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lunedì 27 agosto 2012

Errância e erogênese no grupo Tirésias em Natal amanhã

Errático. Erótico. Errático. Erótico. Errático. Erótico. Errância. Errado. Errata. Eros. Erros. Eris. Errante. Errôneo. Errorista. Essas palavras tem uma conexão com o desejo. E com a diversidade ambulante dele. A diversidade perambulante. O desejo que insiste, subsiste, resiste, mas também se camufla, se despedaça, se contagia, se contamina. Ninguém aprende a ser gay – ou muche, ou hijra, ou pottai, ou transgênero, ou nguiu´ – mas ninguém nasce sabendo. Talvez haja quem consiga dar um saculejo de ombros para todas as ofertas de identidade nos cardápios locais ou globais – mas o saculejo encontra a toda hora o baculejo: a interpelação. Althusser entendia que era a interpelação que dava nome aos bois – identidade aos corpos. O sujeito é interpelado e se volta para quem lhe interpela – aquele expediente da polícia, e das ruas que nos chamam sapatão ou viado. É ali que se passa a trama da interpelação – e da errância. Como proceder? Diz Diana Torres, a pornoterrorista:
- O pior que podes fazer a teu inimigo é não necessitar-lhe para nada.
- Não me chamo lesbiana, nem sequer me considero mulher, quem quiser me interpelar me interpele, eu não viro a cara.
O terrorismo é a arte do imprevisto. O errorismo é a arte do não-catalogado. Do que está fora do programa. Fora da casinha. O desejo ama esconder-se. A porno-errorista pensou que era sado-masoquista, que era goiabinha, que era travesti, quis ser baranga, boiola, Barbie e babadeira. Tava errada: era errante. O pior que podes fazer aos que te classificam é não necessitá-las para nada. O erro é pornô. Aquelas que tentam, tentam e são tentadas. Uma vida de tentação. Tentativa atrás de tentação. A porno-errorista também é terrorista, toca o terror do erro: e se eu não for hetero, quotidiano, fútil e tributável? E se eu não for o contrário de tudo isso, o contrário de qualquer coisa? A erótica do terror. O slogan do blog de Diana Torres: por el derecho a ponerme cachonda com que me dé la gana. Há baculejo na etiqueta, há baculejo na classificação – vira a cara, completa a interpelação! – mas não há baculejo no desejo. Ele erra por aí.

Os desejos podem ser regulares – ao meio-dia sempre tenho a fissura de lamber folhas amarelas – porém não seguem ordens nem da natureza. E não têm regras. O nosso reconhecimento dele – quando nós os interpelamos e eles viram a cara – é que satisfaz regras. É que a polícia delega a cada sujeito os porretes, algemas e sirenes para sujeitar seus desejos. Ao invés de sujeito aos desejos os sujeitos ficam sujeitos dos desejos. Mas o desejo escapa. Errância. Erogênese. Leminski: “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”. Erogênese. O desejo escapa.
Ele erra. O desejo persegue o erro. O movimento errorista internacional abençoa os que preferem errar a se afeiçoar ao seu quadrado. O movimento errorista internacional conclama a que se persiga o erro. Eros atende. É que Eros é dilapidação. Diz recentemente Heráclito em seus fragmentos recém-cavados:

207. Eros é eris, eris é quebradeira. Eris não é só combate, é
disponibilidade – a compulsão a tornar partes de si disponíveis.
Disponíveis: a força centrífuga que impele a fragmentação das partes
que estão coladas; uma força que pode ter a mesma intensidade e
aceleração que a força centrípeta de coesão. A força de fragmentação
tem a direção oposta e raramente tem a mesma velocidade. Muitas vezes
não vemos a ação do ímpeto de fragmentar porque procuramos
ingredientes no mundo. Os ingredientes são peças que não se fragmentam
e que apenas compõem. O mundo não é feito de ingredientes – é jogo de
armar que nunca está armado e nunca está em pedaços. [Tudo se]
desintegra, desinfla, solta ares.

208. Eris é a força de desindividualização: colocar-se a disposição. A
danação dos ingredientes. Os modernos, tão encantados com a idéia de
autoridade integral, preferem olhar para as partes conscientes que são
as que submetem outras e procura retê-las submissas. Dizem: meu corpo
está a minha disposição. Os corpos sempre estão à disposição, mas as
disposições não tem dono.

Eros e Eris estão do mesmo lado porque ambas são forças centrífugas. Estão a serviço da deposição por meio de disposições amotinadas. Disposições que não são guiadas pelo controle remoto dos sistemas nervosos centrais – eles apenas as interpelam. Contra as disposições centrífugas, os sujeitos centrípetas – aqueles que trazem toda a sua vida erótica (e seus delírios, suas ganâncias, suas trincheiras) para um centro de gravidade. E os sujeitos centrípetas, inspetores dos desejos dispersivos, são por sua vez produtos do dispositivo de terror anal que Beatriz Preciado diagnostica no seu epílogo à tradução espanhola d´O Desejo Homossexual de Hocquenghem: “Cierra el ano y serás proprietário, tendrás mujer, hijos, objetos, tendrás pátria. A partir de ahora serás amo de tu identidad” E ela conclui que assim nasceram os homens heterossexuais no fim do século XIX: são corpos castrados de cu. Ainda que se apresentem como chefes e vencedores são, na realidade, corpos feridos, maltratados. A engenharia dos quadrados para os desejos é uma engenharia de corpos. Os corpos interpelados apresentam órgãos – que servem para isso e não para aquilo, para excrementar e não para incrementar. Mas o desejo escapa. Diana Torres conta que conhece homens que renunciaram ao maravilhoso prazer de cagar em troca da habitual prática do fisting que é bem melhor que sentar-se à privada com um jornal. Carregam uma bolsa acoplada à perna que está conectada a uma sonda que atravessa o intestino grosso e por onde sai a merda que vai se depositando em na bolsa. Assim eles desincumbem o cu da tarefa de despachar a merda e deixam-no livre de ser um órgão do excremento. Incrementam o corpo, corrigem-no. Conquistam um território para o erótico no centro nervoso do sujeito, erodem o órgão e o deixam à disposição das disposições de Eros. Os desejos às vezes se parecem com urgências, com convulsões que mudam as superfícies. Mudam as etiquetas das superfícies. E chegam a mudar a sirene da polícia que interpela. Como os movimentos tectônicos, os desejos adquirem suas formas nos estados das coisas. É o cenário de etiquetas de identidade que oferece as estrias que o desejo alisa. É no alfabeto das diversidades sexuais reconhecidas (para a interpelação) – duas, ou seis (LGBT), ou onze (LGBTTTIQA) ou outras dez (LGBTKQJH – LGBTKotisQJoginsHijras) – que tem lugar as muitas formas de erogênese.

Etiquetas de identidade fazem parte das nossas paisagens: pessoas
descabidas encontram conforto e proteção em se alojar em alguma delas,
como um escudo contra aquelas outras que se apresentam como
compulsórias. Julia Serano gosta de citar Audre Lorde: se eu não me definir por mim mesma, diz Lorde, eu vou ser empacotada dentro das fantasias que outras pessoas aprontam para mim e devorada viva. Discursos sobre identidade – versões, subversões, aversões, diversões, invenções – são intervenções sobre a política da verdade (e da mentira). De acordo com a política do baculejo, há um critério em algum manual (talvez a mais recente versão do DSM) para distinguir, por exemplo, uma travesti de uma transexual. Interpelação. Assim, uma transexual MTF como Serano,
uma trans-mulher – que já atravessou o Rubicão da transição – pode ser considerada como tal apenas se for reconhecida por um critério de reconhecimento, o suposto saber de alguma scientia sexualis.

Uma intervenção sobre as verdades é fazer com que certos enunciados
sejam tomados como verdadeiros e outros como falsos – afetar o regime
de verdade. A política das verdades gira em torno da maneira como
descrevemos e interpretamos o mundo e as pessoas (e como as
etiquetamos, se precisamos fazê-lo). Quando um intérprete se depara
com as cercanias dos erros – por exemplo, uma palavra que está
empregada de uma maneira diferente da que considera habitual ou um
corpo que diz ter um gênero diferente daquele que parece – há muitos
caminhos. Podemos perseguir o erro. Podemos habitar nele, e operar o avesso da correção. E podemos perseguir a verdade e tentar detectar em que partícula está o erro. Ele pode ser atribuído ao intérprete ou ao interpretado. Julia Serano, comentando sobre o discurso acerca
de quando transexuais passam, diz que quando uma pessoa diz a
uma cis-mulher em uma circunstância social: “boa noite, meu senhor”,
não dizemos que a cis-mulher não passou ou que sua femininidade está
em questão, mas que a pessoa fez um cumprimento equivocado – errado, e
muitas vezes inadequado ou descuidado ou sarcástico ou cínico ou sardônico ou queria dizer outra coisa. Muitos caminhos. Onde está o erro é o território da política da verdade: afetar o regime de
verdade que articula as convicções. Uma intervenção política pode atuar estabelecendo a verdade de que quando os gêneros são confundidos, o erro está do lado de quem interpreta. Julia Serano defende que a identidade das trans-mulheres pare de ser regida pelas normas cis-sexuais: “o cerne da questão é que palavras como passar são verbos ativos.
Assim, quando dizemos que uma pessoa transexual está passando,
isso dá a falsa impressão de que elas são participantes ativas desse
cenário. [... ] Eu diria que o reverso é verdadeiro, o público é o
participante ativo primário, se é ele público que tenta classificar as
pessoas em machos e fêmeas. [...E] este papel ativo [...] é tornado
invisível pelo conceito de passar”. (p. 177, tradução minha). Não se trata de um embuste do baculejo – de alguém que disfarça. Se trata de errâncias com o feminino. De autoginefilia – para usar o controverso termo de Ray Blanchard e Michael Bailey. A autoginefilia que está a um triz da heterginefilia celebrada e padronizada já que a filia, e a ginefilia, são errantes. Mas ninguém erra sozinho.

Julia Serano é uma entusiasta das várias formas de efeminismo (as melhores são as mais feministas). As trans-mulheres adotam o feminino, erram nele e o feminino não é uma condenação para elas. O feminino tem o poder de ser o anátema da ordem (cis-hetero-)patriarcal; ela diz: as coisas de garotas são o equivalente de gênero da criptonita. Serano
quer colocar o feminino de volta no feminismo, e as trans-mulheres –
femininas por adoção, por compulsão e não por conformidade – são
centrais nessa empreitada. Mas trata-se de uma empreitada que tem que
ser articulada de um ponto de vista que não seja cis-sexual: ela quer trans-mulheres na conspiração feminista. A misoginia – na forma de heteroginefobia ou de heteroginefilia – é frequentemente a resposta para o caráter rebelde da femininidade na ordem estabelecida: ela aparece na forma de trans-fobia, na forma de uma repulsa aos cross-dressers e aos pequenos signos femininos no comportamento dos homens. E a autoginefilia efeminista tem muitas caras. Uma babel feminina – Babella: bichas, hijras, muches, travestis, jogins, cross-dressers e cismulheres. O efeminismo pode insinuar uma confederação, uma Internationale das muitas errâncias femininas. O errático, erótico, também aparece aqui: ninguém sabe. Toda scientia sexualis é cheia de terrae incognitae já que quanto mais se sabe, mais se erra. Frua, flutua, não permita que a experiência se conclua. É uma espiral de prazeres que surge dos saberes – e uma espiral de sublevações que surge dos poderes. Um alfabeto, dois alfabetos, muitas sopas de letrinhas nessa babella – LGBTTTMHIQJ... E no meio das letras tem um vão que inventa outros desejos e outros desejos. Erráticos, erótico.

O efeminismo tem um flerte com a diferença sexual. Babado forte. As diferenças são erogênicas. Eis um velho estandarte esquizotrans (já de antes do Breviário): que se deixem ir pelo ralo as identidades, mas que se agarrem as diferenças. A diferença sexual (e a fricção que sai das letrinhas nos alfabetos quando elas roçam) produz espirais de desejos novos. E mais, sublevação pode vir de toda parte – binarismo não é conformismo e nem antibinarismo é já transgressão. A diferença sexual é o começo do caminho – dar-lhe um saculejo de ombros não significa garantir que o caminho vai seguir pelas melhores veredas. Parodiando Irigaray, o desejo patriarcal que bate a estaca do sempre o mesmo, onde o desejo se repete a si mesmo em uníssono: hommesexuel est homosexuel. O desejo dissidente é altersexual, ele não se replica, ele passa por mutação, ele pare um desejo errado, errático, errante. Mas a diferença sexual é feita de borrões, de nódoas, de turbulências – não é a diferença dos corpos fixos (e supostamente abençoados pelo destino da anatomia). Pesa contra qualquer fala em diferença sexual o fantasma de Janice Raymond e sua transfobia desvairada supostamente feminista. Ela dizia: quem adentra o corpo das organizações de (cis-)mulheres é um violador... Porém há mais coisas entre o heteropatriarcado e a diferença sexual do que pensa o chauvinismo. Há erogênese. É do roçar dos diferentes que saem os desejos. Esquizotrans é deste roçado. Não se trata de masculinos e femininos fixos, se trata de compor, de trata de um mosaico. É a arte do mosaico – errática, errante – que é nutrida pela diferença sexual. Compor e errar, compor e deixar ao léu. Usar megalofones estriônicos para cada peculiaridade erótica. Não fantasiar os corpos de uniformes. Vestir a roupa errada – o hábito errado faz o monge errado. E faz ele errar, estar errante. A roupa errada do monge é a farda de Eros.




Esboço do texto da Pachamama Qualqueer no Tubo de Ensaio neste fim de semana

Olha pra Pachamama, cheira a Pachamama, roça na Pachamama.
Com suas mangas na estação e seu porrete de condão
A pachamama é onde cagas, onde cospes, teu chão.
Teus ossos, tuas fezes e tudo vê
É tua morada, teu sustento, teu remanso e teu lamento
O chão pare a árvore, pare a grama, pare o arbusto, pare a água, pare o passarinho, pare tu, pare a rã, pare com a rã, com tu, com o passarinho, pare o lagarto, para o pó, pare a montanha, pare teu desfiladeiro
O chão também tem direitos. Ele te segura pelo pé.
-----
Eu sou a deusa que roça em você, eu crio porque roço, eu sou a roça, eu te roço, vem roçar
Estou nos que se arrastam, nos que voam, nos que nadam, tudo roça em tudo. Não adianta você esconder tudo debaixo da tua pele, a tua pele roça.
Rã, cobra, jaguar, condor, onça, alpaca, teu precipício da latinidade no beco do Tihuantinsuyo
É o tempo de Challa, Challaco, ch´allay, ch´allakuy – alimentem o chão, joguem ao chão, nutram o chão. Agosto, é tempo de alimentar o chão.


Ecuador:
"La naturaleza o Pacha Mama, donde se reproduce y realiza la vida, tiene derecho a que se respete integralmente su existencia y el mantenimiento y regeneración de sus ciclos vitales, estructura, funciones y procesos evolutivos" artigo 71, constituição do Ecuador
NOSOTRAS Y NOSOTROS, el pueblo soberano del Ecuador
RECONOCIENDO nuestras raíces milenarias, forjadas por mujeres y hombres de distintos pueblos,
CELEBRANDO a la naturaleza, la Pacha Mama, de la que somos parte y que es vital para nuestra existencia,
sumak kawsay
Bolivia:
En tiempos inmemoriales se erigieron montañas, se desplazaron ríos, se formaron lagos. Nuestra amazonia, nuestro chaco, nuestro altiplano y nuestros llanos y valles se cubrieron de verdores y flores. Poblamos esta sagrada Madre Tierra con rostros diferentes, y comprendimos desde entonces la pluralidad vigente de todas las cosas y nuestra diversidad como seres y culturas.(...)
Cumpliendo el mandato de nuestros pueblos, con la fortaleza de nuestra Pachamama y gracias a Dios, refundamos Bolivia.
Abya Yala


A pachamama também vota
Onde está a urna?
Ela também é parte deste continente
É chão deste continente
Também tem sua opinião
A pachamama veio demandar sua parte, com seus decretos,com seus caprichos, com seus maltratos

A pachamama te sente, te mede. Como uma tsunami mede a vulnerabilidade das cidades, a lava mede a resistência dos prédios à liquefação, as ondas de calor te atravessam com raios ultravioletas. A pachamama tem muitas caras, tem muitos braços. Como teu chão. Chão de areia, chão de grama, chão de concreto, chão de esgoto. Não adianta te trancares sozinho nos quartos escuros que a Pachamama fica presa com você. Tem um braço dela em cada quadrante do mundo. Nos corpos pelados. Nas pátrias. Nos quartos de despejo. Nas veias abertas da América.
O antropoceno é edipiano. O medidor vira medida. A pachamama usa teus detritos para formar outro braço, outra camada de pó, ela te vira em pó.
O antropoceno também acaba.
O planeta te sente. Você é o neurônio da Pachamama.
Você é o voto da Pachamama.
Os organismos individuais não somente se adaptam ao ambiente fisico, mas, através da sua ação conjunta nos ecossistemas, também adaptam o ambiente geoquímico segundo as suas necessidades biológicas. Desta forma,as comunidades de organismos e seus ambientes de entrada e saída desenvolve-se em conjunto, como os ecossistemas. A química da atmosfera e o ambiente físico da terra são meu corpo. Meu corpo diferente de qualquer outro planeta.
Pachamama
Sou Gaia (James Lovelock). Ou sou Medeia (Peter Ward)?

sabato 25 agosto 2012

Canção do ver, 4 (Manuel de Barros)

Por forma que a nossa tarefa principal
era a de aumentar
o que não acontecia.
(Nós eramos um rebanho de guris.)
A gente era bem-dotado para aquele serviço
de aumentar o que não acontecia
A gente operava a domicílio e pra fora.
E aquele colega que tinha ganho um olhar
de pássaro
Era campeão de aumentar os desacontecimentos.]
Uma tarde ele falou pra nós que enxergara um
lagarto espichado na areia
a beber um copo de sol.
Apareceu um homem que era adepto da razão
e disse:
Lagarto não bebe sol no copo!
Isso é uma estultícia.
Ele falou de sério.
Ficamos instruídos.

(Ontem depois da longa greve retomamos levemente o curso Manuel de Barros com alguns Leminskis pertinentes. Próxima sessão no dia 14 de setembro.)

venerdì 10 agosto 2012

Manifesto Anarcimboldo

Deixem os fatos acumulados ficarem arcaicos
O passado tem mão única de marcha ré
Mas guarda seus futuros
Fresh fruits for rotten vegetables nas imagens humanas
de Giuseppe Arcimboldo, carcumidas por listerias:
homúnculos histéricos tresnoitados por datas históricas
abertas na Terra como bostas dos anjos desprorporcionais
e dos gaviões
que disparam contra o chão
andino, alpino, truncado pelo Atlas,
excerto de Mundus Imaginalis a cada excreção de pó desconfigurado.
Os fatos acumulados ficam arcaicos, crus, galopados a torso nu
as versões cozinham em banho-maria
todas torpes, todas são a inteligência artificial
do pane, da trombose, Segmentation Fault.
A cobra Dan, trazida pelo rio de Oyá até o esterco
pela vala comum da desistória de Things Fall Apart
e atravessam os poços da Shell com ou sem Exu
e atravanca.
O passado dos virus, o passado dos quarks, de Dan Oxumaré,
as tribos de vermes perdidas, anarco-otomanas,
diante da lupa do Dr. Caligari.
O futuro do passado e o passado do passado, descontado,
- Tudo aquilo que sobrou pelos bordados
e pelos gemidos, e pelos sufixos fonéticos
da diáspora das aves de rapina
que desenterram os vestígios
rasantes,
crápulas,
anarqueologicas,
tresnoitadas. Ou venceu o rei Odudua, o rei Nimrod, Lalibela?
Onde ficaram as maldições lançadas pela estrelaria?
Fez negra, Tanger negra, Málaga negra, Viena retinta -
a história parda?
Quem já viu ser, transportadora de bicho do pé?
Põe um chale branco no pregador,
sai em exílio - os desertores fazem o mundo dar voltas.
E aqueles descuidados que ouviram falar,
que fundem e confundem e difundem e afundam
os que vazam
as que escapam
as que sussuram
os que desconfiam
o verme de fundo de olho que pegou o guru Nanak no contrapelo
quando ele voltava para Amristar
por onde passou Equiano, acorrentado.
Quando se conta se desconta, o fundo é o lixo da figura,
no fundo do mar tem as correntezas abandonadas dos navegantes
no fundo do mar tem o fundo jogado fora
no fundo do mar tem um castelo que é de Dom Sebastião
(lá que é bom)
e os contrafatos róem o futuro que nunca é normal.
Já que morde o cachorro.








Off an ox?

Oxido o amargo corruptível aos berros
Oxum, sem o número do apartamento, banhada no rio,
severa.
Procuro alguma coisa oxítona que me abra sobre a terra
Com a minha voz chorada aparece um agogô de Oxossi
Os sambas da Portela cheios de miração
Puseram um abutre no meu galho
Uma presa
serva
inflamada
Oxalá ninguém ferisse de esperas
meu palavrão.
Seguro o boi na unha pelo chifre com cachaça preta,
a tinta das partidas.
Aquele dendê do ebó evaporou,
mas não há incorporação.

martedì 7 agosto 2012

14:53

alguma coisa não corre pela veia certa
corre pela veia habitual
arco-íris sem tempestade
o vendendor de bistecas me fala de futebol,
a bisteca não sai, eu nem quero a bisteca
como pedaços de pepino cortados e descascados
a descarga
não como o maxixe, mas é um dia miudinho
era preciso um vulcão para fazer lava da rotina enterrada
eu cavo os buracos
ainda que o copo do liquidificador seja frágil,
fiz nele um pesto com castanhas árduas e manjeiricão
ponho o garfo, a brisa comedida, o sol seco,
o maxixe, a bisteca, o futebol, deixo soltar a espuma
hic rhodus, hic saltus