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lunedì 28 novembre 2011

Voragem por viragem

Buca L'umbrello em tempos de prosa publica minha fala com ovos e Solange Tô Aberta no Transarte na sexta passada. Video em breve.

Voragem por viragem
Transarte, a nostalgia do desejo pelas águas turbulentas

Desejo é compulsão. Arte é convulsão. Se inspira, é conspiração. Pelo menos um bocadinho, um bocadinho de compulsão, de convulsão, de conspiração. Uma semente atirada ao vento – é como atirar ovos. Gosto de atirar ovos. Cada ovo é um ovo. Mesmo não sendo mais do que um ovo. Pequeno, descabido e todo fechado nele mesmo. Gosto de atiçar ovos. Gosto de ficar atiçando os ovos. Fazendo cócegas no futuro. O desejo é quando o futuro me faz cócegas. Me faz rachar as paredes de algum ovo. Creck por creck, triz por triz, eclosão. Eclodem pintos, flamingos, pelicanos, avestruzes, pássaros dodôs e combates, arruaças. É da natureza do que acontece eclodir alguma hora. Fica por um triz, fica por meio triz e aí, eclodem. Gosto de falar de uma tectônica subcutânea dos acontecimentos. Toda a geologia que, com suas camadas e camadas de articulações, registram a história das eclosões. É no meio desses vulcões que se produzem lavas. Lavas, como as dos ovos. É das lavas que saem as coisas, das dobras, das fricções. Os desejos vêm desta roça: uma camada que roça na outra, roça, roça, como uma Pachamama do roçado, como quem faz cócegas no ovo, como quem faz cócegas no futuro, montado pelas camadas de lava seca que formam a Terra. Uma Pachamama em que o calango roça o jabuti que roça onça que roça o sapo. E então salta alguma coisa. Uma tectônica subcutânea dos acontecimentos. É uma questão de sanhas. A sanha que convulsiona, que torna as coisas urgentes. A sanha não pode esperar, eclode urgências. Há gritos – e sussurros, urros, berros, vulcões, maremotos, fodas, convulsões – que não podem esperar. As sanhas tomam conta. Uma vez atribuí as sanhas ao poder de Shakti, a deusa das potências, das borbulhas e do germinal. Hoje prefiro ser mais politeu. Não cheiro Shakti nos ovos. Cheiro sanha. E mais sanha. E mais sanha. Os ovos – uma forma quase geométrica – e todos assanhados.

São as convulsões. As vezes pequenas, como um cisco infenso a fulgurâncias. Miudinho. Gosto das miudezas. Das pequenas exceções. Falam dos deuses grandes, tonitruantes, macrobióticos e seus infinitos poderes. Eu prefiro os hipermortais, os ínfimos que são infinitesimais e que são habitados por mortais ainda mais poderosos. Porque do pequeno sempre há o menor. Não são os imortais, mas os mais que mortais, os que estão sempre por morrer. Aqueles da vida curta, curtíssima – aqueles que tem tempo apenas para o ínfimo. São batalhões deles que fazem o exército dos desviados. Os que por serem hipermortais também são nano-heróis. Dizem que os filósofos nascem, pensam e morrem. Pois as sanhas elas nascem, eclodem e morrem. Cheias de outras sanhas. As miudezas não tem o poder dos grandes imortais, mas tem o poder dos infinitesimais. Epicuro falava das clinamens. As clinamens, as pequenas exceções. Uma clinamen é quando um grave sai da sua órbita, uma miudeza que faz eclodir. Um desvio. É o rabo da curva normal. Que venha uma clinamen. São os desvios que redirecionam as órbitas. Elas constroem o que há, e constroem também nadeiras. Porque as órbitas são arranjos, são feitas da mistura das forças – e dos desvios. Clinamen. Como um clitoris que desvia a cis-hetero-órbita do sexo que é jogo de armar. Meu clitoris, marca da minha autoginefilia compulsiva. Miudeza que eclode. No meio do caminho de Maria, a Virgem, havia um clitoris. No meio da órbita das famílias que fazem mais famílias e mais famílias – o sistema solar do Édipo caudilho – há uma clinamen, um desvio, um desejo recalcitrante. Aticem ele, assanhem ele. No meio da pedra tinha um caminho. O desejo recalcitrante. As sanhas são miúdas e hipermortais como as fúrias. Elas se medem com trizes, e por um triz eclodem.

Como os ovos. Com suas voragens: matança e amanhecer. Novo espatifado, ovo chocado. São muitos ovos. Eu adoro chacoalhar os ovos, chocar todos eles. Ovos. Novos. Minhas pequenas exceções. Minhas lavas. Meus futuros fazendo cosquinha. Meus pequenos deuses cheio de deusas, cheios de blasfêmias – gosto dos microdeuses, mortalíssimos, e gosto dos que nem criam, os deuses estéreis – aqueles que ficam por trás da casca do ovo tramando, confabulando, armando, se assanhando e que preferem não. Só atiçam. Porque te amo não nascerás. Os deuses abstêmios, e os que nem abreviam nada. São rascunhos. Não gosta de um rascunho? Daqueles que ficam pra sempre largados na gaveta. Aquilo que poderia ter sido e não foi. A coleção de Fedoras, planejadas, arquitetadas e que não foram. Fedoras de grama, de linfa, de cuspe, e que não foram. Fedoras invisíveis: fedoras de vidro. Imagine as genitálias de vidro. Uma pica de vidro. Pronta pra ser quebrada, em caquinhos. E, ainda assim, berrando: pinto, falo, danço! A pica de vidro berra. Eu sussurro: é que porque há sanhas dentro das sanhas e as deusas estão cheia de deuses, que tudo tem ovo. Cada transartimanha, cada vontade de sair do armário, cada borbulha, cada convulsão, cada vontade de não ter cabimento na casca montada para os desejos arruaceiros, é ovo. Eclode, eclode, eu sussurro.

Torço pelo ovo, pelo que há no ovo, ele não está previsto – tem uma casca na frente. Ele não abrevia nada. Heráclito, aquele obscuro filósofo que se perdeu incognito por milênios e milênios e se encontra desaparecido desde o bombardeio de Gaza de 2009, insistia nisso. Ou terá sido alguma das Heráclitas, já que ele teria sido transgênero e transnúmero... Seu fragmento 269a diz:

269a. Há quem possa ver o mundo em todos os grãos de areia – e gotas de água, e lufadas de ar, e chamas de fogo. Há um rascunho do mundo em cada gomo de tangerina. Mas o mundo não pode ser abreviado em parte alguma, nem numa coreografia de devires, nem numa estratégia de combate, nem numa coleção de ordenamentos e menos ainda em um princípio universal de todas as coisas. O mundo é inabreviável porque se soltarmos uma abreviatura no mato, ela roça mandioca, roça milho, roça vendavais. O açucar abrevia a água doce? Nunca a mesma água dissolve o açucar duas vezes...

Façam ovos, não façam abreviaturas. Façam rascunhos. Nem fiquem chocando os ovos, larguem eles pela selvageria dos dias. Vamos encher o planeta de ovos, ado-o-o-o-o-o-oro. No meio do caminho tinha... um ovo. E no meio da pedra tinha... um ovo. E eles vão germinar, eclodir, erodir a disposição concêntrica dos desejos. Não a terra dos nossos avós, a terra dos nossos netos que não nascerão... Não o desejo de levar tudo de volta para o seio da família, mas o desejo de dissolver. O ovo não acumula, ele eclode, larga a casca, se despreende. O ovo é a centrífuga dos futuros – da casca tudo o que sai se solta. No ovo não há o que traz de volta pro seio da família o desejo, o ensejo, a renda, a prenda, a merenda. Do ovo só se vai pra fora, não tem caminho de volta, não há deuses centrípetos, nada se acumula, tudo se despreende, se gasta, se esbanja na eclosão. É por isso que um ovo parece as vezes sem pé nem cabeça. Quando um flamingo sai da casca do ovo, não volta mais.

No ovo, no ovo cabe tudo, mas cabe tudo demais. Cabe o que não vai ter cabimento em outro lugar algum. O ovo é confabulação. Todo poder ao ovo. O ovo é trama. Um pedaço de futuro cercado de presente por todos os lados. Se bem que ovo também é passado remoto, retrofuturista. Tem gente que coloca um ovo antes de Colombo: Giuseppe Campuzano relata fielmente o travestismo do Perú antes dos espanhóis – a genitalia recreava e transitavam as pessoas por entre as bordas de gênero. Mudavam de cinta, mudavam de penugem, mudavam de pluma, entre gêneros. Nem macha, nem fêmeos. E os espanhóis chegaram com suas galinhas antes dos ovos: que ciscaram pelos Andes afora, cis, cis, cis, hetero, hetero, hetero, cis, cis, cis. Ah, que vontade de viragem, voragem. O desejo tem a nostalgia das águas turbulentas. Tem uma turba dentro dos ovos. E mesmo nas galinhas crescidas há ovos – peles impostas sobre pele, ursos costurados sobre braços, cobras sobre pernas, lagartos sobre falos. Uma pachamama: o mais profundo é a casca do ovo. Quem vê coração não vê cara, quem vê calcinha não vê genital. Porque ninguém pode medir a inflamabilidade dos corpos. Um corpo que arde. O ovo que choca. L'avenir est dans les oeufs. Clarice Lispector dedicou ao ovo a nação chinesa: O amor pelo ovo também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para não entornar o silêncio do ovo. E ela diz: a galinha é o disfarce do ovo. É por isso que a galinha é assanhada. Eu largo o osso, mas não largo o ovo. Prefiro pisar em ovos.

Ovos. Contrabandeiem os ovos, deixem eles pelas estradas – os pequenos, os de codorna que deslizam como bolas de gude. Coloquem um ovo de codorna no ninho dos avestruzes, um ninho de cisne preto no ninho dos pelicanos. Insira um ovinho, um desejinho, um desvio, uma mutação. Um ovo do esquisito, choquem os ovos. À esquerda, mas esquisita: à esquizerda. Não é uma nova espécie, é a espécie que ainda pode vir, a gestação, a especiação, a trama assanhada dentro da bola branca. Meu ovo, plácido e explosivo. Bom de cheirar, bom de bolinar, com o cheiro do que ainda não há. Feito de prestes. E bom de tacar. Tacar ovos, tocar o terror. Há um terrorismo no novo. Uma profanação. Uma quebra de protocolo. Uma aliança com o erro: um errorismo. Pornoterrorismo. Pornoerrorismo. Uma pequena convulsão no meio da coreografia. Vira, vira, uma voragem, um ovo no sapato. O ovo, limpido, profano, com gosto de multidão. Quem disse que o ovo é um?

A coreografia dos bailarinos desengonçados

Buca L'Umbrello em tempos de prosa publica o texto que Carol Barreiro e eu falamos e dançamos no evento de videodança e filosofia no dia 24 de novembro.


Carol:
Ter uma obsessão filosófica definida e , dentro disto, mastigar e observaras condições favoráveis do nobre intuito conceitual planejado logicamente entre os universais definíveis.Ufa!!!!!! assim quase não há nervo que aguente, mais ar , mas há.

Eles são solitários enfermos de seus próprios abismos, recriando mundos solicitando tão pouco, somente o verbo, o verso estende demais a demasia neural, mas é verbo ruminado em diversas línguas através do nome conceito. Sobrevivendo em climas amenos, enxotando a família, o amor e até mesmo a luz solar, estes vampiros celibatários ardem eufóricos em cada descoberta minuciosa de seus programas enigmáticos, de seus arredores teóricos constituídos depois de tantas entradas, saídas, passadas.O olho experimenta a dosagem necessária de saber o mundo, através de tantos espasmos averiguáveis de sabores infrutíferos, a realidade não incita mais, mas o real daquele quarto pode abrir inferno posto ao nada, posto ao debater-se no si para si convocando universais.

Podemos dizer: trata-se de um nerd melancólico que escuta heavy metal.E é. E esse nerd melancólico ouvindo heavy metal, com vergonha de si e do mundo, atravancando sua coluna de tédio, imbecilidade e punhetas mal feitas chama-se Filosofia. Ok filosofia, você venceu. Nada de Safo, nada de safado na Filosofia, um saco cheio de sacos. Um saco, esse ar gelatinoso de tantos excrementos de tubos viscosos, sentido entrando e saindo, enroscando-se numa malemolência que supõe a velocidade, mas não há, há trocas de lugares de ovos mesmos favorecidos, e quando o rio acende o frio das verdades impostas pela situação, parecem voltarem-se para dentro de si, com a séria altivez rugosa de suas dobras de tantas experiências acumuladas. Para logo depois cederam longos ao menor conforto adequado e “quentinho” de suas meias inglesas engomadas cheirando à calêndula.

É tão óbvio inventar Deuses que não sabem dançar.

E destruir vasos inquebráveis alteram signos propostos, obviamente, mas o conteúdo explicitado no que não se vê perdura magnetico entre nós e todos. Abundância das conspirologias, desconfiados de todos o engasgo, menos neuróticos que os amigos anti-terrorismo pró amanciamento das trocas possíveis, onde um turbante vira alarme de perigo. Mas desconfiadas, adas de afiadas, de toda a falácia sóbria que vem sempre vindo. Pois, no maior dos perigos, caímos em brasa explêndida do incontido, enquanto o técnico que ter a técnica para ser um bom técnicodentro da técnica. É a necessidade de dizer o que? O que cansa e repete não é propriedade nossa. Óbvio que não é propriedade nossa , mesmo porque não queremos nem tratar o nerd melancôlico como propriedade e sim como nome próprio podendo ser contornado por antecendentes pré-nominais e sobrenomes de variações atípicas. Maas tudo bem, enquanto os técnicos querem propiedade, sentem-se na obrigação de extraditar termos, e vulgarizar o “ que é nosso” e o que se assemelha. Confluências de um pensar estético com o que há de alto valor no critério dos conceituáveis. Vem trazer a meleca imposta, enquanto Clarice Lispector vaga imprevista entre os cerebelos de delírio e desajuste, a eficácia culturalista a termifica como alienada, os salvacionistas-nacionalistas cultuados tratam de endireitá-la num ordem, numa lógica, numa linha existencialista de algum nazizta de plantão. De que adianta?? Diante do que faremos os impróprios serem eles não necessariamente Próprios, mas necessários e bem vindos, sem a caduquice de uma particularidade provida ela mesmo de uma justificativa, exigida e exigente essa norma de pensar.

A bope conceital te espanca quando o menos a sério te leva a pensar.


“Eros faz nosso pensamento revirar-se leve”

Safo

Quando vi os neurônios já se enroscavam nos dentritos e sinapses relampejaram-se em curto-circuito. É disso feito um pensamento? Não querida, averigue que todas as cláusulas previstas na imprevisibilidade do ser existente enquanto dado trata de fazer ontologia e não apenas mais um fantasminha ôntico recriado nesse teu bordado incoerente de situações. Ok, tentarei ser eu mesma a expeculação indigesta de atributos incomuns e comentarei com cara de rugas a cada esclarecimento propício a ordens fundamentais desse estado encaminhado a partir de agora, parido. Meta- entre-a -physis. Que longa a linguagem que sempre tenta dizer o inaudito, o que, bom , sabem os velhos de bigode fino a exalar seus perigos, “ o que não pode ser dito”. E legitimada a frase, legitimei-a, legitimaram por mim, posso, devo, conivente aos fatos acrobáticos desses impulsos desastrosos, pensar. Obrigado por mais uma derrota, me sinto vulgarmente estuprada por vossa excelência conceitual. Olhe para o lado e averigue: fracasso.

Nada, eu direi, o jogo ao nada. Permita-me a menor velociade compatível, onde andem ontem, gaguejando-se , falhei ei es mei , ex de extenso jorro, compartilhe a derrota de todos, onde esmirilhar-se estoando indivísiveis em trovoadas fontes. Ser de nada, ser de graça. Ser

A filosofia já usou decotes e deboches. Havia, pode ter certeza que havia, mas não importa a história mal contada, a inveja ancestral nem sabe do que inveja, a história sabe o que fazer esperar, a história não contorna o que hoje despedaçado não conflui. Antes lutas e demônios, alquimias e ritos, balbucios, ventres, carnificina, catástrofe, não, nos restaram conceitos, e uma hipótese que nem plausível é para os filósofos del falo, Diotima de Mantineia adverte Platão em uma frase, a filosofia do amor. . . . Saconde-se histéricos na cadeira os doutores que não pretendem dar a uma mulher a origem do pensamento Socrático, veja bem, não platônico, enquanto a nossa dionisíaca erosofia berra e grita nos seus um metro e meio de pura exaltação performativa e longa, louca, linda, berra entre as rugas tenebrosas que se fazem a cada vez que o falo é devastado de bruxaria, sim, devemos ouvir outras histórias, devíamos ver a filosofia de decote. E o nerd não conseguiu bater a punheta nesse dia. Não. O terror foi maior que o tesão.


“ Aquiles do devir-mulher e  Pentesiléia do devir-cadela"

                            vol.4



ele pediu membros e deram escápulas, crápulas. Não digo aqueles vertiginosos ataques em que dobradiças podem fortemente se ramificar em músculos, mas a carne necessita de bons etômagos. Pensar é digerir as piores carcaças. Digerir osso, roer não ataca o ventre. Engolir a necessidade que chega, e sempre chega tudo se a disposição não teme, a etiqueta não vai bem com o desgosto pensar. Em que órbita ficamos prenhes ao ponto do vômito? A grandeza da ignorãncia eleva o conhecer ruminado antes do ato posto, a sobremesa deve ser esperada em períodos milenares de tanto osso. Ok, vcs venceram. Nada é tão importante como desvirginar a pouca glória ainda nem conhecida dos próprios medos, e te ataca o peito quando ousas elaborar alguma frase cientificamente não aceita. Não jogar o jogo revela preguiça, falta de vontade, embaraço, arrogância, marginalia empoçada de distância e desapego. Mas assim que tu aceita, dizendo mesmo assim ainda estar certo e senhor dos próprios predicados comestíveis na próxima citação bem feita, procurada minimamente entre os tantos livros que tu já comeu, releu, insistiu e viu que há suficiência lógica na tua loucura que vem não sei de onde, mas que chega, que consome, que pede carne, sangue e uma coração de sobremesa, o que foi dito já é dito e ouvido na mesmice exigente de tanta pasmaceira e gente de cara frouxa flácida e carrancuda que te olha e diz: mais um pouco de bizarras noções febris da realidade travestidas de moda do momento, produzir inconsciente não é fazer conceito. Então volte aos gregos. E voltemos às gregas, e de repente Castañeda surge como um cachorro e Lao-Tze treme embrionario sem querer dizer, uma carta de tarot de el decameron sugere “reconocer los derechos del compañero al orgasmo” , encontro com o palhaço suicída, outro dia foi o eclipse visto com cabeça na pedra, e tem gente por aí a morrer afogado, e como os lugares não mentem frente a revolução de praça ocupada, é forte o desespero e mais firme quando pode atuar de cara na gente, as mulheres se dizem vadias, os vagabundos inocentes, as crianças continuam a babar no travesseiro, o mundo caga pra dentro, casa em sargitário é nariz entupido na certa, as bruxas não mentem, quase mata uma capivara e na freada brusca a suruba por pouco não vira bolo de carne esturricada, e ainda volta no outro dia com Augusto dos Anjos a dizer : Eu, ele diz, outros poemas, e vocês ainda tem a indecência homérica de alguma lógica para preservar o teor virgem de um estilo de pensamento? Copular com o mundo senhores, é que não permite tal exagero. Antes arte do que filosofia, isso nóis já sabia desde cedo.

“Eros, de novo, que os membros deslassa, perturba-me:
doce e amargo, invencível monstro”



a valsa fálica da bailarina - solange
Hilan
Dizem que dançar é atiçar as dobras. É provocar as rachaduras. Balançar as articulações. É que por toda parte existem tectônicas. Vulcões. Terremotos prestes a eclodir. Todo corpo tem uma pele. E pele dobra, estica, dilata, arde, dissolve, distrai, lembra, contorna. Dançar é tentar inventar outras dobras. Dançar deve ser produzir um corpo desabotoado. Pensei assim, dançar: provocar desengonçamento. A elegância de um novo vulcanismo, não do vulcão disciplinado de todos os dias – o que abre a carteira, sacode os ombros, caminha sem cair, deita sem pular, trepa sem soluçar – o vulcão que já virou chão, mas o vulcão que perdeu o fio de meada entre a lei da natureza e a superfície da terra. É que a terra é que deve dançar. Acelera seu coração, abre fendas em larga extensão buscando alguma compensação e vive de flexível segurança, a terra se equilibra fazendo frases de dança. E todos os planetas que a rondam, eles rodam, rodam, rodam mas que fazem pequenos clinamens. Os pequenos desvios. Os epicuristas, estes contempladores dos deuses desengonçados, gostavam de olhar para quando as órbitas dão uma errada, quando os planetas ficam errantes, errôneos, erroristas. São microdanças, mas são para elas que há órbitas, sistemas solares, galáxias: para que em algum momento cada coisa saia do espaço que lhe cabe.

Uma vez escutei o Jerôme Bell falando: por que as pessoas vão ver tantas vezes o Lago dos Cisnes? Ele dizia, é porque os bailarinos tem uma maneira própria de errar. O momento do desengonçamento. O momento do desengonçamento é o momento da graça. Porque se não houver o momento da graça – que intervenham os deuses que criam outros precipícios – é melhor ficar contemplando os relógios de parede, ponteiros que balançam por anos no mesmo ritmo. Ou ouvir metrônomos. Os epicuristas não achavam que haviam relojoeiros perfeitos. A terra desengonça. É por isso que estamos sempre olhando as estrelas. No meio dos gestos ratos apinhados de ninharias há uma graça. Os bailarinos não são funcionários, mas os funcionários são bailarinos. É que quem dança, eu entendi, tem corpo – os corpos tem bordas e carregam clinamens. Mas os bailarinos não tem um corpo de bailarino – como os funcionários tem corpos de funcionários, as lavradoras tem corpo de lavradoras, os alcólatras tem corpos de alcólatras, os masoquistas tem corpos da masoquistas, as catadoras de coco tem corpo de catadoras de corpo, as putas tem corpo de putas, os ministros tem corpo de ministros, os pedintes tem corpo de pedintes e os empregados de telecentros tem corpos de empregados de telecentros. Os bailarinos estão em função das dobras invisíveis, não podem se dar ao luxo de ter um corpo... de bailarinos. Flexível segurança. Qualquer pedaço de corpo treinado vai fazer o pedaço parar de dançar. Cada pedaço de corpo desengonça e vira bailarino. O cotuvelo, o tornozelo, a clavícula, o rego, o grelho, a pica. [FILME] Os pedaços de corpos bailam mas de tanto bailar a mesma bailagem, podem parar de bailar: os desvios nas rotas, se forem repetidos, podem virar uma outra rota – é das clinamens que saem as novas órbitas. O desengonçamento – isso é, a graça – não tem órbita. Está fora da coreografia. [RELATO] Só um deus sem corpo poderia ser capaz de não dançar. Um deus perfeito é aquele que não desngonça. Que não carrega seu quinhão de matéria pra desafinar, pra desatinar, pra desarrumar. Os deuses invisíveis são as vezes bailarinos porque desengonçam na matéria etérea, na matéria sutil, na matéria de se desdobra sem ser vista. Mas desdobra, se arranha, coça, tem convulsões, é bolinada, eclode, porque toda matéria tem pele.

E se tem pele tem flor da pele. E desengonça. E se tem pele também, este texto dança. Também ele se contorce, se atrapalha, se avacalha, se atormenta. Perde a órbita. Tudo perde a órbita porque tudo perde a hora, perde o bonde, perde o rebolado. O pensamento que perdeu o rebolado tem graça, fica tentando se apoiar em sua flexível segurança fazendo frases de dança – ou então se torna um funcionário com corpo de funcionário, um filósofo com corpo de filósofo, um deus com corpo de deus sem corpo. Não acreditem em nas deusas sem corpo, mas sem corpo, que articulações poderiam ter movido toda esta parafernália – com que braços essa mônada esquisita coordenaria e animaria tudo isso? Deus tem graça porque perde o rebolado. Tem flores na pele. Pétalas na pele. Como Nataraja, pernas que se dobram, vírgulas pra todo lado, que se estica, se encolhe e anima seus arredores bolinando. Alinhado mas não simétrico, machucado mas em movimento. Ou como a Pachamama, dorso de sapo, ventre de onça, rabo de cobra, crina de condor. E seduz, seduz, seduz e conduz. Só quem tem o rebolado pode perdê-lo, como os anjos que vivem no sol, como os santos que vivem no céu, como os demônios que vivem no fogo. Deus é uma lagosta. Patas espraiadas, asas espraiadas, cordas espraiadas espalhadas para além do que deixamos de ver. E a falta de deus é uma viscosidade – aquela ausência que faz companhia na pele por todos os dias do ano. As deusas cadáveres, que fazem ganir. Ganir. Ganir. Ganir. Ganir. A voz desarrumada de uma garganta desengonçando. Porque há abismos na matéria.

Vou começar de um começo. Do primeiro passo de Balleckett. Pliê. Camier. Mercier. Ballet é o corpo, e o que é a alma? Beckett é a alma – ela também inacabada. Balleckett é o gesto desacabado, descomposto, desordenado, despedaçado, despreparado, desmiolado, desintegrado, dissimulado, desconectado e, de preferência, desabitado. É o gesto rato apinhado de cheiro de alecrim. Desfuncionado. Seu primeiro passo é um suspiro cortado ao meio. Balleckett é a condição humana com os cotovelos e joelhos em movimento. Somos todas inacabadas; somos todas nem começadas – nos tornamos todas beckettescas. Ballet é a alma. Beckett é a virilha. O ponto de partida de muitas felicidades humanas é uma conversa. O ponto de partida da conversa é uma substância beckettesca que existe em cada gengiva, em cada clavícula e em cada calcanhar. Ballet é calcanhar. Beckett fala pelos cotuvelos. Balleckett é a instituição do desengonçamento.

Entre o plágio e a referência existem apenas três pétalas de diferença.Vamos condenar a alguns anos de trabalho forçado estas pétalas que tremem: trabalho forçado pela construção de um mundo que seja 97% feito de água, fogo, terra, ar e aquela coisa macia com a qual se fazem entrelinhas dos textos de Beckett.

Não quero culpar a razão por nada, mas ela vai ter que se comportar por que eu não vou me comportar por ela: danço a suspeita vaga e indolente de que não tem sentido ter sentido. Improviso provisoriamente: não adio para o momento certo – o momento certo é o memento errado. E digo: deixem para as estrelas as luzes apagadas e nas formigas pisem com a ponta dos umbigos. Corpo é alma. Ballett é Beckett. Soltem estes grilhões coreografados. Ninguém nunca fez mais do que bailar becketts disfarçados. Arranquem os disfarces, saiam do chão com um plié, um elevé, um camier, um mercier.
Deixar o corpo sem saber o que bancar.
É que o corpo banca.
O corpo banca. Banca a pessoa, casada, fútil, cotidiana e tributável. O corpo banca nossas futilidades, nossos casamentos, nossas cotidianidades, nossos impostos. Banca o trabalho. E banca o trabalhador. Banca nossas órbitas fixas. E banca caixão.



Carol
A filososofia prenhe.
Quando a filosofia engravida de gravidade
entoando o grave de si mesma
grava seu gesto no mundo.
E um gesto para a filosofia que fala
fala , fala
fala, fala, fala
fala
é

o
silêncio


necessário


para que a dança aconteça.

Erosofia é a palavra muda, podendo ser música em desmesurado frênesi.

palavra

é

rabodelagartixa.

a gente consegue pensar sem.

Toda dança é erótica. Toda a dança avessa-se, posto que o orgão tende a ir para fora
o movimento de vômito
o movimento em coito
o movimento do olho
o movimento do cu
desacelera, surpreende
em corpo.


Battaile: el erotismo es uns desequilibrio proprio del ser que se questiona a si mesmo, conscientemente.


Um filósofo quando dança desengonça-se, pois que o costume dos dias o faz sentar-se na corcunda dos pensadores de plantão, ou de Platão. a postura do pensador de Rodin já previa a ergonomia das telas dos laptops, prótese necessária parece, hoje em dia, do pensar. Uma dança sem técnica é como uma filosofia sem conceito arrebenta os contornos da condição, buscando o impossível.. Por isso que o filósofo ama desengonçar-se na sua dança esquizofrênica, assim como o bailarino ama jogar com os conceitos na malemolência de sua inocência. O bailarino é o filósofo que pensa com as mãos, com os pés, com o ventre, com os ossos. O bailarino é o pensamento de Eros, porque ele não quer apenas conhecer a sabedoria, ele quer copular com ela, até sua morte .........se possível for. Eros, filha do Kaos, enigmática dança do mundo, baila entre as inconstâncias, encontra-se no desencontro de uma ordem imanente em acontecimento. Na sua ontologia só há o que faz em eterno vir a ser, sendo o que é. Exposto, o corpo decompõe-se, a imagem de sua própria dissolução é o resto que permeia o ato. O resto da fragilidade violenta do movimento, o resto de si se abre ao todo. Desperdício, desmesura, a natureza opera segundo as lei de uma produção por excesso, exercício de excessos, é a crueldade do suposto fim, crueldade do desejo, crueldade em abandonar-se e dizer sim a uma promessa de vida que é o erotismo.

Se há desejo, há dança.


Um corpo pornográfico, exaurido, exaltado, obsceno. Te disseram eufórica, histérica, puta, te calaram em nomes, te amordaçaram em idéias, te esvaziaram o sentido para haver somente consentimento. O ridículo disso tudo, nós sabemos, não cabe, pois no exato momento em que o corpo sacode-se, o impregnado do tudo que foi já não é, a dança é o baile do esquecimento. A memória dos teus músculos, endurecidos, atenuados, forçam o espaço ao desengonçamento. O pensamento é a força do agora, o pensamento flexível é o tendão da abertura, a fenda por onde escorre o líquido do teu prenhe auto-engendramento. Criar a si mesmo, não no ensimesmado ser em que há na lógica do teu fantasiado eu que finge estabelecer-se organizável, pressuposto, tu que sabe ser corpo. na pele que toca o teu avesso a dobra de um orgão involuntariamente se contrae, o pulso ritmado entra, o sangue corre em fluxo desesperado, debatendo-se nas paredes viscosas da veia, a pupila dilatada, excita-se em fundos, balbuciante em palato a língua gesticula a palavra que não existe, e o calor molha, estranho contexto, o calor procura exalar o SI, encharcando o póro em mútua penetração transbordada, derreter-se no espaço, em espaço ser.



La verguenza
A vergonha de si, sistema complexo do animal acuado, esconde-se do movimento.
E barrando-se no limite do possível ridículo, acaba parado inoperante, tendo o umbigo da humanidade contra si.
Porque A dança cai exatamente nessa acometido do ridículo
há um leve sorriso de quem não se leva a sério
podendo escapar.

; Discretos chocam nos cantos ;

mas que possa também no ridículo,
a queda do impressionável
ser impessoada.
E nesse instante impessualista, tens o ridículo no alcance do tato
no instante exato
no que ri de si,
dançando a vergonha

tudo pode ser considerado pelo avesso . Pina baush

Há um longo trajeto fisiológico entre as vértebras de um pensamento: a vergonha,prótese subjetiva, implante sanguinário. Onde havia desejo e apenas desejo, postulada foi a lei, onde havia desejo e apenas desejo, objetificado foi o encontro. E do falar que se fala faz, falando foi, feito o efeito de uma força de vergonha. Perceba: perante alguém indiciado por ser, estar ridículo, a vergonha é sempre dos outros, e não de quem se faz no momento do cometido. O bailarino é essa força despovoadora da ridicularidade alheia, o desequilíbrio que opera entre os termos é do âmbito do indizível, alfinetando as formas reconhecidas no aberto, onde vai a pisar em calçadas indiscerníveis, quem capta o ridículo como potencia e não como vergonha, jogando com o status quo....da paródia do gesto, ao infinito que lubrificado entra.


“ não sou um filósofo,mas talvez um santo, talvez um louco, mas que pensa da mesma maneira como uma menina tira a roupa. Na extremidade de seu movimento o pensamento é o impudor, a própria obscenidade.” bataille

Hilan

E o começo de que eu quero falar é o nascimento da erosofia. A erosofia nasceu de um bacanal em que a filosofia se transviou. Estava lá a literatura, estavam lá uns filmes, umas músicas e muitas musas. Ela é transnúmero, ela é como um átomo de multiplicidade, como o pequeno de Anaxágoras: sempre há um menor e um menor do menor habitando nela. Ela é transgênero, e é transnúmero. A erosofia teria nascido de um parto de Clara Acker. E foi erótica a parteira já que como diz Audre Lorde, o erótico é a parteira dos conhecimentos mais íntimos. É Eros que faz surgir, já que ele é brotoejo do que brota. Mas conta Monica Udler, uma Hesíoda anancestral, que a erosofia é filha da mãe literatura germinada pelo pai filosofia. Herdou uns tiques do pai, a mania de pensar, e umas manias da mãe pela insinuação, pelos umbrais, pela meia-luz. Monica não conta do bacanal. Não conta que dançavam entre a filosofia e a literatura milhares de musas. Podemos imaginar a filosofia naquele bacanal. Cheia dos gêneros, cheia das genitálias, cheia de amigos.. Ela já com suas sobrinhas, netas, bisnetas, garbosas e todas desviadas dos seus caminhos. Estava lá a pornosofia que passou a vida contemplando as formas da sabedoria com uma tara sem controle, estava a agapesofia que passava as tardes servindo chá e dando banhos na sabedoria e estava lá também a matriarca, altiva e sempre distante, a Sofia, a sabedoria.

Segue o texto da Monica Udler, etc
O Nascimento da Erosofia: bem, são muitos os nascimentos, ela está sempre nascendo e se preparando para o nascimento, como a filosofia está sempre morrendo e se preparando para a morte.
Pesquisadores convergem para uma data: 24 de novembro de 2011.

venerdì 11 novembre 2011

O Nascimento do Poema, de Dora Ferreira da Silva

É preciso que venha de longe
do vento mais antigo
ou da morte
é preciso que venha impreciso
inesperado como a rosa
ou como o riso
o poema inecessário.

É preciso que ferido de amor
entre pombos
ou nas mansas colinas
que o ódio afaga
ele venha
sob o látego da insônia
morto e preservado.

E então desperta
para o rito da forma
lúcida
tranqüila:
senhor do duplo reino
coroado
de sóis e luas.

domenica 6 novembre 2011

Susana Villalba sobre la Tanabata

LA NOCHE DE TANABATA

Es la noche
de Tanabata
pero yo no sé dónde está
la orilla del río
del cielo.
Ni el cielo
lo dice.
No sé cuál es el puente
que nos une
y nos separa.
Yo no sé qué pasó,
la vida no es un lugar
seguro.
No hay ceremonias,
los amantes unidos
por un hilo de plata.
Sueño con calles
en las que estás caminando
mientras sueño,
al despertar es tarde.
Yo no sé qué hacer,
el amor es animal.
El camino terminaba
en un acantilado.
Iba un loco
en un coche policial,
feliz de andar en auto,
sentí miedo del dolor,
de la química,
de las palabras que se quiebran
de pronto.
Fuera de mí,
fuera de mi casa,
fuera de todo lo que te ofrecí
voy.
Pero vuelvo, no creas
que pedía más
que la intensidad del azul
ante el naranja.
Yo no sé qué pensar,
para qué
si no quiero entender,
si no hay razones
a veces.
No sé si creer otra vez
en signos que no sé leer
en el río del cielo.
No sé si buscar el puente,
quizá nunca lo hubo.
No sé qué decir,
acaso te convoco sin saber
adónde.
No importa,
haré una ceremonia incorrecta
mirando la luna.
Pregunto a tu parte oscura
si es cierto
que desayunamos juntos.
El tiempo pasa,
no hay aniversarios.
La vida gira
bruscamente,
yo no vi la señal.
Ya no sé si es mejor
perder lo que se debe
para encontrar,
antes me dije estas cosas
pero estoy cansada.
¿No hay nada que decir?
No hay nada que hacer
para desanudar las almas que se aferran
a otras almas anudadas
a otras almas.
¿No hay parte en el amor
que guarde algún recuerdo?
de la luz
sobre la contingencia.
Acaso es un torrente
continuo
y precisamente
por eso.
Ya no sé quién sos.
No pudimos despedirnos
de los muertos.
Así sin inhumar
el cuerpo de este amor
enterrará el próximo amor.
Como fui yo el cordero
bajo el mismo puñal
que habías recibido.
Ahora soy quien pregunta
al río:
el amor es un torrente
continuo
pero estamos fijos en el horror
de no permanecer.
Hasta el fuego
necesita adherencia,
sólo la noche existe
aunque nadie la mire.
Acaso el puente para dejar
en claro:
cada uno ocupa un sitio
diferente.
No era necesario,
siempre estamos solos,
siempre está a la vista.
No te pedía el alma
por un pacto,
ya no hay pactos,
“es la estrategia del demonio
hacer creer que ya no existe”.
Ya no sé si creer
en las palabras,
es la noche de Tanabata[1]
y no lo sabés,
no leímos los mismos libros.
No sé el lugar
que no conozco,
no hay corazón tan sabio
ni vocación de tenerlo
ni quien
indique el camino.
No hay caminos,
es el momento para inventar
liturgias,
construir un gesto,
un filme o un río
para los separados eternamente.
Eternamente despidiéndose
de sí mismos.
Reconstruirse en el dolor
es otro dolor:
que lo desee
no hará que exista.
Preparo café,
ya no puedo sentir más frío
por hoy,
por este año.
Todo ha sido
una actuación en el vacío,
algo se quiebra
para instaurar.
En todo viaje, la ausencia
o volver,
se mueve el paisaje.
De todos modos el río
está cegado aquí,
tiene una sola orilla
y cada vez
se es más inteligente.
Quiero decir más triste.
Ahora sé
que está cayendo la noche
de Tanabata
como una noche
más.


Poema de Un poema de Matar a un animal, Curandera, Buenos Aires, 2011.

Susana Villalba

[1] La fiesta celebra el encuentro entre Orihime (Vega) y Hikoboshi (Altair). La Vía láctea, un río hecho de estrellas que cruza el cielo, separa a estos amantes, y sólo se les permite verse una vez al año, el séptimo día del séptimo mes lunar del calendario lunisolar. Ya que las estrellas sólo aparecen de noche, la celebración suele ser nocturna