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venerdì 15 giugno 2018

Medo das palavras

Tenho medo das palavras.

Prefiro os uivos, que não confessam nada.

Prefiro os berros, os grunhidos, os designificados.
Prefiro as letras ao léu.
Prefiro as matérias soltas, insignificantes.
Tenho medo dos rabiscos.
Deve ser por isso que quando li que as células cancerígenas
são levadas e ficam sublevadas contra as funções assinaladas
fiz um sorriso da alívio e quis fugir com elas abraçadas,
ver um roteiro de Artaud chafurdando nas entranhas,
ver uma rebelião na cena de vida e morte de meia-pataca
acontecendo no meio da ordem no foro íntimo.

Há deriva por toda parte, me dizem,
é de deriva que se fará a matéria
e não os textos e nem os gestos.
Lembro dos meus dias esperando que cheguem as rimas,
na beira do poço ou debaixo do sol
ao lado de uma parede sem sombra.

Recito baixinho uma ladainha antiga.

Como relendo as palavras que já escrevi
e com medo de cada uma delas.
Quais delas são profecias?
Quais são testemunhas?
Quais são testamentos?
Eu tento lhes ensinar por exemplos,
elas me exortam.
Eu tento a exorbitância,
elas me crucificam em ruas asfaltadas.

Meus dedos sujos de giz, limpo.
Olho o quadro pendurado, alto,
uma escotilha, um claustro, uma ilha,
saio correndo com a multidão,
fujo das palavras de medo.








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