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martedì 19 maggio 2015

Como correspondência

Ontem a noite ele encontrou a carta de amor que eu lhe escrevi na minha infância.
Eram apocalipses, tautogias, tatuagens e círculos quadrados,
lacrados em um papel azul
e cheios de artigos indefinidos - os artigos dos acontecimentos.
Ele me mandou um telegrama em forma de tótem como resposta: aventura sim, remorso não.
Era uma formação sedimentar coberta com cadáveres de antigos trilobitas
e de outras testemunhas de antes do holoceno.
Fui procurar meu mapa do tempo - de onde ele falava?
Acordei andando em círculos. Tropecei em um véu de kashmir que também tinha vida morta.
Carbônica. Mas o véu tinha sangue. Sangue velho.
Eu lhe escrevi, na carta, sobre o meu nariz.
Eu não conseguia parar de ver meu nariz no meio das paisagens.
Quando tropecei no véu, fingi que sabia dançar tango e que não havia mais intrusos dentro de mim.
Tenho pena de você, me disseram minhas avós, porque você codifica mas não descodifica.
Tenho pena.
Eu juro que eu abro o cofre mais tarde para você, eu disse, eu sei o segredo.
Mas na carta, não quis falar sobre a pena que minhas avós tinham de mim.
Era muito natural, ou então era muito humano.
Deitei no chão do banheiro, meus pés sobre a privada
e encostei minhas vísceras no ralo.
Tranquei a porta porque podia ser que eu gozasse
balançando as cadeiras. E se ninguém ler? O correio pode demorar meses
e meu amor pode minguar, ou se expandir mais ainda.
Naquele dia acho que sintonizei o rádio. Tinha uma música cantada com o sotaque do México:
"es mejor que no me conozcas, que no me escuches, que no me mires".

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