Visualizzazioni totali
mercoledì 16 dicembre 2009
O polvo e a casca do côco jogada no mar
Pensão, pensão, pensão - entra e sai todo dia uma multidão
agora me entra Othelo, esbarra com Fabiane Borges
trisca na pele da Olana, preta e pálida e faz o homem da alfândega
dar abrigo clandestino para a Monica Vicci
no corredor.
tem polvo que esbarra com a casca de côco e desliza.
Eu não tenho ecossistema
(tenho ecotucões - até pavor)
Rita e Sue em um saco de dormir se slojam na minha glande
me masturbo querendo paz
pensão vazia, só a Emanuelle e um Abacha em seus cinco minutos de coreografia
repetidos
o corpo do polvo é uma hospedaria
quantos monstros escandalosos eu consigo abrigar em um dia
nos meus quartos sem janela?
domenica 6 dicembre 2009
S.O.S. (Leminski)
que não fosse o começo
de um esse o esse
(só lamente uma vez)
viver é super-difícil...
sou granizo
velocidade torpe
me entontece rasgar as brodas das coisas humanas, sou boi, sou traça
intuo o ódio fino que requebra minhas cadeiras
sobe no pé da espinha
esfarelo um copo estridente
grito, urro, porque adoro barulho
que não entendo
faz companhia pro meus cílios
que nunca ensaiaram
domenica 29 novembre 2009
Hoje eu suava suavemente
engulo os teus dados, penteio tuas matrizes
queria bolinar os sistemas estabelecidos com a cauda do meu piano de rabo
meu ventre se solta
procuro os macacos, abro as gaiolas
eles vão me ensinar a respirar
engulo os teus dedos, penteio teus pelos
bolinar com a cauda do teu piano
a fricção, a fricção, a fricção
Maria, (quase) de Fabiane Borges
Sou doente, sofro do fígado. A cachaça dissolve minha dor e os anjos da noite me dão sanduíches. Não estou sozinha, têm outros como eu que habitam aqui. Tomara que não falte cachaça no inverno, nem loló, nem algum doido metido a poeta que me fale poemas pela metade, dividindo seu cobertor comigo, caso venha a perder o meu.
Meu cobertor é vermelho, com algumas manchas mais intensas, de quando mênstruo; e algumas marcas de porra, mas já nem me lembro de quando foram. Arrasto meu cobertor vermelho rua afora e "instalo" minha imagem pelas calçadas, faço chorar senhoras sensíveis de dentro dos carros - puritanas filhas de uma puta, choram de culpa religiosa. Elas pensam -Deus, como pode alguém viver assim, o que eu poderia fazer? Sou tão impotente!
Minha desgraça é o seu mais profundo terror.
Elas pensam que não sobreviveriam. Mas sobreviveriam. Se adaptam: e o sorriso não depende de nada. O riso ri quando quer rir, a lágrima cai quando o olho quer chorar e a dor é constante, mesmo à dor se acostuma.
Só sofro quando tenho pena de mim mesma, mas até isso vira capricho, já estou noutra há algum tempo. Uma espécie de letargia, tranqüila e insossa. Minha memória funciona por relâmpagos. Às vezes acho que vivi algo, depois lembro que foi alguém que me contou, eu confundo as histórias, carrego lembranças de outros - e filhos e cachorros, calçadas...
Um dia sentava na calçada da vila, contava os carros com um filho que tive. Deve estar por aí, ou seria filho de alguém outro? Já não interessa muito, só quando tenho pena de mim mesma. Memória não tem dono. Nem filho, tem dono não. Não conto. Nem conto os carros. Mas as vezes urro.
Berro como uma cadela no cio e gasto toda minha angústia em gritos, como alguém que reza pra deus, logo passa, o sono sempre vem. Indubitavelmente!
Tenho experimentado vários lugares na cidade. Depende do tempo. Às vezes me acomodo numa rua bem movimentada, com meus sacos pretos, estendo a mão e chego a dormir com a mão estendida, umas pessoas me dão dinheiro então compro mais cachaça e uns pães e assim me sinto meio rica, já divido com outro qualquer, prá trocar uma idéia. Fui importante ou nasci ali, depende da temperatura, e da minha úlcera.
Quando cago, alguns bichos saem da minha barriga , eu até tinha nojo deles, agora compreendo que faz parte, toco-os, brinco com eles como se fossem minhoquinhas achadas na terra molhada, e são. Se uns saem, outros devem entrar, e não é raro eu conversar com eles.Tenho coceiras nas pernas, sei que é sarna, essas coceiras me entretêm, as vezes coço-as a noite inteira e fico adivinhando onde ela vai coçar, só é ruim quando é nas costas, por isso, ando sempre com uma varinha que arrasto pelo chão, varinha mágica que acaba com minhas coceiras, também sou bruxa. Os piolhos como-os todos, não suporto piolhos, são que nem crianças pequenas, tem que se dar atenção o dia inteiro. Estralo eles entre as unhas e como-os, sem piedade. Como os macacos comem.
Eu tenho um nome, e vou dizer se você perguntar.
composto por Fabiane Borges, espalhado e deturpado por Heráclitas, caquéticas que insistem em adiar tudo.
(vai ter que ir pra rua, os blogs são pequenos demais para Maria, dos lábios esticados)
venerdì 20 novembre 2009
mercoledì 18 novembre 2009
Muna Yousef me manda um poema com meu nome
palestinas fazem pães
filhos para não desaparecerem do mapa
juventude
mesquita
mercado
heroína
sinagoga
chá preto
cedro do líbano
estrela do oriente
lunedì 16 novembre 2009
El solicitante descolocado de Leónidas Lamborghini
Sem comiseração. Ele não se desinventa mais.
El solicitante descolocado
Desempleado
buscando ese mango hasta más no poder
me faltó la energía la pata ancha
aburrido hace meses, la miseria
busco ahor atrabajo en la era atómica
dentro o fuera del ramo
si es posible.
Todos los días abro el mundo
un jardín de esperanzas
en la sección empleados
voy clasificándome
atento
este aviso me pide.
Entonces
a escribir con pasión y buena letra
adherido con lealtad
—ser claro—
escucho el ruego del ruiseñor
uniendo lo primitivo a lo culto
la inspiración a la escuela
trato de seducir
con mis antecedentes.
Solicitud detállame
el que suscribe
práctico en desorganizar
está deseando
ganarse un pan en tu establecimiento
hombre de empresa
casilla de correos.
sabato 14 novembre 2009
Heráclitas
Na madrugada do universo é sempre tarde,
sobreviver: deformar, desformar,
transtornar, atormerntar.
ter fome, mais fome, e desviar, desviar do que está pronto, deixar o arquétipo caquético. Me move a fome. Eu sou como o universo: eu trago. Devoro.
Encho o planeta de rugas – minha pele, minhas vísceras, minha respiração. Caquética, caquética, caquética e eu tenho fome.
Tenho fome de virar em tudo que não sou.
Tenho fome de fricção, me esfrega, me esfrega, me esfrega.
Eu ardo. Minhas mandíbulas, minhas clavículas,
meus tornozelos se dissipam.
Tenho fome de fricção.
Tenho fome de ser contra ser tudo que não sou. Minha ânsia, meus pés, minha fome de minha carne virada em teus olhos, virada em teu pó, virada em teus vermes, virada em teu barulho – tuas flatulências.
Água fresca corre dentro de você, mesmo nos teus rios mais velhos, nos teus rios sem bordas – nos teus rios que carregaram as bordas com ele.
Não me olhe como seu eu fosse pérola, não sou mais nada, nem ostra, nem areia
Meu corpo todo é marcado do que eu deixei de ser.
Decaio, decaio, decaio – e ainda me sobra a decair
porque não há destruição rumo ao nada.
Sairei às pressas, assim como estou, e andarei pelas ruas. Com meu cabelo em desalinho. Que faremos amanhã? Que faremos jamais? O banho quente às dez. E caso chova, um carro às quatro. Fechado. E jogaremos uma partida de xadrez, apertando olhos sem pálpebras A espera de uma batida na porta.
São tuas qualidades incendiárias que farão por você amanhã.
Teus vermes incendiários. Teus ímpetos de cuspir.
Porque o fogo é falta e excesso.
Sob qualquer coisa que flutua pode se encontrar outras coisas que fluem.
Nem a mesma gota, nem o mesmo pingo. Nem a mesma planta. Nem a mesma enxurrada.
Estorrica, estorrica, estorrica – enruga, enruga.
Os mesmos também se enrugam.
Minhas rugas decorrem emanações. Cabelos emanam, folhas emanam. Já fui planta e pássaro, moço e moça, pois sabia que nada cauteriza a desavença. Nem se controla o esplendor das vinganças por baixo dos panos substituindo florestas por jardins.
Carrego a potência da quebradeira.
Os princípios envelhecem.
Ouvi dizer que a percepção é o acontecimento que toma conta das mulheres, das éguas, das cadelas.
Tudo toma conta de tudo. [...] vento, fogo e poeira – tudo invade tudo.
Nunca envelheço duas vezes com as mesmas rugas.
Tentam extirpar a quebradeira do mundo. Já o âmago evaporou.
A danação das essências.
Para a lua, as marés são não mais que sua criação. Todas as coisas são criadoras de realidades. E todas encontram algumas outras prontas: não, nunca prontas, apenas suficientemente estagnadas. E as tornam decrépitas.
O corpo queima, arrepia, arde, cheira, molha, sua, treme...
Eu nunca larguei o mesmo sangue duas vezes.
Minha menstruação é minha transformista.
Eu me rasgo, eu me dilacero, eu me fertilizo.
Caquética e fértil, assim é o planeta, assim são todas as coisas – prontas pra gerar sementes, mas nunca prontas. Sou tua fêmea velha, sou tua potranca velha, vem, me devora que eu tenho fome. Corre água fresca de dentro de mim. Corre sangue fresco de dentro de mim. Corre seiva fresca de dentro de mim. Tudo mistura, tudo borra. Tudo fertiliza.
Na minha fome.
coisas turbulentas surgiram de águas estagnadas.
Me disseram que eu vou retornar ao pó, eu perguntei: que pó?
Os corpos sempre estão à disposição, mas as disposições não tem dono.
Elas se danam. Se abandonam.
Danação.
O abuso é preciso disseminar como um incêndio.
Há muito mais entre o caos e a ordem
do que tem pensado estes últimos milênios aflitos
que vi com meus olhos, com minha pernas, com meu grelho ensangüentado, com minhas tormentas simbólicas e diabólicas.
Eu vi os túneis secretos por baixo das grades das prisões e os túneis secretos por baixo dos túneis secretos das prisões.
Não há prisão de segurança máxima.
[...] debaixo da pedra havia um caminho.
a natureza tem suas gambiarras.
O mundo não pode ser abreviado
A decrepitude não tem governo – não tem princípio.
Caquética, e protética, caquética, caquética.
A natureza ama esconder-se. Nenhum corpo pode ficar completamente vestido,
nem completamente pelado. Mas os biombos conspiram.
Minhas rugas, meus fluidos sangues, eles escavam o mundo.
Sou Heráclita, caquética, sou toupeira, lavradura.
Minhas palavras não ficam prontas. Elas são atrizes. São transformistas.
Qualquer palavra é desmantelada. Ingovernável.
Confio mais no esquecimento que nas bibliotecas.
nada de mim eu quis que se mantivesse, quase nada perdurou e eu nunca parei de envelhecer.
E rugas, rugas, rugas. Rugas degeneram os princípios, os círculos, as estátuas de bronze feitas de pele. Degeneram as rugas. Degeneram as ruas. Meu sangue caquético, decrépito e fértil na tua estrada. Me emprenhem.
Eu nunca menstruo o mesmo sangue duas vezes.
Uma (Alice) Ruiz
e um vagalume
o sol se põe
(e outro para o eros é eris:
ônus do abandono
foi um bando que me deixou
sem dono)
giovedì 12 novembre 2009
A Silly Poem by Spike Milligan
I'll draw a sketch of thee,
What kind of pencil shall I use?
2B or not 2B?
mercoledì 11 novembre 2009
Eve Ensler e a minissaia
Minha minissaia
Dos “Monólogos da Vagina” de Ensler
para Geisy Arruda e as profundezas do escândalo
Minha minissaia não é um convite
uma provocação
uma indicação
do que eu quero
ou dou
ou que eu flerto.
Minha minissaia
não está implorando por isso
não está querendo que você
a arranque de mim
ou a abaixe até o chão.
Minha minissaia
não é um argumento jurídico
para você me violentar
ainda que já tenha sido
e não vai servir de prova
em nenhum tribunal.
Minha minissaia, acredite ou não
não tem nada a ver com você
Minha minissaia
tem a ver com a descoberta
do poder das minhas pernas
e do ar frio do outono passeando
pelo interior das minhas coxas
tem a ver com tudo o que eu vejo
ou passo ou sinto viver dentro de mim.
Minha minissaia não é prova
de que eu seja estúpida
ou indecisa
ou uma menininha maleável.
Minha minissaia é meu desafio
e você não vai me amedrontar
Minha minissaia não está se exibindo
é esta que eu sou
antes que você me faça cobri-la
ou disfarçá-la.
Acostume-se.
Minha minissaia é felicidade
Eu posso me sentir no chão.
Sou eu qui. E eu sou gostosa.
Minha minissaia é liberação
bandeira no exército das mulheres
Eu declaro estas ruas, quaisquer ruas
o país da minha vagina.
Minha minissaia
é água azul turquesa
onde nadam peixes coloridos
um festival de verão
na escuridão estrelada
um pássaro cantando
um trem chegando em uma cidade estrangeira
minha minissaia é um rodopio
um suspiro profundo
um passo de tango
minha minissaia é
iniciação
apreciação
excitação.
Mas acima de tudo minha minissaia
e tudo que ela cobre
é Meu.
Meu.
Meu.
fontes da tradução:
http://www.politikaetc.info/
http://www.criminologiaetc.blogspot.com/
Raphael e Aline
mercoledì 28 ottobre 2009
Chakravorty
que eu nem meço mais, nem aço defesas -
molho as mangas despreparadas com água e cloro
e arrebento minha precisão.
Fico com palavras tentando morder meus ombros
e não escrever diários em primeira pessoa
despejar o que cai do céu - debulhar
e o que cai, cai em gotas.
sabato 24 ottobre 2009
O poeta e os elementos de Mendes Vianna
(Dá até pra clicar nos youtubes nas entrelinhas correspondentes já na primeira leitura)
A força do fogo
- tão forte força -
não queima
a dor! (Só a dor
cauteriza a dor).
http://www.youtube.com/watch?v=A_zFw7I6TUg
A força da água
- tão forte força -
não lava
a dor! (Só a lágrima
pode polir o agravo).
A força do ar
- tão forte força -
não areja a dor,
não ala a pedra
de Sísifo. Só o sonho
de ser livre nos orça
e salva.
http://www.youtube.com/watch?v=hpz4xE9xCZ4
A força da seiva
- tão forte força -
não corre nas veias.
Só flui nas nervuras,
so flui nos caules.
Não flui na minha raiz
e não cura
a cicatriz.
sabato 17 ottobre 2009
AUSPUFF, by Dieter & Davidle roos
giovedì 15 ottobre 2009
O tal pato
Há barulhos que são persas - o Saul
desistiu de afundar navios. Eu pego o Mcnaught levantado do chão, a
Ana Cristina foi ver os quartos vazios de novo;
ela acordou com a roda da bicicleta enterrada nas sobras de parafina -
procuro entre os meus papéis orientação.
O Menezes quebrou quatro regras com a Ana Cristina
e depois passou vinte minutos comendo pão com queijo seco
fazendo regra três com sua testa de sedução estética;
vou ao Bosforo com a Huda Shaarawi - ela
alugou uma casa de madeira no alto de uma montanha
de onde se vê o mar de marmara e decorou com pequenos animais
brancos, destes que os franceses faziam nos anos cinquenta.
Só no fim da manhã é que Toni recebeu o envelope azul:
continha dez mil reais em notas argentinas e o broche de ouro de um pato assado, gemendo.
sabato 10 ottobre 2009
A Rumi to place in your door
every morning a new arrival
a joy, a depression, a meanness.
Some momentary awareness comes
as an unexpected visitor.
Welcome and entertain them all!
Even if they are a crowd of sorrows
who violently sweep your house
empty of its furniture.
Still treat each guest honorably.
He might be cleaning up you out
for some new delight!
The dark thought, the shame, the malice
meet them at the door laughing
and invite them in
be grateful for whoever comes
because each has been sent
as a guide from beyond.
lunedì 5 ottobre 2009
Os Pobres na Estação Rodoviária - Lêdo Ivo
Os pobres viajam, Na estação rodoviária
eles alteiam os pescoços como gansos para olhar
os letreiros dos ônibus. E seus olhares
são de quem teme perder alguma coisa:
a mala que guarda um rádio de pilha e um casaco
que tem a cor do frio num dia sem sonhos,
o sanduíche de mortadela no fundo da sacola,
e o sol de subúrbio e poeira além dos viadutos.
Entre o rumor dos alto-falantes e o arquejo dos ônibus
eles temem perder a própria viagem
escondida no névoa dos horários.
Os que dormitam nos bancos acordam assustados,
embora os pesadelos sejam um privilégio
dos que abastecem os ouvidos e o tédio dos psicanalistas
em consultórios assépticos como o algodão que
tapa o nariz dos mortos.
Nas filas os pobres assumem um ar grave
que une temor, impaciência e submissão.
Como os pobres são grotescos! E como os seus odores
nos incomodam mesmo à distância!
E não têm a noção das conveniências, não sabem
portar-se em público.
O dedo sujo de nicotina esfrega o olho irritado
que do sonho reteve apenas a remela.
Do seio caído e túrgido um filete de leite
escorre para a pequena boca habituada ao choro.
Na plataforma eles vão o vêm, saltam e seguram
malas e embrulhos,
fazem perguntas descabidos nos guichês, sussurram
palavras misteriosas
e contemplam os capas das revistas com o ar espantado
de quem não sabe o caminho do salão da vida.
Por que esse ir e vir? E essas roupas espalhafatosas,
esses amarelos de azeite de dendê que doem
na vista delicada
do viajante obrigado a suportar tantos cheiros incômodos,
e esses vermelhos contundentes de feira e mafuá?
Os pobres não sabem viajar nem sabem vestir-se.
Tampouco sabem morar: não têm noção do conforto
embora alguns deles possuam até televisão.
Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
(Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que ocupam os nossos
lugares mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.
http://www.esteticaderodoviaria.blogspot.com/
palavras sem terminação
os meios são onde escorrega-se até os fins
penso twitter, o que respiro é que é argumento
olho para o encontro da parede com o teto
da parede com o céu
do mar com o teto
uma rima - molecular
lunedì 28 settembre 2009
Os morros nas minhas retinas
não estou em Bedd Gelert
o regato sempre fica sendo onde tudo começou
mas nada começou - Okwonkwo encontrava na pedra,
na corda, no tronco da árvore estorricada de sol
e na cicatriz no umbigo da parte do mundo que eu vejo
seus ancestrais. Ele se exilou no meio deles,
se enforcou no meio deles. Agacho em uma pedra molhada
e abandono o manejo dos olhos, da bexiga, do intestino -
a posição de quem aceita o acaso das forças.
Sinto o nojo do poder e prendo o pé na pedra seca,
não consigo entrar nela, minhas mãos entre as folhagens.
Quando saio da água, a cicatriz nas minhas costas
aparece o sol, e uma pedra encravada na minha unha.
martedì 22 settembre 2009
Eamon Grennan: one morning
rotting by the tideline, and carried all day the scent of this savage
valediction. That headlong high sound the oystercatcher makes
came echoing through the rocky cove
where a cormorant was feeding and submarining in the bay
and a heron rose off a boulder where he'd been invisible,
drifted a little, stood again -- a hieroglyph
or just longevity reflecting on itself
between the sky clouding over and the lightly ruffled water.
This was the morning after your dream of dying, of being held
and told it didn't matter. A butterfly went jinking over
the wave-silky stones, and where I turned
to go up the road again, a couple in a blue camper sat
smoking their cigarettes over their breakfast coffee (blue
scent of smoke, the thick dark smell of fresh coffee)
and talking in quiet voices, first one then the other answering,
their radio telling the daily news behind them. It was warm.
All seemed at peace. I could feel the sun coming off the water.
co-medido
nem consigo o assombro diante da ribeira do rio
nem me impele - que estou de companhia
sinto saudades de um diário
detalhado
quero escrever com meus cheiros
entro no mar no meio das pedras
roço nas ânsias, já que os começos abruptos
não sopram comedidos
martedì 15 settembre 2009
poema abandonado
meus pés esbarram nas pedras, tortuosas, entre flores, espinhos demais
contrafacuais não são assimétricos
respiro
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
presilhas, presilhas
teus pés esbarrados, pedras tortuosas, entre flores, espinhos demais
contrafactuais não são sempre causas
respiro
here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
contrafacuais não são assimétricos
giovedì 10 settembre 2009
being born is not the beginning
swanswell street, coventry - duas mesquitas, dois templos,
um repositório católico
and a methodist church
vou até a parte mais inglesa da cidade
onde corre o dinheiro lavado
compro Sáanii Dahataal na Oxfam
sento no que foi a catedral
i read about the delights of life
visiting bombay, a day without committments, the death of friends
(this can never be a delight)
fecho o livro, escuto dariush falando de seus pequenos prazeres
atormentado
fico medindo a saia rosa against my heaps
lembro da hora em que eu nasci
and about what zizek thinks it is to be under-stood
in Casablanca.
e que eu queria cozinhar para quem entrasse em casa
sem cor.
domenica 30 agosto 2009
Avoir êté a Bogotá
La toma del Estado no puede más tardar. Nosotros de la FARCL venimos para hacerla más pronto y con más efectividad. Como necesitamos armas, gente y municiones para el asalto revolucionario, y todo esto tiene costos, ya tenemos el suporte de Siemens, de Louis Vitton, de IBM, de Google y de Texaco. Estas empresas, que comparten nuestro ideario revolucionario comunista liberal, serán socias en la toma del Estado y en el proceso de implantar el comunismo liberal en nuestro país. Nosotros estamos preparad@s para aproximar los retos de hacer una sociedad más justa y responsable con los intereses del capital – nuestra Revolución puede ser comprada. Y se mostrará lucrativa.
Si quiere ser parte de la gran revolución, venga para las FARCL hoy mismo. Es suficiente escribirnos (farcl.siemens@gmail.com), hacer una contribución material (significativa) y estar de acuerdo con nuestros 7 principios centrales:
1. Queremos una sociedad para todos. Todo debe ser gratuito y todo servicio público debe ser para todos sin pagar. Solo los servicios adicionales – los más lucrativos – serán pagos para que Nuestros Socios puedan quedarse más ricos (y colaboraren más para la empresa de la Revolución).
2. Nuestra Revolución es incluyente: todos deben participar y colaborar. Todos necesitarán de Google para participar. Las ordenadoras para su ciudadanía las van a comprarlas a Nuestros Socios que necesitan mucho de todos estos nuevos consumidores.
3. Todos nosotros pueden enriquecer con la Revolución. No hay incompatibilidad entre las riquezas comunales y la riqueza individual. Comunismo y liberalismo se completan: el mercado y la responsabilidad social andan mano (invisible) a mano. Nuestra Revolución será dinámica y con este motto: inclusión, inclusión, inclusión (y después, cobrar).
4. Todo interesa al capital. Las revoluciones también. La revolución armada y la furia del pueblo destruye muchas cosas – alguien tiene que hacerlas otra vez. (Después del Bogotazo del 1948, más de la mitad de los predios de Bogotá fueran hechos otra vez.) La toma del Estado necesita nuevos contractos, nuevas alianzas. Y las cosas nuevas son cosas buenas (y son más caras).
5. Sin revoluciones el mercado no puede crecer. Por esto el capital es una fuerza revolucionaria: de revoluciones tecnológicas, económicas, culturales y sociales (y con más violencia, mejor). La revolución cría mercados.
6. La sociedad cambiada tendrá más dinero y así más deseos de comprar y utilizar servicios. El Estado es importante pero no es todo. El crea nuevas necesidades y el Mercado las sacia.
7. El capital necesita también que todos tengan deseos comunes y previsibles, así se puede producir en masa para todos. El capital hace con que todos quieran las mismas cosas – o cosas distintas que se puedan comprar. El comunismo liberal es la igualdad de todos como consumidores.
¡Venceremos!
Join the Liberal Communist Revolutionary Armed Forces (FARCL)
It is high time to take over the State. We, from the FARCL, came to do it immediately and effectively. As we need weapons, people and ammunition for the revolutionary assault, we have already gathered the support of Siemens, of Louis Vitton, of IBM, of Google and of Texaco. Those companies, that are ready to endorse our liberal communist ideals, will be partners in the Revolution in our country. We are ready to bring together the goals of building a fairer and more responsible society and the interests of capital – our Revolution is there to be sold. It will prove to be profitable.
Come and join the FARCL now, at the brink of our novel and updated Revolution. You just have to write to us (farcl.siemens@gmail.com), make a (significant) material contribution and be ready to commit to our 7 main ideas:
1. We want all the essential things to be freely accessible. Public service should be free of any charge for all. Only additional services – the most profitable ones –will be paid so that Our Partners could become richer (and invest more in the Revolution enterprise).
2. Our Revolution is all inclusive, everyone should participate. Everyone will need Google for that. Their computers they will need for their citizenship they will buy with Our Partners who very much need these new consumers. .
3. All of us can be better off with the Revolution. There is nothing wrong with putting together common welfare and personal profit. Communism and liberalism go together: the market and the social responsibility walk (invisible) hands in hands. Our Revolution will be dynamic and will have a motto: include, include, include (and then charge).
4. Everything matters for capital. Armed revolutions matter. The anger of people destroys and whatever is destroyed needs to be rebuilt. (After the Bogotazo of 1948, more than half of the buildings of Bogotá were rebuilt.) Taking over the State will require new contracts, new partnerships, new businesses. New things are better things (and expensive ones).
5. Without revolutions the market cannot grow. Capital is revolutionary force: it promotes technological, economic, cultural and social revolutions (and prefer the more violent ones). This is an effective mechanism to create markets.
6. Post-revolutionary society will be one where wealth is more and more distributed and therefore there will be more and more capacity to buy goods and services. The State is important but cannot act on its own. It creates the needs, the markets will satisfy them.
7. It is of the interest of both the capital and our revolutionary goals that people have common and predictable desires. Desires should be common; at least in that all of them could be quenched with money. Liberal communism is the equality of all as consumers.
PS: This was inspired by being in Colombia. Or rather inspired by fear.
giovedì 27 agosto 2009
como estrangeio
adoto posturas, me adapto às imposturas
por trás delas a tal violência lisa
tão lisa, escorregadia
sempre aleatória
(eu, longe de Bogotá, e ainda estrangeio)
Presagio (de Isabel García)
Una pavesa insomne
Anuncia lo que vendrá.
— Sigilosa se desplaza la señal —
¿Quién tremolina entre las sombras
Y malogra el reposa de los almendros?
¿Quién arreciará el puñal
Contra la aurora?
¿Quiénes nos cubriremos de espanto
En la mañana?
Memorioso llega el emisario
Em su rostro un clavel Blanco
Se marchita.
martedì 25 agosto 2009
o tal burro tirado do meio da sala (ou bogotá doesn´t burn)
que palavras?
(quiero bogotazos entre calles y carreteras)
dicinueve, sub montserrate, gaetano
escurece
si señor, si señor
mais uma cidade que coloca cadenas en quienes la pisa
soy estrangero, siempre
domenica 16 agosto 2009
Não conheço os rios, só as margens
When we are lost what image tells?
Nothing resembles nothing. Yet nothing
Is not blank. It is configured Hell:
Of noticed clocks on winter afternoons, malignant stars,
Demanding furniture. All unrelated
And with air between.
The terror. Is it of Space, of Time?
Or the joined trickery of both conceptions?
To the lost, transfixed among the self-inflicted ruins,
All that is non-air (if this indeed is not deception)
Is agony immobilized. While Time,
The endless idiot, runs screaming round the world.
Carson McCullers
II
As horas (os minutos e os segundos)
são pacotes de eternidade que vão embora.
Carregam todas séculos e muitos mundos
mas vão logo pra longe, jogam tudo fora.
Depósitos de talvezes crus, desperdiçados,
os tempos apodrecem em safras abundantes;
bons minutos em podres horas contaminados
ficam verdes, fenecidos, vacilantes.
Eu queria fincar na terra com um alfinete
um ou dois segundos passando ao léu.
E poder vê-los de novo em um museu.
Mas eles escapam, como água na rede:
O tempo não é um rio que passa
é a enxurada diante da qual nunca há vidraça.
III
O tempo também tem seus desertos,
áridos dias feitos de horas a mais:
inóspidos territórios a céus abertos,
miragem de pouca tâmara quase sem paz.
É feito de curvas e retas pela metade,
E está sempre a tarde, entre luzes fortes.
Todos os dias derrapa na eternidade,
enlaça nas suas horas mortes e mortes.
Estar solto em suas maresias entontece, devassa.
Horas parecem milênios, semanas parecem minutos
que navegam sem estrelas, e desfilam mudos.
O tempo não é um rio que passa
é uma cachoeira que desmancha pedras.
Nada volta. Nem planetas, nem pétalas.
VIII
O tempo é rio que carrega o rio,
pois coisas grandes são servas de quandos,
faz uma montanha, enche um lago vazio
apaga os contornos, fortes ou brandos.
Um poder sem rumo e sem carcaça
disfarçado de batidas sem conteúdo.
O tempo não é um rio que passa
é céu, chão, o nada ou quase tudo.
O dia, feito de hojes, parece cimento
mas é só fumaça: move e some.
Memórias são onças que morrem de fome.
Agora, feito de agora, com nada dentro
enlaça formas firmes, as matérias grossas
e solta todas, largadas pelas fossas.
XIV
O tempo não é um rio que passa.
É um rio que arrasta as bordas com ele.
Um filete de água suja, escassa,
quase feita só de barro, cobre ou gente.
Sozinha e lúgubre, a necessidade
ligeira flutua morta no leito dele.
Mas quando o rio enxágua em tempestade,
ela renasce imensa mas selvagem, omnisciente.
De longe é sempre um rio que corre e escoa.
Mas chega, afoga os dias e do que reste,
leva como carne, corpo e veste.
Sempre arrasta, cândido e mesmo a toa,
como se ribeirão de prado fora,
pele, choro e qualquer coisa duradoura.
lunedì 10 agosto 2009
Memória do frio
(mas qualquer Escandinávia é desprovida sem amor)
meus tormentos, meus tormentos, meus tormentos
que se repetem sem seqüência, sem escala, com manias
e eu assalto a mim mesmo procurando o tal cofre enferrujado
no escuro, sem vísceras
onde guardo meus recursos
e eu me sinto torto, torpe, disforme
sem agudeza, sem tons graves, agruras pelas juntas
eu feneço, faleço, não paro
eu adio, adiciono, procuro palavras sem história.
Não acho.
Coetzee fala dos monossílabos carregados de colonização,
seus monossílabos em inglês
era melhor deixar que os polissílabos prevalescessem
mais tempo para falar qualquer coisa
tempo para respirar
tempo para deixar o sopro entre as palavras
para umas questões de temperatura
ondas, ondas, mas nada enxágua
eu queria aguaceiro
Edla Eggert gosta de gargalhadas (e diz:)
E as vezes é tudo que se quer:
A gargalhada!
O rolar-se pelo chão com quem amamos
É tudo que se quer.
Mas o bom comportamento regula
E ensina que pouco podemos re-agir...
O que se quer na verdade é que sejamos curados dessa decência
Para que a vontade de gargalhar seja concretizada
Um pouco de tudo isso vemos sempre no outro:
gargalhadas, olhares de soslaio para o bom comportamento,
Mas enfim o bom comportamento.
Presente e soletrando distancias.
Ainda bem que não nos conformamos
giovedì 6 agosto 2009
o sofá, os encostos confortáveis
nem enferrujam, só titubeio
escuto na frente de um barco de comida
um poema de Rumi sobre a incredulidade da religião
que importância podem ter teus olhos
de que servem os portões do céu depois que eu já entrei?
leio para os asseclas de Thessa antes que eles fujam
eles saem com Shams Ud-din, eu me freio
- pensei em ter apenas um pneu para descer pelo rio.
venerdì 31 luglio 2009
Lorca's Little Viennese Waltz
In Vienna there are ten little girls,
a shoulder for death to cry on,
and a forest of dried pigeons.
There is a fragment of tomorrow
in the museum of winter frost.
There is a thousand-windowed dance hall.
Ay, ay, ay, ay!
Take this close-mouthed waltz.
Little waltz, little waltz, little waltz,
of itself of death, and of brandy
that dips its tail in the sea.
I love you, I love you, I love you,
with the armchair and the book of death,
down the melancholy hallway,
in the iris's darkened garret,
Ay, ay, ay, ay!
Take this broken-waisted waltz.
In Vienna there are four mirrors
in which your mouth and the ehcoes play.
There is a death for piano
that paints little boys blue.
There are beggars on the roof.
There are fresh garlands of tears.
Ay, ay, ay, ay!
Take this waltz that dies in my arms.
Because I love you, I love you, my love,
in the attic where the children play,
dreaming ancient lights of Hungary
through the noise, the balmy afternoon,
seeing sheep and irises of snow
through the dark silence of your forehead
Ay, ay, ay, ay!
Take this " I will always love you" waltz
In Vienna I will dance with you
in a costume with
a river's head.
See how the hyacinths line my banks!
I will leave my mouth between your legs,
my soul in a photographs and lilies,
and in the dark wake of your footsteps,
my love, my love, I will have to leave
violin and grave, the waltzing ribbons
Billy Collins on what to do with poems
I ask them to take a poem
and hold it up to the light
like a color slide
or press an ear against its hive.
I say drop a mouse into a poem
and watch him probe his way out,
or walk inside the poem's room
and feel the walls for a light switch.
I want them to waterski
across the surface of a poem
waving at the author's name on the shore.
But all they want to do
is tie the poem to a chair with rope
and torture a confession out of it.
They begin beating it with a hose
to find out what it really means.
venerdì 24 luglio 2009
giovedì 23 luglio 2009
Norman Bryson on Todd Hayne's Poison
My heart is in my hand,
and my hand is pierced,
and my hand is in the bag,
and the bag is shut,
and my heart is caught.
martedì 21 luglio 2009
Um estudo do vento
em Bagé, jogado aos pés do Brasil,
esqueço meus sonhos tremido por um minuano
que esbarra nas telhas, nas pontas das palmeiras,
nas sobras das janelas, nos ritornelos
e volta.
Levanta o pó da terra firme, da terra molhada,
do meu esterco, ríspido.
O som dos barulhos me lembra a porta da Bibiana,
o ar em movimento faz uma trama -
fico querendo estar depois das tramas,
quando elas ficam acabadas e estiradas a beira-ser.
Todas as portas e as tramas ficam jogadas
aos barulhos dos elementos e nem tudo é ar,
nem fogo e nem esses papéis amassados
dentro da gaveta do meu pulmão.
giovedì 16 luglio 2009
deDALus - ou a invenção do jogo (Rubens Pileggi)
dados rolando no escuro
do cosmo no vão dos dedos
cócegas sentem do presente brinquedo.
cálculo exato que o acaso
com tal talento
e destino marcado
determina:
um advinha o futuro
e o outro faz q faz
relembrando o passado.
nascidos do próprio invento
logo mostram seus disfarces
simulam sua certeza ao vento
calculam como comportarem-se
na luta do face a face.
matemática precisa do mistério
cada qual defendendo seu lado
deus está de partida
jogando dados viciados.
mas dédalo não demora
ousar seu último gesto.
acha uma brecha
caindo logo fora
e já sai batendo asa
em seu manifesto.
deixando no labirinto
o vôo dentro do ovo
o exato surgindo do acaso
a casca fora da casa
o devir chegando com atraso
e a deus que tudo se vira,
fere a palavra e de lá
de seu corpo retira
a própria abertura
do abismo onde caíra.
manda criar uma miragem
e engole o q sobrou do mito
onde se lia linguagem
leia-se em voz alta:
isso é parte do rito.
fazendo de conta
que nem é sabida
quem ganha ou perde a partida
da pedra que antes de ser jogada
já sabe o lado de sua caída.
deus e dédalus
em um só ser se transforma
conforme quer o saber
possuidor de regra e norma.
dos dedos dados voam
eternamente em movimento parado.
assim inventam o homem
e por ele é inventado
lunedì 13 luglio 2009
Arquétipos de genitálias artesanais
Misturado em um indefinido turvo, minha estátua reflete a luz
fluorescente.
Me lembro de uma manhã de arquétipo, que retorna para imbassar as novidades:
- Quero parar de ser uma gema de ovo quente.
Procuro meu anel muçulmano,
para que minhas lembranças se cozinhem.
É que me afogo em memórias, tenho o caldeirão,
as unhas, os fios de cabelo, as tormentas, o alho picado
e preciso ser feiticeiro.
sabato 11 luglio 2009
Mesa del silencio (Clara Janés)
al aire de los chopos y los arces
del parque interminable de hojas muertas.
Implacable y amoroso
callaba el caudal inmóvil de blancos cantos.
La piedra ingrávida,
parêntesis al tiempo
y altar
de la profunda soledad del alma humana.
El blanco lecho vacío de las venas
era blanco como aquel blanco cauce
donde el rio no corre
Nos sentamos
y allí nos quedamos para siempre
en la mesa del silencio.
Allí
donde el tiempo más tiempo más tiempo
nunca es igual a tiempo
lunedì 6 luglio 2009
2000 + 9
Kapará. Muitos cacos de vidro no chão.
Não temos o leme - as coisas precisam mesmo ficar largadas?
(apenas tratar o mundo como uma boa companhia)
respiro muitos enquantos de uma só vez
tento encher garrafas de serenidade com afeto
(as vezes garrafas de serenidade com um vagalume dentro)
tento alvorecer
sabato 27 giugno 2009
Cântico Negro (José Régio)
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Mapas confundidos de Parintins
linhas fora das paredes e um til em ré, um sucum
não é adequado que eu siga alguma outra shariat?
paro diante de uma porta verde em arco,
ninguém por perto - uma cidade para os gatos de rua
- Você já esteve em Boulder, Colorado?
dois homens de barba olham para todas que passam
e a moça de cabelos compridos come doces redondos
e oferece aos homens de barba umas mordidas
rápidas, fazendo zick'r
lunedì 22 giugno 2009
Três poemas de Anton Shammas
THIRTEEN WAYS OF LOOKING AT IT
1
Now it’s all too plain.
Now I know how
That blackbird got into the poem.
So many years have passed,
and I find it hard to believe
that so many years have passed
before I knew how
that blackbird got into the poem.
2
When it flew off our window-sill,
that’s when we knew
the blackbird was there,
on our window-sill.
The lost earring
tenderly drew
the fingertips
to the earlobe.
3
And we saw a desperate flock of birds,
rehearsing a penitence drill,
last fall.
4
Time and again – this infamous standing
in memory’s identification line.
Forgetting is nothing but sleep;
migrating birds on a nightly stop.
A bird is sleeping;
love is gone.
5
In the middle of the field,
near the High Commissioner’s Palace,
a nun squatted.
From where we stood,
it was none too clear,
whether she was really a nun.
Meditating, she wouldn’t budge.
To sleep, perhaps, she would yield.
But then again, beauty
is skin-deep.
The alleged Palace was to our right.
Did the Prince’s dog bark
on seeing Sleeping Beauty?
6
The ants that crept, then,
up your spine,
are chasing me now in my dreams –
gnawing at wood and stone,
gobbling up my home,
with that same chiming shiver.
7
“There’s a detour from here.”
But rain ignores
things like that.
Procedures are not the core;
what matters is the heart of the matter:
solitude,
the only detour.
Memory waits on the sly,
for the slightest mistake to happen
at any time:
memory’s return to the scene
of the crime.
8
The home of my childhood
gropes around inside me;
I grope around the empty house,
and keep telling myself:
You’re no longer a child.
9
“I’ll leave you the key in the mail-box.”
The door is locked, then.
10
Back in high school we learned
a story in which there was
a grey cat
on a grey fence
in a grey backyard.
The teacher argued that the picture
stood for the loneliness of the character
who was looking at the grey cat.
We laughed.
Then the teacher wickedly said:
“He laughs best who laughs last.”
11
We knew the flower seeds
were sprouting in the garden.
But the smell which caught us
came from the basement.
The time which passes
between seed and sprout
is the time which putrefies
a dead cat.
12
The time which bulges me
with days
is the time which urges the bird
to give back
its earth mould.
13
The blackbird doesn’t imagine things,
does he;
the blackbird knows.
And since he knows,
that’s why he wouldn’t tell.
How could I know, if you don’t mind –
one language ahead,
another behind.
And here I am,
imagining things in my no man’s land.
1978
CEDAR RAPIDS AIRPORT, IOWA
Between two parallel lines of blue lights,
morning is about to land;
I wish I could –
I wish someone could announce me mildly
hitting the ground, on time.
Through the windowpane, the airport
is being moulded in.
A ticketed passenger’s waiting, on the wane.
His parallel line is hardly a matter of light.
He’d even settle for a tip-off about the east –
home is where you know where,
in the dark skies,
the son is about to pop in.
1981
AT DON'S PARTY
I’m sitting on the upper stair, second floor.
The dog rubs his warm shoulder
against mine
(which is not warm at all).
Wagging his tail, looking toward the door –
“Please, let me in!”
I wish I could say that.
And for his own sake, I hope
the door leads somewhere,
and that there’s a room beyond it,
a solid floor.
1981
Translated from the Hebrew by the poet
domenica 14 giugno 2009
Jude
que fala que não tenho direitos a não ser que justifique
minha cabeça é mesa cheia de petições negadas, pedidos indeferidos
memórias que deixam meu braço acanhado, curto e triste
instâncias do tribunal de cada músculo, não deixam que ele estique
e o coração, batendo com esporas nas costas, faz só barulhos permitidos.
“convence-me que mereces o que queres ou desista”
fala o júri, martelando veredictos antes de eu me mexer
aprendi a prender o fôlego até que tenha credenciais
meus desejos tomaram a forma de itens de uma lista
trato meus dias futuros como verdugos que vêm me prender
não consigo respirar no oxigênio o que não acaba mais
aprendi que gratuito é só Auschwitz, Monowitz, Birkenau.
algum contentamento e os prazeres só podem ser
esparsos, diluídos, ocasionais e temporários
depois aparece a Inquisição ou depois Auschwitz, Monowitz, Birkenau.
eu precisava esquecer que é possível Auschwitz, Monowitz, Birkenau.
alguém venha e me conte que é possível
um campo de concentração que produza alegrias em medida industrial
delírios casuais, júbilos constantes, injeções de euforia
para milhões de pessoas a cada dia para fazê-las sorrir
(as portas sempre abertas, é claro)
Auschwitz, Monowitz, Birkenau de felicidades maiores
para multidões em frenesi sem entender porque foram escolhidas
para a bonança.
ajude-me, comece a juntar uns tijolos.
obs: Estou tentando escrever isto há mais de dois anos e meio. Mas não chego no ponto em que eu preciso chegar. Alguém comenta?
giovedì 11 giugno 2009
It is the goose! The wild goose...
minha válvula mistral na perna
raiva, suja como a ponta das minhas unhas
quero zelo, rápido: pensa, dispensa
- tenham paciência
se eu fosse amante, filósofo, quotidiano e morador de Brasília
fazia-lhes a todos as vontades
mas assim como sou, reviro os olhos com uma remela tonta no meio
sou de companhia?
como aquela dor estridente que não para
quero roer os ossos de quem me olha para o dono do meu corpo
roer, roer, roer, roer, roer
digo estas palavras bem alto
há alguém, pela legião dos anjos que me escutaria se eu gritasse?
peço a eles que não me escutem
sabato 6 giugno 2009
Longe da Finlandia e com frio
Uma amostra. Leio Kalevala que queria criar uma nação do frio
Vilu mulle virttä virkkoi,
sae toista tuulet toivat,
meren aaltoset ajoivat
Linnut liitteli sanoja,
puien latvat lausehia
dizendo que "Frio me proferiu seus versos,
chuva chamou seus poemas.
Outros versos trouxe o vento,
ondas do mar conduziram.
Aves veraram palavras,
frases o cimo das árvores."
"Enrolei-os numa bola,
arrumei-os num novelo.
Bola espetei no trenó,
novelo no trenozinho;
arrastei-o para casa,
do trenó para o celeiro;
e de lá à prateleira
dentro da arca de cobre."
Procuro os barulhos do invernos:
Ne minä kerälle käärin,
sovittelin sommelolle.
Keran pistin kelkkahani,
sommelon rekoseheni;
ve'in kelkalla kotihin,
rekosella riihen luoksi;
panin aitan parven päähän
vaskisehen vakkasehen.
Uma vez quis aprender
finlandês lendo o manual de instruções
da batedeira. Agora,
tremendo de frio.
NOTA: Kalevala de Lönnrot foi traduzido por Bizerril e Faleiros em 2009
giovedì 4 giugno 2009
To a historian (Walt Whitman)
Who have explored the outward, the surfaces of the races—the life that has
exhibited itself;
Who have treated of man as the creature of politics, aggregates, rulers and
priests;
I, habitan of the Alleghanies, treating of him as he is in himself, in his own
rights,
Pressing the pulse of the life that has seldom exhibited itself, (the great
pride of man in himself;)
Chanter of Personality, outlining what is yet to be,
I project the history of the future.
venerdì 29 maggio 2009
gosto das coisas manifestas
nem quero das coisas prontas
as caras de horizontes emparedados
de quem esbarra em assuntos encerrados.
que saia o que alguém pôs
para que fique depois
não quero ser prato que fica posto
quero ser batedeira.
quebrem, quebrem, quebrem os grãos de terra,
as luas, as estrelas com pontas terminadas – gritem
e façam manifestos e então esqueçam
transpiração é conspiração
e o chão, o chão voa e vira poeira
nem finca firme a terra, ela se entrega ao vento
quero ser o desfiladeiro.
queiram fazer orgasmo onde a pele enruga
tigela de água entre os mananciais
quero me tornar uma fábula sem começo
não quero ser tapete
quero a tremedeira.
(e nem arrumar a cama)
Míngua, língua, míngua, míngua
- Na mata, a cachoeira jorrava
e eu me assustava, eu tinha pudores
Mas eu distorci as palavras
- O que era pornografia, virou nuance
distorci e quase esqueci
lunedì 25 maggio 2009
Knowledge (by Louise Bogan)
How passion warms little
Of flesh in the mould,
And treasure is brittle,--
I'll lie here and learn
How, over their ground
Trees make a long shadow
And a light sound.
venerdì 22 maggio 2009
Minha autoconstituição com o preâmbulo nadista para o Rubens Pileggi
artigos em haicai-leis
Preâmbulo:
nada o nada em tudo
nada o quase nada também
nado uns cinco oceanos
Artigo 1:
sou uma partícula
de excesso solta. logo nem
tenho cabimento
Artigo 2:
eu próprio sou impróprio
sou só rios que me atravessam
e pedras de comer
Artigo 3:
não trato da vida
é ela que me trata – e até bem
mas ela é tratante?
Artigo 4:
amo fevereiros
sombra e luz do ano inteiro
num esplendor no chão
Artigo 5 (ou, minha vida em desessete capítulos):
nasci da W-3
revoguei as indisposições
flori de insensatez
Artigo 6:
gosto de ver rostos
corro para água corrente
pela poça, sou o céu
Artigo 7:
bem que adoro exceções
mal percebo os trens no trilho
só o espaço entre os vagões
Artigo 8:
eu quando transtorno
desenho em mim outra forma
depois a transbordo
Artigo 9:
demoro a descobrir
pra pegar e sair vivendo
que é de pó onde morro
Artigo 10
sonho em ser andróide
maquiar a tireóide ao espelho
por Freud do avesso
Artigo 11
na vida é iminente
que uma eminência imanente
me manda e me mente
Artigo 12
o que é que eu sou mesmo?
uma antena entre torresmos
ou uma lesma a esmo?
Artigo 13
singular, sem lugar
bóio entre casas, casamentos
não moro, esparramo
Artigo 14
prego ambivalência
amo a insolência indolente
mesmo a sonolenta
giovedì 21 maggio 2009
Não me empilhem na estante
é o ímpacto físico de um silêncio
não quero ser continente
sou abuso avulso, pequena ilha
nos fios na neblina, fora do mapa da mina
a mosca que pousou nas tuas letrinhas
o furo no teu saco de lixo líquido
- ela saltava carne trêmula para fora do vestido
e dentes, dentes, brancos
(sou a pele do dente, que insiste)
deixem para mim os grandes vãos.
martedì 19 maggio 2009
João Cabral de Melo Neto: O nada que é
ante a qual todo metro é vão.
Tem o escancarado do mar
que existe para desafiar
que números e seus afins
Possam prendê-lo nos seus sins.
Ante um canavial a medida
métrica é de todo esquecida,
Porque embora todo povoado
Povoa-o o pleno anonimato
que dá esse efeito singular:
de um nada prenhe como o mar.
giovedì 14 maggio 2009
Un poema de Paulina Vinderman
Un poema:
La ventana del hospital
da a un baldío espeso de pasto y de botellas rotas
(como cicatrices de batallas).
Un sauce milagroso crece en la esquina que
da al cuartel.
Hospital de otro siglo, el dolor que me ata
a la silla despintada también es de otro siglo.
Las enfermeras corren con los orinales
por corredores hundidos y no reparan en él.
No estoy acá para curar mi vieja herida ni mi insomnio.
Soy hija, se supone que las hijas tienen salud.
En plena noche los azulejos blancos destilan
una luz primitiva. Puedo seguir un camino entre las
camas sin titubear.
Esa es mi luna, también la que imagino
sobre las botellas como un spot.
Comprendo su soledad (sin hermanos)
en medio del cielo.
Comprendo las mareas, comprendo a la locura
como un exceso de blanco.
He sido amada (no comprendida),
he sido aquel perro solitario de mi primer poema,
que atravesó la calle para ser mi amigo.
"¿Podríamos jugar mañana, cerca del sauce?"
El amanecer está en un punto muerto,
suspendido por una memoria que semeja un barco
sin mascarón de proa.
(Igual que mi vida).
de Hospital de veteranos
martedì 12 maggio 2009
Debaixo do bloco
Ah, bom dia. Escute, Pastor, meu pai foi lá?
Seu pai... foi, ele foi e até contribuiu com a gente
E você, não quer saber mais de feijoada?
Agora só quer saber de ficar bonitão... Não, pastor, é para...
Elegância, se sentir melhor...
Não, é para abaixar a pressão, essas coisas
Eu sei, eu também to precisando.
Passa lá que a gente conversa, passo, nós conversamos
(No campo já seria a hora de parar de arar)
Qual é o seu número aí? 207
Eu passo aí, quero também te mostrar meus produtos
Produtos de que, pastor?
São pra massagem, desodorante, hidratante
Ah, passa sim, você está sempre em casa?
Hoje às 7 da noite eu vou estar aqui
Abraço, amigo.
(O pastor desaparece por trás do prédio,
por trás do campo de visão da minha janela.
Leva sua sacola, sem hóstia.)
Maimônides dizia: não sobrevivas do temor ao céu.
Eu dizia: preferia que todos
sobrevivessem sem (ter que ter) temor ao céu.
A mulher que não gosta de paredes
misturo o peito com o planetário, empilho o trompete
no buraco entre os livros descubro que gosto de te invadir, de me internar
f-f-f-f-f-f-f
mordo uns caquis maduros, com cascas,
como com um gel, prolifero você na pele, na desproporção humana
na vertigem tremo a perna, limpo o chão, mordo meus olhos,
não sei assobiar
sabato 9 maggio 2009
Clitoris Maximus by Angelspunk
queen of my vulva,
crowning jewel of my most intimate treasure,
you, butter bean, are uncontested,
absolute ruler of your universe,
head dominatrix of the dungeon.
Hooded and cloaked,
you wait impatiently,
peeking out occasionally,
tasting the air.
Thirstily you await the next adventurer
eager to explore
your secret underground cave.
This is your hidden base
and you the epicenter
of every roaring earthquake,
its rolling thunder it travels
to the furthest outposts of my body,
to breast and nipple, neck and toe.
You made your residence
far below the twin peaks
under the Venus hill,
in the center of my anatomy.
With your helm and labial coat,
you stand glistening in the early morning sun.
Two legs straddle your vaginal steed,
excited you await the next charge,
of your lover's pointy lance.
You, clit, little slit bit,
beauty spot, cherry pit,
you my passion bean,
show up in all shapes from harlot to queen.
At day my little ploughman tall
at night, the usher of my hall.
You are a pink button...
a tender love button,
a happy and expressive pleasure button.
You little nubbin are my door bell,
the joy buzzer announcing the next spell.
Mama's little spare tongue shame tongue
loves to be the budgie's tongue!
Clint Toris, the horny goat,
was born as baby in the female boat.
Clitty's daddy was no Dracula,
Clitty was fathered by the bald man in the female navicula.
From puerility the stamina of the boy in the boat was terrific,
but as the man in the boat he is virile and most prolific.
The cockyolly bird dance around the hot spot,
a butterfly dancing dancing on the dot,
grinning as little feet caress the sensitive spot.
And then suddenly out loud sounds the pleasure crow,
my female cock, stood erect to let all know,
you hit my sweet spot with that last soft blow -
my sensible part relishes this so!
She's a succulent cherry, maybe a bit risky,
a passion fruit, guaranteed to get you frisky.
This goal keeper is a pleasure seeker,
a peeping sentinel, and a late sleeper!
The clown's hat is a little tickler,
but you can be sure she's the trigger.
This here tastebud is not any bud,
this nub is a love bud rosebud.
My praline is a sugared almond,
glistening, she is a sugared diamond.
My prawn of pleasure
dares you to taste her clitoric treasure.
Clitoris,
strange, hooded mystic,
why are you here,
what made you put up your command post,
your headquarters,
right amidst this girl's legs?
Who are you, what is your purpose,
your reason for coming?
Do you really have this one function only,
this singular goal?
Is your only concern sending forth
your army of orgasms,
the rhythmic contractions,
wave upon wave upon wave,
crashing on the beach of my skin
shaking my very foundation?
What care is it of yours,
the sake of the survival of my species,
that you would urge and encourage,
hint, poke, and seduce?
Is it your scheme to force me to copulate,
more girls for your harem?
You give no answers,
but you keep pressing, urging, demanding.
You crave your pound of flesh,
be it four, seven or ten inches,
always better if it's fresh.
Clitoris, my dearest clit,
whoever and whatever you are, I adore you utterly.
Yesterday peaceful and quiet,
today bouncing of the walls,
you are one of the great spices of life.
venerdì 8 maggio 2009
há dia pra tudo
há dia sem motivo, há dia subjetivo, há dia adjetivo
há dia objeto, há dia abjeto, há dia indiscreto
há dia de horas tremidas, há dia longo e quieto
há dia velha lição, há dia lacraia, escorpião
adia tudo. adia o substantivo,
o encontro – adia o travessão
adia a precisão, adia a retenção, adia a decisão
adia um outro dia
adia o rancor, adia o torpor, adia a ordem do ditador
adia a tesouraria, a melancolia, a alergia e a bulimia
adia o motivo, adia a espera, adia a espora
adia a chegada, adia a joelhada, adia a onça-pintada
adia o abandono, tira o quimono, adia o dia seguinte
adia a vergonha do pedinte
adia o necessário, adia o judiciário, adia o calendário
adia a picuinha, o frio na espinha, o pescoço da galinha
adia o cuidado, adia a hora marcada,
adia o papel-laminado,
adia o trabalho, ponha bugalho no alho,
adia a documentação, o olho comprido,
o cabeçalho, a hipertensão,
adia o formulário, o glossário, o projeto literário
adia a unha encravada, a gravata
ajunte no adiamento o seu aniversário
e pare os carros na rua já que tem
um louva-deus distraído e pousado
já que a cadeira de rodas do transeunte solitário
está com o pneu furado
na calçada da avenida.
martedì 5 maggio 2009
A Sylvia Plath
I am silver and exact. I have no preconceptions.
What ever you see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful---
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.
giovedì 23 aprile 2009
Daniela Gontijo aparece no buca l'umbrello: a pia que entupia utopias
mas tem a pia.
fujo dela, cheia de louça,
fujo, louca, da poça cheia,
da panela suja, do prato sujo, do copo sujo (que do sujo estou cheia),
do terror de ali parar
e deparar
com o simbólico patriarcal,
a ordem mundial,
o capital,
e, afinal,
a ordem do dia.
da qual consta,
quem diria,
a pia -
é que mais me arrepia.
eu pio.
e tu pias utopias.
(e outro dia,
por falar em pia,
aprendi de lambuja - vejam vocês! -,
que o único animal que não limpa o que suja
é, piamente,
o tal burguês.)
em tu, pia, a utopia entupia.
em tu, pia, impiamente, a utopia.
contra a miopia
pia tu, pie você.
eu, pia; nós, pias; utopias.
pia é todo dia.
lunedì 20 aprile 2009
Roubar, doar, desertar: excessos e exceções (quando a traição vira arte)
Muita gente fala em cultura. Cultura. Cultura. Cultura. E muita gente fala até em arte. Arte. Arte. É arte. Pega que é arte. Paga que é arte. Promove que é arte. Patrocina que é arte. Cultura está nas ruas, arte em toda parte, tem um orçamento para a secretaria de cultura.
Essas palavras são difíceis de falar (e de entender) porque são bombas,
e são palavras que nos abandonam,
evaporam nas mãos...
estão sempre de malas prontas,
e são palavras que estão sempre sendo roubadas. E palavras que nos assaltam de noite e roubam o significado que colocamos dentro do armário delas.
São palavras bonde andando, são palavras que não param na parada de ônibus, são palavras de rua – elas não tem casa, dormem na rua, comem na rua, mijam na rua, pensam na rua, significam na rua; e deixam seus significados largados pela rua, nem se preocupam em colocá-los em um saco de plástico e depositar no lixo.
Palavras displicentes, cultura e arte, displicentes e indisciplinadas. Palavras intoleráveis. Pedras no caminho – ou ainda mais, elas piscam o olho e dizem assim:
Debaixo da pedra havia um caminho.
Arte. Cultura.
Eu só escrevo essas palavras para me ver livre,
pronto,
falei, agora vou escrever elas de novo para me ver livre deste alívio.
Arte. Cultura.
As palavras são movediças, algumas são larva de vulcão.
Não morra por uma palavra, ela é areia que voa e vai parar em outro castelo. Não morra pelo significado de uma palavra, ele é gota d’água que escorre e vai parar em outro rio. Mas tem palavra que é traição.
Tem palavra que é Ricardão no armário.
E onde é que estava mesmo o que significava arte, cultura?
Era repente de praça, virou disco plastificado, era disco plastificado, virou MP3 pirateado.
O que era para ser dado, fica sendo vendido... E o que era pra ser vendido, é roubado, depois esquecido, depois doado, depois desmontado em pequenas partes – chassis mocozado – e volta a virar mercadoria, mercadoria roubada, mercadoria desmontada, mercadoria transmutada, mercadoria encontrada na rua.
Isso é arte. Pasolini diria assim: cinema é toda a paisagem das pessoas se esbarrando, futricando, caminhando pela rua, coçando a cabeça, pegando roupa no armário, entrando no armário, saindo do armário, ..., olhando para o céu, procurando os espíritos, tentando achar os significados perdidos, coçando o pé. A câmara filmando – ou não.
Escândalos – podemos fazer uma escola de escândalos?
Tudo isso é coreografia. E coloque-se tudo isso no palco:
- Aí nós acabamos com a idéia de que as pessoas são Hamlets, são Alaídes, estão esperando Godot.
As coreografias começam destoando, descombinando, a arte começa com alguns gestos sem eira e nem beira.
E perde as estribeiras.
Mas onde está a eira, onde está a beira?
Ali, ali, ali! Onde não tem cabimento, aparece uma flor nascendo no asfalto. Estrelícias, copos de leite, lírios, tulipas, margaridas e essa flor sem nome ainda, torta, tonta, troncha, flor que nasceu dentro do estômago de um homem que pensava que andava cultivando um tumor. Uma flor nasceu no estômago... sem adubo. Uma flor nasceu na rua.
Arte sem eira, cultura sem beira. Nem estribeiras.
As duas na corda bamba. Nem cabe no armário, nem fica pronta pra guardar no armário.
Em que armário se guarda arte, cultura. No museu? Na biblioteca? Quando elas apodrecem, pomos elas lá. Lá ficam os escombros, os rastros, os vestígios.
Mas e as vertigens?
Desbalanceia, desequilibra, estou caindo, estou caindo.
Pra dentro do armário! Não dá mais pra você ficar aqui, entra no armário. Sai do armário. Entra no armário.
Sai do armário. Larga de esconder aquilo que você é, mostre-se ao mundo, a glória e ao escárnio do povo na feira – diga a todo mundo o que você é?
Hein?
Sai do armário. Me chamam de Aylacostoma, me chamam de Samaluk, me chamam de Avindebé. As palavras já são o armário. E me dizem: saia do armário, mostre ao mundo que você é Aylacostoma, Samaluk, Avindebé.
Já me chamaram de tanta coisa – nem cabia no armário. E eu saia do armário. É desse armário que eu tenho que sair, eu saio. Eu saio. Eu saio.
Tem uns armários que a gente tem que sair: tu é gente, humano, humanão, sacou? Tu não é rato e nem anjo e nem chiuhaua, tu não é petúnia e nem a flor que nasceu na rua.
Tem uns armários que a gente tem que sair, tem uns armários que a gente tem que entrar.
Mas arte, cultura estão saindo do armário
Toda hora.
Nós colocamos elas no armário, elas saem – é que elas nasceram para ficarem entulhadas, não cabem na gaveta, não entram no cabide, não dobram pra prateleira, não penduram no parafuso.
Cuidado pra não esquecer, o guarda-chuva, cuidado pra não cair, da bicicleta; cuidado pra não esquecer, o guarda-chuva, cuidado pra não cair, da bicicleta...
Mas e se eu não quiser sair desse armário: sai, sai, sai. Mas eu não estou lá dentro.
Nós colocamos o armário na tua frente e dizemos: agora, sai dele. Sai.
Mas eu não estou lá dentro – ou... talvez tenha uns pedaços meus lá dentro, um aurículo, um ventrículo, um ventríloco... uma clavícula... agora que eu ouvi essa música, cheirei este quadro, risquei esta bordado verde com triângulos da cor-de-grafite é que eu achei minha glândula pineal – ela está naquele armário ali, na terceira prateleira. Vou pegar.
Arte faz as pessoas saírem do armário pra dançar, com a xana no asfalto. Faz as pessoas entrarem para dentro do armário.
Só vale quando treme, quando não tem cabimento.
Se tudo tivesse cabimento – e tudo fizesse o que lhe é cabido – teríamos casos exemplares, não teríamos casos singulares.
Exemplos, exemplos, exemplos.
O exemplo de alguma coisa. Cabe no armário.
Mas tem a exceção – ela contorce, torce, retorce, distorce.
Exceção. Não cabe, tem uma parte a mais, um excesso, um excesso grande, um excessão.
Exceção.
É apenas enquanto dormes.
Enquanto dormes, eu tento meu destino.
Do teu sono
Depende meu verso minha vida minha cabeça.
Exceção à regra. Um ministério das exceções? Vamos criar uma secretaria do que ficou do lado de fora? Cultura é capim, arte é mato.
Mato, mato, mato. Na rua. E uma flor sem nome.
Ah, as exceções. Alguém pode achar que as exceções acabam sempre entrando nos trilhos – ou nos eixos; nada fica para sempre fora do eixo
Um cisne preto virou exceção, mas depois criamos uma categoria que é categoria dentro de outra categoria e, pronto, já havia um eixo só para cisnes como ele
(o que era um caso singular se tornou um caso exemplar.)
D. H. Lawrence apresenta uma imagem: vivemos em um guarda-chuva em que a abôbada é pintada de ordem
Tudo parece ter uma ordem, o seu lugar em uma estrutura articulada quase que pré-fabricada, tudo parece ter cabimento.
Eventualmente, o guarda-chuva é furado por um poema
Um poema nasceu no meio da conversa
e vemos o céu do outro lado da ordem.
Desordem: caos, caos, caos, caos. E nos desorientamos?
O furo logo é remendado e o remendo é pintado com um pedaço do céu.
Assim a ordem é restaurada.
Levamos o poema para o livro – ele não pode ficar solto.
Levamos a imagem pra galeria – ela não pode ficar solta.
Chamemos o gesto contorcido de dança, de manifestação cultural.
Vamos criar o fundo de financiamento do furo do guarda-chuva.
O movimento de sair do cabimento.
Sair do armário? Não parar de sair do armário. Tira tudo do armário.
Teu cuecão, tuas calcinhas, tuas ligas, tuas lombrigas, tuas fatigas, tuas bandeiras de uma figa.
E ninguém pode nos obrigar a ficar fora do armário. Tem sempre um Ricardão dentro de nós. A arte trai.
Tem gente que adota outro nome, tem gente que adota outra identidade, tem gente que adota outro cpf, tem gente que adota outro sexo, tem gente que quer ter o sexo de quem ama, o corpo de quem ama.
Gênesis P Orridge.
Mingau, mingau, mingau.
Ele se apaixonou por Cosi Fan Tute. Ela era esbelta, garbosa, faceira, bonita e gostosa.
E o Gênesis se apaixonou.
E casou e foi fazer espetáculo – um show e a bilheteria era para a operação: por olhos como o de Cosi, outro show e a bilheteria era para fazer a operação: por os peitos da Cosi, e outro e outro: todo o corpo da Cosi. Ele queria ver a Cosi no espelho. Adotou a Cosi. Traiu sua identidade, traiu sua biologia.
A traição.
Há certas lealdades compulsórias desnecessárias.
A traição, ela move montanhas.
Ninguém precisa ser leal a nada – nenhuma lealdade precisa ser mantida a qualquer preço. Todo mundo tem direito de escapar.
A arte escapa, sai do armário, e entra no armário porque trai – é Ricardão.
Vamos fazer o ministério dos Ricardões?
A traição faz tremer, e quando as coisas tremem elas vão pra outro lugar, o saleiro vai parar no prato de arroz, o tomate derruba o copo, o feijão pula para fora da mesa – a colher se arrasta para dentro do armário. É arte.
Minha avó é a Maria Merivéria.
Ela decidiu desertar da raça humana, da espécie humana. Foi para as montanhas, queimou a carteira de identidade. Queria ser outra coisa no alto da montanha, se preocupar mais com os coelhos e as capivaras que com seus primos, vizinhas e professores.
Ela fundou uma espécie para todos aqueles que querem se refugiar. Gatos que não querem ser mais gatos, baratas que não querem ser mais baratas, e gente que não quer mais ser humana.
Porque temos que ser mais leais a nós que as árvores?
Por que temos que seguir as ordens dos nossos genes, ou dos nossos governos, ou das nossas leis, ou das nossa espécie?
Lealdade à nossa espécie?
E arrastar os arco-iris para as salas de interrogatório?
Usar chave de fendas nas nuvens se for necessário?
Prender o vento porque ele não tem destino certo?
Multar os girassóis por não pagarem sua conta de luz?
Obrigar as tartarugas a usar placas rodoviárias?
Matar gafanhotos em nosso tempo livre?
E as joaninhas, e as baratas, e bois, bois, bois, bois, bois, bois, bois
Galinhas, galinhas, galinhas, da cara preta.
Minha avó criou a espécie dos avulsos. Venham todas, todas bem-vindas, ela dizia. Não temos que ser leais à raça humana: minha avó dizia:
Mexemos a mesa em que as coisas estão dispostas
Se temos coragem de não deixa-las prontas
Só sendo Ricardão com a espécie, com o gênero, com toda a cultura.
Porque um exercício de traição move montanhas, move secretarias, move ministérios, move museus, move galerias, move armários, move a rua, vira arte.
Sem donos, sem carimbos
Sem códigos de barra, sem barra, sem pedigree
Precisamos de traidores – de onde vai surgir a próxima traição?
A corrupção pode ser feia, feíssima; mas ela morde porque trai.
A traição balança
sacode,
tira as coisas dos lugares.
Temos que aprender a sermos Ricardões de nós mesmas, nem sequer sermos fiéis ao nosso conforto.
Nem sequer sermos fiéis a nossa conta bancária
Ou aos desejos dos nossos filhos contra o desejo dos filhos dos outros
Um anjo move a história, para uma direção, para a outra direção.
Esse anjo é o Ricardão.
Você quer entrar no armário?
A que horas deves escrever teu diário?
são manivelas, algumas amplas, outras elípticas
funcionando entre roldanas magras, quase calibradas
levei uma pancada na testa
líquida, desguardada, de boca seca
ou me enxarquei nas águas locais
cheias de perguntas
olho as manivelas, a pancada
já tonto, uns balões de ar cheios de tinta
durmo ao lado de um livro aberto
onde um menino meio Ioruba meio Atlântico
recusou-se a tomar no domingo a comunhão.
Elisa Lucinda: Lua Nova Demais
sozinha como que suspensa no céu
Vira mulher sem saber
sem brinco, sem pulseira, sem anel
sem espelho, sem conselho, laço de cabelo, bambolê
Sem mãe perto,
sem pai certo
sem cama certa,
sem coberta,
vira mulher com medo,
vira mulher sempre cedo.
Menina de enredo triste,
dedo em riste,
contra o que não sabe
quanto ao que ninguém lhe disse.
A malandragem, a molequice
se misturam aos peitinhos novos
furando a roupa de garoto que lhe dão
dentro da qual mestruará
sempre com a mesma calcinha,
sem absorvente, sem escova de dente,
sem pano quente, sem OB.
Tudo é nojo, medo,
misturação de "cadês."
E a cólica
a dor de cabeça,
é sempre a mesma merda,
a mesma dor,
de não ter colo,
parque,
pracinha,
penteadeira,
pátria.
Ela lua pequenininha
não tem batom, planeta, caneta,
diário, hemisfério.
Sem entender seu mistério,
ela luta até dormir
mas é menina ainda;
chupa o dedo.
E tem medo
de ser estuprada
pelos bêbados mendigos do Aterro
tem medo de ser machucada, medo
o de ser engravidada, emprenhada,
na noite do mesmo Aterro.
Tem medo do pai desse filho ser preso,
tem medo, medo
Ela que nunca pode ser ela direito,
ela que nem ensaiou o jeito com a boneca
vai ter que ser mãe depressa na calçada
ter filho sem pensar, ter filho por azar
ser mãe e vítima
Ter filho pra doer,
pra bater,
pra abandonar.
Se dorme, dorme nada,
é o corpo que se larga, que se rende
ao cansaço da fome, da miséria,
da mágoa deslavada
dorme de boca fechada,
olhos abertos,
vagina trancada.
Ser ela assim na rua
é estar sempre por ser atropelada
pelo pau sem dono
dos outros meninos-homens sofridos,
do louco varrido,
pela polícia mascarada.
Fosse ela cuidada,
tivesse abrigo onde dormir,
caminho onde ir,
roupa lavada, escola, manicure, máquina de costura, bordado
dança pintura, teatro, abraço, casaco de lã
podia borralheira
acordar um dia
cidadã.
Sonha quem cante para ela:
"Se essa Lua se essa Lua fosse minha..."
Sonha em ser amada
ter Natal, filhos felizes,
marido, vestido,
pagode sábado no quintal.
Sonha e acorda mal
porque menina na rua,
é muito nova
é lua pequena demais
é ser só cratera, só buracos,
sem pele, desprotegida, destratada
pela vida crua
É estar sozinha, cheia de perguntas
sem resposta
sempre exposta, pobre lua
É ser menina-mulher com frio
mas sempre nua.
PS: Postado pra Natália, que olha para as pessoas da rua
giovedì 16 aprile 2009
Maldito, Gozoso e Devoto (de Hilda Hilst)
Ser o dono de ossos, ser o dono de carnes
Ser o Senhor de um breve Nada: o homem:
Equação sinistra
Tentando parecer contigo, Executor.
O Senhor do meu canto, dizem? Sim.
Mas apenas enquanto dormes.
Enquanto dormes, eu tento meu destino.
Do teu sono
Depende meu verso minha vida minha cabeça
Dorme, inventado imprudente menino.
Dorme. Para que o poema aconteça.
giovedì 9 aprile 2009
de onde vem a matéria dela?
aurículo contra ventrículo e uma luz azul, brusca
meus ossos dobram, querem fora da hora
já que eu amo
ela que é poço, vertigem, pés descalços
e é uma tarde comendo um creme de maçãs raladas,
alento, e turbina, barulho de geladeira
já que ela me rasga e me cola
redemoinho, e redemoinho macio.
martedì 7 aprile 2009
corpus crisis chegando?
Uma definição de poesia: jardins imaginários com plantas reais dentro.
Uma definição de poesia: jardins imaginários com sapos reais dentro.
Uma definição de poesia: jardins imaginários com oxigênios reais dentro.
Uma definição de poesia: jardins imaginários com pessoas reais dentro.
Uma definição de desejo: carne virada em palavra.
Eu desejo você. No meu desenho, o chão que eu desenhei sustenta a casa que eu desenhei. Você quer sustentar minha casa? Quem sustenta meu desejo? Quem sustenta teu desejo? Quem sustenta quem sustenta teu desejo? Quem deseja teu sustento? Quem sustenta teu sustento? Quem deseja teu desejo?
Um sussurro será ouvido onde havia uma casa que foi destruída.
Tenho um corpo. Tenho um cheiro. Tenho minha carne. Ninguém pode forçar o coração. Teu corpo é tua carne. Tua carne é tua alma. Tua carne é tua casa. Ninguém pode forçar o coração.
Escuta o sussurro. Há um cheiro de enxofre no ar. Segura a tua carne com a tua carne. Segura a minha carne com a tua carne. Há um cheiro de enxofre no ar. Estão murmurando que teu desatino pode fazer uma visita. Ninguém pode forçar o coração. Minha casa é o teu corpo. Escute os sussurros. Não é o que você vê, é o que você quer ver e não consegue. Não é o que você teme, é o que você arrisca.
Teu desatino vem fazer uma visita. Você quer fazer um contrato com ele. Teu desatino é teu, mas não te faz companhia. Você quer que ele fique. Fica um sussurro no ar. Quanto vale teu corpo?
Minha mão direita, com toda a palma, tocou na gordura que parece músculo em volta do umbigo, na barriga da Lívia que era Fernanda e que na verdade dizia que se chamava Nicole. A mão de mais um homem na barriga de mais uma mulher. Uma mão, minha mão. Eu disse a Lívia que aquela era uma parte gostosa do corpo dela. Fernanda disse que era gordura, não era músculo. Mas Nicole agradeceu: eu gosto de ouvir que eu sou bonita. Minha mão direita, com toda a palma, tocou na gordura que parece músculo em volta do umbigo, na barriga da Lívia que era Fernanda e que na verdade dizia que se chamava Nicole. Minha mão direita; enquanto eu conversava sobre se as mulheres gostam de sexo. Minha mão direita, os dedos em torno do umbigo dela. Minha mão direita, com toda a palma, tocou na gordura que parece músculo em volta do umbigo, na barriga da Lívia que era Fernanda e que na verdade dizia que se chamava Nicole. Tocou, por cem reais.
Não desejo o corpo da Lívia, não desejo o corpo da Fernanda, não desejo o corpo da Nicole. E desejo corpos, e corpos que temem e arriscam. Sinto o cheiro de enxofre no ar. Não desejo o corpo da Lívia, não desejo o corpo da Fernanda, não desejo o corpo da Nicole. Apenas toquei na barriga pelada dela. Toquei, por cem reais.
Quanto vale teu corpo? Um diamante? Um coração? Quanto vale teu diamante? Um coração? Um corpo? Quanto vale teu coração? Estou com frio.
Corpos são palanques. Palanques com cheiro. Quem sustenta teu sustento? Eu desejo você. Há plantas reais dentro do jardim imaginado. Há um cheiro de enxofre. Aqui havia uma casa, e ela foi destruída. Tenho um corpo. Você quer sustentar minha casa?
Meu corpo é minha política. Meu corpo é tua política?
Teu corpo é tua alma. Teu corpo é minha alma? Ninguém pode forçar um coração.
Teu corpo é a tua cara.
Fica um sussurro no ar.
domenica 5 aprile 2009
Nabo, inhame, alho, castanhas
duas orelhas com tufos negros de cabelo saindo para fora
livros pelo chão
são 12 lapis de cor redondo
um pátio encerado, uma borracha branca, domesticada
fabiane sentada na poltrona branca com as bordas sujas de Bergman
ela folheia as fotografias para um livro
British Life a Century Ago
a boca com gosto de amêndoa
havia duas máquinas no meu caminho
uma sereia de papel
passo a unha pela pele sem encontrar os órgãos
por qualquer meio de divulgação.
sabato 4 aprile 2009
Ana Cristina Cesar
azul que não me espanta, e canta como uma
sereia de papel
giovedì 26 marzo 2009
corre, ímpeto, corre
fast-forwarding as horas para procurar um embrião de exceção -
a vida pavimentada para quem espera e espera
um novo ano mês dia só se pendurando no relógio.
Cutuco os acontecimentos com vara curta
e eles assentam no fundo do copo.
sabato 21 marzo 2009
Peso (Ungaretti)
su affida alla medaglia
di Sant'Antonio
e va leggero
Ma ben sola e ben nuda
senza miraggio
porto la mia anima
(Jun, 29, 1916)
Il Porto Sepolto (Ungaretti)
e poi torna alla luce con i suoi canti
e li disperde
Di questa poesia
mi resta
quel nulla
d'inesauribile segreto
"Água", "terra", "fogo" e "ar"
não morra por uma palavra
ela é areia que voa e vai parar em outro castelo
não morra pelo significado de uma palavra
ele é gota d’água que escorre e evapora pelo rio
não morra pelo que você falou com uma palavra
isto é labareda que corre e queima às vezes teu próprio bosque
não morra pelo tom que se solta de uma palavra
o som é vento que sai da garganta e sobe pelas núvens
nada segura nada
palavras são mãos abertas
assolam, ardem, carregam, apagam
o que deixam dizer
palavras são bocas abertas
não seguram nada:
cada uma
implacável tique,
taque que passou
sabato 14 marzo 2009
em um claustro fora do lugar
um círculo, a sociedade civil, o estado, a academia
uma porta giratória
depois da reunião dos três setores, vamos comer uma pizza
cada um pega uma pedaço novo dela, e de novo
minha cabeça em um autorama, onde está o controle remoto: pare.
Minha vizinha Marisa me chama para ver a lua
olho a cachorra, preta, cansada, fico tonto
vejo as marcas de fumaça invisível no ar
queria escrever dez páginas de cada vez
deve ser que algumas palavras da Spivak são irrespiráveis
- Você não acha, me diz o Tomás no dia seguinte, que estes teus
óculos brancos redondos estão deixando tudo amarelo?
lunedì 9 marzo 2009
trechos de Nos deram um manto - Dieter Roos
pai e filho
tu és mais rico
do que eu
meu filho :
eu tenho NADA
para te ensinar
e tu tens TUDO
Para Juliana
“o que você quer ser
quando crescer ?”
graças a deus
se nasce
só uma vez
graças a deus
se vive
só uma vez
graças a deus
se morre
só uma vez
ignorância
somos ferramentas
na mão de alguém
que não conhecemos
somos os materiais
na construção de uma obra
que ignoramos
somos o formão
que desconhece
o mestre
perguntar ?
tu queres perguntar-me algo
meu filho ?
mas por favor
não pese demais
as minhas respostas
pois as mesmas perguntas
wosiwasiwusi
onde começa a vida ?
e onde termina ?
quando nascemos ?
quando vivemos ?
quando morremos ?
de onde viemos ?
o que somos ?
terceira idade ou :
na calçada á beira do rio
ums
fazem caminhadas
- outros