Visualizzazioni totali

venerdì 21 aprile 2017

Agora a colher

* Mais uma tentativa de escrever sobre lavar a colher na pia. No blog tem outra, de junho de 2008

Uma sobra de gordura, matéria pura sem forma nem cor,
grudou na colher que a senhora, o senhor,
que traz quase toda sua vida
espalhada por toda sua coluna doída,
ou não traz nada,
lava.

Onde estava a senhora? Atrás de uma cortina branca
no interior da Frisia. Mas a Frísia é apenas o nome do pedaço de mundo
onde a Antonia come––e lava a colher.
Ela despeja no metal um detergente qualquer––amarelo.
O detergente é gosmento, suas mãos são feitas de carne
já tocaram o ríspido e o belo, já apalparam o tenro e o espinhoso;
ou não apalparam nada.
A pessoa que lava a colher é polifónica:
está por toda parte,
por toda cozinha,
universal, quotidiano, empacado e abstrato.
E é eterna.
Sempre lava a colher.

Eu agora da senhora.
da agrura dos objetos
da cozinha sem endereço,
sem latitude.
Amanhã lavo a colher,
em Copacabana lavo a colher,
em Veracruz esfrego a colher,
no Mississippi lavo a colher,
na Walonia ela lava a colher,
na Patagônica ponho pra secar e desligo a torneira
esvaecer a sobra de gordura––esgoto abaixo.
Duas mãos compostas de minutos gordos e magros,

Talvez consigas encostar tua testa nelas.

Nessun commento: