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giovedì 24 marzo 2016

Vrim

O que mais me assusta na ideia de te ter
é que a vida passa a ter dois tempos.
É certo que a vida sempre teve vários tempos presentes -
e que o tempo presente ele mesmo só é presente
se ele é endereçado ao futuro, feito para passar,
como um repetidor que deixa uma marca,
um sulco, um traço que vira nódoa.
Mas este endereçamento recebeu os teus olhos.
Eu sempre soube que tua importância era tão grande
que eu jamais poderia ver meu próprio presente
e todo o futuro que faz dele passado
apenas com os meus olhos. Seria preciso
que tudo isso fosse visto também por você.
Você futura, que eu não conheço
por mais que conheça em você presente
todas as marcas, os sulcos,
os traços do teu rosto quando nos meus braços
nós abraçamos as árvores
e você balbucia: é (ou eh!).
Mas é a você futura que eu não conheço
que eu oriento também meus passos
(e meus saltos, e meus galopes,
e meus vacilos).
E é um futuro indeterminado, como a de uma mensagem
que pode chegar a qualquer momento
já que nunca termina de chegar.
Você futura é uma multidão
da qual eu não vejo os rostos.
Uma falta de solidão avassaladora
me acompanha já que você existe.
Como se o meu presente não bastasse,
só porque é meu.
Na víscera do meu presente, os teus olhos
futuros - minha insuficiência de fato
não importa com quantas medidas
de suficiência de direito.
Que outros olhos futuros são estes?

Uma vez, de noite, no Parque Juarez, em Xalapa,
seis meses antes de você nascer eu pensei:
vou suportar estar tão pouco desacompanhado?

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