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giovedì 31 luglio 2014

Mata cerrada que é memória

"La nécessité débouche toujours sur une nouvelle nécessité",
disait un sage selon Jabès

Tem uma fina crosta eventual e mal-acontecida
cobrindo alguns delírios de realidade passada
- o que foi mesmo que eu fiz?
E, é claro, uma necessidade leva a uma nova necessidade,
uma fissura a uma clausura,
uma compulsão a uma fixação.

As coisas que não são necessárias,
einmal ist keinmal,
são lembradas desencadeadas -
uma tremedeira.
Aquilo tudo que podia ter sido
e foi.

Uma manhã…
Um assoalho que ressoa a manhã no chão.

venerdì 25 luglio 2014

Minhas identições

Volto a Abya Yala, de dois sopetões, primeiro em Tlalocan, terra da fertilidade bruta, depois ao Goiás, onde fizeram Brasília para criar modernos à ferro e concreto armado. Cidade primeiro, habitantes depois. Os modernos são grandes reterritorializadores - suas terras conquistadas são ombros camponeses (e rios limpos, asas de borboletas mondriânicas, sapos com mensagens cifradas). As conquistas são sempre regadas por epistemicidas. Por isso os camponeses e os indígenas são os estranhos que desaparecem. Um epítome desta época da modernidade (nem tardia e nem prematura, provavelmente): o outro está de costas. Partindo. Indo para longe e evanescendo. Um pouco como diz Byung-Chul Han: o negativo exorcizado. Mas não só exorcizado, extirpado. Há uma fantasmagoria nas causas ecológicas e indígenas: de um passado que precisa ser reinventado já que é esfumaçado. É como as marcas das adinkras nas formas dos tecidos afros de Abya Yala: conteúdos esquecidos, reminiscências persistentes. O outro é um fantasma - e por isso Han compara ele a um fardo. O que assombra é também alguma coisa que precisamos carregar. Brasília é cheia de fantasmas. E quase não há outros outros.

É um tempo excruciante se marcamos os ponteiros com Gaza. Tenho assistido a documentários sobre a Nakhba palestina
(como esta da Al Jazeera), o que me informa já que fui amamentado com um leite pró-sionista. E então penso, desde Abya Yala, o continente que foi primeiro Colónizado e foi reColónizado tantas vezes. E nele eu penso na minha posição na ordem Colón das coisas: white but not wasp, cidadão de um país correndo atrás, com identidades internacionais prontas para a perseguição e para a inquisição e para simulação (judia, sefaradi), criado para ser urbano e desprezar o que é camponês, educado para ser masculino mas com dose grande de heteroginefilia e muita autoginefilia, acolchoado por obviedades da classe média, cercado de gente comprometida com a brancura e que gosta do afro sem nome. Na minha escala entre global e local - entre Güeros e índios, habito um meio. Índios de autóctones, de longínquos, de adivasis, de independentes. Na empresa de abrir caminhos para modernos, este povo de geometria variável, como diz Latour, e crescente anseio por Lebensräume, eu fui colocado no meio da escala. Como brasileiro, não era um indígena mas também não era um ocidental. Como judeu, eu não era um desabrigado, mas trazia uma história (oficial) de desabrigo. Quando eu crescia, acreditei tanto nestas arquelatrias de identidade que pensei que teria que escolher entre dedicar-me aos latino-americanas ou dedicar-me às judeus. Eu percebi logo que os híbridos são diplomatas. Modernês eu falava com sotaque, palavras indígenas, balbuciava. Onde estava o orgulho e onde estava a vergonha, decidiria que diplomacia eu faria - a de Cortez ou a de Gonzalo Guerrero.

Estas minhas duas identidades arquelátricas já estavam postas a serviço (diplomático) dos modernos quando eu nasci. A haskalah (iluminismo) judaico que aconteceu na Europa desde o fim do século 18 - e que Napoleão convocou e mostrou ao mundo - foi o berço do sionismo. Esqueçam suas raízes indígenas incômodas e modernizem-se: sejam uma nação e ajudem os modernos - os globais - a organizarem o mundo para que eles o entendam (em governos, fronteiras, autoridades). A Nakhba seguiu-se daí. A Shoah talvez tenha sido o último suspiro da modernidade cheia de raízes profundas disfarçadas contra os judeus errantes, nômades, descabidos. Depois disso, alguns judeus se aliaram à modernidade cheia de raízes profundas disfarçadas (os globais cheios de localidades recônditas) contra os errantes índios. Alguns judeus aprenderam a lição: os modernos respeitam quem garante a expansão de sua geografia. É por isso que Israel é admirada pelas classes modernas brasileiras: paradigma de modernidade em expansão. Na missão de ser um exemplo para os índios atrasados que insistem em fazer diferente. O Brasil sonha em ser ocidente. Em ambos os casos, a modernidade é nas toras: não há tempo para hospitalidade ou hesitação já que tem sempre o mestre olhando. Até quando o mestre preferia não ter que ver.

A colonização é uma eterna vigilância. Mesmo que o colono esteja dormindo. Já eu, estou indo para outro lugar.
Minha identição de leite caiu.

PS: este texto é gêmeo deste. Seu título é levemente inspirado no livro de Valeria Luiselli.

mercoledì 16 luglio 2014

Alvorada e luz acesa

Cheguei na terra. Santa por um fio, prometida como o terremoto.

Encontro no fundo do bolso uma caixa de ferramentas:
tarefas, ordens do dia, mandamentos.
Rasgo. Estar contente não é uma norma.
A norma é como a crítica e elude toda realização bonita.
Penso na quadratura do círculo -
nada pode ser contado do início ao fim.
Consulto uma página na rede
para saber a hora em que o dia nasce:
5:50 em Cancún.
Amanhã dia e noite têm o mesmo tamanho.
O futuro pertence a quem repete.
Já são seis horas. Mas aqui não é Cancún.
Na cidade do México o dia está prometido
para 6:43. Daqui a quarenta minutos.
O dia não está atrasado.
Acendo a luz.

giovedì 10 luglio 2014

Um poema que achei sobre Abya Yala em um clima Epistemologias do Sul, em Coimbra

Abya Yala Wawgeykuna*

I

Abya Yala apachi q'osni patapi
Tawa K'uchu tawantinsuyumanta
Yawar qhocha kutipun
llajsakun sirch'i nina urqota.

II

Abya Yala llanp'a ch'ujrikuxqa
Kallpa makanakuyta mana atisqarkuchu
Jatun ruphyay ukhu urqopi
Sach'a ukjupi panpakuna
Sallqa ch'inllan...

III

Unay ayllu yachaykunapi
Atimullpusqa chay jina llajtakunamanta
Chinkasqa nay uray janaj pachapi
Winaypaj arpa atisqa simir nisqa.

IV

Mast'aspa makikunanchejta
Tawa nujunakuymanta
Kay pp'unchayman chhayamunchej
Abya Yala wawqeykuna

V

Kay yuyayniyki llanthupi
Ancha sinch'i Pirqapi juqarina
Llakijmanta mujujjima
Tukuy kayta yuaytawan
Qhatisuchej chakisarukunanta
Ripusqankunawan.

Traducción al español[editar]
Hermanos americanos*

I
Abya Yala sobre las aras humeantes
Los cuatro puntos cardinales
Se tornan infiernos de sangre
Lava incandescente funde su potencia

II
Abya Yala, pura, descoyuntada
Batalla de esfuerzos imposibles
De trópicos majestuosos y ardientes
De selvas profundas, llanuras...
Mesetas salientes...

III
Razas ancestrales, culturas diferentes,
Pueblos fantasmas
Perdidos en el infinito
Siempre víctimas de vanas promesas.

IV
Tendiendo nuestras manos
Desde las cuatro ternuras
Llegamos a este día.
Hermanos americanos.

V
A la sombra de esta memoria
elevemos una firme columna
Como simiente de ansiedad
Recordando todo esto
Seguiremos las huellas

mercoledì 9 luglio 2014

A agenda oculta na tua cabeça

Se notares bem teu planeta
verás que o chão tem molas
que te arremessam para o céu -
são alforrias, euforias, fora da calçada e da estrada
e até do antropoceno.
Podes descer o rio Tejo com cuidado,
pé ante pé, já que qualquer tropeção te leva além
ou aquém.
Ouves os murmúrios do rio, que falam das macias verdades,
do sal do mar ou da depressão que anima as gentes
a sairem pela boca do rio buscando cominho a açafrão.
Vais sentir as volúpias de abrir-te como um túnel
do que vem do magma e vai para Urano.
Contem-te um pouco,
mas não demasiado. O chão te encontrou.
Depois dê teus pulinhos.
Eles aprontam a estratosfera
para a safra de fótons verde-abacate.

giovedì 3 luglio 2014

Contraste

Meus caminhos se encheram de pedras.
Corro com Rosamund pelos canais da cidade grande
onde as conversas são testes de Turing
e encontro só o magma do antropoceno
tornado em sedimento vulcânico.
A água já não molha.

Meus caminhos se encheram de pedra.
Procuro nas pedras algum resto de caminho,
alguma gota de saliva solta,
alguma existência que escapou do protocolo.
Você sabe onde tem?

- Ali, depois do parque, tinha um muro,
agora já não tem mais, só tem lojas.
Se você pegar a esquerda encontra uma torre de concreto.
- Lá tem coisas que não foram protocoladas?
- Não, mas tem um poço cheio de barro e uma sorveteria.