì 13 ottobre 2014

Truth-taking stare (David Wojahn)


... in which generally the patient has the sense of having lost contact with things, or of everything having undergone a subtle but all-encompassing change, reality revealed as never before, though eerie in some ineffable way.
—Louis Sass

Or gallery. Or strange askew museum. Or painting of a hotel bed
with some cheap print above the headboard. (Palm tree or a sleigh
pulling Xmas trees.) Or the day two-dimensional, subzero

as I run the beach along the frozen lake. The waves
lathed to Hokusai spirals. Cold gallery, every inch
of wall space covered, park benches derbied by snow.

House designed by Frank Lloyd Wright. House for battered women.
House of the servants of His Godhead Reverend Moon
Who plots in some Seoul penthouse His glorious

death and resurrection. Ten minutes ago I left you
to the laying on of hands. Maria talking fast in glottal
Polish, and the physical therapist, hugely blonde,

lifting your legs, white cocoons of the casts. First up,
then to the sides, the hospital bed in the living room
hulking, whirring as it moves along with you.

To talk of this and you directly, though I can’t.
To heal you with my own hands though I can’t.
Legs not working, hands not working, tongue encased in plaster.

The tongue going numb with the hands. Why my friend Dave
loves jazz: to hammer and obliterate the words,
nullify too the wordlessness. “Blue Train” on my Walkman

as the Moonies leave from house to van, lugging crates
of silken flowers. Blue pills that didn’t work.
Then my month of yellow pills. To not metamorphose

to my father writhing as the charges surge
from temples down the spine, a dog’s twitching legs
in sleep. To mollify with acronyms: ECT, Odysseuses

and Tristans of PDR, yellow Prozac, sky blue Zoloft.
To heal you with my own hands though I can’t.
The day two-dimensional. (Past and present and to dwell

in neither.) Truth-taking stare. Height and width,
no depth. On a screen the paramedics ease you
from car to ambulance, having labored with a crowbar

at the door, and I push again through the crowd
on Thorndale. This is my husband. Please
let him come with me. The inside of the ambulance,

overlit. Not a scream, the mute button pushed.
Generally the patient has the sense ... To watch
the memories shuffle on a screen. To Portugal ten years ago.

Our Lady of The Wordless Stare. The Bishop of Leiria
in sepia on the gallery wall, his hand that waves
a sealed envelope. Caption: “The Famous Third Secret of Fatima.”

The visitor’s center, thronging with white habits.
The road to the Basilica flanked by tourist booth, a wax museum.
Faces of two nuns who point to every photo, who’ve fled Cambodia,

one who speaks some English, and the beautiful younger one
whose tongue was “excised” by the Khymer Rouge—
on pilgrimage, thanksgiving for deliverance.

Their charter bus from Nice is parked outside,
pneumatic door and motor humming. Our Lady of the Wordless
stares at me. She stares .... And I’m shaken out of it

by helicopter stammer, drowning Coltrane,
all sixteenth notes as the Moonies reach the left of the frame.
Dissolve, myself, from the right of the frame. Synesthetic

whir of chopper blades, six hundred feet above the lake.
Then the picture empty. And the lake with wind anointed.
And the lake with wind. And the emptiness, anointed.
David Wojahn, “Truth-Taking Stare” from The Falling Hour. Copyright © 1997. All rights are controlled by the University of Pittsburgh Press, Pittsburgh, PA 15260. Used by permission of the University of Pittsburgh Press.

Source: The Falling Hour (University of Pittsburgh Press, 1997)

mercoledì 1 ottobre 2014

Excremento

Existe aquela violência de um cabresto que te empurra pro curral.
A voz de um homofóbico,
as caras de um daqueles que se acostumaram tanto
às suas dobras
que querem dobrar com elas o universo.

Eu queria excrementá-las todas.
Ser um grande início de tubo digestivo
e pairar
e erguer tótens de cus pelas colinas.
Porém me retenho.
Deve ser que a liberdade esbarra na igualdade.
Deve ser que eu não posso criar outra espécie:
a que só se incrementa excrementando.

Mas algum dia, que cagada,
eu desagravo.

domenica 28 settembre 2014

ESCALA, de H2A (Heitor Humberto de Andrade)

Toda vez
que olho pela janela
do apê em que moro

vejo uma rosa
num círculo
de terra

Os pássaros
gorjeiam
nas árvores

O céu sempre
belo: seja
dia ou noite

A poesia
é imensa
e bucólica

e eu sempre
angustiado
com essa falta de dinheiro.

giovedì 25 settembre 2014

Hei

Recorda-te: não vai te acostumando a cada dia com a dilaceração.
Vai haver um dia o minuto da comunidade do êxtase..

Se estiveres acostumado aos restos,
serás porco para as pérolas,
serás abismo para teu corpo.

O mês de Devrim

3 de setembro choveu
Eu pulei a janela do prédio para abreviar o caminho até a classe que eu assistia de Poéticas Contemporâneas 2. Cheguei molhado. Eu tinha trazido 20 imagens para começar um atlas e 10 massinhas coloridas. Eram 10? Gostei muito da branca.
10 de setembro foi o parto: de manhã cedo.
Teve aqueles 40 minutos, nomeados mais tarde pelo pediatra, em que a recem-nascida começou a vida como outra que olha, e me olhava como se fosse me encontrar de uma só vez. Depois isso passou e ela começou a vida como recem-nascida. Quase sem ver muito ao redor.
17 de setembro foi na rua, seca como em 10 de setembro. Mas eu estava nela.
As duas da tarde fiquei atravessando pela faixa de pedestre a rua entre a rodoviária e o conjunto nacional. Estava ensinando um curso, conceitos como personagens, que pedia que nós pedíssemos para segurar na mão de alguém para atravessar a rua.
24 de setembro, último dia de 5774 e, no fim da tarde, da janela de Poéticas Contemporâneas 2, começou a chover. Agora a seca acaba mesmo, é esta, pensei, aquela chuva divisora de águas. Dois anos atrás a Divisora veio de noite quando eu ensinava um curso mais ou menos sobre a Gramática Expositiva do Chão, de Manuel de Barros.

domenica 21 settembre 2014

Sobre o ar parado, sobre o bafo quente

Nos dias modorrentos de início de primavera
penso que o mundo é feito de desritmias:
os compassos que mais embalamos
ressoam séculos depois, quando já
não temos a baqueta do xilofone.

A doutrina da imortalidade objetiva,
recheada de corrogênese e descompasso,
vista da sombra da castanheira enorme
é uma formulação estrita do hedonismo.
Esqueço o arroz na panela perto do sol.
Procuro, entre os grãos superpovoados,
uma nave para fazer minha anábase.
Não tem nave. Não tem calendário.
O elevador enguiçou a passagem das horas
e só as cigarras sabem quando vai chover.

venerdì 12 settembre 2014

Tikkum Olam

Nasceu ante-ontem mais uma pessoa. Para que escrever mais um livro, se já há tantos?
Há livros que nasceram para mudar todos os outros livros.
Assim nasceu esta pequena cria, sol raiando, lua cheia, entre os livros de Addichie
e uma pequena coleção (incluindo um livro sobre o Hezbollah)
sobre Tikkum Olam - estamos para emendar o mundo.
(E mexendo com os dedos todas as eminências imanentes iminentes.)

giovedì 4 settembre 2014

As bordas entre as tintas de um Seurat

Uma vez uma coisa se revelou imortal a mim com toda nitidez:
e não era uma coisa, era uma excesso de bordas entre elas.
Cada coisa invadia as outras ao seu redor: a paisagem era insuficiente
o presente era insuficiente, a circunstância era insuficiente.

Imortalidade objetiva. Não era imagem alguma que ia retornar eternamente,
era a pincelada.

There are other countries


martedì 26 agosto 2014

Ponteiros, Porteiros

roubei uns minutos

o relógio não guarda todos, só os predestinados
já que o futuro é só o que já está marcado
antes do ponteiro marcar
meus minutos são clandestinos
ficam do lado de fora do círculo dos porteiros
o tempo também tem suas personagens
que fogem da raia.

estes tempos roubados se acabam logo
nem dá pra contar os segundos
eles se desmancham no ar
como uma hóstia de heresia
como um suspiro de satisfação.
(Mas todos os relógios abrigam estes minutos
a mais. Que eles não guardam.
Eles não ficam na tração do presente
destroçando uns passados
- ficam na distração.)

mercoledì 20 agosto 2014

Dieter achou estes poemas do tempo do nosso último encontro

dein körper ist deine bühne



(für hilan)



das leben ist eine bühne

auf der die sterblichen materien

ihre un-sterblichen reden halten



13035 f



viel-oh-so-vieh !

(für hilan)



du willst deine

philosophie leben ?

die philosophie, bruder

ist nicht fürs leben gemacht

die philosophie, bruder

ist nur fürs

philosophieren gemacht !



13037 c



esquizotrans ou :

imaginacoes maiúsculos e

ejaculacoes minúsculos



(para hilan)



A transa com B

que transa com C

que transa com D

que transa com E

que transa com F

que transa com G

que transa com H

que transa com I

que transa com J

que transa com K

que transa com L

que transa com M

que transa com N

que transa com O

que transa com P

que transa com R

que transa com S

que transa com T

que transa com U

que transa com W

que transa com X

que transa com Y

que transa com Z

que transa com A

e assim se fecha a trans-acao

que ninguém abriu



13039 b

martedì 19 agosto 2014

O impacto dos livros

Pensar. Os que pensam. O tempo para pensar.
Antoine Wilson escreveu Panorama City como uma outra operação
- deve ser.
Mas eu, cheguei à metade do livro.
E concluí: o pensamento é manipulação.

Já nem consigo mais pensar.
Fico esticado como uma aranha com uma pata em cada continente.
Fico querendo vazar pelo ralo.


giovedì 14 agosto 2014

Handke's Song of Childhood

"Song of Childhood" by Peter Handke
Lied Vom Kindsein – Peter Handke

Als das Kind Kind war,
ging es mit hängenden Armen,
wollte der Bach sei ein Fluß,
der Fluß sei ein Strom,
und diese Pfütze das Meer.

Als das Kind Kind war,
wußte es nicht, daß es Kind war,
alles war ihm beseelt,
und alle Seelen waren eins.

Als das Kind Kind war,
hatte es von nichts eine Meinung,
hatte keine Gewohnheit,
saß oft im Schneidersitz,
lief aus dem Stand,
hatte einen Wirbel im Haar
und machte kein Gesicht beim fotografieren.

Als das Kind Kind war,
war es die Zeit der folgenden Fragen:
Warum bin ich ich und warum nicht du?
Warum bin ich hier und warum nicht dort?
Wann begann die Zeit und wo endet der Raum?
Ist das Leben unter der Sonne nicht bloß ein Traum?
Ist was ich sehe und höre und rieche
nicht bloß der Schein einer Welt vor der Welt?
Gibt es tatsächlich das Böse und Leute,
die wirklich die Bösen sind?
Wie kann es sein, daß ich, der ich bin,
bevor ich wurde, nicht war,
und daß einmal ich, der ich bin,
nicht mehr der ich bin, sein werde?

Als das Kind Kind war,
würgte es am Spinat, an den Erbsen, am Milchreis,
und am gedünsteten Blumenkohl.
und ißt jetzt das alles und nicht nur zur Not.

Als das Kind Kind war,
erwachte es einmal in einem fremden Bett
und jetzt immer wieder,
erschienen ihm viele Menschen schön
und jetzt nur noch im Glücksfall,
stellte es sich klar ein Paradies vor
und kann es jetzt höchstens ahnen,
konnte es sich Nichts nicht denken
und schaudert heute davor.

Als das Kind Kind war,
spielte es mit Begeisterung
und jetzt, so ganz bei der Sache wie damals, nur noch,
wenn diese Sache seine Arbeit ist.

Als das Kind Kind war,
genügten ihm als Nahrung Apfel, Brot,
und so ist es immer noch.

Als das Kind Kind war,
fielen ihm die Beeren wie nur Beeren in die Hand
und jetzt immer noch,
machten ihm die frischen Walnüsse eine rauhe Zunge
und jetzt immer noch,
hatte es auf jedem Berg
die Sehnsucht nach dem immer höheren Berg,
und in jeder Stadt
die Sehnsucht nach der noch größeren Stadt,
und das ist immer noch so,
griff im Wipfel eines Baums nach dem Kirschen in einemHochgefühl
wie auch heute noch,
eine Scheu vor jedem Fremden
und hat sie immer noch,
wartete es auf den ersten Schnee,
und wartet so immer noch.

Als das Kind Kind war,
warf es einen Stock als Lanze gegen den Baum,
und sie zittert da heute noch.




Song of Childhood – Peter Handke

When the child was a child
It walked with its arms swinging,
wanted the brook to be a river,
the river to be a torrent,
and this puddle to be the sea.

When the child was a child,
it didn’t know that it was a child,
everything was soulful,
and all souls were one.

When the child was a child,
it had no opinion about anything,
had no habits,
it often sat cross-legged,
took off running,
had a cowlick in its hair,
and made no faces when photographed.

When the child was a child,
It was the time for these questions:
Why am I me, and why not you?
Why am I here, and why not there?
When did time begin, and where does space end?
Is life under the sun not just a dream?
Is what I see and hear and smell
not just an illusion of a world before the world?
Given the facts of evil and people.
does evil really exist?
How can it be that I, who I am,
didn’t exist before I came to be,
and that, someday, I, who I am,
will no longer be who I am?

When the child was a child,
It choked on spinach, on peas, on rice pudding,
and on steamed cauliflower,
and eats all of those now, and not just because it has to.

When the child was a child,
it awoke once in a strange bed,
and now does so again and again.
Many people, then, seemed beautiful,
and now only a few do, by sheer luck.

It had visualized a clear image of Paradise,
and now can at most guess,
could not conceive of nothingness,
and shudders today at the thought.

When the child was a child,
It played with enthusiasm,
and, now, has just as much excitement as then,
but only when it concerns its work.

When the child was a child,
It was enough for it to eat an apple, … bread,
And so it is even now.

When the child was a child,
Berries filled its hand as only berries do,
and do even now,
Fresh walnuts made its tongue raw,
and do even now,
it had, on every mountaintop,
the longing for a higher mountain yet,
and in every city,
the longing for an even greater city,
and that is still so,
It reached for cherries in topmost branches of trees
with an elation it still has today,
has a shyness in front of strangers,
and has that even now.
It awaited the first snow,
And waits that way even now.

When the child was a child,
It threw a stick like a lance against a tree,
And it quivers there still today.

giovedì 31 luglio 2014

Mata cerrada que é memória

"La nécessité débouche toujours sur une nouvelle nécessité",
disait un sage selon Jabès

Tem uma fina crosta eventual e mal-acontecida
cobrindo alguns delírios de realidade passada
- o que foi mesmo que eu fiz?
E, é claro, uma necessidade leva a uma nova necessidade,
uma fissura a uma clausura,
uma compulsão a uma fixação.

As coisas que não são necessárias,
einmal ist keinmal,
são lembradas desencadeadas -
uma tremedeira.
Aquilo tudo que podia ter sido
e foi.

Uma manhã…
Um assoalho que ressoa a manhã no chão.

venerdì 25 luglio 2014

Minhas identições

Volto a Abya Yala, de dois sopetões, primeiro em Tlalocan, terra da fertilidade bruta, depois ao Goiás, onde fizeram Brasília para criar modernos à ferro e concreto armado. Cidade primeiro, habitantes depois. Os modernos são grandes reterritorializadores - suas terras conquistadas são ombros camponeses (e rios limpos, asas de borboletas mondriânicas, sapos com mensagens cifradas). As conquistas são sempre regadas por epistemicidas. Por isso os camponeses e os indígenas são os estranhos que desaparecem. Um epítome desta época da modernidade (nem tardia e nem prematura, provavelmente): o outro está de costas. Partindo. Indo para longe e evanescendo. Um pouco como diz Byung-Chul Han: o negativo exorcizado. Mas não só exorcizado, extirpado. Há uma fantasmagoria nas causas ecológicas e indígenas: de um passado que precisa ser reinventado já que é esfumaçado. É como as marcas das adinkras nas formas dos tecidos afros de Abya Yala: conteúdos esquecidos, reminiscências persistentes. O outro é um fantasma - e por isso Han compara ele a um fardo. O que assombra é também alguma coisa que precisamos carregar. Brasília é cheia de fantasmas. E quase não há outros outros.

É um tempo excruciante se marcamos os ponteiros com Gaza. Tenho assistido a documentários sobre a Nakhba palestina
(como esta da Al Jazeera), o que me informa já que fui amamentado com um leite pró-sionista. E então penso, desde Abya Yala, o continente que foi primeiro Colónizado e foi reColónizado tantas vezes. E nele eu penso na minha posição na ordem Colón das coisas: white but not wasp, cidadão de um país correndo atrás, com identidades internacionais prontas para a perseguição e para a inquisição e para simulação (judia, sefaradi), criado para ser urbano e desprezar o que é camponês, educado para ser masculino mas com dose grande de heteroginefilia e muita autoginefilia, acolchoado por obviedades da classe média, cercado de gente comprometida com a brancura e que gosta do afro sem nome. Na minha escala entre global e local - entre Güeros e índios, habito um meio. Índios de autóctones, de longínquos, de adivasis, de independentes. Na empresa de abrir caminhos para modernos, este povo de geometria variável, como diz Latour, e crescente anseio por Lebensräume, eu fui colocado no meio da escala. Como brasileiro, não era um indígena mas também não era um ocidental. Como judeu, eu não era um desabrigado, mas trazia uma história (oficial) de desabrigo. Quando eu crescia, acreditei tanto nestas arquelatrias de identidade que pensei que teria que escolher entre dedicar-me aos latino-americanas ou dedicar-me às judeus. Eu percebi logo que os híbridos são diplomatas. Modernês eu falava com sotaque, palavras indígenas, balbuciava. Onde estava o orgulho e onde estava a vergonha, decidiria que diplomacia eu faria - a de Cortez ou a de Gonzalo Guerrero.

Estas minhas duas identidades arquelátricas já estavam postas a serviço (diplomático) dos modernos quando eu nasci. A haskalah (iluminismo) judaico que aconteceu na Europa desde o fim do século 18 - e que Napoleão convocou e mostrou ao mundo - foi o berço do sionismo. Esqueçam suas raízes indígenas incômodas e modernizem-se: sejam uma nação e ajudem os modernos - os globais - a organizarem o mundo para que eles o entendam (em governos, fronteiras, autoridades). A Nakhba seguiu-se daí. A Shoah talvez tenha sido o último suspiro da modernidade cheia de raízes profundas disfarçadas contra os judeus errantes, nômades, descabidos. Depois disso, alguns judeus se aliaram à modernidade cheia de raízes profundas disfarçadas (os globais cheios de localidades recônditas) contra os errantes índios. Alguns judeus aprenderam a lição: os modernos respeitam quem garante a expansão de sua geografia. É por isso que Israel é admirada pelas classes modernas brasileiras: paradigma de modernidade em expansão. Na missão de ser um exemplo para os índios atrasados que insistem em fazer diferente. O Brasil sonha em ser ocidente. Em ambos os casos, a modernidade é nas toras: não há tempo para hospitalidade ou hesitação já que tem sempre o mestre olhando. Até quando o mestre preferia não ter que ver.

A colonização é uma eterna vigilância. Mesmo que o colono esteja dormindo. Já eu, estou indo para outro lugar.
Minha identição de leite caiu.

PS: este texto é gêmeo deste. Seu título é levemente inspirado no livro de Valeria Luiselli.

mercoledì 16 luglio 2014

Alvorada e luz acesa

Cheguei na terra. Santa por um fio, prometida como o terremoto.

Encontro no fundo do bolso uma caixa de ferramentas:
tarefas, ordens do dia, mandamentos.
Rasgo. Estar contente não é uma norma.
A norma é como a crítica e elude toda realização bonita.
Penso na quadratura do círculo -
nada pode ser contado do início ao fim.
Consulto uma página na rede
para saber a hora em que o dia nasce:
5:50 em Cancún.
Amanhã dia e noite têm o mesmo tamanho.
O futuro pertence a quem repete.
Já são seis horas. Mas aqui não é Cancún.
Na cidade do México o dia está prometido
para 6:43. Daqui a quarenta minutos.
O dia não está atrasado.
Acendo a luz.

giovedì 10 luglio 2014

Um poema que achei sobre Abya Yala em um clima Epistemologias do Sul, em Coimbra

Abya Yala Wawgeykuna*

I

Abya Yala apachi q'osni patapi
Tawa K'uchu tawantinsuyumanta
Yawar qhocha kutipun
llajsakun sirch'i nina urqota.

II

Abya Yala llanp'a ch'ujrikuxqa
Kallpa makanakuyta mana atisqarkuchu
Jatun ruphyay ukhu urqopi
Sach'a ukjupi panpakuna
Sallqa ch'inllan...

III

Unay ayllu yachaykunapi
Atimullpusqa chay jina llajtakunamanta
Chinkasqa nay uray janaj pachapi
Winaypaj arpa atisqa simir nisqa.

IV

Mast'aspa makikunanchejta
Tawa nujunakuymanta
Kay pp'unchayman chhayamunchej
Abya Yala wawqeykuna

V

Kay yuyayniyki llanthupi
Ancha sinch'i Pirqapi juqarina
Llakijmanta mujujjima
Tukuy kayta yuaytawan
Qhatisuchej chakisarukunanta
Ripusqankunawan.

Traducción al español[editar]
Hermanos americanos*

I
Abya Yala sobre las aras humeantes
Los cuatro puntos cardinales
Se tornan infiernos de sangre
Lava incandescente funde su potencia

II
Abya Yala, pura, descoyuntada
Batalla de esfuerzos imposibles
De trópicos majestuosos y ardientes
De selvas profundas, llanuras...
Mesetas salientes...

III
Razas ancestrales, culturas diferentes,
Pueblos fantasmas
Perdidos en el infinito
Siempre víctimas de vanas promesas.

IV
Tendiendo nuestras manos
Desde las cuatro ternuras
Llegamos a este día.
Hermanos americanos.

V
A la sombra de esta memoria
elevemos una firme columna
Como simiente de ansiedad
Recordando todo esto
Seguiremos las huellas

mercoledì 9 luglio 2014

A agenda oculta na tua cabeça

Se notares bem teu planeta
verás que o chão tem molas
que te arremessam para o céu -
são alforrias, euforias, fora da calçada e da estrada
e até do antropoceno.
Podes descer o rio Tejo com cuidado,
pé ante pé, já que qualquer tropeção te leva além
ou aquém.
Ouves os murmúrios do rio, que falam das macias verdades,
do sal do mar ou da depressão que anima as gentes
a sairem pela boca do rio buscando cominho a açafrão.
Vais sentir as volúpias de abrir-te como um túnel
do que vem do magma e vai para Urano.
Contem-te um pouco,
mas não demasiado. O chão te encontrou.
Depois dê teus pulinhos.
Eles aprontam a estratosfera
para a safra de fótons verde-abacate.

giovedì 3 luglio 2014

Contraste

Meus caminhos se encheram de pedras.
Corro com Rosamund pelos canais da cidade grande
onde as conversas são testes de Turing
e encontro só o magma do antropoceno
tornado em sedimento vulcânico.
A água já não molha.

Meus caminhos se encheram de pedra.
Procuro nas pedras algum resto de caminho,
alguma gota de saliva solta,
alguma existência que escapou do protocolo.
Você sabe onde tem?

- Ali, depois do parque, tinha um muro,
agora já não tem mais, só tem lojas.
Se você pegar a esquerda encontra uma torre de concreto.
- Lá tem coisas que não foram protocoladas?
- Não, mas tem um poço cheio de barro e uma sorveteria.

sabato 28 giugno 2014

Our passion for freedom is tougher than this prison

Meu bando, de solitários, anda para baixo
da Marylebone Road.
Entra com os cegos no hospital,
machuca os turistas na estação de trem.
Todos os dias o bando sabota minhas tentativas,
bem-intencionadas,
de me transformar em um condomínio.

Sentamos todos na calçada da rua,
coloco um pano verde no chão
e todas as moedas no pano.
Amo as bichas. As bichas ferozes,
e ardentes. De longe até vemos as matilhas,
de longe desengonçadas,
mas olhando a Marylebone Road de lupa
só minhas bichas sacodem.

Cada dia mais confinados, os meus solitários,
espremidos uns contra os outros,
não se aguentam, não se agridem.
Fico esperando os passantes jogarem moedas
no pano verde. A calçada me protege -
nada jamais me protegeu mais.
Quando olhamos só os pés de quem passa,
eles estão indo para algum lugar.




mercoledì 18 giugno 2014

Life is always what have I done at all

To Olga Shaumyan

I've been here. In this street, in this bar, in this plot.
I've been again in this street, in this bar, in this plot.
Because I've done something.
And there was a purpose.
To all my wrinkles.
Even though the wrinkles, I believe, weren't the purpose.
The wrinkles came because I had the purpose.
In this street, in this bar, in this plot.
I was anxious, things could have gone wrong, I missed a heartbeat.
It's easy to dive into the moods. To count the suspense
of things past.
And past again.
But I rather breathe the air. My past seems unlikely.
While is even less likely that I haven't done anything at all.

O peso de um corpo só

O corpo parece um pacote.
Mas não tem destinatário. E pode ser uma bomba.
Raramente explode.

Levo o meu, pelos quatro cantos do mundo
(ele gosta dos cantos),
como um pastor leva o rebanho,
como um afinador de piano leva a sua tralha.
Noto que ele está cansado.
Está cansado que eu carregue todo o seu peso.
Já que ele é o que pesa.

A cada dia faço com ele uma coisa diferente;
como quem leva uma criança ao circo,
um pinguim ao zoológico.
Ele vai ofegando mais, suspirando mais, gemendo mais.
Acho que ele vai tendo mais empatia,
já que eu não consigo nem embarcar sem ele,
nem entrar dentro dele e pedir que ele me dê uma mão.


venerdì 13 giugno 2014

Byung-Chul Han e a raiva (da edição francesa de Müdigkeitgeselschaft)

La colére a une temporalité particulière qui ne va pas avec l’accélération générale et l’hyperactivité. Cette dernière ne tolère aucune distance temporelle. Le futur se raccourcit pour devenir un présent prolongé. Il lui manque toute négativité qui autoriserait le regard sur autrui. La colère, en revanche, remets tout le présent complètement en question. Elle présuppose une pause interruptive dans le présent. En cela, elle se différencie de l’irritation. L’éparpillement général caractéristique de la société d’aujourd’hui ne permet pas à l’emphase et à l’énergie de la colère de s’affirmer. La colère, c’est une capacité qui permet d’interrompre une situation et de faire débuter une autre situation. Aujourd’hui, elle s’efface de plus en plus au profit de la contrariété ou de l’énervement que ne peuvent pas générer de changement radical. [… La colère] saisit et bouleverse tout notre Dasein. […] Elle ne se rapport pas à un seul objet. Elle nie le Tout. C’est ainsi qu’existe son énergie de négativité. Elle représente une situation exceptionnelle. La positivité croissante du monde prive ce dernier de situations exceptionnelles. (p. 78-9)

domenica 8 giugno 2014

Amistosidade e Cólera

Deborah veio a Paris grávida dos suas duas filhas,
Timidez e Terror.
Uma cesta de frutas secas, dinheiro para o pão, um amigo viciado
em Belleville.
Ele levou Deborah, num domingo de sol, para ver de perto
a casa onde morou Jodorowski e a praça onde tocou Karkowski.
Era o dia feriado.
E as casas estavam fechadas, as praças trancadas.
Os parisienses descansavam
com suas mães mortas,
com seus corações feridos,
com seu esgotamento sempre parcial.
Os dois encontraram uma sombra
onde Deborah podia repousar seus quartos,
cansados da caminhada.

Deborah leu no tronco das árvores dois mantras,
Amistosidade e Cólera.
Quando nos enfurecemos, predicava o pastor em língua coreana,
começamos alguma coisa nova.
Garganta arrebentada, ossos exauridos, voz mesmo sem palavras.
As pessoas cansadas, elas sim,
tinham o coração aberto às primazias e aos intrusos.
Deborah sentiu seus pés trincarem.
Queria sorrir todo o dia, mesmo que fizesse sol,
mesmo que fizesse ansiedade.
Ela teria que perder as horas já que suas duas filhas
não iam nascer com relógio de pulso.






venerdì 23 maggio 2014

Minha terra concreta


o que me amarra nas crosta da Terra?
a benção ... o sonambulismo
multidão ou ... ou ovelha

horas e horas de paisagem austríaca ... caídas na piscina quente a mãe e a filha
o trem em uma velocidade da breca ....... calor do sol, calor do vento, frio da morte
a cabeça a cada kilômetro mais fraca ... cabelo e carne se resumem um no outro
cravadas no âmago uma flor e uma faca . camadas de sonho seco na medula

uma tarde bem no fim da estrada implica catástrofe sem anunciação em palavras

ou nada
só luz

sabato 17 maggio 2014

a funcionalidade me desdiz

imagino outra vez minha descendência.
impaciência. o mundo visto com olhos apressados. não tem mais pistache?
já nem posso deglutir. a vida será um rio enxurrado. e a toa.
sem dentes, sem gengiva, uma velha vestida de branco só me lembro de Oaxaca
e quero o gosto dos pistaches.

gosto das velhas cruéis.
só me sobraram elas - eu queria parir trezentas delas.
todas levando um mundo mais poderoso que tudo o que é é é
em caixinhas de música emperradas.



giovedì 15 maggio 2014

Jugendheit

Eu fui uma carta de tarot com cinco de espadas.
Fui também um elevador, um liqüidificador, um tapete molhado, e
perdi o fio da meada no meio do corredor, é certo.
Não consegui encontrar as palavras para contar para mim, uma coelha manca,
o que eu estava fazendo aqui.
Com detalhes.
Eu, que era aquele isqueiro tão bem útil do Pat Ingoldsby,
entrei na primeira sala
e procurei uma janela.
Tinha um sofá cor-de-rosa e uma bola inflável bem azul -
eu não tinha nada para fazer ali.
Queria sentar no sofá, com o cotovelo na bola e contar histórias,
daquele tempo de gigantes e de titãs que ninguém tem saudade,
já que nunca passou.
As saudades ardem porque só há o novo.

Aquelas que virão, resumirão minha vida entre um gole e outro de bebida,
eu serei só a diaba tardia ou um pedaço de corrimão.
Aquelas que virão não serão mais eu - terão outros fôlegos.
Usarão outros guarda-chuvas, nos fins de tarde de chuva,
terão outros passos, e outra pressa.
Eu serei a margem do rio.
Com um saco de papel cheio de passas doces.


giovedì 8 maggio 2014

Cada nada

Rosenzweig diz que tudo que é mortal é solitário. O que fica acompanhado, não morre. Deus é paciência. Morrer é largar o osso, e virar osso largado. Morrer é sair de cena, sair da balbúrdia fractal que conecta tudo com tudo. Morrer não acontece com tudo, acontece com cada coisa. O morto sai de circuito, sai da trama. Porque cada um sai da trama, a trama não é tudo - há o nada depois da trama. Cada ente carrega o seu nada. Rosenzweig diz que cada nada de cada morte é um novo nada. Os cadas carregam um nada e um novo. Os tudos carregam todos os outros e nada mais. Os tudos carregam a noite antiquíssima e idêntica, os cadas carregam manhãs. O cada ofusca, é pavoroso. O tudo obnubila, é apavorante. O pavor de cada cada que compõe um tudo. Deve ser que cada coisa que existe é também um cada porque carrega um nada. Cada nada que compõe o tudo. Todo mortal é desacompanhado. Procurar o ser, clamar pelo ser, pedir o ser é pedir companhia. Pedir parceria. Parceria contra o pavor da manhã. O pavor que desperta ter que estar escrito no livro trançado da vida. Entrelaçado de fios de morte -cada fio solto é alguém que ficou sem companhia. Rosenzweig diz.

mercoledì 30 aprile 2014

"água”, “terra”, “fogo” e “ar”

Engano acreditar nas palavras.
Elas não querem dizer o que dizem,
mantra não tem gramática,
só tem chave de fenda
e nem sempre abre.

Não morra por uma palavra,
ela é areia que voa e vai parar em outro castelo;
não morra pelo significado de uma palavra,
ele é gota d’água que escorre e vai parar em outro rio;
não morra pelo que você falou com uma palavra,
isto é labareda que corre e queima outro bosque;
não morra pela música que se solta das palavras,
o som é vento que sai da garganta e voa por nuvens.

Nada segura nada
sozinho.
Palavras são mãos abertas
sozinhas.
Minhas palavras são solidão.
Um vento que sopra sobre si mesmo,
um fogo que se derrete,
uma água que se arrasta de correnteza,
um grão de areia que vira pó.

Palavras são verbos, pronomes, preposições
- pode até ser que elas sirvam para fingir -
mas não são substantivos.
Já que são insubstanciais.
E tratam só das transitórias coisas
da boca pra fora.


lunedì 21 aprile 2014

Gaia

Deito no chão da sala de noite.
Pablo fuma um cigarro, sem cinzeiro, joga as cinzas no tapete,
engole uma pastilha, Melba sussurra para a almofada
que não sabe mais parar de esperar.
E eu espero, eu que sou uma casa,
eu que quis ser uma casa,
eu que deito no chão da sala de noite todos os dias
e sei onde todos deixaram a guimba e o copo
antes de apagarem a luz.

lunedì 14 aprile 2014

Biografia sem luz

Tem um botão meu que apaga a luz.
Acendo pintando as unhas de azul celeste.
Já que no céu tem Deus.

Ou então tenho que ir até o registro geral
e ligar um fio em um grotão de metamorfoses.
Já que sou movido a resto do mundo.

Eu moro em mim, como diz no meu cadastro,
mas é de aluguel.
O proprietário todos os dias passa pela rua
e ameaça me despejar.

lunedì 7 aprile 2014

Revenges of Dr. Strangelove (again and again automated)

Revenges of Dr. Strangelove (revamped from 4.6.2012 and its automated shadow)

Ada Lovelace computed without any device.
H. P. Lovecraft crossed the species without a compass.
Arthur Lovejoy found the small stars without a satellite.
James Lovelock got the Earth breathing without a dig.
All started out with Love.
An aerial tunes to itself
before pulling the target.

Years of craft, miles of laces,
orgies of joy, a lock.
The big All opens the small gate: Love
That spills salty waters into the loose ends.

Love income calculated without any device.
Love letter crossed the species without a compass.
Joy found love - little stars without a satellite.
Love locks the breath of the earth without a dig.
It all started out with Love.
A flight songs for you,
before pulling the target.

Years of craft, miles of laces,
orgies of joy, a lock.
Great Everything opens the small gate: Love
In salt water it looses its ends.


domenica 6 aprile 2014

Leí mi primer poema de Myriam Moscona



MUERTE EN MANHATTAN (Entrecruces)
Moscona

A orillas del Hudson
esperé
a una
mujer
que
venía
de muy lejos

Nadaba
en un espacio propio
como si fuera adentro de una nuez

Nunca perdió
la horizontal

La nadadora de
aguas abiertas
venía desde el norte

Al llegar a la isla
vomitó
en las espumas rojas
llenas de olor a vinagre
del puerto

Venía pataleando
Una pierna
era postiza

Le di la bienvenida
con un gesto
invisible para ella

Me latió fuerte el corazón
al verla aparecer
como pintada en acuarela
con tintes amarillos
y naranjas

Ahora doy
la vuelta por la calle
once

Subo a un taxi
No sé por qué
good after noon lady
el chofer
me cuenta que
el poeta Robert Lowell
murió en
su taxi
en mil novecientos setenta y siete

El corazón
como una media
de nylon
se rasgó

Iba a verse
con su segunda esposa

Llegó muerto
a visitarla

El corazón
de Robert Spence Lowell IV
quedó tieso
en el asiento trasero
donde voy sentada

Cayó por un infarto
masivo
a unas calles del río Hudson
allí donde vi llegar
a una mujer
nadando
en un espacio propio
como si fuera adentro de una nuez
Lowell pidió
una muerte natural
sin dolor ilimitado

¿Qué
somos
sino
el total?

Y el total
¿qué es?

Me hubiera gustado
leer
el poema imposible
de Lowell
sobre
su muerte

Me hubiera gustado
asistir
a la mujer
que venía de tan lejos
agotada

Ayudarla a desprender
su pierna
falsa
y
sentarme
con ella
a mirar
los rascacielos
después
de
su hazaña

El mundo
sus puertas giratorias
Me hubiera gustado
saber
la respuesta

* * * *

Meninos maus da minha escola garimpados na rede


Já publiquei este link?

Encontrei (de novo) agora.

Foi-se uma vez

Era una mar de leche
Eram barquitos de canella
Eles chegaram em terra firme não sei por qual porto.
E viraram carruagens de cardamomo.

Ainda bem que o que a gente alega é de carne e osso.

martedì 1 aprile 2014

Maestrodice de John Martinez

MAESTRODICE


No importa tu lengua
importa mi cuerpo,
llámame como quieras como puedas
Danzante de tijeras
Supay huasi tusac
pero repito
no importa tu lengua
importa tu saliva
danzar en la noche del Sol
importa la sangre latiendo en todos mis cuerpos
el agua
la piedra
el poder
el pentagrama tocado por el zorro
el fuego del hielo
las vísceras del mundo
la dimensión terrible de un secreto con máscara de oropel
la dimensión que retumba cuando me hago uno con la tierra
no importa la voz sino las cuerdas
el asombro
no el gemido
el daño
las consecuencias de tocar lo profundo
el conocimiento silencioso de un secreto hecho de heridas
de pactos
de lunas
de amores arrancados de un tirón
de costumbre de paraíso de pedernal y de infierno de heladas.

No importa
Repito como el musgo
La lengua o la piel
Importa la penitencia de la devoción
el designio implacable de los wamanis
el poder que sostengo.

lunedì 31 marzo 2014

El Desarmado (en Jalcomulco y en Xalapa)

El Desarmado, las primeras presentaciones.


Las revoluciones se convirtieron
en golpes de estado.
La policía protege los gobiernos
contra los electores.
Quedan los arsenales concentrados
y los desarmados.

Mientras te gobiernan.

todas por la calle, todos en la calle, todas a la calle, todos en la calle, todas por la calle
todos por la calle, todas en la calle, todos a la calle, todas en la calle, todos por la calle
todas por la calle, todos en la calle, todas a la calle, todos en la calle, todas por la calle
todos por la calle, todas en la calle, todos a la calle, todas en la calle, todos por la calle
todas por la calle, todos en la calle, todas a la calle, todos en la calle, todas por la calle
todos por la calle, todas en la calle, todos a la calle, todas en la calle, todos por la calle
todas por la calle, todos en la calle, todas a la calle, todos en la calle, todas por la calle

Seguientes: Universidad Veracruzana en Xalapa (Humanidades) y
Tlaltelolco, donde miles de desarmados fueran masacrados en 2 de octubre, 1968.
Como es posible imaginar una revolución?


venerdì 14 marzo 2014

Índio é Noise


Nós somos barulho. Um estrondo em forma de zumbido, de lufada e de arrastão. Destes que assombram. Assombram porque preferem às hidroelétricas a voz do sedimento nas pedras do chão. Porque ao invés de apertarmos interruptores preferimos indigenizar as cidades, as paredes dos apartamentos, as calçadas e os telefones celulares. Virar índio. Virar essa perturbação ao Brasil. O país a contrapelo. A contracorpo. Desde as primeiras bravatas. Desde Caminha. Desde os primórdios havia um ruído de matéria viva no projeto de terraplanagem com cruz e caldeirinha de uma tabula rasa. Havia um eco. A tabula era funda - da cor da terra camada por camada, grão a grão. Somos o outro barro e o outro berro, o tom desafinado e esganiçado nas árias de Domenico Zipoli, de Yapeju, de Carlos Gomes. Aquele som de segredo nas pedras guaranis. O som que não era para ouvir. Mas que nós sintonizamos. Nós os que querem uma coisa que não cabe na geladeira. Virar índio, e com o computador, e com o vibrador, e com o liquidificador. Movidos à mais ruidosa das energias. Movida a sol.

Não somos muitos todo tempo, mas às vezes somos imperceptíveis e, ainda assim, indomados. Nem chegamos pra ficar. Chegamos para relampejar. É que tem tremembé insubordinado dentro de qualquer bobina, um caxixó sub-atômico dentro de toda linha de transmissão, tem um uivo trumai deslizando pelas paredes dos reservatórios. Alguns natos, muitos adotados. Todos devoradores de brancos. Devoramos pelas beiradas, pelos beiços, pela beleza. Noise é antropofagia. É dança sem sonoplastia. Cochicho. E pelo pé dos ouvidos, tocamos um pedaço de chocalho, trançamos taquaras, fazemos em cada pilastra de concreto das cidades um pau-de-tempestade. De meme a meme. Até a demografia amarelar.

Tudo começou com uma de nós descendo um rio. Numa canoa. Cheia de técnicas. Cômodas. Complicadas. Trazia um jeito de preservar mandioca, um jeito de aproveitar as ervas das selvas para dormir melhor, um ruído estridente do fundo da garganta para deixar as metamorfoses tomarem corpo, um jeito de encontrar um espectro livre no alto de uma árvore cheia de frutas. Ela encontrava pessoas pelo caminho, crianças quilombolas, latifundiários, macunaímas intempestivos, gente que ficou pelo caminho da coluna Prestes, garimpeiros e descendentes arcaicos dos tupinambás mais dissolutos. E dizia: eu quero fazer uma aldeia com as máquinas que vocês desejam. Eu sou Beta. Eu trago da matéria bruta a força bruta do distúrbio suave. A aldeia foi crescendo a um ritmo de bola de vírus: um espasmo kraô, cambós pelos braços empunhados, um pé guarani-kaiowá fincado na terra. O país inteiro virado ao avesso. Condomínios cheios de ocas, igrejas com cheiro de daime, governos fazendo catimbó e se dissolvendo em hectares e hectares de Raposa Serra do Sol. Até okuparmos a explanada dos controles. Noise fazendo um quarup ministerial. Até que escrevam pela história que, pelos horizontes de Pindorama, o ocidente foi acidente.


venerdì 7 marzo 2014

Orgia de Leopoldo Maria Paneros

Diario de un sedutor

No es tu sexo lo que en tu sexo busco
sino ensuciar tu alma:
desflorar
con todo el barro de la vida
lo que aún no ha vivido.

Dedicatoria

Más allá de donde
aún se esconde la vida, queda
un reino, queda cultivar
como un rey su agonía,
hacer florecer como un reino
la sucia flor de la agonía:
yo que todo lo prostituí, aún puedo
prostituir mi muerte y hacer
de mi cadáver el último poema.

Himno a Satan

Sólo la nieve sabe
la grandeza del lobo
la grandeza de Satán
vencedor de la piedra desnuda
de la piedra desnuda que amenaza al hombre
y que invoca en vano a Satán
señor del verso, de ese agujero
en la página
por donde la realidad
cae como agua muerta.

http://www.poemas-del-alma.com/leopoldo-maria-panero-himno-a-satan.htm#ixzz2vF7Q9XKM
Sobre a morte de Panero

giovedì 6 marzo 2014

Gelman en Dibaxu, en Judezmo

no tenis puarta/yave/
no tenis sirradura/
volas di nochi/
volas didia/
lu amadu cría lu qui si amará/
comu vos/yave/
timblandu
nila puarta dil tiempu

Leyendo a Myriam Moscona, Tela de Seboya con encanto. Encanto del judezmo. Sobre eso dice Gelman (en el libro de Moscona):
La sintaxis sefardí me devolvió un candor perdido y sus diminutivos, una ternura de otros tiempos que está viva, y por eso, llena de consuelo.

domenica 2 marzo 2014

il y a des matins trop tristes

desliguei o som dos pássaros, dos repentinos e dos repetidos -
já há anos que cortei estas veias;
se sangrou? derramou a gosma cinza, bem lenta,
dez centímetros cúbicos
por dia.
assim eu escorri, manhã a manhã,
meus órgãos-pássaros se atrofiaram -
tentei uma prótese com Salif Keita
em um radinho de lata de Negra Modelo,
tentei abrir a janela para recolher o último miasma;
ponho uma sandália de fivela,
como doces de amêndoas, procuro as partículas da minha infância
em terras que eu nunca fui -
o estrangeiro está em mim,
mas o conhecimento dele pode estar muito longe -
tratar cada uma das mais arriscadas partes do mundo
como quem fica polindo cristal,
feliz como um rei com coroa de papel celofane.
descasco uma dúzia inteira de ovos, brancos e
ponho as cascas em um prato transparente.
fico paralisado diante
destes corpos, brancos, crocantes, estridentes
sem comer nenhum deles, sem colocá-los a perder;
há cópulas que não se pronunciam
há cópulas para as quais não há ser
já que não há ligação.
os cheiros dos ovos descascados me atordoam -
tenho nos meus subterrâneos desejos assim,
da cor destes ovos abafados;
guardo eles nas tripas retorcidas
que vão virando terra incognita,
ou miomas amarrados, ou só becos sem saída.
mais tarde jogo as cascas para os pássaros pretos, alforriados,
eles voam longe dos ovos, também sem verbos de ligação.
no armário onde eu guardo minhas meias cor-de-laranja,
as gavetas fechadas são breu, só um pedaço da casca de um ovo
grudou na ponta do meu dedo -
e seguiu grudada nele, branco.

martedì 25 febbraio 2014

Aquilo que incide

No meio dos meus hormônios haviam genes.
Por trás dos meus hormônios haviam genes.

Incide em mim um bolor de antepassados
e de póspassantes.
Kinderland.
A criação e a domesticação de um puerpo:
aquele, nascido com as rugas da Turquia do lado de fora,
cheio do antiquíssimo do lado de dentro.
Reinventar o antigo.
Não tem no centro do cosmos um metrônomo
que pulsa nas carnes dos ossos e das estrelas
um tique-taque repete, repete, repete?
Ou era para rasgar o mapa e partir para a Lua?

martedì 18 febbraio 2014

Récit (Jabès)

1 Il et son féminin Ile.

2 Il n’existe pas Il est l´île.
Seul l’océan existe.

3 Regarde avec quelle violence, parfois,
la mer s’acharne sur son absence
plus dure que le roc.
Vagues, monstres en délire, ô chant !

4 L’île fut autrefois le manque, le trou,
l’oubli.
Comment cela s’est-il produit ?
Un vide comblé avec des pierres,
au milieu des ondes.

5 La terre est plus haute que la mer
et plus profonde ;
mais il arrive que l’eau se venge de
son humiliation.

6 L’île demeure où, autour d’elle, tout bouge,
bondit, tremble.

7 Stable. Solitaire.

8 Indélogeable présence.
Inviolable absence.
Laquelle emportera
Sur l’autre ?

9 La voile ignore sa rivale.

10 La mort est sans remords.

11 Qui dira qu’il est venu ?
– A qui ?

12 …et son féminin l’île si exposée, si
déterminée.

13 Il y a longtemps qu’il erre. Un jour
il passera, peut-être, par ce pays.

14 …un jour, comme une île jumelle
au-dessus de l’île.
Translucide, émancipée.

15 Toutes chances
réunies.

16 Le soleil est à l’abri de ses rayons.

(Ronde plénitude.
Intense clarté.)

17 Il n’a pas dit pourquoi il était parti
ni quand il reviendrait.
Il n’a rien dit
ou presque…

18 Son féminin Ile, de son côté, ne
rompra plus le silence ;
car une fois…

19 Depuis cette fois-là, elle espère.
En silence.

20 Il n’a pas dit pourquoi il a été
contraint de partit.
Inexplicable est restée la cause.

21 Aucune parole ne précède les vrais
départs.
Seule une parole d’avenir les
accompagne.

22 A son sujet,
tout ce que l’on pourrait mentionner
est, qu’un jour, il partit
de chez lui.

23 Son féminin Ile, on le voit, n’avait
pas le choix.

24 Résister à la permanente menace
environnante.
Qui peut prétendre que c’était un
choix délibéré ?

25 Repliée sur soi-même
– elle en est sûre –
à certains moments
elle voulait mourir.

26 Cela ne saurait s’appeler une
certitude :
Un morbide désir de disparaître,
plutôt.

27 (Il ne peut y avoir de certitude
face à tant de brumes amoncelées ;
vastes étendues, compactes,
fantomatiques.)

28 Il n’existe pas. Il est l’île.
L’épreuve, l’intervalle persistent.

29 Cela s’est déroulé, sans doute, de la
sorte.
Le temps d’un éclair ;
d’une improvisation.

30 Une amnésique instant d’insolence.

31 Il avait décidé.
Ses décisions sont toujours
irrévocables.

32 Depuis
nul repos
ni répit.

33 Le tumulte partout.
Et lui, debout,
face à l’inconnu.

34 Sa tête plus haute
que l’horizon
et que le monde.

35 …et son ombre tiède sur l’humide
sable de l’île.

36 On ne comptera jamais les pas de
l’absence
et, cependant, os les entend
distinctement.

37 (…comme de sourds battements
dans le cœur ou dans la poitrine ;
comme, dans une langue morte, l’écho
captif de quelques proches vocables.)

38 Lui, illuminé,
et son féminin Ile.
Lui, sans but.
Elle, le but.

39 …l’habité, l’inhabité.
Voué à l’errance.

40 Il avait dit… mais juste un mot.
Inaudible. Douloureux.

41 Son féminin Ile l’a, aussitôt, perçu.

(Sans le percevoir tout à fait.
Comme on perçoit le retournement
d’un silence,
l’envers d’une pensée)

42 De ce qui fut, pourtant, dit,
l’effacement prématuré.
L’empreinte
condamnée.

Muette.

43 …où le regard n’a plus de prise
sur l’objet.

44 (De ce qui fut réellement dit
mais volontairement
brouillé
puis enseveli.)

45 Tombe est, aussi, l’île : vide tombe
où git ce qui, un matin ébloui,
fut à peine ébauché.

46 Déchirement du couple.
Fuite et fers :
le double rappel.

47 …une même détresse.

48 Ostensible volonté d’être,
de durer.
Avec le néant.

49 L’espérance entêtée.

50 Elle, immobile.
Lui, si étrangement mobile.

51 Jamais le silence
ne se réfère au silence.

Jamais l’aurore à l’aurore

52 Lui, ses pas dans les siècles.
Elle, fidèlement figée
dans l’instant.

53 (…au milieu d’un univers déchaîné,
rivée à son aire,
par ses lourdes chaînes
d’ombre et de lumière soudées.)

54 Jamais, à l’absence,
ne se réfère l’absence.

Jamais, au crépuscule, le crépuscule.

55 La démesure ne serait-elle que
mesure perdue, reconquise ?
Où elle n’est plus supportable,
elle se confond avec son ambition
inavouée.

56 Abusive prétention du geste ;
de la forme éprise d’elle-même.

Dans l’univers tant de murs
provocants
Et de portes interdites.

57 Au tréfonds de la mer,
algues à la dérive,
que de liens
défaits.

58 Lui, l’excès d’un pas décidé.
Elle, la vertigineuse origine,
le ventre.

59 Lui, le jamais dit.
Elle, le dire différé.

60 Ses mamelles encore gonflées de lait.
Femme dans la pérennité des sources
et des signes.

61 Il et son féminin Ile.
La rive et le large avertis.
Le phare inutile.

62 Nul retour envisagé,
possible.

63 (Il n’y aura jamais assez d’heures
pour venir à bout
de la mémoire.)

64 (…jamais un équipage de navire
pour affronter les flots de l’éternité,
par endroits en flammes.)

65 (Brisures d’un gigantesque miroir,
quel conséquent visage
oserait se pencher sur elles ?)

66 Le feu couvait son onde et l’eau
n’était plus que repères d’incendie ;
qu’opacité scandaleuse.

67 Par intermittence on voyait luire,
derrière les rideaux de fumée,
d’insolites poignards avides.

68 Blessures. Folie.

69 Ne pouvoir continuer
ni s’arrêter…

70 …ni redire.

71 N’avoir rien eu à dire
et avoir voulu l’exprimer.

72 Il ne disait rien
et son féminin Ile,
de temps en temps
tâtait, inquiète, le pouls du silence.

73 (Le ciel
au-dessous
de sa couleur ;
au-dessus
des étoiles et de l’obscurité
obsédantes.)

74 (Dépassée,
la pensée.)

75 Enfers des gouffres
et des cimes
au fil aventureux de la plume.

76 Par le feu,
combien de vierges feux
allumés !

77 Il brûlait vif
et son féminin Ile,
nue, parmi ses cendres
veillait, assise.

78 L’errance est le masque
jeté,
piétiné.

79 Le piège est le seuil
et le terme accordés.
Ô perpétuel commencement.

80 La main n’est jamais
innocente.

Le feuillet sacrifié.