Conheci a Suely por muitos anos. Através de muitos caminhos; um caminho me levava a ela, e também outro, e um bem diferente também. Parecia a praça da matriz - mas também uma saída para o mar. Uma vez subimos em um ficus enorme na 405 norte - que derrubaram sem pudor já há alguns anos - e ficamos com Miguel a discutir o que tem valor e o que vale a pena. São coisas contagiantes? Contagiosas? Mas só nos últimos dias do ano passado brotou uma amizade. Ela parecia ser feita de uma substância com a qual se faz os ímpetos solitários porque solidários, megalomaníacos porque minúsculos mas precisos. Um bálsamo.
Quando começou o ano escrevi para ela, "e então, quando começamos a terapia"? Vou demorar ainda para entender a resposta. Fui ao seu funeral - uma bactéria escolheu sua cabeça, e se alojou por ali. Deve ter encontrado a tal doçura nas conexões. Não conhecia sua família, ninguém. A neta eu conheci em um dos caminhos que levavam a ela - mas já tinha tempo. Quando em volta do corpo exposto, eu vi a Suely - vestida de preto e com toda a sua vivacidade, seu acolhimento, seus compassos. Pensei, deve ser a irmã. Irmãs são assim, recapitulam até as singularidades singularíssimas - e temperam com outro pó. Mas parecia que aquela irmã era a Suely pó por pó. Olhei para o resto da multidão quando de repente me olha ela, e faz um outro gesto de Suely e me abraça. Um abraço demorado como aqueles da Suely, de benção, cumplicidade e braços abertos. Era um abraço da Suely. Apenas, talvez, mais demorado; acontecem aos abraços demorarem mais nos funerais. Em seguida, nenhuma palavra. Também o silêncio é uma coisa que se passa nos funerais. Alguém passou por ela e disse: também quero um abraço seu. Corri para o Maurice e perguntei: quem era aquela que eu abraçava, a Suely? Solange, ele disse, sua irmã. Parece mesmo muito com ela. Mas de onde ela me conhece? Maurice vaticina: as coisas entre o céu e a terra de que tantos falam ficam soltas nestas horas, você sabe. Pergunto ao Fininho, o dono do café que a Suely frequentava. Não, ele diz, ela nunca foi ao café - nem sequer morava na cidade. Pergunto a Letícia: elas são parecidas, mas muito diferentes; bom para a Solange que ela deixou que o abraço da Suely lhe contagiasse. Depois do longo aplauso que fizemos todos à vida da Suely - um pôr-do-ser - aparece sua mãe que, diferente de Suely e de qualquer irmã, continha como um ovo a força de passar um entardecer em um platô de uma árvore. Já do lado de fora, aparece Solange, irmã de Suely - fala com o Fininho mas não comigo. Pois claro, não me conhece. Ela não está mais com a mesma roupa, né Fininho, eu pergunto. E ele: não reparei.
Ao final, nas despedidas, Solange está dentro do carro e eu aceno para ela. Ela me manda um beijo. O carro funerário tinha já partido, eu acho, para o crematório. Saio ao lado do Fininho do cemitério. Ele me diz: na última troca de mensagens que eu tive com a Suely ela disse "vou passar no café", e eu respondi: "oba", mas foi ela que mandou a última mensagem: "talvez".
Quando começou o ano escrevi para ela, "e então, quando começamos a terapia"? Vou demorar ainda para entender a resposta. Fui ao seu funeral - uma bactéria escolheu sua cabeça, e se alojou por ali. Deve ter encontrado a tal doçura nas conexões. Não conhecia sua família, ninguém. A neta eu conheci em um dos caminhos que levavam a ela - mas já tinha tempo. Quando em volta do corpo exposto, eu vi a Suely - vestida de preto e com toda a sua vivacidade, seu acolhimento, seus compassos. Pensei, deve ser a irmã. Irmãs são assim, recapitulam até as singularidades singularíssimas - e temperam com outro pó. Mas parecia que aquela irmã era a Suely pó por pó. Olhei para o resto da multidão quando de repente me olha ela, e faz um outro gesto de Suely e me abraça. Um abraço demorado como aqueles da Suely, de benção, cumplicidade e braços abertos. Era um abraço da Suely. Apenas, talvez, mais demorado; acontecem aos abraços demorarem mais nos funerais. Em seguida, nenhuma palavra. Também o silêncio é uma coisa que se passa nos funerais. Alguém passou por ela e disse: também quero um abraço seu. Corri para o Maurice e perguntei: quem era aquela que eu abraçava, a Suely? Solange, ele disse, sua irmã. Parece mesmo muito com ela. Mas de onde ela me conhece? Maurice vaticina: as coisas entre o céu e a terra de que tantos falam ficam soltas nestas horas, você sabe. Pergunto ao Fininho, o dono do café que a Suely frequentava. Não, ele diz, ela nunca foi ao café - nem sequer morava na cidade. Pergunto a Letícia: elas são parecidas, mas muito diferentes; bom para a Solange que ela deixou que o abraço da Suely lhe contagiasse. Depois do longo aplauso que fizemos todos à vida da Suely - um pôr-do-ser - aparece sua mãe que, diferente de Suely e de qualquer irmã, continha como um ovo a força de passar um entardecer em um platô de uma árvore. Já do lado de fora, aparece Solange, irmã de Suely - fala com o Fininho mas não comigo. Pois claro, não me conhece. Ela não está mais com a mesma roupa, né Fininho, eu pergunto. E ele: não reparei.
Ao final, nas despedidas, Solange está dentro do carro e eu aceno para ela. Ela me manda um beijo. O carro funerário tinha já partido, eu acho, para o crematório. Saio ao lado do Fininho do cemitério. Ele me diz: na última troca de mensagens que eu tive com a Suely ela disse "vou passar no café", e eu respondi: "oba", mas foi ela que mandou a última mensagem: "talvez".
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