Passei anos tentando viver. Parecia que eu estava com todas as minhas válvulas (ou são veias?) entretidas com sangue, com o ronronar dos ossos em gestos, com os elementos mesmo que constituem o âmago das coisas, ainda que eu achasse que coisas não tem âmago e têm não mais que bagaços feitos de outras coisas sem âmagos. Eu escrevia: não há âmagos, desistam, não há âmagos. E, no entanto, parecia que eu respirava âmagos - e, ainda mais âmagos, se o ar era amargo. Procurava o amargo. Queria meus muitos anos de vida, dia após dia. Acreditava que estaria em breve quites com deus - nem ele precisaria me perdoar, nem eu aceitaria seus perdões. Os músculos do mundo teriam provado estarem em completa sintonia com os das minhas entranhas - aqueles tão claros, distintos, grandiosos, perfeitos, decididos e vazios e estes tão retorcidos, íntimos, mal-iluminados e regados a sangue. E, no entanto, não eram válvulas, eram botões de girar de uma máquina que eu podia desmontar, despedaçar e a máquina era uma versão multi-dimensional da tal mola pra adaptar-me. Devia ser que há um ritmo comum a ser dançado entre meus oceanos e as pedras pegando fogo lá fora.
- Eu não sei como é que se vive.
De súbito hoje, numa manhã de fim de inverno, abdiquei. Já nem sei mais o que abdiquei porque passei todo um parágrafo descrevendo o que eu abdicava. E então já mudaram os ares. Abdiquei - vejo bem o que foi que eu abdiquei, mas vejo tanto que já não vejo mais nada além. Era preciso não demorar em dizer não. Mas aquela minha bromélia tinha caule para florir e eu tinha ventre para hesitar. Abdicar. Abdicar das proporcionalidades. Tortuoso. Uma vida não é um acoplamento com o cosmos - é um desajuste. Olho meu ambiente controlado - ou seriam também os becos controlados, as florestas, os desejos insidiosos. Meu ambiente controlado e cheio de catábases, de abridores de excessos, de buracos homicidas entre as aparências domésticas. Não sei mais o que eu acordei abdicando, aperto entre meus dedos uma pedra falsa. Uma pedra. Todas as coisas carregam perigos - os bichos de pelúcia, os gatos, meus sorrisos, os recém-nascidos. Se tudo pode ser outro, há em cada molécula uma interpretação. E neste mundo em que tudo está em desrepouso, ninguém é estrangeiro em particular e nada pousa como um nativo. No momento que eu fui ligado hoje, não tinha ambiente. Sem mais pregos para os meus martelos. Jogar pedras nas moléculas mesmo que elas não sejam minhas. Nem sejam tijolos. Nem possam ser coisa alguma. Nem moléculas.
- Eu não sei como é que se vive.
De súbito hoje, numa manhã de fim de inverno, abdiquei. Já nem sei mais o que abdiquei porque passei todo um parágrafo descrevendo o que eu abdicava. E então já mudaram os ares. Abdiquei - vejo bem o que foi que eu abdiquei, mas vejo tanto que já não vejo mais nada além. Era preciso não demorar em dizer não. Mas aquela minha bromélia tinha caule para florir e eu tinha ventre para hesitar. Abdicar. Abdicar das proporcionalidades. Tortuoso. Uma vida não é um acoplamento com o cosmos - é um desajuste. Olho meu ambiente controlado - ou seriam também os becos controlados, as florestas, os desejos insidiosos. Meu ambiente controlado e cheio de catábases, de abridores de excessos, de buracos homicidas entre as aparências domésticas. Não sei mais o que eu acordei abdicando, aperto entre meus dedos uma pedra falsa. Uma pedra. Todas as coisas carregam perigos - os bichos de pelúcia, os gatos, meus sorrisos, os recém-nascidos. Se tudo pode ser outro, há em cada molécula uma interpretação. E neste mundo em que tudo está em desrepouso, ninguém é estrangeiro em particular e nada pousa como um nativo. No momento que eu fui ligado hoje, não tinha ambiente. Sem mais pregos para os meus martelos. Jogar pedras nas moléculas mesmo que elas não sejam minhas. Nem sejam tijolos. Nem possam ser coisa alguma. Nem moléculas.
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