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domenica 2 marzo 2014

il y a des matins trop tristes

desliguei o som dos pássaros, dos repentinos e dos repetidos -
já há anos que cortei estas veias;
se sangrou? derramou a gosma cinza, bem lenta,
dez centímetros cúbicos
por dia.
assim eu escorri, manhã a manhã,
meus órgãos-pássaros se atrofiaram -
tentei uma prótese com Salif Keita
em um radinho de lata de Negra Modelo,
tentei abrir a janela para recolher o último miasma;
ponho uma sandália de fivela,
como doces de amêndoas, procuro as partículas da minha infância
em terras que eu nunca fui -
o estrangeiro está em mim,
mas o conhecimento dele pode estar muito longe -
tratar cada uma das mais arriscadas partes do mundo
como quem fica polindo cristal,
feliz como um rei com coroa de papel celofane.
descasco uma dúzia inteira de ovos, brancos e
ponho as cascas em um prato transparente.
fico paralisado diante
destes corpos, brancos, crocantes, estridentes
sem comer nenhum deles, sem colocá-los a perder;
há cópulas que não se pronunciam
há cópulas para as quais não há ser
já que não há ligação.
os cheiros dos ovos descascados me atordoam -
tenho nos meus subterrâneos desejos assim,
da cor destes ovos abafados;
guardo eles nas tripas retorcidas
que vão virando terra incognita,
ou miomas amarrados, ou só becos sem saída.
mais tarde jogo as cascas para os pássaros pretos, alforriados,
eles voam longe dos ovos, também sem verbos de ligação.
no armário onde eu guardo minhas meias cor-de-laranja,
as gavetas fechadas são breu, só um pedaço da casca de um ovo
grudou na ponta do meu dedo -
e seguiu grudada nele, branco.

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