Visualizzazioni totali

venerdì 28 novembre 2008

Outros Paulo Kauim

de tanto não
o sertão
vai virar sim


brancos
mata
pataxó

brancos
ter bom
advogado

pata
choques

(no
bolso)

pratas
chovem

Um Paulo Kauim

poesia não é música
poesia não é pintura
poesia não é video-arte
não é porra nenhuma

nem filosofia
nem política
nem psicanálise

não é núven
não é neve
não é nada

nem psia
nem psiquê

Paulo Kauim

giovedì 27 novembre 2008

Meio watt de luz a menos (passado 20/11)


Minha terra é de ombros negros

que cantam jongos nos estômagos,

e ardem esporas nos rins.

É que no meu país,

meu pequeno povo branco e confortável

habita uma terra trêmula

feita de ombros escuros,

sempre escravizados,

onde nós pisamos e plantamos hortaliças.

Nossa terra, parda e fértil,

nos alimenta e nos acalenta

e deixa a mesa posta

e os tapetes esfregados.

Nossa terra tem palmeiras

e tem palmas, cortadas, amassadas,

tornadas em óleo

e preparadas em quitutes

que saboreamos e deixamos as sobras,

pois nossa terra-de-ombros-escuros

também lava nossos pratos.

No meu país a terra dá ritmo

e tonalidade, a terra ela mesma balança

e a dança da terra nós também dançamos

temos o barro exótico em nossa própria terra

e dizemos que é nossa raiz que está nela,

raiz fincada em ombros.

Assim. nosso povo parece gigante,

grande sobre uma terra alta

que é fértil mãe gentil

e nos amamenta e cuida dos nossos filhos

quando vamos trabalhar.

Nosso povo se habituou a pisar

os ombros como se fosse chão,

já não sabe pisar a terra.

Mas a cada vez que pisa na pele que é chão

deixa escapar quase exatamente

meio watt de brilho em cada par de olhos.

martedì 25 novembre 2008

Entrever - de Julia Arcanjo

Escrever é lamber meio-termos.
Uma volúpia doida, indefinida.
Tomar-se de palavras.
Tombar contos de cadas.
Nas pontas da língua.

Desertos atravessam-se em canais de areia.
Chinelos virados ao avesso em beira de praia.
O sol que faz é fresco, incandescente.
Há também fervores inclementes.
Miragem, ópio, oriente.
Oásia.

Chinês, vogais pequenas, bocas curtas, botas altas.
Voz digitaduras.
E porcelana...

Parece eu
Alguma mendida
Desconhecida.
Escoltada.
Escassa, rarefeita.
Neo-ócio e lucidez: a hora da virada.
Quero ver quem anda! Manco.
Macaco-vira-lata.

Todos parecem igualmente
Desproporcionais.

Jastrun's Man

I saw a man
Murdered by angels,
Tortured by questions,
Swollen by a stranged cry,
A live corpse,
A victim of morality.

And I could not help him,
Since he deserved no more than pity, which had been exiled
And I had to give him the last blow
Together with angels,
Trampling, tearing, butchering
His paltry heart
His human - after all - heart.

Mieczyslaw Jastrun (1903-83)

lunedì 24 novembre 2008

Quem tem dignidade, na tortura, mente

ranjo, nem é canja de galinha
lasco, nimbus carrancuda em céu de brigadeiro
quero quando não é pra querer
nasci fora do calendário

venerdì 14 novembre 2008

XXI Maldito, Gozozo e Devoto de Hilda Hilst

Não te machuque a minha ausência, meu Deus
Quando eu não mais estiver na Terra
Onde agora canto amor e heresia
Outros hão ferir e amar
Teu coração e corpo. Tuas bifrontes
Valias, mandarim e ovelha, soberba e timidez.

Não temas.
Meus pares e outros homens
Te farão viver dessas duas voragens:
Matança e amanhecer, sangue e poesia.

Chora por mim. Pela poeira que fui
Serei, e sou agora. Pelo esquecimento
Que virá de ti e dos amigos.
Pelas palavras que te deram vida
E agora me dão morte. Punhal, cegueira.

Sorri, meu Deus, por mim. De cedro
De mil abelhas tu és. Cavalo d'água
Rondando o ego. Sorri. Te amei sonâmbula
Exdruxula, mas te amei inteira.