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martedì 27 gennaio 2015

extremofilia

Para Nurit
Tenho uma libélula
no chão da boca -
meu animalimento.

mercoledì 21 gennaio 2015

Céus, terra e erro

Ouvi uma palavra largada no chão.
Não tinha significado pronto no meu ouvido, tinha fome.
- Você faz o movimento certo, mas erra na quantidade; me dizia Jean-Pierre jogando xadrez.
É preciso ter faro, mas também ter falanges apuradas na ponta dos dedos.
Eu sou um elefante, jamais serei um concertista. Concluí.
A palavra largada no chão ressoou numa pedra e noutra pedra.
Sempre falo pedra, não falo pinça.
Mas enfio a cara em um buraco no chão, há grãos de areia.
"Vivo minha própria vida na minha própria pele."
Estava escrito.
Eu peço aos céus que me ouçam, jogando xadrez.

sabato 3 gennaio 2015

As alianças da humanidade na microbiota terrana (em forma de doxografia de um fragmento recente de Heráclito)

198. [...] Nenhum império dura porque há sempre outros começos. Não vivemos à sombra de uma arché que, como um relojoeiro perfeito, fez um princípio para acabar com todos os outros princípios – estamos em disputa. Os vermes, os vírus, as baratas e os ratos não se renderam diante da proclamação de vitória humana sobre a animália. Também nossos lapsos, nossos gestos miúdos, os arrabaldes do pensamento ainda resistem ao princípio de humanização do mundo que impomos, como um princípio, a tudo e sobretudo a quem nasce gente.

Os imperialismos dependem de alianças recônditas, algumas das quais nem sequer o poder imperial reconhece. A humanidade se associa a sua microbiota assim. Um acordo, como aqueles da polícia com os grupos mafiosos, é selado as vezes apenas quando cada lado fica sabendo o que o outro quer. As vezes nem precisa ficar sabendo. A humanidade simplesmente entrega a maior parte da carne do seu povo a ela. Ninguém comerá a carne do meu bucho, só vocês. Nós embalamos nossas remessas de nutrientes em arcas bem fechadas para que não peguem os abutres, nem comam as feras macrobióticas e nem ponham em constante movimento os elementos. Na aliança, existem os sabotadores que não enterram seus corpos, os traidores que queimam, dilaceram, engolem sua carne. Há também os vírus que matam fora além da quota. como em toda aliança há fios soltos. E ainda assim, a aliança persiste.

Ainda assim, a humanidade é agente de alguns bactérias e dos vírus e com eles domina o mundo e impõe uma velocidade e um regime alimentar. A humanização do mundo, em contrapartida, tem na microbiana seus aliados que exercem muitos papéis no ministério humano: no ministério da digestão já que são os aliados que deglutem todo não-humano que vira alimento, no ministério dos serviços ambientais, no ministério da educação já que só os aliados transformam as pessoas por contato e não por herança, no ministério da economia já que os aliados corroem os produtos brutos em produtos líquidos obrigando que haja mais investimentos e sobretudo no ministério da guerra pois são os aliados que conquistam os animais e os humanos recalcitrantes que insistem em fazer alianças na macrobiota - aqueles que não enxergam a humanidade como uma monstruosa comunidade fechada. Foram os vírus e as bactérias que conquistaram as Américas, que submeteram as populações africanas através da exportação da malária, que garantem que o poder imperial seja um híbrido de genes humanos e agentes microbióticos em postos estratégicos. A humanidade não declara guerra a toda a animalia, ela se alia a partes da microbiota terrana para submeter todo o resto.

Pasteur é quem promove a aliança, não porque fez o acordo mas, como o diabo no Faustus de Thomas Mann, é o que avisa que o acordo já foi feito. Eram eles, os micróbios, que estavam aliados conosco desde o princípio - e é a eles que nós rendemos homenagem nas arcas da aliança quando entregamos a carne dos nossos corpos lacrados à terra. Mas Pasteur também permite conhecer melhor nossos aliados: com quem podemos contar na microbiota e quem temos que tomar como inimigos. A guerra dos humanos com os terranos tem muitos ínfimos desertores que estão do lado humano há muito tempo - os humanos não poderiam chegar tão longe sem sua cavalaria.

venerdì 2 gennaio 2015

Para um compêndio de desdeuses

A senhora Sexton diz que saiu procurando deuses.
Olhou no céu, nas pirâmides, nos livros, no banheiro.
Eu digo que saí procurando a ausência deles:
- um pedaço de terra fora do alcance dos deuses,
isenta deles, deles vivos ou mortos.

O senhor Hölderlin diz que saiu lamentando os vasos sem deuses.
Para que poemas em tempos duros?
Reb Zússia de Hanipol se contentava com que Algum Deles tivesse falado.
Onde? Eu gritei.
E tranquei a porta.