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sabato 14 novembre 2009
Heráclitas
Na madrugada do universo é sempre tarde,
sobreviver: deformar, desformar,
transtornar, atormerntar.
ter fome, mais fome, e desviar, desviar do que está pronto, deixar o arquétipo caquético. Me move a fome. Eu sou como o universo: eu trago. Devoro.
Encho o planeta de rugas – minha pele, minhas vísceras, minha respiração. Caquética, caquética, caquética e eu tenho fome.
Tenho fome de virar em tudo que não sou.
Tenho fome de fricção, me esfrega, me esfrega, me esfrega.
Eu ardo. Minhas mandíbulas, minhas clavículas,
meus tornozelos se dissipam.
Tenho fome de fricção.
Tenho fome de ser contra ser tudo que não sou. Minha ânsia, meus pés, minha fome de minha carne virada em teus olhos, virada em teu pó, virada em teus vermes, virada em teu barulho – tuas flatulências.
Água fresca corre dentro de você, mesmo nos teus rios mais velhos, nos teus rios sem bordas – nos teus rios que carregaram as bordas com ele.
Não me olhe como seu eu fosse pérola, não sou mais nada, nem ostra, nem areia
Meu corpo todo é marcado do que eu deixei de ser.
Decaio, decaio, decaio – e ainda me sobra a decair
porque não há destruição rumo ao nada.
Sairei às pressas, assim como estou, e andarei pelas ruas. Com meu cabelo em desalinho. Que faremos amanhã? Que faremos jamais? O banho quente às dez. E caso chova, um carro às quatro. Fechado. E jogaremos uma partida de xadrez, apertando olhos sem pálpebras A espera de uma batida na porta.
São tuas qualidades incendiárias que farão por você amanhã.
Teus vermes incendiários. Teus ímpetos de cuspir.
Porque o fogo é falta e excesso.
Sob qualquer coisa que flutua pode se encontrar outras coisas que fluem.
Nem a mesma gota, nem o mesmo pingo. Nem a mesma planta. Nem a mesma enxurrada.
Estorrica, estorrica, estorrica – enruga, enruga.
Os mesmos também se enrugam.
Minhas rugas decorrem emanações. Cabelos emanam, folhas emanam. Já fui planta e pássaro, moço e moça, pois sabia que nada cauteriza a desavença. Nem se controla o esplendor das vinganças por baixo dos panos substituindo florestas por jardins.
Carrego a potência da quebradeira.
Os princípios envelhecem.
Ouvi dizer que a percepção é o acontecimento que toma conta das mulheres, das éguas, das cadelas.
Tudo toma conta de tudo. [...] vento, fogo e poeira – tudo invade tudo.
Nunca envelheço duas vezes com as mesmas rugas.
Tentam extirpar a quebradeira do mundo. Já o âmago evaporou.
A danação das essências.
Para a lua, as marés são não mais que sua criação. Todas as coisas são criadoras de realidades. E todas encontram algumas outras prontas: não, nunca prontas, apenas suficientemente estagnadas. E as tornam decrépitas.
O corpo queima, arrepia, arde, cheira, molha, sua, treme...
Eu nunca larguei o mesmo sangue duas vezes.
Minha menstruação é minha transformista.
Eu me rasgo, eu me dilacero, eu me fertilizo.
Caquética e fértil, assim é o planeta, assim são todas as coisas – prontas pra gerar sementes, mas nunca prontas. Sou tua fêmea velha, sou tua potranca velha, vem, me devora que eu tenho fome. Corre água fresca de dentro de mim. Corre sangue fresco de dentro de mim. Corre seiva fresca de dentro de mim. Tudo mistura, tudo borra. Tudo fertiliza.
Na minha fome.
coisas turbulentas surgiram de águas estagnadas.
Me disseram que eu vou retornar ao pó, eu perguntei: que pó?
Os corpos sempre estão à disposição, mas as disposições não tem dono.
Elas se danam. Se abandonam.
Danação.
O abuso é preciso disseminar como um incêndio.
Há muito mais entre o caos e a ordem
do que tem pensado estes últimos milênios aflitos
que vi com meus olhos, com minha pernas, com meu grelho ensangüentado, com minhas tormentas simbólicas e diabólicas.
Eu vi os túneis secretos por baixo das grades das prisões e os túneis secretos por baixo dos túneis secretos das prisões.
Não há prisão de segurança máxima.
[...] debaixo da pedra havia um caminho.
a natureza tem suas gambiarras.
O mundo não pode ser abreviado
A decrepitude não tem governo – não tem princípio.
Caquética, e protética, caquética, caquética.
A natureza ama esconder-se. Nenhum corpo pode ficar completamente vestido,
nem completamente pelado. Mas os biombos conspiram.
Minhas rugas, meus fluidos sangues, eles escavam o mundo.
Sou Heráclita, caquética, sou toupeira, lavradura.
Minhas palavras não ficam prontas. Elas são atrizes. São transformistas.
Qualquer palavra é desmantelada. Ingovernável.
Confio mais no esquecimento que nas bibliotecas.
nada de mim eu quis que se mantivesse, quase nada perdurou e eu nunca parei de envelhecer.
E rugas, rugas, rugas. Rugas degeneram os princípios, os círculos, as estátuas de bronze feitas de pele. Degeneram as rugas. Degeneram as ruas. Meu sangue caquético, decrépito e fértil na tua estrada. Me emprenhem.
Eu nunca menstruo o mesmo sangue duas vezes.
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