Visualizzazioni totali

lunedì 29 giugno 2015

Movediços (em piscinema)

No sábado fiz a instalação-piscinema com Movediços:

Movediços

As minhas irmãs folhas também ficam ao relento como nós, meu pai, e agora
Agora que você morreu, penso em você cada dia mais como um homem
Como um homem que é gente––que entende, reparte e é soprado pelo vento.
Tenho vontade de ter guardado tudo em um baú de ardósia
––tudo: a casa da raposa, o sol atrás da serra, as palavras trocadilhadas
e tuas pequenas admirações por mim que me pinicavam e o sorvete com um copo d’água.
Tudo.
As minhas irmãs gotas de chuva também escorrem até a terra como nós, meu pai e agora
Fica deixado o meu coração, sem o enorme casco de tartaruga que o segurava,
sem um mapa do mundo, sem o conforto de casa, com a nostalgia com frustração.
Tenho vontade de repartir tudo com você em uma praia com pedras grandes
––tudo: minhas dúvidas incrustadas, minhas dúvidas curadas, as pessoas confortáveis,
os alhos refogados, meus desejos de diferença, de casualidade e minha janela.
Tudo.
As minhas irmãs pedras também encontram quem as leve longe como nós, meu pai e agora
Agora não reparti quase nada, fiquei trancado com minhas narrações mirabolantes,
sem te ouvir. Penso tantas coisas sobre você e imagino culpas e recompensas.
Tenho vontade de refazer tudo com você, você não sendo tão Pai para mim,
eu não sendo tão pequeno filho, dando epiciclos em volta da nossa relação preciosa.
Tudo e do que restou ficar quase nada... apenas as tuas raras gargalhadas.
Quase nada.
As nossas irmãs estrelas também desaparecem depois de brilhar para sempre para nós
E agora, meu pai, passo dias sem a tua areia movediça que foi meu ninho,
E movediços eram os teus olhos, mesmo prostrados, mesmo contentes.
Tenho vontade de deixar que movediço seja nosso planeta, nossa estratosfera, meu pai,
E te abraçar com firmeza; conchas diferentes, mas no mesmo mar, nossa casa
––conchas: minha coragem, tua persistência, meus sapatos furados, teus iogurtes.
Quase nada.

2004

venerdì 19 giugno 2015

E ainda preferir esperar?

Hoje, meu bem, me mandaram três vezes reinventar o universo.
Sabe aquele auto-falante que tem em cima de todos os postes -
dos de eletricidade, dos que seguram o céu, dos que seguram a lua no meio das estrelas -
aqueles que dão uma mensagem para todas as coisas de manhã e outra de tarde?
Pois bem, eles hoje falavam comigo.
Primeiro foi a voz de uma catástrofe que ficou na minha cabeça -
o acidente não tem futuro porque o desastre não se escreve nos astros.
Depois foi Paul B. Preciado, a Beatriz: seja dissidente, seja herói.
Nenhum desejo pode ficar sem fármaco e só a norma dispensa experimentação.
Mais tarde foi o próprio Bispo do Rosário catalogando pregos, dobras, brigas;
nada é teu se não for lambido, mordido, engolido, cuspido por você.
Veio um anjo de asas grandes e me carregou e depois me pousou no solo,
a palavra "tormenta" me acompanhou em todos os momentos deste rapto, do desespero
de ter me tornado imprestável para o acolhimento
até a serenidade súbita.

domenica 14 giugno 2015

Não foi só um cavalo

Dona Electra, profetisa e quituteira, lê as cartas, as mãos, as borras do café
de toda a família Didi-Huberman depois do almoço; ela se senta
contra o sol, como se seus colares e broches e brincos e adereços
fossem escudos de Salomão, que convencem porque aberram:
- O que significa, eu lhe perguntei, sonhar com meu neto assim,
já de barbas brancas e subido em uma árvore da beira do Rio do Monge
e deixando no galho mais alto sua sunga verde?
O neto, ela imaginava, ágil, firme e holobionte,
teria talvez ficado pelado quando vigoroso desceu à superfície do chão.
Kinderland, me ouvi pensando, enquanto aguardava a pitonisa, já que seus olhos
se retiraram para o galho mais algo da castanheira e as pupilas
refletiam um sol mordaz mas que nos seus olhos ficava doméstico.
- É uma parte desprendida de você, um lampejo da tua vontade que não se curva
nas encruzilhadas, não calcula sua boa-vontade, e que já está muito acima da terra
onde você se arrasta. É um bom sonho, te ensina uma técnica da liberdade.
- Ensina, eu concordei. Mas por que, mãe Electra, eu preciso desta lição
agora que eu pinto estas grandes telas, todas de uma cor só, e minha experiência
se tornou completamente inconclusiva?
Ela fez um volteio com a cabeça, a feiticeira, não sei se para se livrar de mim
ou para me hipnotizar. Já não via na sua imagem um enxame de vaga-lumes e nem a pinga,
o maço de cigarro aberto, a caixa de fósforos comprada ainda ontem, a curva de 90 graus
entre os dois paralelepípedos. Ela não queria confissões. Eu só via a khora.

No outro dia, no café-da-manhã eu tomo um chá de cascas de abacaxi para minhas vísceras
já que elas me acordaram de noite pensando no desemprego: ter que rifar meu saxofone.
Ouço uma melodia das Pussy Riots, com as caras tapadas de não sei quantas cores,
uma melodia mixada. O rio tem afluentes.
Sinto minha cabeça cercada de pedaços de coisas próximas por todos os lados.
Meu couro cabeludo sempre foi líquido: clara de ovo, caco de vidro, nostalgia.
As Pussy Riots elas invadiram a catedral, há muitos anos atrás.
A catedral que era uma piscina soviética. E eu sou museu?




sabato 13 giugno 2015

Georges e Alfred

Para que o mundo seja habitável, há que desrespeitar todas as coisas.
O universo tem horror a qualquer ordem estabelecida.
Economia - no sentido do imperativo da habitação - é a teologia
do broto da praga.
A pergunta da encíclica: quem fez, para quem fez?
E se houver, atravessando a lei geral da subsistência, uma aventureira?
Cavala encilhada por uma vulva vagabunda - dois lábios vertidos e revertidos,
sem querer persistir mas arfando um nexo anexo ao dos administradores.
Ela, Marcela e concrescente, nunca é quixote
e tem nome de bruxa.

Parece morro

Entre eu e morri havia um morrinho.