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mercoledì 28 novembre 2012

Nasceu, hospedou, morreu

"... é uma pensão" Rumi

São populações de ratos aflitos na minha pele faminta. Gostam de pedaços e outros pedaços e se atiçam uns aos outros. Há porcos também. Nas minhas linfas. E há multidão de bactérias infecciosas e cheias de urgências. Me coçam, me coçam, me assanham. Um povo de vorazes, de atrozes, de roedores. Eu mordo tetas. Pela ponta dos meus dedos escapam devoradores de microdeuses. Em forma de agulhas. Eu lambo mãos.

Quais são os bichos em mim? Os musgos? Os minerais? Os orixás? Podia apertar a mão de cada um, dar beijos nas faces, mas são tantos... Cordeiros, muitos, ovelhas, ainda mais. Lobos. Hienas. Hienas escondidas. Hienas debaixo dos véus. Purpurina. Oxalá amanhã. Lao Tsé. Pregas e mais pregas, rendas, vieses, uma epidemia de invaginações. Cura-me. Uma horda de demônios na retina. Raros. Oblíquos. Sóis. Satélites com mensagens dos astronautas inventados. Meus avós. Meus avós inventados. Nada é meu. Eu roo. Afio meus dentes. Eu mordo as espécies.

Passo por todas as mãos. Me roçam. Uma hiena atrás da outra. Uma porca. Uma maldição. Um musgo gozando liquen. Um musgo gozando mais. Um cordeiro. Uma vaca. Uma cadela. As mãos cheias de dobras, de mão em mão. Uma teta. Uma terrorista. Me trisca as costas, me faz arder os ganglios. Um ácaro. Pétalas brancas. Uma loba. O capuz preto me abana desta selva de miasmas. É aqui Rhodes. Salto.

domenica 25 novembre 2012

Um relâmpago de Eber Inácio

tava tão vivo
mas tão vivo
que me lancei via satélite


(E outro:
eu tenho dentro de mim
uma formiga de açucar
que sabe o caminho
)

A gentileza das anomalias

A tristeza é uma espécie de asco
de asco de toda coisa, de todo tom, de qualquer gosto
deve ser minhas tripas as carrascas
ou meus genes os estraga-prazeres
e provavelmente o córtex, maquinando
que sua circunstância merece pús.
A tristeza é asco, é indiferença
por tudo o que não seja completamente outro,
quero ser agasalhado de anomalias
já que elas não fazem correr os trens
são luzes de vagalume, abelha pousada no lodo
são biografias.

É porque a vida é boa que ela é ruim
e há desejos, há ternuras, há promessas
e promessas falsas e há melancolia
há o fim da melancolia e o fim do fim da melancolia.
A tristeza é uma espécie de asco
pelos lugares certos da vida – ruim já que é boa.
A força estridente do que eu tenho nojo
A tristeza é uma espécie de vômito.




sabato 10 novembre 2012

Lata de Nescau (Raquel Viviani Silveira)

Em homenagem ao meu reencontro com Raquel Viviani Silveira depois de 10 anos
publico um poema clássico da sua fase ouropretana:


Megalópole urbanidade
Brisa cinza acre
Cheiro grosso.
Lilás sol desfalecido em lodo.
Olhos crispados.
Vermelho sangue melancolia.

Anseio do verde (verde céu
verde ar).
Caminho de piçarra.
Terra entre a unha.
Plenos pulmões e água fina.

Ouro Preto,
Aqui estou riachinho murmurante
Num barquinho de lata
De nescau.