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domenica 16 agosto 2009

Não conheço os rios, só as margens


When we are lost what image tells?
Nothing resembles nothing. Yet nothing
Is not blank. It is configured Hell:
Of noticed clocks on winter afternoons, malignant stars,
Demanding furniture. All unrelated
And with air between.

The terror. Is it of Space, of Time?
Or the joined trickery of both conceptions?
To the lost, transfixed among the self-inflicted ruins,
All that is non-air (if this indeed is not deception)
Is agony immobilized. While Time,
The endless idiot, runs screaming round the world.
Carson McCullers


II
As horas (os minutos e os segundos)
são pacotes de eternidade que vão embora.
Carregam todas séculos e muitos mundos
mas vão logo pra longe, jogam tudo fora.

Depósitos de talvezes crus, desperdiçados,
os tempos apodrecem em safras abundantes;
bons minutos em podres horas contaminados
ficam verdes, fenecidos, vacilantes.

Eu queria fincar na terra com um alfinete
um ou dois segundos passando ao léu.
E poder vê-los de novo em um museu.

Mas eles escapam, como água na rede:
O tempo não é um rio que passa
é a enxurada diante da qual nunca há vidraça.

III
O tempo também tem seus desertos,
áridos dias feitos de horas a mais:
inóspidos territórios a céus abertos,
miragem de pouca tâmara quase sem paz.

É feito de curvas e retas pela metade,
E está sempre a tarde, entre luzes fortes.
Todos os dias derrapa na eternidade,
enlaça nas suas horas mortes e mortes.

Estar solto em suas maresias entontece, devassa.
Horas parecem milênios, semanas parecem minutos
que navegam sem estrelas, e desfilam mudos.

O tempo não é um rio que passa
é uma cachoeira que desmancha pedras.
Nada volta. Nem planetas, nem pétalas.

VIII
O tempo é rio que carrega o rio,
pois coisas grandes são servas de quandos,
faz uma montanha, enche um lago vazio
apaga os contornos, fortes ou brandos.

Um poder sem rumo e sem carcaça
disfarçado de batidas sem conteúdo.
O tempo não é um rio que passa
é céu, chão, o nada ou quase tudo.

O dia, feito de hojes, parece cimento
mas é só fumaça: move e some.
Memórias são onças que morrem de fome.

Agora, feito de agora, com nada dentro
enlaça formas firmes, as matérias grossas
e solta todas, largadas pelas fossas.

XIV
O tempo não é um rio que passa.
É um rio que arrasta as bordas com ele.
Um filete de água suja, escassa,
quase feita só de barro, cobre ou gente.

Sozinha e lúgubre, a necessidade
ligeira flutua morta no leito dele.
Mas quando o rio enxágua em tempestade,
ela renasce imensa mas selvagem, omnisciente.

De longe é sempre um rio que corre e escoa.
Mas chega, afoga os dias e do que reste,
leva como carne, corpo e veste.

Sempre arrasta, cândido e mesmo a toa,
como se ribeirão de prado fora,
pele, choro e qualquer coisa duradoura.

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