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mercoledì 12 ottobre 2016

Adianta tudo

Sobreveio a mim o messias do dia: um moço com dez anos de yeshivah
me fazendo contar (como se isso pudesse ser contado)
que eu confundi çarşamba com perşembe.

Ou seja,
hoje com amanhã.
Não que hoje é amanhã e nem que amanhã é hoje.
Mas que o dia de Kippur que é hoje
era amanhã.
Eu fiz com ele as contas persuadido que estava
de que o calendário me diria perşembe
e no entanto as contas disseram hoje - çarşamba.

Kippur-perşembe era preparado, esperado e tinha o peso do futuro
marcado,
o futuro que é previsível: um dia da desculpa
que é também um dia de culpa
e um dia de questões
(que em geral vem atormentadas
ainda que de uma tormenta
que dura só um dia):
porque jejuar?
por que não jejuar?
Questões indecidíveis.

Dia de medo, dia de irresponsabilidade,
dia de atrevimento, dia de obediência.

Tudo isso estava no Kippur-perşembe
mas por um milagre do tempo presente
não está no Kippur-çarşamba
já que o moço dos dez anos de yeshivah me apareceu hoje,
às 3 da tarde,
na hora do vão das preces
para quem jejua todo o dia.
E me disse: já não creio,
vês, estou comendo.

O kippur-çarşamba não é um Kippur
projetado, ele é lançado sobre mim,
ainda que por um erro de contas.
Os erros são milagres e são messias.
Um messias, que adianta o dia,
que libera o amanhã.

NOTA: Minha mãe dizia de quem estava mal-informado
que confundia çarşamba com perşembe
(ou seja, em turco, quarta-feira com quinta-feira)

domenica 9 ottobre 2016

Adiário

...aquela rua com sanduíches de pão e queijo no verão...
um sopro, e eu de galeria em galeria
de loja limpa em loja limpa
vomito.

mort au capital / tiro uma fotografia
não tiro.

quando eu quis deixar de ser humano
me cresceram as turbinas, os sacos plásticos,
os rabos de ratazanas
e se tornaram estranhos os meus cios.

le temps au delà de l'être / como um Prato de falafel
não como.

são tão enormes os desejos...
maiores que os planetas mas sem formas,
sem cor, sem direção. vultos.
ou nem vultos, ecos distorcidos,
descentralizações.
- Veja aqui na sua frente o que você quer.
- Ah, então é isso?
- É bem isso, não é isso que você quer?
- Não sei.
Queria querer dizer assim:
- E se algum dia ninguém me mostrar o que eu quero?
Como vou encontrar o que procurar?
Esses planetas são maiores do que tudo o que eu enxergo,
tudo o que eu penso, tudo o que eu espero.

les animaux veulent sortir de la jungle / acho os congoleses mansos
não acho.

um pé dentro de casa, um pé fora de casa,
estar habitado por um meteoro,
estar sem pé.
veio uma nuvem e me deixou ouriço
virado do avesso; como quando vinha um vento
agora não veio.


sabato 8 ottobre 2016

A esta altura

Então, arbusto, é isso. É isso?
Teus gravetos caem, tuas folhas secam, teus verdes escurecem.
Concentras tudo o que sobrou nas tuas pitangas -
sabendo que também tem uma manga para dar,
e gostarias de manufaturar peras.
Mas elas vão ser sabores das tuas pitangas. É isso?
Não, não é porque tenho saudades dos prazeres
que não me lembro quais são.
E arbusto eu fujo.
Inventaria outro prazer, que não é florir.
Nem é ir e vir
e nem sequer é fugir. Não sou arbusto
das folhas-bandeira,
nem sequer sou vegetal quando tudo o que há na minha seiva
é lingua morta
é letra morta
é arqueologia.
Uma vez achei jogado no chão
a satisfação das minhas necessidades
mas não tinha satisfação porque as necessidades
são colônias de elefantes
e a satisfação é bicicleta.
Mas agora, outra vez e depois outra vez,
eu arbusto que solto pitanga
não vou achar na rua o carvão e titânio,
um gosto como o de uma fruta,
uma luva.
Faço com as mãos uns dedos que não entram nela.
Descoplado.
Saio com a alma ardida no outono vestindo um sapato
que me faz andar na ponta dos pés.
Tu não preferes agora andar pouco
e ficar calado?



Erotex & Dyonisina no MAR mês passado