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domenica 21 dicembre 2008

Ora direis, lavar colheres

Uma sobra de gordura, matéria pura sem forma nem cor,
grudou na colher que a senhora, que traz quase toda sua vida
espalhada por toda sua coluna doída,
lavava depois de uma refeição quase sem sabor.
Aquela senhora de que não tratam os contos
(mas que somos nós todos os dias pelas ruas,
nunca prontos e
não sabemos em quais contos cabemos),
lavava.a colher.

Onde estava a senhora? Atrás de uma cortina branca
no interior da Frisia. Mas a Frísia é apenas o nome do pedaço de mundo
onde a senhora come––e lava a colher.
Ela despeja no metal um detergente qualquer––amarelo.
O detergente é gosmento, suas mãos são feitas de carne
já tocaram o ríspido e o belo, já apalparam o tenro e o espinhoso;
uma compota de proteínas forma aquele dedo habilidoso e ele vai para a colhe
esvaecer a sobra de gordura––esgoto abaixo.

Ela logo se esquece da gordura, da gosma, da pequena agrura
de arrancar sobra grudada de tanto esfregar,
esquece as perguntas que faz sem formular––amanhã
e amanhã se em outros dias iguais a amanhã
ela respirar. E nossa senhora com a tarefa terminada
senta-se na poltrona acomodada onde esteve nos anos em que aguardou,
viveu e não parou de aguardar.

Hoje. Mas também hoje é apenas o nome
dos pedaços de tempo que correm sobre as costas
enquanto a gordura grudada some sem traços.
Duas mãos compostas de minutos gordos e magros,
presos a seu corpo feito de anos cercado de objetos;
seus dedos a senti-los, colheres, uma almofada.
Ela lavou a colher e continua sua vida,
senta na poltrona moldada por seus ossos, fecha os olhos,
a testa fica apenas virada para o dia.

Talvez consigas encostar tua testa nele.

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