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lunedì 18 novembre 2013

Um adeus à disponibilidade aceleracionista

Corro para terminar de ler e ir para frente da televisão. Me dissipar no oceano de singularidades de estar ouvindo sons, vendo imagens. Ou corro para conversar, para olhar as pétalas rosas da unha-de-vaca da rua, tomar elas na mão, esquecer que a mão é mais minha do que a matéria rosa da pétalas. Ou corro para terminar de fazer uma prova - e assinar - e poder pedalar pelas mangueiras e chupar mangas verdes com gosto de limão. Sempre fugi de ser indivíduo. Sempre me forçaram a isso: tínhamos que ser algo na vida, e ser algo significava ser alguém. Eu tinha que ser um alguém e não antes um amontoado. Um animal individual capaz de fazer promessas, as minhas promessas. Responder pelo meu nome, quando a polícia me chama, quando eu digo que amo, quando eu dou minhas opiniões, quando eu mostro a cara. Fazer de todas as compatibilidades que atravessam as pessoas, instrumentos da vida de pessoas. Separar em cada torrão de casa de pensão humana um indivíduo, e outro, e outro. Ser escolhido, poder escolher - se submeter à escolha, não mais, diz o Reb Ildé de Jabès. Todo um aparato para deixar indivíduos parecerem prontos, como se eles não dependessem de toda uma biopolítica aterrorizante para não se confundirem de novo nas massas, nos entulhos, nas paisagens, nos prazeres sem nome. É que operações, singularidades, acontecimentos e tramas é que aram o chão como uma toupeira. As coisas de que são feitas as vidas das pessoas - que, segregadas, competem para estarem na governança do que as produz, mas nunca estão. Depois, o cuidado de si: ser responsável pela sobrevivência, pelo seu próprio corpo, pelos seus órgãos. Tudo isso fastia e estiola. Se apropriar em um Currículo de tudo o que me aconteceu, de tudo o que alguma parte de mim operou, de tudo em que posso por o nome. Eu fico sendo governante da meu quinhão de mundo. Assim, claro, nada fica desgovernado.

Aceleracionismo. Eu formulo assim: o capital foi um agente revolucionário, há que se aprender com ele a acelerar para destituir, subverter, desconstruir, desintegrar, descristalizar. Há que se aprender com ele, não que se aderir a ele. Aceleracionismo não é crescimento capitalista, nem neoliberalismo, nem comunismo liberal. Marx, no Manifesto, demora-se em dizer como a burguesia mudou a Europa com as armas do capital. Ele destruiu tradições, segue destruindo comunidades, começou a destruir a família, talvez tenha dificuldades em exorcizar o Édipo. Terá dificuldades porque o Édipo, em seu familialismo, é centrípeto. Ele é concentrador. Como o capital quer que seus agentes sejam. O capital, como diz Nick Land, é um agente infeccioso vindo de fora da vida humana conhecida (Costa-Gravas mostra isso em Le Capital.) Sim, mas esta predação depende impreterivelmente dos dispositivos que fabricam indivíduos na forma de pessoas humanas, que os tomam como os agentes últimos de toda ação (de toda política, de toda autoria, de todo gesto, de toda acumulação, de toda riqueza, de toda economia). Ou seja, este é o limite revolucionário do capital: ele precisa de indivíduos, ele precisa de um bolso e de outro, para que o capital flua entre eles. Ele precisa destes pontos, é um fluxo de bolso a bolso. Ou seja, o baluarte de todas as formas de capitalismo é o indivíduo. Terminem com ele - ele é o carrasco. O melhor do que acontece no mundo é alagmático - pré-individual, feito de operações e charmes e conexões soltas feitas por elas mesmas, e não por nós indivíduos (como dizia sobre o erótico Audre Lorde) - ou é de massas - pós-individual, feito de dádivas comunitárias e ações públicas anônimas. O capital zela para que cada coisa destas esteja no quinhão de alguém. Não suporta anonimidade, black blocks, Luther Blisset, pirataria, obra sem autor. A luta biopolítica contra o capital é a luta contra os dispositivos tão cotidianos que patrocinam os indivíduos. Eles se embrenham nas artimanhas do desejo, das vocações, do cuidado, do dom. Contra eles, as singularidades dispersas, comunais, alheias ao que é de quem. As singularidades que são agentes transitórios, passageiros, nômades. Massas, multidões, contaminações. Direito dos miasmas. Acelerar significa desmoronar o indivíduo, desmoronar o concêntrico, desmoronar o bolso. Uma aliança aceleracionista é uma confederação de práticas de economia alternativa, de situacionismo, de anonimidade, de buen vivires, de esquizos contra o indivíduo, feito indivisível pelo fluxo do capital. Este é o território da máquina capitalista: a revolução é o que cria um fluxo mais rápido, aquele entre outros fragmentos, entre um corpos sem donos, entre compatibilidades, disponibilidades, disposições. O aceleracionismo é a vocação da esquizerda: criar campos de ímpeto que passem ao largo das pessoas sacramentadas. Em seu último texto, Deleuze fala de "uma vida...". Nem da vida de alguém (digno de ser preservado, de Riderhood), nem da vida em geral. Nem mesmo precisa o aceleracionismo estar comprometido com a vida, está comprometido com "uma". Uma comunidade de singularidades - uma comunidade qualquer. O comunismo dos episódios soltos... Não prender o capital, correr mais do que ele, de singularidade em singularidade - indiferente aos bolsos, que sempre pareceram grilhões.

2 commenti:

Poder e Desejo ha detto...

Os bolsos são os grilhões do: DESEJO TER, e com o que tenho: DESEJO SER ao realizar algo do que POSSO.

Poder e Desejo ha detto...

O Capital é o Desejo sem grilhões. Não vejo o aceleracionismo como uma escapatória, mas antes como um mergulho.