Visualizzazioni totali

sabato 28 febbraio 2015

Suely

Conheci a Suely por muitos anos. Através de muitos caminhos; um caminho me levava a ela, e também outro, e um bem diferente também. Parecia a praça da matriz - mas também uma saída para o mar. Uma vez subimos em um ficus enorme na 405 norte - que derrubaram sem pudor já há alguns anos - e ficamos com Miguel a discutir o que tem valor e o que vale a pena. São coisas contagiantes? Contagiosas? Mas só nos últimos dias do ano passado brotou uma amizade. Ela parecia ser feita de uma substância com a qual se faz os ímpetos solitários porque solidários, megalomaníacos porque minúsculos mas precisos. Um bálsamo.

Quando começou o ano escrevi para ela, "e então, quando começamos a terapia"? Vou demorar ainda para entender a resposta. Fui ao seu funeral - uma bactéria escolheu sua cabeça, e se alojou por ali. Deve ter encontrado a tal doçura nas conexões. Não conhecia sua família, ninguém. A neta eu conheci em um dos caminhos que levavam a ela - mas já tinha tempo. Quando em volta do corpo exposto, eu vi a Suely - vestida de preto e com toda a sua vivacidade, seu acolhimento, seus compassos. Pensei, deve ser a irmã. Irmãs são assim, recapitulam até as singularidades singularíssimas - e temperam com outro pó. Mas parecia que aquela irmã era a Suely pó por pó. Olhei para o resto da multidão quando de repente me olha ela, e faz um outro gesto de Suely e me abraça. Um abraço demorado como aqueles da Suely, de benção, cumplicidade e braços abertos. Era um abraço da Suely. Apenas, talvez, mais demorado; acontecem aos abraços demorarem mais nos funerais. Em seguida, nenhuma palavra. Também o silêncio é uma coisa que se passa nos funerais. Alguém passou por ela e disse: também quero um abraço seu. Corri para o Maurice e perguntei: quem era aquela que eu abraçava, a Suely? Solange, ele disse, sua irmã. Parece mesmo muito com ela. Mas de onde ela me conhece? Maurice vaticina: as coisas entre o céu e a terra de que tantos falam ficam soltas nestas horas, você sabe. Pergunto ao Fininho, o dono do café que a Suely frequentava. Não, ele diz, ela nunca foi ao café - nem sequer morava na cidade. Pergunto a Letícia: elas são parecidas, mas muito diferentes; bom para a Solange que ela deixou que o abraço da Suely lhe contagiasse. Depois do longo aplauso que fizemos todos à vida da Suely - um pôr-do-ser - aparece sua mãe que, diferente de Suely e de qualquer irmã, continha como um ovo a força de passar um entardecer em um platô de uma árvore. Já do lado de fora, aparece Solange, irmã de Suely - fala com o Fininho mas não comigo. Pois claro, não me conhece. Ela não está mais com a mesma roupa, né Fininho, eu pergunto. E ele: não reparei.

Ao final, nas despedidas, Solange está dentro do carro e eu aceno para ela. Ela me manda um beijo. O carro funerário tinha já partido, eu acho, para o crematório. Saio ao lado do Fininho do cemitério. Ele me diz: na última troca de mensagens que eu tive com a Suely ela disse "vou passar no café", e eu respondi: "oba", mas foi ela que mandou a última mensagem: "talvez".

Quem não precisa de dicionário para ler seu diário?


lunedì 23 febbraio 2015

Acalanto de Reb Azar (em construção)

Os grãos de areia grudados no joelho
serão os mesmos que você limpa com as mãos?
Assim são as palavras, o coelho que sai da cartola
não é aquele que entrou na plantação
e a carambola que cai no chão
não é o avesso da caraminhola.

A questão é a versatilidade
A resposta é a breve claridade
A interrogação é um pacto com o futuro
Cada passo em falso é uma subversão.

Tem a pergunta precária
E tem o seu contrário, o interrogatório
A coragem não está na resposta
Satisfatória
Tá na sabotagem discreta
De quem desmonta o crematório.
Porque a coragem não intimida,
não é pesticida, não tira vida

Cada ideia tem apito e machucado
Faniquito e chocolate granulado
Pensamento é bicho de monte
A liberdade está em encontrar a fonte
No meio da batida das horas
inventar jabuticaba e amora

Já a hospitalidade é o encontro dos caminhos
Mais do que a solidariedade,
ela é a espera sem certeza.

Cada palavra é um cavalo alazão
Leva longe como a confabulação
Mesmo quando fazemos a ronda
É sua onda que não nos deixa no chão.

O caminho da sabedoria
É redondo como a melancia

Impróprio

E se a pressa florear mais do que uma revoada de nibelungos?

Dirigindo um carro alugado em uma oficina de Simões Filho,
vou seguindo as indicações para Canudos
onde vou encontrar dois galegos, um condicionador de chocolate
e uma museu feito de espigas de milho.
Piso no freio e ao lado dele não tem outro pedal.
Não tem pedal de correr, só de ficar.
Olho a paisagem onde tem um regato, uma árvore de cenoura,
e o barro marcado com pés soberanos.
No radio dizem que aboliram a propriedade privada
e a propridade pública
na Grécia - ou no Curdistão.
Se tudo ficar impróprio, não tenho mais que seguir na estrada.
Já cheguei. E posso comer as cenouras até dos galhos mais altos.

Lição de carnaval para a cria: o amor

O amor tem muitas tabuadas
Porque tem muitos fluxos e muitos luxos.
Muitos azeites.
Muitas esperas.
Muitas cascas e uma pequena castanha
que é o avesso da demora.
Mas não tem restrição.

E tem que morar nos controles de passaporte;
isso é muito difícil.
para mim que moro nos controles de passaporte
e no amor.
Devrim, para mim, é muito difícil.
Para você espero que seja um vento na cabeça.

giovedì 5 febbraio 2015

An Allen Ginsberg quoted by Maxine Kumin on her intro to the collected poems of Anne Sexton

I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked
...
... on the granite steps of the madhouse with shaven heads and harlequin speech of suicide,
demanding instantaneous lobotomy,
and who were given instead the concrete void of insulin metrasol
electricity, hydrotherapy, psychotherapy, occupational therapy
pingpong & amnesia ...