Visualizzazioni totali

lunedì 30 giugno 2008

o sol e a tristeza (novo corte)

o sol se põe. ele se põe, vai ver outros cantos

eu não me ponho, não me ponho em nenhum dia

estou sempre de frente para as coisas verdes desperdiçadas

que fazem nossa vida um vale fértil de lágrimas

os homens espremidos pela falta de dinheiro,

pela vergonha de quase tudo

todos, na rua, de cabeça baixa:

a safra sempre abundante de lágrimas.

lágrimas ralas, lágrimas para dentro,

lágrimas que circulam há muito com o sangue.

E todos, na rua, de cabeça baixa:

não enxergam nem as árvores altas, altivas

que não choram, fazem frutas e esperam o tempo certo

–– estou muito triste, e o sol se põe;

eu acho que é lindo

queria cair com as folhas.

queria que não vivéssemos em uma bolha de plástico

feita de medo.

That Bush in Florida

libélulas volteiam
o arbusto quase a beira-mar.
fico eu só parado.



about an old early fall morning in Miami

domenica 29 giugno 2008

existir é diferir

mesmo assim constituído
meu corpo degrada o poder
meu corpo desagrada o poder
meu corpo desgruda do poder
meu corpo desgraça o poder
meu corpo desgrenha o poder

meu corpo deglute o poder


eu continuo comendo meus tomates com azeite


lavar colher

Uma sobra de gordura, matéria pura sem forma nem cor,
grudou na colher que a senhora, que traz quase toda sua vida
espalhada por sua coluna doída,
lavava depois de uma refeição quase sem sabor.
Aquela senhora de que não tratam os contos
(mas que somos nós pelas ruas nunca prontos),
lavava.a colher.

Onde estava a senhora? Atrás de uma cortina branca
no interior da Frisia. Mas a Frísia é apenas o nome
do pedaço de mundo onde a senhora come – e lava a colher.
Ela despeja no metal um detergente qualquer – amarelo.
O detergente é gosmento, de um barro poroso suas mãos e
já tocaram o ríspido, o lento, o tenro, o espinhoso;
uma compota de proteínas habilidosas vai para a colher
estanca a água com a sobra de gordura e solta esgoto abaixo.

Ela logo se esquece da gordura, da gosma, da pequena agrura
de arrancar a sobra grudada, desgrudar, esfregar,
esquece as perguntas que faz sem formular – amanhã
e amanhã se em outros dias iguais a amanhã
ela respirar. E nossa senhora com a tarefa terminada
senta-se na poltrona acomodada onde ela já aguardou.

Hoje. Mas também hoje é apenas o nome
do pedaço de instante onde a senhora senta
enquanto a gordura grudada some sem traço.
Seus braços compostos de minutos gordos e magros
lavaram a colher e continuam sua vida associados;
ela senta na poltrona com todos os seus ossos, fecha os olhos,
a testa fica apenas virada para o dia.


Talvez consigas encostar tua testa nele.

lunedì 23 giugno 2008

nem canta já quando sai da gaiola

minhas tripas retorcem
murcham e se desfazem
todas feitas para se dar e feitas de bíceps
convulsoes, compulsoes, compressoes
ate a valvula do tubo digestivo
que goteja as lagrimas para fora
cada celula mitocondríaca
e meus dedos como as aranhas
fazendo jaulas

olho cada horizonte de pedra
intimidado debaixo do sol
preso, preso, preso
metros de cabos intestinais
embaracados
precisava fazer uma corda
com as minhas veias
- e equilibrar.

venerdì 13 giugno 2008

The history of 411ism - 1st episode

A história do movimento 411ista,
em episódios.

Tudo começou assim com godariush:

yesterday, wednesday

yesterday, wednesday, after you dropped me
in commercial 206
in your white Japanese car
high from the ground
with seven coins and red tassles
to bring you prosperity
you who spent two thousand
on boots in sao paolo
high from the ground
to bring you strength
and we kissed
goodbye as rain splattered
on the red ground
twice on the mouth

i crossed the road and got into hilan’s car
and with hilan and laura
ate lychees
we went to sorbe and ate ice cream
mango and pineapple with ginger
then we did the shopping
for the margaridas dinner that evening
bought imported wine from alentejo
where there are secret jews
pistachios and persian limes
and mushrooms to make a risotto
with cachaca

at one point i stopped, looking at the glass cases
where they keep the cartons of cigarettes
marlboros and luckys and brands called
free or derby or hollywood
so beautifully ordered in two glass cases
a rush of joy remembering
the first time i went to granada
and saw cartons of cigarettes
lined up in the state tobacco shop
and the heat soaking me
tired eyes and breathlessness
the blue and white of ducados

which i couldn’t explain to laura
in portuguese
but she understood my feeling she said
they look happy because they are all together
lined up on the glass shelves

i wasn’t thinking of you at all
all day i wasn’t thinking of you
i wasn’t talking about you
only once to say
just that we had a good time together last night
but i have to hold you responsible
for my feeling all day
of summer
here in the southern hemisphere
in brasilia where there are no seasons
a remembered, embodied feeling
of summer arriving

later i was sleeping in the hammock
while laura slept on hilan’s bed
listening to her sleeping cd
which said
that the last barrier
is the fear of death
i could see very vivid pictures
the edges burnt up with sunlight
when i shut my eyes
groups of people and animals
and jungle trees
something like the illustrations
in the book about the sin of luxury
where a woman who looks a bit like you
holds a small bear between her legs

but i wasn’t thinking about you at all

and in my own flat at sunset when i went back to shower
i lay on the pornographic mattress
looking at the sky
with vini reilly playing guitar
a sketch for summer
and i had a few moments of fear
my old fear
saying
we are such fragile containers
for happiness like this
it shakes us from the inside
and i feel breathless
and don’t know if i can hold it

the last barrier to sleep may be
the fear of death
but it’s not sleep i’m after
it’s the fear of life
that i’m going to conquer

venerdì 6 giugno 2008

Dross for d.roos

A Pound (as in Ezra) for Dieter Roooooos:

What thou lovest
well remains, the rest is dross.

(From the epigram of Eric Korn's
Remainders.
Eric Korn is Monsieur Olga Shaumyan)

lunedì 2 giugno 2008

O dia em que o morro descer e não for carnaval

Este samba, de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro,
é dedicado a uns oito ou nove futuros, ao filme
que a Fabi faz, ao livro que o Dariush quis escrever,
ao medo e o pavor de dona natália, e a tudo o que
passa pela cabeça da ana célia, às vezes:

O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir o desfile final
na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil
(é a guerra civil)

No dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal
o tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval

O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? Ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual

Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal
melhor é o Poder devolver à esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval

Um Paulo Henriques Britto

Não há nada lá fora?
Nem mesmo a idéia de um lá-fora?
Não será possível,
ou sequer concebível,
o ir-embora?

Pode-se ficar dentro?
Não? Também não há um cá-dentro?
Será ilusão
acreditar então
que saio e entro?

Perdão se sou existente
– perdão! quis dizer “insistente” –,
mas não há um lugar
onde se possa estar,
mesmo que ausente?