Segunda-feira disforme, dois poemas de carnaval, o primeiro de 2008, o segundo de 2007:
1. Dispersão
os anos como um desfile de escolas
entorpecem
barulhos misturam
bumbos, arrepios, rugas
freios bruscos
na madrugada,
a calça do guarda
da fantasia
da União da Ilha
arrastando no lodo
pelo túnel
os carros fora da pista
os componentes, os uniformes
os anos de carnaval misturados
as batidas da bateria
no longo fim do desfile
2. engalanados
em grupos de três pessoas na rua do Catete
pegamos taxis pro buraco quente
nossas mãos, com dedos apertados
e nossas cabeças com os dedos soltos.
miro, que escutou nos balcãs que as pessoas se vestem
de princesas africanas e saem pelas ruas no sol
guardava em uma gaveta semiaberta a impressão
de que no rio, no carnaval, faltavam camisinhas.
laura, que veste a roupa da alegoria leve
cobrindo sete chacras a flor da pele
em cada uma tem uma ala de paixões pelo que é ao léu
- chacra solto é quase uma bateria
ricardo, que ficou viciado em estar contente
de partir para o samba de madrugada
como quem tem destino de uma serena subversão
ainda dentro da família, longe do colégio militar.
todos fugindo e todos querendo voltar
algumas horas mais tarde
para bem fora do buraco quente.
edla no banco de trás do carro
olhando com vontade de estar intrigada
pelas janelas e pelos olhos em seu torno
roçando as pernas em teologia profana
andré, olhos que engolem antes de saborear
um pouco arrastado iria até a cascadura
com os fios dos lábios tortos com palavras
da dicionária e a pele branca ressabiada
os taxistas são bumbos na bateria da mangueira
as duas pernas da alma inseridas no carnaval
e as mãos do corpo no volante
por quatro noites que são quatro dias
o táxi da frente parou primeiro
a rua, vazia, eu com a euforia de estar chegando
em um lugar temerário e legendário e
o buraco quente estava fechado.
havia gente em verde e rosa pela rua
e não podíamos misturar com elas
já não podíamos fugir tanto
seguimos para madureira
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