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lunedì 2 dicembre 2013

Não são só palavras


Cheiro a cabelo queimado. Tem no dicionário ou na tabela periódica a pitada que me sara. Não tenho a dose. Me arrasto no chão. Venham fúrias, carreguem-me. As coisas querem ser vistas de azul-sangue. Que palavras, que enxofre, que titânio vão curar minhas tripas que engoliram as fúrias meladas, deixaram elas em banho-maria na minha saliva, apararam-lhes as garras, arrancaram-lhes os dentes. Sobrou um molusco. Prendo meu braço no armário. Amarro minha língua. Uma palavra furiosa mora em mim. Mas não são só palavras. É toda uma tabela periódica de elementos insuspeitos e que contaminariam o universo de uma vez por todas com meus germes atormentados se eu os deixasse sair. São os elementos de todas as negações, de todas as diferenças e de todas a vertigens que eu viro do avesso para fingir que eu tenho pele. Toda pele é fingimento. Toda pele é feita daquilo que, virada do avesso, seria o fervor contra o horizonte, contra a crueldade fria e vulgar dos minutos, contra os crepúsculos, contra a vida de cachorro velho caçando rato morto. Contra ser alguém com uma pele. Todo este inverso do universo sai com uma palavra furiosa. Por isso eu não coloco minhas mãos no enxofre, nem meus olhos no titânio: junto meus humores às palavras para procurar um berro - que sara, por um segundo. Me espeto com pregos nas mãos, vejo o sangue sair pelas dobras enferrujadas e minha garganta continua longe de ficar gutural. Mas o súbito chega: meu monstro vocal. Inapresentável. Irrepresentável. Torto. Feito de palavras sem símbolo. Só a forma bruta das minhas entranhas. Uivo. Não tem lua. Tem um planeta sem órbita no céu cheio de nuvens. Toco com minhas unhas curtas as órbitas e tiro elas do meu caminho. Aquele que não tem estrela, aquele que não tem juízo, aquele que não tem barbitúricos. Nunca estive assim tão lúcido, e no escuro. A força dos elementos periódicos me corroem o ventre, me corroem. Bato com a cabeça na quina da mesa. Sai mais sangue, mais vermelho, mais adúltero. Entro debaixo d'água. Para baixo, para baixo.

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