Quero eu também tomar partido pelas coisas. Tomar partido pelo alpendre, pelo engradado, pelo cabo de guarda-chuva quebrado e pelo micro-ondas com um auto-falante dentro. É uma solidariedade gentil com os escravos que tem a cada dia seus cinco minutos de senhorio, mas é também porque também eu vou ser coisa. É uma responsabilidade por toda coisa que carrega os talismãs do ser (com as bolhas de nada), mas é também porque também eu vou ser coisa. É minha hospitalidade e é recíproca – dou a elas abrigo já que elas me abrigaram, mas é também porque também eu vou ser coisa. Ataúde, e matéria des-orgânica, fazendo alianças com minhas beiras e minha solturas. Me preparo para dissipar meus ossos em uma coisa qualquer. Rugas são linhas que apagam – apagam eu e apagam nós. Meus pertencimentos em torno de uma fronteira: meu país e o país dos vermes. As linhas de fronteiras são as apagadas pelas rugas. O estrangeiro me rói. São as coisas que não falam a minha língua, incompreensíveis, irreconhecíveis e pagãs que fazem minha carne e as imagens dos meus sonhos. Tomo o partido das operações escondidas que produzem o sangue do meu âmago. Elas, as operações, coisas por trás das coisas, me sustentam mesmo quando viajo sentado e elas vão de pé.
Também as coisas se acostumam a mim. Deixo meus sucos cheios dos meus hóspedes pelo chão, e o chão, que transforma qualquer coisa em outra coisa, é que vai me hospedar para que eu vire outra coisa. O chão choca as coisas. Vou fertilizando ele com minhas seivas feitas de outras coisas. As coisas terminam as viragens que eu comecei. Assim, eu me misturo nelas. Coisifico. São elas que me envelhecem, que me exilam, me arrancam as raízes. Elas se acostumam a mim e eu me acostumo a elas. A cada lufada de ar, a cada mordida. As coisas são portanto os velhos mais velhos que os velhos. E eles me chamam.
1 commento:
eeeee seu coiso
ficou assim adipois do casório?
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