Visualizzazioni totali

sabato 30 marzo 2013

Dois Thiago Mattos do Teu Pai com uma Pistola

0,02

contos são sonatas
romances são sinfonias
poemas são silêncio

3,45

forçar a pedra

através de uma cortina: rasgar a pedra

acender um cigarro

depois das dez horas da noite: vomitar pedra

estrelas são pedras
rios são pedras
pessoas são pedras
corações são pedras
céus são pedras

amém

venerdì 29 marzo 2013

Protocolos


0. "Ninguém sabe que protocolo seguir porque não há precedentes", diz a curia do vaticano sobre o encontro entre os papas.

1. A salvação, como escrever um texto, não tem protocolo. Todo o resto parece que tem. O protocolo protege quem faz. É como uma liturgia em um monastério do tipo da que fala Agamben. É a roupa do monge que protege sua nudez. Não foi quem é o monge que fez, foi o monge. As descrições são litúrgicas - eu sou investido de funcionário, professor, proprietário, amante, amor da tua vida. E tudo o que eu faço bem ou mal é banal: a liturgia requer, a liturgia exige, a liturgia me salva. Sem a roupa do monge, estou exposto.

2. Há um protocolo para ensinar, para comer, para amar, para desamar. Saber viver é saber a liturgia. Os cabelos do mar são estes protocolos nos quais nos agarramos, ou um protocolo ou outro - ou sou uma coisa, ou sou outra. Os protocolos são muitos, os embaraços são mais.

3. Como eu me confundo com os embaraços, eu amo os protocolos. Sobretudo aqueles que compõem a liturgia da descontração.

4. Sou um devoto velado do Senhor dos Protocolos, mas não gosto deles. Eles me salvam das vertigens desconcertantes de estar apaixonado, de estar entusiasmado, de estar possuído, de estar encorporado, de estar inspirado, de estar atormentado. Mas não gosto deles.

5. Eles se propagam como ratos, como micróbios no clima que gostam, como pragas na primavera. O ambiente é propício aos protocolos. A falta que a vida regrada faz à vida - parece que minha missão é pintar de instituição os minutos que passem a esmo. O improviso desconcerta: é quase sempre irrepetido, quando é cópia não é autenticada, quando é autêntico não tem direção. É o descontrole que produz o mal que não é banal? Os protocolos me eximem. Salvar se parece já com ser eximido - não estar na lista dos que podem ser imolados. Eu perco minha agência, salvo minha pele. Exceto não se parece mais minha pele a que está salva. O protocolo é o substituto da salvação.

6. "Esta é a nossa casa. Aqui cada um pode ser o que quiser." diz Eliana Carneiro em seu espetáculo Blima. A personagem é talvez reminiscente de Blima de Shirley Russak Wachtel - uma sobrevivente polonesa dos campos. Ela aponta para o próprio corpo e para o mundo: a casa, onde cada um pode ser o que quiser. Mas os campos não estão assim tão longe de casa. Em Sorstalanság de Kertezs, Gyuri Köves estranha a imagem de uma vida protocolada que aqueles que ficaram em Budapest tinham. Nós também gargalhávamos, nós também nos entediávamos. Não há protocolo para a gargalhada se ela é um riso ingovernado - não há protocolo para o tédio. Estes estados são avassaladores. Eu me perco da minha casa. Ela não está entre quatro paredes.

7. Uma vez, em um acampamento judeu, me treinaram para dar o cara à tapa. Não sei se era um treinamento para a culpa, para a guerra ou para a misericórdia. Não entendi a lição. Se eu exorcizo os protocolos, ponho minha cara a tapa. Apareço mais do que deveria. O protocolo parece as vezes carregar um senso de respeito: uso esta liturgia pelos outros. É que o protocolo evita que a questão do respeito apareça. Eu me protejo - protejo também o meu senso de respeito.

mercoledì 27 marzo 2013

Só uma coisa pode nos salvar

Sobre o fim do mundo do ano passado: o mundo acabou mesmo. O que sobrou não é outro mundo já que as coisas não tem mundo. Quando havia mundo havia expectativas de que as pessoas vivas fossem pelo menos cadáveres adiados que procriam. Adiados. As pessoas eram outra coisa. Entre elas, e com coisas de coadjuvantes, elas fariam as tramas que preencheriam seu tempo na terra. Do parto à cova. Habitariam uma terra bípede e implume, com seu cheiro, com seu estrume. Aquele terreno puramente humano de que falava Rilke: terra conquistada das coisas e não tomada pelos anjos. O terreno erodiu. Não há mais pátria humana independente e com um guarda de fronteira sorridente escutando o quarto movimento da última de Beethoven em um radinho de pilha (no volume máximo para que todos os que transitem escutem e regozijem). O guarda foi terceirizado, seu partido foi posto no poder sem ter poder, seu patrão dá ordens sempre mais esdrúxulas por meios sempre mais digitais, seu trabalho perdeu qualquer conexão com o que acontece à sua volta e ficou irreconhecível e irrelevante à compreensão (mas ele não precisa mais sorrir) e seu radinho foi substituído por um headphone com suas músicas favoritas (mas ele não pode mais assobiar). Ele gostaria de se sindicalizar, claro, e procura as assembléias dos GPSs, dos pardais de fiscalização eletrônica, dos alarmes sensíveis à presença humana e dos holofotes programados para poupar energia. Onde estão as minhas coisas, ele pergunta, e com a mão no bolso encontra seus remédios, seu telefone, seu controle remoto. Ele pensa, meus irmãos, eles estão comigo. Sejam abraçados. Ainda transitam pessoas, mas elas só mostram seu passaporte de humanos a revelia, instados por seguranças armados e com algum bom carimbo na mão. Nunca houve, é certo, a tal pátria humana. Foram poucos com a senha da filha de Elysium - e só iam à patria humana em seus dias de folga, quando não tinham que estar com rédeas curtas na mão. Agora o mundo acabou. Sobraram fumaças carbonizadas de todos os lados, um odor de enxofre e os poucos, ainda com as rédeas curtas na mão. Há que se amar o enxofre.

Sobre o fim do mundo do ano passado: acabou o Lebenswelt demasiado humano. Sobraram os refugiados vagando pelos ambientes das coisas, nos interstícios entre coisas e mais coisas, entre pedras que não amam e insetos que não seguem regras. Aquele terreno, livre de deuses, de porcos, de espíritos, de espasmos e de possessões em que a natureza era prato de comida, foi engolido pelo barro anônimo. Comam a natureza - é o que sobrou das promessas grandiloquentes de cumplicidade. Cada refugiado procura algum país, aprende a mover os lábios com a cacofonia da Babel das coisas. Tenho suores noturnos, mas já não sei pelo que ofegar. Pelo cisco? Pelo trator? Pelo elevador? Por um pote de tinta? Criado em um mundo de amor, devoção e ciúmes, imigrei para um mundo de mordidas, órbitas e emboscadas. A tinta brilha mais do que o poema impresso. Os ossos são mais visíveis que o bailarino - ainda bem que aprendi a querer coisas, a segurá-las com todos os meus dedos. Mas as coisas não confabulam comigo, elas falam direto às minhas falanges, às minhas unhas, aos meus calos. O campo de refugiados da pátria humana é uma réplica de uma república que funciona - de longe parece um parque, de perto parece uma mina de carvão. Mas é uma réplica: todos sabem que os papéis são falsos e a fraternidade entre os cidadãos é uma encenação sem arroubos líricos. Cada um espera ser adotado por um outro mundo, por um outro pó, por um outro tipo de barro emprestado. De nada adianta, na réplica de república, morrer de amores, de vergonha ou de compaixão. Adianta morrer. Tanto melhor é enfiar o dente em uma jaca, em uma carne de pescoço de javali. Só uma coisa pode nos salvar.

giovedì 21 marzo 2013

Trechos do Manifesto Coisista de Nuno Oliveira

COISISMO




1
O Coisismo é o mais importante movimento criado, depois de uma data qualquer que é importante para o agora, é o mais importante movimento há época corrente, como já dissemos. É a assunção autoritária do pensamento não autoritário. É preciso não esquecer isto é a assunção autoritária do pensamento não autoritário.


22
O Coisismo é um movimento com um único objectivo o revalorizar, obrigar, revitalizar, é assim a favor da obrigatoriedade do uso das muletas da linguagem em todas as palestras, formais e informais, e a perseguição, emprisionamento, rapto e lavagem cerebral de todos os formadores de formadores que façam exercícios específicos para acabar com tais muletas.



8
O coisismo é mesmo uma cena anti-disciplinar, uma espécie de calão de lado nenhum, com o Coisismo queriamos era fazer o elogio das muletas da linguagem (pronto ou mesmo prontos, a nível, enquanto que, no sentido de, a nível de, tipo, inves disso, inves daquilo, né, tá, dai, certo, ok, então ou atão, epa, olha, isso, haaaaã, bué, fixe), é o elevar isso ao expoente máximo da estupidez e da alegria, uma pensamento que não se resolve. Por exemplo, muitas das formações para se aprender a falar em publico ensinam a tirar estas muletas da linguagem, para se ser claro, não criar confusão não dispersar caminhos, o Coisismo afirma estes caminhos, estas pausas estereotipadas, que dão tempo para pensar e muitas vezes até mostram que não temos a certeza do que estamos a dizer.



3
O que é esta Coisa e as várias conjugações nós os que perguntamos por esta Coisas, que estupidez ter dito nós como se houve-se entre as Coisas formas de as identificar, depois de não as vermos como particulares e diferentes.
O Coisismo é um movimento que visa esta confusão entre o que se passa das Coisas aquilo que nos confunde na sua confusão, e a Coisa que podemos despachar sonhando, pensando. Dizer confundindo. Mais uma vez.



10
Todas as Coisas estão por dentro das Coisas, e por elas manifestadas a tenção entre as Coisas, as Coisas que somos nós a dignidade de não sabermos bem.



14
A possibilidade de algo ser aberto é ser Coisa.



11
A Coisa é a Coisa que vive e morre sem chegar a ter identidade, a Coisa dispensa o nome e mesmo a forma, a Coisa enuncia-se levemente nestes, mas não fica retido na memória, a Coisa é uma situação de pobreza de textura de complexidade, é difusa simples e difusa as Coisas são, não sei bem. Acha-se, acho que a memória é um processo que retém mas também que esquece como coisa selectiva que é, Coisifica.



12
O Coisismo é também um manifesto que centraliza a cultura humana enquanto acto de estupidez inaugural.
As muletas da linguagem como a gaguez arma ainda dos resquícios dessa animalidade ou humanidade que quer saltar cá para fora. Várias grandes Coisas porque não.
A linguagem é a mediação, o entre meio entre o que se é, o evento de se querer qualquer Coisa e o que não se é nas Coisas, as Coisas só são na medida que também nós nos temos por desconstruidos, não é, é. O humor referente a um sentido de falência do humano, de que este humano se tem em melhor conta do que é, esta energia que acelera o jocoso, leva no conjunto perceptivo e racional a desmoralizar o pensamento, não já para os nomes verdadeiros das Coisas, que são falsos estes nomes também; os nomes referem-se aqui a aproximações às Coisas, nomear é, nomear é. Os tais Coisos.



4
Sim o Coisismo visa despachar a realidade aligeirá-la, não tem nada a ver com abestração, e outras complexidades, que em lugar de nos tirar peso do exagero das Coisas, dos ombros sim dessas coisas, das Coisas em si, o forte cheiro a queijo que quer se goste ou não está lá, não tem que ver com isso, com essas dinâmicas em que um tipo se desloca do particular do local dos futebois, da histeria com as cores os círculos em movimento o estirar dos músculos dos gajos bons e isso, para outro tipo de linguagem, mas ressalvando, mas também não é essa Coisa intelectualoide, em que se recria a complexidade num fechar de sentido, já não bimbo da terrinha, para um macro pensamento muito preocupado, nada desenrascado. Nada do género disso, que se lixe, é como nós queremos. Então o Coisismo quando fala de algo quando pensa tem como sua duas particularidades. Diz isto é importante, mas ao mesmo tempo diz que se lixe isso. Isso nisto.



9
A ciência para o movimento Coisista é como um mal menor é e faz a Coisa prática, acalma o espirito da beleza das estrelas, da distancia ocular, ajuda a ansiedade da dor onde e como tirar essas pontas de lança, sempre que algo destoa da historia do nosso corpo queremos arrancar, a ciência ajuda a evitar, a ciência é o mínimo de dor, o Coisismo nada tem que ver com isto. O Coisismo preocupa-se ao contrario da ciência em criar formas de pensar, sentir, agir que afirmem o desapego. É algo irrisório.



13
Que Coisa é essa que vive como Coisa, que se acelera para chegar a horas, a essa Coisa, todas as Coisas são muito importantes na medida da sua própria Coisa. A Coisificação da vida, a necessária, a para injectar impossibilidade nos processos de viver, relativisação da mente humano enquanto maquina obsessiva, peço desculpa.


7
O Coisismo apenas abre a portas destes dias claros, mas não fala do processo magnético (estamos a inventar) que configura uma possibilidade de chuva, não porque se não o cérebro entra em paranóia, e no abstracto começa novas configurações, prisão, sabemos que se definimos à exaustão, o que está em cima como o que está em baixo, de lado, dentro, e fora, fechamo-nos num quarto, se formos inteligentes com isto fecha-se a Coisa. Não é essa a ideia. Antes, por em causa o processo depressivo da exaustão dos pensamentos impossíveis. Coisas que um homem sabe mas não pensa.



16
Muitas vezes é a linha que separa um pensamento possível de um impossível, esta questão da Coisa nas Coisas, uma generalização perante as Coisas até perante nós próprios, tens contradições impossíveis dentro de ti, injustiças, o que vais fazer resolver tudo, romantizar esta animalidade, é preciso Coisar, descarregar essa energia perante o impossível, saber a depressão, o tal mandar tudo fuder. O principio de descarga de energia, do esquecimento, controlar retenção e progressão, no pensamento, algo que em padrões maiores de pensamento, mais do que uma pessoa, uma comunidade pode criar paranóia, ambientes de depressão, mas é indigno no uso do Coisal, estar a criar falar de padrões sociais, as pessoas como tudo são experiências únicas impossíveis de generalização. Não vamos voltar a dizer que são Coisas.



20
Coisismo e a vontade de Guerra, a partir de certa altura começamos a ouvir falar de nacionalismo, multi contemplações e gestos, o movimento de braços do homem estatua era hirto, Coiso e tal, tudo em pé de guerra, apelava-se à guerra o penetrar o inimigo, a estatua é, mas indefine a palavra Coisa, porque uma coisa é parecer Coisa, outra é Coisar na pedra que Coisa. Estava-se farto dizia-se, isto assim também não é nada as próprias instituições que apoiamos estão agora contra nós, que Coisa onde estão as Coisas desta Coisa Coiso, reduziram-se a estruturas autoritárias, o seu capital de expansão, tornou-se simbólico, começamos a falar de requisitos para se ser pessoa, a dimensão da arquitectura, prédios e pessoas que geram valores, esses os simbólicos. Chá chá chá. O que se passa é esta reprodução de modelos e arquitecturas, chega agora a um infeliz encher de frustração, rapidamente sentimos necessidade de deitar tudo abaixo, neste deitar, à falta do silencio de muito progredir para organizações comunicação de pessoas, à falta de habito é só tristeza, custa a toda a gente este falar no vazio, deste esforço descompensado gravitar à volta da possibilidade de consenso mas também de desprezo, abandonados, vira-se o bico ao prego encalhamos no identitário, o nosso país, a nossa historia, os nossos antigos amigos e inimigos, só de pensarmos já entramos em guerra connosco mesmo este minguar identitário rapar a cabeça para enfrentar o vento, apertar e estrangular tudo, porque de alguma forma tudo se expande e nós não conseguimos apanhar isso. Que chatice falar assim disto assim a Coisa morre porquê conjecturar as Coisas de forma quase Coisas e depois pensar-se ao engano à possibilidade não é digno de Coisa, é mesmo assim que a coisa acontece.



21
A Coisa da Coisa é esta, um raio de um pensamento que desencane da cena identitária e que ao mesmo tempo não seja sectário, elitista, que não nos obrigue a ser seccionados em teorias para perceber as cenas. O Coisismo. O Coisismo é simples, é simples e vai fazer o que tem fazer, as suas necessidades.

martedì 19 marzo 2013

Vendo o coito das libélulas

Antes eu pensava, com todos os meus neurônios, que se
[Deus não era humano, o Messias podia ser um verme.
Depois me encheram de panteões.
De teogonias genealógicas, de famílias transcendentes
E humanizaram meus resquícios de fé.

Preciso lembrar da falta que um dinossauro sagrado faz.
De um elefante e um rato onipotentes.
Um graveto coordenando e animando os ventos,
dos raios.
Não posso mais procurar rostos em todos os elementos.
Eles envenenam.
Quero uma devoção crassa, tosca, impune
Pelos crocodilos no rio, e pela lama no chão.

venerdì 15 marzo 2013

Inessencial

venta nas mechas das minhas ideias
balanço de dois lugares, cama, cabeceira, imbuá
cada sopro me leva, não tenho essência
nem tenho estância
sou capturado por todos os rostos das minhas tias
fico olhando os rastros que esses sequestros vão deixar em mim
examino com antecedência meus vestígios
meu testamento é ilegal
não tenho mussangulá
pulo num só pé sem estribeira
teia de aranha voando em um redemoinho
onde Hiperion é um tamanduá.

domenica 10 marzo 2013

Shekhinah

Szymborska diz que a alma gosta de residir
nos espelhos que trabalham com afinco
ainda que ninguém esteja olhando.
Pensando em me imbuir de alma em minhas carnes,
quero quebrar todos os espelhos em que eu já me vi em cacos
minúsculos
e espalhar o pó pelas minhas peles.

Até aquele espelho que eu tornei opaco
porque enchi de perfume
para feder outra pessoa no espelho.

E também o espelho que eu quebrei em duas partes
no dia em que o arco-íris se escondeu
atrás de uma mureta inalcançável.

E até este espelho, deste quarto,
de armários abertos, também neste espelho
há lágrimas que precisam serem soltas -
aqui minha mãe me explicou que um dia
eu teria uma família e com ela uma paz das abundâncias,
e eu sentava na escada e chorava minhas piores lágrimas.





giovedì 7 marzo 2013

Adeilton Lima bloga no ponto do dia

O néscio
Diante
Do Laico
Só enxerga
O louco!

Adeilton Lima