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venerdì 25 gennaio 2013

As primeiras rugas

Em brancas nuvens fez o Buca L'Ombrello 5 anos.
Ele sempre gostou de nuvens brancas.
Agora ele começa a cultivar, em brancas nuvens, as primeiras rugas

mercoledì 16 gennaio 2013

Testamento (ou apenas Testemunho)

Vim preparar para morrer.
Todos os dias.
Aprendi que não é retirada para o acabado,
é permanecer pela lama solta.
Não contemplando, mas arrastando nas pedras, como musgos.
Não sobrevivendo depois de sobreviver,
mas seguindo sem ter com o que seguir
sem ter carne, nem osso, nem uma grama de tutano.
Vim preparar para despedaçar.
Bater com os pés um ritmo centrífugo, explodir.
Eu e a mariposa devorada pelos abutres e também
eu e o sol, ficando prontos para se largarem de si,
já que nem tudo é vida.

Há o outro lado, me contam as horas, sonhadas ou vigiadas.
Há o lado explícito, material, incontrolável e voluntarioso
de todas as coisas - aquilo do que eu sou feito:
as peles que chamo minhas, minhas rugas, meus calos.
O lado bruto, a parte prima, que nunca seguirá um caudilho.
E que é a garça, a superfície plácida do lago em um dia quente
e até o vento súbito da madrugada com testemunhas.
Também as estrelas a menos que -87 graus celsius, os subterrâneos,
as valas comuns ensopadas de vermes, o feio, o sujo, o intragável.
Vim preparar a catábase.
E destilar o sangue próprio das catábases:
as moléculas que padecem as tripas dos ratos
e desabam nas pontas das conchas das praias na espuma.
Preparar para o pó.
Gosmento, jogado no lixo e que sobe aos ares.
Também meus pós preparam sua deriva
todos os dias sem substância, já desgovernados,
repetem os batalhões genéticos das moléculas
dos meus rins como quem vira Orfeu por um segundo
e se largam. Eles me preparam, me dobram, me enrugam.
Me vestem e me maquiam para ir para fora,
para fora da legislação.
E me devoram. Ganho intimidade com minha microbiota
que me conhece, por que é feita de minhas outras de dentro,
minhas parceiras de corpo e que se aprontam
para fazer de mim o outro delas,
o outro de dentro.

Vim me preparar para misturar com o resto.
Todos os dias.
Aprendi que não é sair para fora, o resto é cosmos.
Fazer um ninho na tempestade, no fogo, no chorume,
fazer sociedade com os elementos
e cultivar o foro menos íntimo.
Preparar para captar pela epiderme
mais do que a aspereza e a suavidade das bordas,
os desacordos, as pulsações, as síncopes
do resto das coisas. Os compassos que se interrompem,
o concerto grosso que se segue depois que o alaúde
se quebrou em detritos.
Shekhinah em diáspora.
Preparar para engolir terra pagã,
sem hóstia, mas cheia de microdeuses e mocréias
de boca cheia.
Preparar para virar: virar boca, e ser abocanhado,
entregue às traças.

Por isso peço aos que me amarem:
por favor com cuidado, o meu cadáver, deixem no começo do caminho;
pedaços aos corvos, aos vermes da terra,
às piranhas da correnteza, e também ao vento, ao fogo,
enterrem alguns ossos, me engulam se puderem, me enfiem no cosmos!
Quem tiver as vísceras prontas, sirva-se dos meus destroços,
façam banquete, temperem a carne com jalapeño, com rocoto, com o que gostam
e sirvam os roedores - os pequenos diabos dos vestíbulos,
os mestres de cerimônia, os tapetes vermelhos
do céu aberto.



martedì 8 gennaio 2013

Cholula: Meu delírio apressado com uma igreja por cima

Cholula.
Uma pirâmide subterrânea com uma igreja por cima.
O campo aberto dos horizontes, todo aberto à conquistas.
Vulcões, emboscadas traídas, massacres imprevistos pela chuva,
milho.

Ao lado da pirâmide subterrânea com uma igreja por cima,
há uma casa de loucos.
Eles não são os guias polifônicos que contam dos calendários,
das orgias, das batalhas e das pedras dos moradores antigos.
Os loucos fazem outros relatos, ainda maiores, ainda mais gloriosos,
alguns mais sangrentos, outros mais cosmogônicos, outros minúsculos.
Os relatos que não são publicados, e nem são ouvidos.
O que eles sabem da pirâmide subterrânea, está mais subterrânea.
E com um manicômio por cima.

O sol com vento das eloquências silenciosas me faz pensar em mim mesmo.
Sou turvo.
Sou uma enxurrada que seca em 1 minuto.
Tenho uma casa de loucos ao meu lado - que berra estridente e me dá medo.
E tenho


uma igreja por cima.

mercoledì 2 gennaio 2013

Por anos

No primeiro dia de um ano, Belisário, Ernesto e Helena dançam na rua.
Depois comem um fungo sagrado de milho, huitlacoch, como se fosse uma comida abençoada.
Dos deuses que foram descobertos pela arquelogia.
Pensam nos deuses abandonados, os milhares de deuses
já sem nenhum fiel,
sem nenhuma devoção.

Belisário se lembra dos hieróglifos que aprendeu para não ser entendido
nem sequer por ele mesmo - estar desinterpretado
não ser objeto de fé, nem de compreensão, nem de clemência.
Ele deixa Helena e Ernesto na rua e vai ao campo.
Morde as folhas. Todas as que encontra.
Nas montanhas mexicanas que não conhecia.
Enche a boca de folhas que não conhecia.
Lembra que no ano novo não se cospe. Não se cospe. Se ama os fatos.
Sente as tonturas sozinho. Ele come as folhas, mastiga e engole.
Não sente mais a calma de um domingo da sua infância.
Sente que não há companhia para ele, há pedras.
Sussurra hieróglifos.
Acha que fez tudo errado.

Helena também acha que fez tudo errado.
Ernesto escreve uma carta para alguém que atormenta seu sono por meses: tenha coragem.
A coragem é menos que o amor.
Helena pega um ônibus para uma cidade grande.
Quer se sentir mais anônima.
Três pombos brancos soltos na mesma encruzilhada, e os três voam para longe da feira.
Apenas mais um ano.
Cai um cisco na beira do olho de Ernesto.
Ele sopra.