Visualizzazioni totali

venerdì 28 ottobre 2011

Um Alvaro de Campos sobre o Ultra-Ser

(Um Pessoa em homenagem ao ultra-ser e à futura ontologia universal)

Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível — a de haver uma realidade,
Perante este horrível ser que é haver ser,
Perante este abismo de existir um abismo,
Este abismo de a existência de tudo ser um abismo,
Ser um abismo por simplesmente ser,
Por poder ser,
Por haver ser!
— Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem,
Tudo o que os homens dizem,
Tudo quanto construem, desfazem ou se construi ou desfaz através deles.
Se empequena!
Não, não se empequena... se transforma em outra coisa —
Numa só coisa tremenda e negra e impossível,
Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino —
Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino.
Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres,
Aquilo que subsiste através de todas as formas
De todas as vidas, abstractas ou concretas,
Eternas ou contingentes,
Verdadeiras ou falsas!
Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora,
Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar porque é um tudo,
Porque há qualquer coisa, porque há qualquer coisa, porque há qualquer coisa!

Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas ideias que tremo, com a minha consciência de mim,
Com a substância essencial do meu ser abstracto
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?

Ah, não, nenhuma — nem morte, nem vida, nem Deus!
Nós, irmãos gémeos do Destino em ambos existirmos,
Nós, irmãos gémeos dos Deuses todos, de toda a espécie,
Em sermos o mesmo abismo, em sermos a mesma sombra,
Sombra sejamos, ou sejamos luz, sempre a mesma noite.
Ah, se afronto confiado a vida, a incerteza da sorte,
Sorridente, impensando, a possibilidade quotidiana de todos os males,
Inconsciente o mistério de todas as coisas e de todos os gestos,
Porque não afrontarei sorridente, inconsciente, a Morte?
Ignoro-a? Mas que é que eu não ignoro?
A pena em que pego, a letra que escrevo, o papel em que escrevo,
São mistérios menores que a Morte? Como se tudo é o mesmo mistério?
E eu escrevo, estou escrevendo, por uma necessidade sem nada.
Ah, afronte eu como um bicho a morte que ele não sabe que existe!
Tenho eu a inconsciência profunda de todas as coisas naturais,
Pois, por mais consciência que tenha, tudo é inconsciência,
Salvo o ter criado tudo, e o ter criado tudo ainda é inconsciência,
Porque é preciso existir para se criar tudo,
E existir é ser inconsciente, porque existir é ser possível haver ser,
E ser possível haver ser é maior que todos os Deuses.

sabato 22 ottobre 2011

esboços nas teias de areia, fodam-se todas as estrelas

esboços nas teias de aranha


outro dia no meio dos meus afazeres
no meio dos meus pequenos ímpetos perdidos entre grandes impulsos
perdi toda a minha esperança.
todo o meu ânimo e toda a minha vontade
escorreram por um ralo aberto na cozinha de algum desejo
as coisas de todos os dias ficaram inanimadas
todos os pequenos animais dentro dos meus espíritos
se tornaram pequenos animais empalhados de uma só vez,
fica esta parte de mim que escreve de sobrancelhas levantadas
apenas observando a era glacial que aconteceu entre meus ossos
toda a minha usina de alegrias emparelhadas hibernou
––fiquei meio tom abaixo de qualquer melodia.

deve ser um buraco negro no meu mapa astral;
mas que caiam as estrelas todas em seus buracos negros
deixem minha órbita livre, minhas doze casas desocupadas
armem-se de seus tempos redondos, entrincheirem-se em leis celestiais
eu fico aonde me deixam ficar, nesta terra que vocês só podem reger
de longe sem conhecer a cor do mar quando bate o sol.
fodam-se todas as estrelas
quero meu horóscopo feito de insetos, de vermes, de pulgas
são elas que fazem parte do meu destino aberto
são elas que entendem de futuros em cordas bambas
são elas que podem traçar minhas órbitas, que são tremidas
e garranchadas como as linhas feitas por quem só vai
vocês, estrelas, não estão indo, não chegam, não partem.
quero minhas quadraturas feitas com pingüins que acabaram de nascer,
quero meu ascendente desenhado por galhos de figueiras no outono,
meus trânsitos o trânsito das formigas subindo as crostas das paineiras
minhas conjunturas de piabas soltas entre comida e ilusão
meu destino nas mãos de todas estas portas abertas
que carregam muito mais destino do que conseguem segurar.
já as estrelas, elas não são carrascos, são apenas
escandalosos relógios no céu fazendo
cuckoo.


PS: Meu velho manisfesto contra a astrologia, e ela ainda me aquece.

quem me confessa?

canto o mal, faço ungüento para o bem
canto o desterro
tento chegar em um ré grave coloratura
o barulho das páginas se rasgando
que se calem todos os desaforos
me confessa?
eu vesti minha cinta liga de zebra
subi cinco metros de uma árvore
quase sem raízes
e arranquei um galho enorme, frio e com um escaravelho dourado nele
arranquei o galho e joguei no chão
desabou nos pés de uma dama
de preto e com um lenço encardido na mão
ela limpava o chão e carregava um livro sagrado na outra
me confessa?
soca teus filhos, teus netos, eu grunhia
ela fez sinais da cruz
eu tremi de frio

domenica 16 ottobre 2011

a malícia

agora decido mergulhar no mal
um mel para meus órgãos cansados
minha perversidade atrofiada
e meu medo do descalabro

agora quero mergulhar no mal
ser fraco, e torpe e delinquente
não só a indecente que é plataforma
mas o feio que só destempera

e assim para mergulhar no mal
não quero trampolim de muitos metros
nem tenho forças para o hediondo
só insinuar o cruel redondo, a malícia

gosto de mergulhar no mal
que ele me arranca do bolor
já que ele atormenta, agoniza
sua profetisa é a gilete
(e o café com isca)

lunedì 10 ottobre 2011

outros mesmos

numa madrugada de delírio frio
sonhei com quantidades, tudo em doses maiores:
o mundo fosse feito de muito mais do mesmo
esguichos em cada dobra da celulose, muitos outros bichos,
a terra - tão sem sutileza - cabendo em duas cascas de nozes
no meio das labaredas, mais cobalto, mais despesa, mais ladeira
mais nitratos, mais coceira, no vendaval com mais velocidade
mais uma das minhas pastas vermelhas, mais recreio, mais orfanatos
era como uma receita errada, pús muito sal e agora ponho mais batata
me encho de idade, já não sei mais a data, se tivessem mais sandinistas
não faltava água

sabato 8 ottobre 2011

Tulio Raposa já velho

cada nervo do Tulio Raposa morria um dia
a torneira do descanso pingava mais
queria descansar de tudo, das cores, dos monólogos
cada dia cansava de uma palavra
e lhe sumiam as coisas de dentro dele
quantos músculos tinha ainda pra envelhecer?
esgote tudo - ele ouvia de Geórgia, e suspirava
tinha o esgoto
os tornozelos de Geórgia, o pescoço de Milena
tinha o esgoto
seus metros de altura
seus pelos de urso
seus braços
desmilinguiam como um golem lento
foi para uma praia
encontrou uma amiga de infância, casada, cotidiana e enrugada
esquálida:
- Meu filho é aviador, mas eu, ela disse, tenho muita vontade de olhar para baixo.



O contrário de uma epígrafe:
Me confino.
ando querendo sempre voltar para casa
me limito
mesmo em casa quero voltar para casa
me imito
deve ser vontade de caixão
(buca l'ombrello, 28.7.2010)

venerdì 7 ottobre 2011

Nobel to a Poet: Tranströmer

Pela primeira desde 1996, quando Szymborska ganhou o prêmio, o Nobel foi pra um poeta: Tomas Tranströmer:


After a Death
by Tomas Tranströmer
translated by Robert Bly

Once there was a shock
that left behind a long, shimmering comet tail.
It keeps us inside. It makes the TV pictures snowy.
It settles in cold drops on the telephone wires.

One can still go slowly on skis in the winter sun
through brush where a few leaves hang on.
They resemble pages torn from old telephone directories.
Names swallowed by the cold.

It is still beautiful to hear the heart beat
but often the shadow seems more real than the body.
The samurai looks insignificant
beside his armor of black dragon scales.


Outskirts
by Tomas Tranströmer
translated by Robert Bly

Men in overalls the same color as earth rise from a ditch.
It's a transitional place, in stalemate, neither country nor city.
Construction cranes on the horizon want to take the big leap,
but the clocks are against it.
Concrete piping scattered around laps at the light with cold tongues.
Auto-body shops occupy old barns.
Stones throw shadows as sharp as objects on the moon surface.
And these sites keep on getting bigger
like the land bought with Judas' silver: "a potter's field for
burying strangers."

lunedì 3 ottobre 2011

Un Rito Ramon Arroche (o dos)

Unquento... o la marca es de azufre
en el allero - dijo - puede ser muy sencillo
y luego dijo: que rodaras unos metros

Y otro, el classico:

Es lo que puede ocurrir - dijo. No lo de menos.
En unos ruedos, la escritura es de agua.