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martedì 26 febbraio 2013

Sem luz no ICC na segunda de noite

E de repente as luzes se apagam
Os relógios param de se repetir
Minha voz não sai da garganta
Sento no chão já que chão nem tem fundamento
Sento onde já vi tudo e agora não vejo nada
O chão, escuro, com toda a sujeira que nesta noite
é minha companhia.
Abro o zíper da calça e toco meu pau
Ele me agrada. Habitual e estranho.
Me sinto feito de barro emprestado
Sem propósito
Olho meu rosto em uma fresta
O rosto de um criminoso cruel
Perplexo já que esperou um Messias
Sem nome, sem forma, sem cheiro
Ouço um grito
Habitual, sujo, cruel – apenas uma luz de uma lanterna
Branca
O tamanho do meu corpo é minha tábua de perdição
O tamanho do corpo do chão sem fôlego
Escrevo poemas na falta de luz
Encontro uma rima pra corda
Não encontro a corda
As rimas me rasgam, disparam ideias
E não me enforcam.

venerdì 15 febbraio 2013

Neruda: Ainda XVII

Luciana fez uma conexão recente com este poema:

Abaladora foi a noite de setembro.
Eu trazia na roupa
a tristeza do trem que me trazia
cruzando uma por uma as províncias:
eu era esse ser remoto
turbado pela fumaça do carvão
da locomotiva.
Eu não era.
Tive de encarar então a vida.
Minha poesia me incomunicava
e me agregava a todos.
Naquela noite
me coube declarar a Primavera.
A mim, pobre sombrio,
me fizeram desatar a vestimenta
da noite desnuda.
Tremi lendo ante duas mil orelhas desiguais
meu canto.
A noite ardeu
com todo o fogo escuro
multiplicando-se na cidade,
na urgência imperiosa do contato.
Morreu a solidão aquela vez
ou nasci eu da minha solidão?

lunedì 11 febbraio 2013

um endereço

Caixas, caixas, caixas de humores empacotados
todas assombradas
mais aterradoras que os lençóis brancos
Volto a casa da minha adolescência
que era a casa dos meus espíritos hesitantes
e dos fantasmas que dividia com meus pais
acho que vim fazer uma visita
com minha nova mala e minha nova cuia

Cheiro o bolor
dos velhos animais sem nome
trouxe comigo uma fauna toda outra, dos que andaram predando
meus últimos anos
uma disputa de contaminações, de infecções, de enteléquias
cada uma achando nichos dentro das outras
nas margens das outras
nos restos das outras,
flui em mim uma parca gosma cheia de cores pálidas,
uma parada que fede mistura
(e tudo o que fede é fede a muitas paradas)
levanto minha espada e desafio a ferrugem,
as paredes ruídas, os ventos encanados, os bons costumes
da casa.

O obscuro precursor, o obscuro -
ando com uma faca de degola na mão
abro as caixas com torpor e pressa
as teias de aranha empacotam meus olhos
elas são mais rápidas e mais lentas e já
não vejo o palmo na minha frente
só vejo as léguas pelas minhas costas,
sonâmbulo, ponho ovos, cuspo na água fria
dou berros no banho
os vizinhos acertam os ponteiros dos relógios -
me dizem que também aqui há uma população de pazes,
mas elas amam esconder-se.





lunedì 4 febbraio 2013

Tormenta Galáctica Azul


Dia de Iemanjá, 2 de fevereiro, ontem – dia azul.
Fomos comprar velas para a Verenilde
acender quando a tecelã do rio celestial
tecesse a hora de abrir os portais dos mares.
Azul é a cor do manto das águas
(laranja a cor do manto das abundâncias).
A galáxia – da cor do azul em que todas as coisas se explicam:
cabelo em carne, carne em vendaval.
Compramos uma vela mais gorda com a cor de Oxum,
já que tenho um rio que dá nas ondas que quebram na areia.
Azúis. A hora azul é a hora em que os barulhos da noite apagam
e os barulhos do dia ainda não acendem. É uma hora
antiquíssima, mas é uma hora que escapa dos minutos.

Nós, azuis.
Contas azuis no pescoço, ouvindo os nomes
dos anjos celestiais, dos anjos selenitas, dos anjos espaciais.
Lelahael, Aniel, Menudael, Haiaiel, Yehahel, Nunael, Onuel.
O grande azul da galáxia em uma vela, a vela em minha mão.
A Verenilde não veio acender as velas.
Tentei acender a vela ao lado das velas brancas sobre as pedras,
tentei encontrar um lugar para ela na calçada que vai para o breu
tentei pô-la de pé ao lado de uma cruz de velas,
Ela resistiu. Não combinava, não acendia, não se atava ao chão.
A vela azul hesitava. O mar não cabe na vela acesa?
Consegui força-la na parte mais lisa do chão.
Seu pavio voava para fugir da chama. Por fim, ela ardeu.
E passei para a para a próxima Iemanjá,
Azul de cristal selenita, a outra vela era decidida e
me fez procurar alguma água, alguma gota, algum olho,
achei uma poça e lá ela ficou. Mas já não tinha como acendê-la.
Tive que tirar a primeira vela de Iemanjá, que muito relutou
em ficar acesa no chão de onde ela estava e leva-la à poça
pra acender a outra vela. Velas acendem velas.
Chama azul. E a primeira Iemanjá, a relutante, acendeu a segunda,
a firme. Azuis. Industriais, iguais, a aflita na mão direita, flamejando,
a convicta na água esquerda, fixa.
Azuis. Como o céu não é. As vezes são as unhas que mais amo.

E Iemanjá relutante continuava na minha mão, acesa, sem querer
sair de perto da água da poça, pus ela na água, ela não ficou
sequei ela na chama, e o fogo subiu – um miasma entre a rainha do mar
que firma, e a rainha do mar que ondula.
Fogo, fagulhas, labaredas no dia das águas.
Dybbuk? A gota e a fagulha estão habituadas a triscar
e deixar marcas no chão. Cocriam. Comparsas.
Há rins que guardam oceanos, mares que preparam incêndios.
A chuva. Quando ela começou a armar na madrugada
fui ver os pés de fogo azuis e laranja entrelaçados,
a Iemanjá dos aflitos que coloquei de volta no chão liso
se apagou já com a fumaça da chuva.
A Iemanjá dos navegantes ardia até o pavio,
já dentro da poça. Esperei a vela se apagar
dentro da água. Se a chuva vier,
vai encontrar uma vela de abundância
acesa.