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domenica 23 giugno 2013

Triebkrieg não tem arco do triunfo?

Então eram infecções, umas contra as outras, todo o tempo.
Umas me mantinham, outras me entortavam. Umas vinham em tanques de guerra por cima de tudo, outras só carregavam cartazes escritos à mão. Todos os rostos tem os meus rostos - posso ser aquela, posso ser quem morde os dentes de longe, posso ser o fotógrafo dentro do lago na frente do monumento. A política dos vermes dentro das minhas tripas tem também seus palácios, suas tropas de choque, seus três poderes.
Não há nada além da praça infestada. Escuto as lombrigas de um lado e do outro e ainda do outro lado. Elas gritam, mas já não sei quem me cura. Na praça fora de mim eu torço. Na foro dentro de mim, eu contemplo já que não fico de lado.
Ouço a música anônima. A meada é meandro. Bebo os vidros derramados sobre a medula - não sei qual é o veneno, qual é o remédio. Não tenho as doses. Tudo é messias, tudo é danação. Ouço no rádio, ao longe os Sex Pistols. Estes vácuos entre um grito e uma ordem, sabe?

venerdì 14 giugno 2013

Meu pensamento é um rio subterrâneo (Fernando Pessoa)

(No curso sobre Pacífico Sul discutindo Maria Ela e o capítulo da designação. A concha vai ficando mais fluida quando é pensada. Fluido é o pensado, aquilo que pode se inserir, se imiscuir, se infiltrar. Os rios deixam sulcos na terra, os sulcos refazem o curso da terra. O pensamento, amarrado a terra, refaz seus rios subterrâneos. Os vestígios das relações causais que remontam as referências largados pelo território afora. O pensamento atravessa sem saber esses dutos subterrâneos.)


Meu pensamento é um rio subterrâneo.
Para que terras vai e donde vem?
Não sei... Na noite em que o meu ser o tem
Emerge dele um ruído subitâneo

De origens no Mistério extraviadas
De eu compreendê-las..., misteriosas fontes
Habitando a distância de ermos montes
Onde os momentos são a Deus chegados...

De vez em quando luze em minha mágoa
Como um farol num mar desconhecido
Um movimento de correr, perdido
Em mim, um pálido soluço de água...

E eu relembro de tempos mais antigos
Que a minha consciência da ilusão
Águas divinas percorrendo o chão
De verdores uníssonos e amigos,

E a ideia de uma Pátria anterior
À forma consciente do meu ser
Dói‑me no que desejo, e vem bater
Como uma onda de encontro à minha dor.

Escuto‑o... Ao longe, no meu vago tacto
Da minha alma, perdido som incerto,
Como um eterno rio indescoberto,
Mais que a ideia de rio certo e abstracto...

E p'ra onde é que ele vai, que se extravia
Do meu ouvi‑lo ? A que cavernas desce?
Em que frios de Assombro é que arrefece?
De que névoas soturnas se anuvia?

Não sei... Eu perco‑o... E outra vez regressa
A luz e a cor do mundo claro e actual,
E na interior distância do meu Real
Como se a alma acabasse, o rio cessa...

lunedì 3 giugno 2013

Desaparecença (de Leminski)

(Para colocar na pasta do Butler: cada coisa é uma coisa e não outra coisa)

Nada com nada se assemelha.
Qual seria a diferença
Entre o fogo do meu sangue
E esta rosa vermelha?
Cada coisa com seu peso,
Cada quilômetro com seu quilo.
De que é que adianta dizê-lo,
Isto, sim, é como aquilo?
Tudo o mais que acontece,
Nunca antes sucedeu.
E mesmo que sucedesse
Acontece que esqueceu.
Coisas não são parecidas,
Nenhum paralelo possível.
Estamos todos sozinhos.
Eu estou, tu estás, eu estive.

domenica 2 giugno 2013