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venerdì 24 ottobre 2008

Arqueologia do Plástico - alguns textos

A exposição está no subsolo do Espaço Piloto, no Aquário das Cénicas,
UnB. Abriu hoje. Teve gelatina de
plastilídeos e muitas fotos que, quem sabe, ainda vão
parar no Buca L'Umbrello:

ARQUEOLOGIA
DO PLÀSTICO
giselcarricondewaleskareuterhilanbensusan
 
A civilização da Idade do Plástico, chamada de período polimeritico,
se extinguiu há muitos anos. Sobraram apenas escombros, restos
deste material de textura peculiar, quase no limite entre o que a mão
toca e o que a mão está prestes a tocar. Esta exposição traz um
pequeno fragmento, encontrado em escavações arqueológicas, do que
sobrou dessa Era assombrosa e ainda muito desconhecida – sabe-se
quase
apenas que as populações da Era do Plástico procuravam
plastificar
quase tudo que tocavam.
E tudo virou plástico...

A plastificação do mundoque começou pelas superfícies –
parece ter sido uma coqueluche se bem que tenha ocorrido
de forma gradual ao longo da Idade do Plástico. A
omnipresença do plástico pode ser comprovada nos textos
da época: escrevia-se muitas vezes que a imaginação era
plástica
, que a memória era plástica e mesmos os sentidos
eram plásticos. Tudo o que tinha aquela boa qualidade da
flexibilidade sem pudores era chamada de plástico. Mesmo as artes
visuais eram chamadas de plásticas.
Os profetas do plástico 
O belga Leo Beakeland, santificou a baquelita, primeiro plástico 
inteiramente
sobrenaturaltotalmente sintético.A baquelita era o
primeiro polímero que não precisava da natureza, apenas do élan vital
invisível
e multiforme que não deixava marcas em parte alguma fora do
lixo
. Beakeland – plastificado seja o seu nome – abriu caminho para
o nylon, para que as fibras sintéticas estivessem sempre coladas
ao corpo. A baquelita tornou possível um outro mundo, um mundo
dentro
do mundo, em que tudo é menos perecível, menos biológico.

De Smet – que grandes sacos plásticos guardem sua glória
desenvolveu uma geração de bactérias para produzir plástico. Elas
se tornaram plastificadoras biológicas permanentes e graças a elas
que
alguns textos chamam de Bicho-Pitanguy – as pessoas não mais
envelheciam, eram plastificadas. O plástico, se sabia desde a aurora
do polimerítico, no séc. XX, era a fonte da eterna juventude.
Religião no Polimerítico

Na Era do Plástico as pessoas não tocavam em quase nada sem
tocar
também no plástico. Esse material deu forma à sensibilidade
humana
na época. Acredita-se que havia superstições e crendices
associadas aos polímeros. Há quem defenda que a religião da época
girava em torno de totens desse material – é possível que
o plástico tenha sido um símbolo da modernidade dessas populações,
que consideravam o que não era plástico
primitivo
e antiquado.
Alguns textos parecem sugerir que havia algo como uma entidade
cultuada, e que recebia sacrifícios - um titã que tinha ouvidos nas
Arábias
, poros pelas estepes russas, furúnculos pelos mares e até
um ânus no Caribe. Era um titã exigente, pelo qual se faziam guerras
e se faziam pazes. As populações do polimerítico o denominavam
Petróleo
. Os templos do titã, onde as máquinas bebiam de sua água
benta, a Gasolina, se espalhavam por quase todo o planeta. O plástico,
o excremento do titã, ocupava cada vez mais os sentidos.
Promessas de imortalidade
O plástico possibilitava uma versão imortal de qualquer coisa – algo
que não vira , que não é comido pelos vermes. O Titã prometia a
imortalidade, não para as nossas almas, mas para utensílios, vasilhames,
engenhocas e enxertos. O plástico parecia uma nova natureza; tomava
conta dos mares, dos continentes, da fauna e da flora: o plástico tinha
uma vida útil curta e uma morte longa. Em média era utilizado por 12
minutos e sobreviviam por centenas de anos. Havia seis vezes mais
plástico
do que plânctons.
Perspectivas apocalípticas

Sabe-se também de apocalípticos como Norman Mailer que pregava:
nossa ruína será a plastificação das máquinas, dos utensílios, e dos
gestos. Muitas investigações historiográficas concentram-se em
comparar
suas predições com o que sabemos atualmente sobre o
desfecho da Era do Plástico. Encontramos em Mailer a denúncia de
sua época
: plastificar é raptar as coisas do alcance dos nossos sentidos
o plástico é uma bolha que não pode ser sentida ao redor de tudo.
Ou seja, a arma perfeita do diabo: amortece, anestesia, dopa, e faz dormir
os sentidos. O plástico é o inimigo do cheiro forte, do gosto marcado,
da impressão de que as coisas estão acontecendo – ele é o inverso
do arrebatamento. A Idade do Plástico é a idade dos sentidos sonâmbulos,
dos dedos zumbis, dos narizes descapacitados, das peles que se
tornaram artefatos funcionais que sentem o mundo como se estivessem
em uma linha de produção. Até onde as pessoas seriam capazes de ir
para recuperar a intensidade dos sentidos?

Alguns objetos
Cubo
Este objeto é a caixa preta da Idade do Plástico. Parece que desde os primórdios da Idade, Willys de Castro já antecipava esse modelito. Mas, o que era? Pura arte? Uma ratoeira para os pequenos animais plastificados? Peça de museu que servia de ratoeira depois que os visitantes saiam? Ratoeira que virou peça de museu?

Porta-trecos
A civilização hiperplástica abstraiu também seus artistas clássicos. Essa peça foi apelidada pelos arqueólogos de “duchamplástico”. Ela foi encontrada em uma enorme sala cheia de bidês e penicos – cobrindo tubulações de PVC – que, acredita-se, era um museu de arte.


Santuário
A religião da Era do Plástico parecia cultuar qualquer objeto, animal ou espírito feito de plástico. Este santuário, encontrado dentro de um enorme saco plástico preto boiando no Pacífico, parece ter sido objeto de adoração nômade, em que muitos pequenos animais eram levados de continente em continente.

Lanche
Esta peça foi encontrada próximo a uma cadeia de lanchonetes que funcionava como os antigos sistemas de drive-tru. Acredita-se que este bolo plástico ia com suas próprias rodas em direção ao freguês que se alimentava sem sair de onde estava. Seguramente, o tamanho da porção se deve a que a matéria plástica alimenta muito pouco.

Órgãos
Nos corpos encontrados de pessoas da Era do Plástico tardia (séculos XXI-XXIII) – também chamada de civilização hiperplástica - encontraram-se órgãos plásticos em excelente estado de preservação – entre eles cérebros e corações. O que eram os órgãos das populações polimeríticas? Alguns deles pareciam ser pouco mais do que itens de guarda-roupa.

Mão
Acredita-se que essa era a mão que uma artista plástica usava para esculpir em resina ou silicone reproduções da sua própria mão. Artistas polimeríticas usavam diferentes mãos, diferentes peles, diferentes pontas dos dedos – trocavam de demão como se troca de avental.

Tótem
As cadeiras dos bares, dos refeitórios, dos jardins de infância eram puro plástico. Elas não duravam muito. Esta peça, escavada ao lado do que se acredita ser uma creche polimerítica bem pode ser um totem ou um simples entulho. A arqueologia do polimerítico raramente consegue saber o que, no meio dos montes de plásticos, é mais do que lixo.

Busto com pássaro
Na Idade do Plástico as pessoas e os animais se misturaram. O plástico não conhece limites entre espécies, gêneros, reinos ou filos. Ele transborda, faz bolhas, fica abstrato. Quando as células, os tecidos, as veias e as articulações são de silicone, resina ou borracha sintética, quem se importa com as vicissitudes da taxonomia animal?

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