Compartilho com os outros do meu país,
e que vivem do outro lado do fosso de classe,
o ódio. Mas o meu ódio é estofado, e é cheio de náusea,
"preso a minha classe e a algumas roupas",
é bem-alimentado e também parece informado,
assim, pode mesmo pensar que não erra o alvo.
O ódio dos outros é muro na frente dos olhos e às vezes
não é nem sentido, é frustração, uma variedade
de atropelos cada um deles vindo de um alvo bem conhecido.
Nossos ódios poderiam estar confederados, mas eles
me deixam sozinho esperando a flor nascer na rua.
Mas ela é feia.
Visto do outro lado do fosso, sou um exótico privilegiado,
talvez um aliado estabanado, feito de uma arrogância
destilada exibindo, onde não cabe, o verde capital simbólico.
Minhas memórias, mesmo as inventadas,
são insuficientes ou demasiadas - de todo modo inapropriadas.
Meus projetos são distantes, mesmo que coincidam
em uma bruma de futuro - de todo modo solitários.
Todo o meu espaço de ação é estrangeiro e forasteiro,
alheio, inconsequente, caprichoso e
o meu mesmo ódio do outro lado do fosso
tem eu mesmo como alvo. A mira vai ficando
mais certeira, mais nítida, mas desengonçada.
A flor não nasceu na minha rua.