escapade
hoje, às 6 da tarde, eu escapei do meu DNA.
ele estava distraído criando um calo no estômago,
igual ao que tinha minha avó quando comia nozes
e eu fugi, saí correndo com as pernas do meu vizinho
muito mais ageis que as minhas
fiz planos com a ousadia da puta velha da rua
respirei fundo com o pulmão do vendedor de gás
e senti o entusiasmo dos meus amigos hedonistas
que nunca sentiram o efeito de nem sequer uma célula da
minha família
senti o coração, a alma, a cabeça e todas as roupas que
vestia
todas desabotoadas, e esvoaçando ao vento.
quis parar para repousar minha coluna da vendedora de pipoca do cinema
mas esbarrei no tornozelo torto do meu tio.
era ele, o carrasco em espiral, que me botava de volta na coleira.
contrescarpe
40 anos no deserto
maio de 1968, maio de 2008
pela praça da contrescarpe
desço a rue mouffetard
e compro um melão caro
por não conseguir me desviar
do mercador
todo imigrante, todo parisiense
como o melão – truculento
espirrando sementes na última barricada
pela praça da contrescapade
subo a rua mais tarde
minha boca fica doce
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