A permanência de certos conflitos no mundo são testemunha de como nos colocam para viver - e para o que está antes da vida, depois da vida, ao lado da vida e fora da vida. Não por algo mais uniforme do que uma transversalidade, não por causa de alguma condição geral que tem exemplos por toda parte, e exemplos bons (ou seja, protótipos, exemplos ideais) em algumas partes. Não pela uniformidade, talvez pelo sintoma.
Assim é com o conflito entre os Israelenses - que começaram como filhos dos judeus, reconhecidos no ocidente, e que lembravam de sua Terra sem terra - e os Palestinos - que começaram surgidos do limbo da inexistência, desconhecidos fora do oriente, e que ficavam pela terra sem Terra. Um conflito sobre como se ocupar na vida - ou seja, um conflito político, o que quer dizer sobre o emprego do tempo. Ou antes, sobre a vida regrada pelas instituições e protocolos e a violência atrás de um muro, ou atrás das câmeras, ou atrás da rotina.
Mas também um conflito sobre o que morre, como morre e não somente quem morre - o que fica fora da vida. Há a morte médica, a morte que é consequência das contingências dos órgãos dos corpos, um desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). E há a morte do suicida que explode em Dizengoff. A segunda morte é a morte de alguém, algo como o fim de um ser-para-a-morte, algo como um ente que se expressa, que se faz se desfazendo.
Tenho o medo de que se eu explodir alguma instituição ignóbil - mesmo que eu morra - as mortes causadas não vão mais ser do segundo tipo, vão ser do primeiro. Ou seja, as pessoas não vão morrer, vão simplesmente desaparecer (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). A morte física de uma personagem política é médica, mesmo se ela for assassinada. Vão dizer: "vítima de um ensandecimento, vítima de uma violência nociva, vítima de uma vontade torta" como quem diz "vítima de um aneurisma, vítima de um câncer, vítima de uma embolia". Ninguém mais pode ser agente de uma morte, nem o assassino de seu corpo assassinado, nem o suicida de seu corpo suicidado, nem o doente terminal de seu corpo terminal. O homem que ateou fogo ao próprio corpo na frente do palácio presidencial foi levado para o hospital. Talvez curado. Medicalizado.
Leminski estava certo: antigamente é que se morria, agora sim a vida é crônica.
Ou seja, não vão deixar que a morte seja política. Há a medicina como um aparador de arestas entre o protocolo institucional e a pura violência.
Há os fatos do mundo - os fatos médicos, por exemplo. E há uma crença de que são os fatos que vão nos redimir. Um Fatismo. Pesquisas fatistas, tratados fatistas, natureza apresentada como um caso de fatismo. Mas a grama cresce entre os fatos.
É uma vontade de heroísmo? De heroísmo proscrito porque a morte não pode ser mais nossa? É uma vontade de mudar as cláusulas do contrato, ao invés de só poder sair dele. Diante do rompimento do contrato social (pelas invasões, pelas propinas, pelas chacinas, pelos genocídios), só há uma coisa a fazer, voltar ao estado de natureza? Querer outra morte é querer que se possa sair do contrato social por algum meio que não seja o do desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado).
Assim é com o conflito entre os Israelenses - que começaram como filhos dos judeus, reconhecidos no ocidente, e que lembravam de sua Terra sem terra - e os Palestinos - que começaram surgidos do limbo da inexistência, desconhecidos fora do oriente, e que ficavam pela terra sem Terra. Um conflito sobre como se ocupar na vida - ou seja, um conflito político, o que quer dizer sobre o emprego do tempo. Ou antes, sobre a vida regrada pelas instituições e protocolos e a violência atrás de um muro, ou atrás das câmeras, ou atrás da rotina.
Mas também um conflito sobre o que morre, como morre e não somente quem morre - o que fica fora da vida. Há a morte médica, a morte que é consequência das contingências dos órgãos dos corpos, um desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). E há a morte do suicida que explode em Dizengoff. A segunda morte é a morte de alguém, algo como o fim de um ser-para-a-morte, algo como um ente que se expressa, que se faz se desfazendo.
Tenho o medo de que se eu explodir alguma instituição ignóbil - mesmo que eu morra - as mortes causadas não vão mais ser do segundo tipo, vão ser do primeiro. Ou seja, as pessoas não vão morrer, vão simplesmente desaparecer (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). A morte física de uma personagem política é médica, mesmo se ela for assassinada. Vão dizer: "vítima de um ensandecimento, vítima de uma violência nociva, vítima de uma vontade torta" como quem diz "vítima de um aneurisma, vítima de um câncer, vítima de uma embolia". Ninguém mais pode ser agente de uma morte, nem o assassino de seu corpo assassinado, nem o suicida de seu corpo suicidado, nem o doente terminal de seu corpo terminal. O homem que ateou fogo ao próprio corpo na frente do palácio presidencial foi levado para o hospital. Talvez curado. Medicalizado.
Leminski estava certo: antigamente é que se morria, agora sim a vida é crônica.
Ou seja, não vão deixar que a morte seja política. Há a medicina como um aparador de arestas entre o protocolo institucional e a pura violência.
Há os fatos do mundo - os fatos médicos, por exemplo. E há uma crença de que são os fatos que vão nos redimir. Um Fatismo. Pesquisas fatistas, tratados fatistas, natureza apresentada como um caso de fatismo. Mas a grama cresce entre os fatos.
É uma vontade de heroísmo? De heroísmo proscrito porque a morte não pode ser mais nossa? É uma vontade de mudar as cláusulas do contrato, ao invés de só poder sair dele. Diante do rompimento do contrato social (pelas invasões, pelas propinas, pelas chacinas, pelos genocídios), só há uma coisa a fazer, voltar ao estado de natureza? Querer outra morte é querer que se possa sair do contrato social por algum meio que não seja o do desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado).
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