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domenica 29 novembre 2009

Hoje eu suava suavemente

aberrações, aberrações, aberrações
engulo os teus dados, penteio tuas matrizes
queria bolinar os sistemas estabelecidos com a cauda do meu piano de rabo
meu ventre se solta
procuro os macacos, abro as gaiolas
eles vão me ensinar a respirar
engulo os teus dedos, penteio teus pelos
bolinar com a cauda do teu piano
a fricção, a fricção, a fricção

Maria, (quase) de Fabiane Borges

Sirvo de alimento a feroz vontade que não sacia. Deito na rua, já bêbada de cachaça dada, durmo sono profundo, não sinto o duro do chão, nem os carros-barulhos que rasgam a noite em sons agonizantes. Sonho um sonho pesado, tranqüilo, entregue. Já não tem volta. Não quero voltar. Dignidade cansa demais, estou preguiçosa de levantar cedo e ganhar pouco, comer pouco e cansar. Não sonho com telefones e viagens caras, descubro que não sou escolhida. Eles são os escolhidos. Eu os assisto, como um dia assisti televisão.

Sou doente, sofro do fígado. A cachaça dissolve minha dor e os anjos da noite me dão sanduíches. Não estou sozinha, têm outros como eu que habitam aqui. Tomara que não falte cachaça no inverno, nem loló, nem algum doido metido a poeta que me fale poemas pela metade, dividindo seu cobertor comigo, caso venha a perder o meu.

Meu cobertor é vermelho, com algumas manchas mais intensas, de quando mênstruo; e algumas marcas de porra, mas já nem me lembro de quando foram. Arrasto meu cobertor vermelho rua afora e "instalo" minha imagem pelas calçadas, faço chorar senhoras sensíveis de dentro dos carros - puritanas filhas de uma puta, choram de culpa religiosa. Elas pensam -Deus, como pode alguém viver assim, o que eu poderia fazer? Sou tão impotente!

Minha desgraça é o seu mais profundo terror.

Elas pensam que não sobreviveriam. Mas sobreviveriam. Se adaptam: e o sorriso não depende de nada. O riso ri quando quer rir, a lágrima cai quando o olho quer chorar e a dor é constante, mesmo à dor se acostuma.

Só sofro quando tenho pena de mim mesma, mas até isso vira capricho, já estou noutra há algum tempo. Uma espécie de letargia, tranqüila e insossa. Minha memória funciona por relâmpagos. Às vezes acho que vivi algo, depois lembro que foi alguém que me contou, eu confundo as histórias, carrego lembranças de outros - e filhos e cachorros, calçadas...

Um dia sentava na calçada da vila, contava os carros com um filho que tive. Deve estar por aí, ou seria filho de alguém outro? Já não interessa muito, só quando tenho pena de mim mesma. Memória não tem dono. Nem filho, tem dono não. Não conto. Nem conto os carros. Mas as vezes urro.

Berro como uma cadela no cio e gasto toda minha angústia em gritos, como alguém que reza pra deus, logo passa, o sono sempre vem. Indubitavelmente!

Tenho experimentado vários lugares na cidade. Depende do tempo. Às vezes me acomodo numa rua bem movimentada, com meus sacos pretos, estendo a mão e chego a dormir com a mão estendida, umas pessoas me dão dinheiro então compro mais cachaça e uns pães e assim me sinto meio rica, já divido com outro qualquer, prá trocar uma idéia. Fui importante ou nasci ali, depende da temperatura, e da minha úlcera.

Quando cago, alguns bichos saem da minha barriga , eu até tinha nojo deles, agora compreendo que faz parte, toco-os, brinco com eles como se fossem minhoquinhas achadas na terra molhada, e são. Se uns saem, outros devem entrar, e não é raro eu conversar com eles.Tenho coceiras nas pernas, sei que é sarna, essas coceiras me entretêm, as vezes coço-as a noite inteira e fico adivinhando onde ela vai coçar, só é ruim quando é nas costas, por isso, ando sempre com uma varinha que arrasto pelo chão, varinha mágica que acaba com minhas coceiras, também sou bruxa. Os piolhos como-os todos, não suporto piolhos, são que nem crianças pequenas, tem que se dar atenção o dia inteiro. Estralo eles entre as unhas e como-os, sem piedade. Como os macacos comem.

Eu tenho um nome, e vou dizer se você perguntar.


composto por Fabiane Borges, espalhado e deturpado por Heráclitas, caquéticas que insistem em adiar tudo.
(vai ter que ir pra rua, os blogs são pequenos demais para Maria, dos lábios esticados)

venerdì 20 novembre 2009

haikai com Priscila RR

nova metáfora
disfarçada de anáfora
velha catáfora

mercoledì 18 novembre 2009

Muna Yousef me manda um poema com meu nome

Bensusan

palestinas fazem pães
filhos para não desaparecerem do mapa
juventude
mesquita
mercado
heroína
sinagoga
chá preto
cedro do líbano
estrela do oriente

lunedì 16 novembre 2009

El solicitante descolocado de Leónidas Lamborghini

Leónidas Lamborghini reinventou o poema de 1927 até uns poucos dias na Argentina.
Sem comiseração. Ele não se desinventa mais.

El solicitante descolocado

Desempleado
buscando ese mango hasta más no poder
me faltó la energía la pata ancha
aburrido hace meses, la miseria
busco ahor atrabajo en la era atómica
dentro o fuera del ramo
si es posible.

Todos los días abro el mundo
un jardín de esperanzas
en la sección empleados
voy clasificándome
atento
este aviso me pide.

Entonces
a escribir con pasión y buena letra
adherido con lealtad
—ser claro—
escucho el ruego del ruiseñor
uniendo lo primitivo a lo culto

la inspiración a la escuela
trato de seducir
con mis antecedentes.
Solicitud detállame
el que suscribe
práctico en desorganizar
está deseando
ganarse un pan en tu establecimiento
hombre de empresa
casilla de correos.

sabato 14 novembre 2009

Heráclitas


Na madrugada do universo é sempre tarde,
sobreviver: deformar, desformar,
transtornar, atormerntar.
ter fome, mais fome, e desviar, desviar do que está pronto, deixar o arquétipo caquético. Me move a fome. Eu sou como o universo: eu trago. Devoro.
Encho o planeta de rugas – minha pele, minhas vísceras, minha respiração. Caquética, caquética, caquética e eu tenho fome.
Tenho fome de virar em tudo que não sou.
Tenho fome de fricção, me esfrega, me esfrega, me esfrega.
Eu ardo. Minhas mandíbulas, minhas clavículas,
meus tornozelos se dissipam.
Tenho fome de fricção.
Tenho fome de ser contra ser tudo que não sou. Minha ânsia, meus pés, minha fome de minha carne virada em teus olhos, virada em teu pó, virada em teus vermes, virada em teu barulho – tuas flatulências.
Água fresca corre dentro de você, mesmo nos teus rios mais velhos, nos teus rios sem bordas – nos teus rios que carregaram as bordas com ele.

Não me olhe como seu eu fosse pérola, não sou mais nada, nem ostra, nem areia
Meu corpo todo é marcado do que eu deixei de ser.
Decaio, decaio, decaio – e ainda me sobra a decair
porque não há destruição rumo ao nada.
Sairei às pressas, assim como estou, e andarei pelas ruas. Com meu cabelo em desalinho. Que faremos amanhã? Que faremos jamais? O banho quente às dez. E caso chova, um carro às quatro. Fechado. E jogaremos uma partida de xadrez, apertando olhos sem pálpebras A espera de uma batida na porta.
São tuas qualidades incendiárias que farão por você amanhã.
Teus vermes incendiários. Teus ímpetos de cuspir.
Porque o fogo é falta e excesso.

Sob qualquer coisa que flutua pode se encontrar outras coisas que fluem.
Nem a mesma gota, nem o mesmo pingo. Nem a mesma planta. Nem a mesma enxurrada.
Estorrica, estorrica, estorrica – enruga, enruga.

Os mesmos também se enrugam.
Minhas rugas decorrem emanações. Cabelos emanam, folhas emanam. Já fui planta e pássaro, moço e moça, pois sabia que nada cauteriza a desavença. Nem se controla o esplendor das vinganças por baixo dos panos substituindo florestas por jardins.

Carrego a potência da quebradeira.

Os princípios envelhecem.

Ouvi dizer que a percepção é o acontecimento que toma conta das mulheres, das éguas, das cadelas.
Tudo toma conta de tudo. [...] vento, fogo e poeira – tudo invade tudo.
Nunca envelheço duas vezes com as mesmas rugas.

Tentam extirpar a quebradeira do mundo. Já o âmago evaporou.
A danação das essências.

Para a lua, as marés são não mais que sua criação. Todas as coisas são criadoras de realidades. E todas encontram algumas outras prontas: não, nunca prontas, apenas suficientemente estagnadas. E as tornam decrépitas.

O corpo queima, arrepia, arde, cheira, molha, sua, treme...
Eu nunca larguei o mesmo sangue duas vezes.
Minha menstruação é minha transformista.
Eu me rasgo, eu me dilacero, eu me fertilizo.
Caquética e fértil, assim é o planeta, assim são todas as coisas – prontas pra gerar sementes, mas nunca prontas. Sou tua fêmea velha, sou tua potranca velha, vem, me devora que eu tenho fome. Corre água fresca de dentro de mim. Corre sangue fresco de dentro de mim. Corre seiva fresca de dentro de mim. Tudo mistura, tudo borra. Tudo fertiliza.
Na minha fome.

coisas turbulentas surgiram de águas estagnadas.

Me disseram que eu vou retornar ao pó, eu perguntei: que pó?
Os corpos sempre estão à disposição, mas as disposições não tem dono.
Elas se danam. Se abandonam.
Danação.

O abuso é preciso disseminar como um incêndio.

Há muito mais entre o caos e a ordem
do que tem pensado estes últimos milênios aflitos
que vi com meus olhos, com minha pernas, com meu grelho ensangüentado, com minhas tormentas simbólicas e diabólicas.
Eu vi os túneis secretos por baixo das grades das prisões e os túneis secretos por baixo dos túneis secretos das prisões.
Não há prisão de segurança máxima.
[...] debaixo da pedra havia um caminho.

a natureza tem suas gambiarras.

O mundo não pode ser abreviado
A decrepitude não tem governo – não tem princípio.
Caquética, e protética, caquética, caquética.

A natureza ama esconder-se. Nenhum corpo pode ficar completamente vestido,
nem completamente pelado. Mas os biombos conspiram.

Minhas rugas, meus fluidos sangues, eles escavam o mundo.
Sou Heráclita, caquética, sou toupeira, lavradura.
Minhas palavras não ficam prontas. Elas são atrizes. São transformistas.
Qualquer palavra é desmantelada. Ingovernável.

Confio mais no esquecimento que nas bibliotecas.

nada de mim eu quis que se mantivesse, quase nada perdurou e eu nunca parei de envelhecer.

E rugas, rugas, rugas. Rugas degeneram os princípios, os círculos, as estátuas de bronze feitas de pele. Degeneram as rugas. Degeneram as ruas. Meu sangue caquético, decrépito e fértil na tua estrada. Me emprenhem.

Eu nunca menstruo o mesmo sangue duas vezes.

Uma (Alice) Ruiz

entre uma estrela
e um vagalume
o sol se põe


(e outro para o eros é eris:
ônus do abandono
foi um bando que me deixou
sem dono)

giovedì 12 novembre 2009

A Silly Poem by Spike Milligan

Said Hamlet to Ophelia,
I'll draw a sketch of thee,
What kind of pencil shall I use?
2B or not 2B?

mercoledì 11 novembre 2009

Eve Ensler e a minissaia

Minha minissaia

Dos “Monólogos da Vagina” de Ensler

para Geisy Arruda e as profundezas do escândalo

Minha minissaia não é um convite
uma provocação
uma indicação
do que eu quero
ou dou
ou que eu flerto.

Minha minissaia
não está implorando por isso
não está querendo que você
a arranque de mim
ou a abaixe até o chão.

Minha minissaia
não é um argumento jurídico
para você me violentar
ainda que já tenha sido
e não vai servir de prova
em nenhum tribunal.

Minha minissaia, acredite ou não
não tem nada a ver com você

Minha minissaia
tem a ver com a descoberta
do poder das minhas pernas
e do ar frio do outono passeando
pelo interior das minhas coxas
tem a ver com tudo o que eu vejo
ou passo ou sinto viver dentro de mim.

Minha minissaia não é prova
de que eu seja estúpida
ou indecisa
ou uma menininha maleável.

Minha minissaia é meu desafio
e você não vai me amedrontar
Minha minissaia não está se exibindo
é esta que eu sou
antes que você me faça cobri-la
ou disfarçá-la.
Acostume-se.

Minha minissaia é felicidade
Eu posso me sentir no chão.
Sou eu qui. E eu sou gostosa.

Minha minissaia é liberação
bandeira no exército das mulheres
Eu declaro estas ruas, quaisquer ruas
o país da minha vagina.

Minha minissaia
é água azul turquesa
onde nadam peixes coloridos
um festival de verão
na escuridão estrelada
um pássaro cantando
um trem chegando em uma cidade estrangeira
minha minissaia é um rodopio
um suspiro profundo
um passo de tango
minha minissaia é
iniciação
apreciação
excitação.

Mas acima de tudo minha minissaia
e tudo que ela cobre
é Meu.
Meu.
Meu.


fontes da tradução:
http://www.politikaetc.info/
http://www.criminologiaetc.blogspot.com/
Raphael e Aline