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giovedì 30 aprile 2015

L'économie générale, mise en jeu et écriture (Derrida)

La mise en jeu, celle qui excède la maîtrise, est donc l'espace de l'ecriture.
[...]
Pourquoi le seul espace de l'ecriture?
La souveraineté est absolue lorsqu'elle s'absout de tout rapport et se tient dans la nuit du secret.
[...]
Tous les attributs attachés à la souveraineté sont empruntés à la logique [...]de la maîtrise.

Derrida, J. "De l'économie restreinte à l'économie générale - un hegelianisme sans réserve", in: L'écriture et la difference (Paris: Seuil, 1967), 391.

sabato 25 aprile 2015

Extensão 2 (ou: Todas Nós Pós-Carbônicas)

Axioma 1: Os mapas decepcionam as viagens.
Axioma 2: Os calendários enrugam os dias.
Axioma 3: Mortalidade é ficar esperando (quem sabe faz a hora não espera acontecer?)
Corolário: O avesso da morte é um composto.

Assim se resolve aquele problema de três vinténs acerca da vida e da morte, problema aberto desde Beckett e portanto desde sempre. Vale três vinténs:
Vivos e mortos - e atormentados mesmo que servis - ficam no mundo. Ninguém vai embora, ninguém veio embora. Ninguém vai além. Não é algures e nem nenhures. Só fingem que servem os armários (e os horários, e os calendários): tudo é vestígio.

venerdì 24 aprile 2015

Poema que explica suas asas com versos (em composição há anos)

(Para o Sarau do Coletivo de Poetas, hoje)

Eu escrevo para poder tocar sua mão sem tocar sua mão.
Eu escrevo porque é a mão da sua mão que me toca.
Eu escrevo para inventar um espaço com as palavras da violência.
Eu escrevo para que minha voz fique esperando sua hora de ser ouvida.
Eu escrevo para que não ter que me intrometer.

Eu escrevo porque as palavras respiram nos encontros.
Eu escrevo para que haja palavras entre nós.
Eu escrevo para expressar, apressar, confessar, arremessar.
Eu escrevo porque não sei construir outros túneis entre as nossas retinas.
Eu escrevo para que o que eu sinto não vire só gargalhadas.
Eu escrevo para segurar as horas, segurar os dias, segurar as pontas, segurar meu próprio braço.
Eu escrevo para que o que eu sinto não vire só lágrimas.

Eu escrevo porque uma palavra pode salvar o mundo (por um segundo).
Eu escrevo para denunciar as rimas e as métricas que vejo por toda parte.
Eu escrevo porque prefiro viver em um lugar incompreensível com poemas do que em um lugar incompreensível sem poemas.
Eu escrevo para tentar passar a mão no seu coração, mesmo sabendo que pode ser que encontre só pedras.
Eu escrevo para soprar um ar nos seus pensamentos, mesmo sem dizer nada.
Eu escrevo porque há papéis em branco.
Eu escrevo para ficar sem dizer nada sem ficar sem fazer nada.
Eu escrevo para que o que você possa ser muitos vocês, eu possa ser outros eus e nós possamos nos perder nesta multidão.
Eu escrevo para me ver livre, pronto, falei, agora vou escrever um verso para me ver livre deste alívio.

Eu escrevo para correr riscos em uma linha reta.
Eu escrevo para desperdiçar tinta, papel, seu tempo, ao invés de só desperdiçar oxigênio.
Eu escrevo porque cada verso pode valer mais do que todos os poemas.

Eu escrevo para você encontrar uma desculpa para escrever.

Eu escrevo para não fazer diferença. Faz diferença fazer diferença?
Eu escrevo porque minhas pupilas esbarraram nas Possibilidades da Wislawa Szymborska e no Umbigo do Nicolas Behr.
Eu escrevo para girar na órbita do umbigo das possibilidades.
Eu escrevo porque as palavras germinam quase sem adubo.

Eu escrevo para fazer você mostrar os dentes.
Eu escrevo porque é de tinta, se fosse de pistache eu comeria.
Eu escrevo porque assim me sinto pronto para te dar explicações se você pedir.
Eu escrevo porque se não escrevesse minhas mãos invejariam meus olhos e meus dedos invejariam meus dentes. Seria a guerra de todos os órgãos contra todos os órgãos.
Eu escrevo para você poder sentir o prazer de não ler.

Eu escrevo para colocar um marcador no meio desta tarde ensolarada.
Eu escrevo para parar de ficar contando quantos minutos se passaram sem escrever nada.
Eu escrevo para encher o mundo (e este papel) de entrelinhas. Se eu pudesse escrever entrelinhas faria só com elas o meu testamento.

Eu escrevo porque o planeta é pequeno demais para não ter versos
Eu escrevo para que você tenha cabimento.
Eu escrevo porque senão teria que viver abraçado a uma árvore, que nunca me olha.
Eu escrevo para que o tempo passe bem.
Eu escrevo para que alguma palavra conquiste a sua confiança e te faça companhia.

Eu escrevo para sentir o conforto de estar cercado de versos por todos os lados.
Eu escrevo para que as coisas recebam das palavras pelo menos um leve aperto de mão.
Eu escrevo porque as palavras me escapam por todos os poros.
Eu escrevo para reencontrar as palavras também aqui, mais tarde.
Eu escrevo para que não haja apenas moléculas de oxigênio entre nós.
Eu escrevo para poder conversar os assuntos encerrados.

Eu escrevo porque gosto das montanhas de livro na falta de montanhas de pedra.
Eu escrevo para que as maçãs passadas não fedam sem conseqüência.
Eu escrevo porque as palavras me puxam pela mão e eu não resisto à tentação.
Eu escrevo para tentar ser um motorista desatento conduzindo os sonhos que eu esqueci.
Eu escrevo porque não tenho armário para guardar todas as coisas.

Eu escrevo para que meus olhos não sejam a única testemunha.

martedì 14 aprile 2015

no banheiro do meu pai

um rosto prostrado no vidro
deitado no leito de leite
do mar
porque
o mar
é um pedaço de outrora esticado

grande sertão, de Vicente de Paulo Siqueira

diadorim
vai
no seu
caminhão
levando
carvão
de montes
claros
à zona
do aço