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domenica 12 agosto 2018

Na Tihuana da sanidade (um antigo texto de performance)

Na tihuana da sanidade

Quase.
No espaço entre os pensamentos­­ – o buraco escuro e lento
Entre os cinco mil sentidos, os 6 bilhões de mal-entendidos
Dê-me um verso de apoio
E moverei um poema até levá-lo ao abismo
Ou até a beira dos teus lábios
Me perseguem os braços flácidos e apodrecidos dos sábios
Persigo com os dentes a lucidez
das garras de lúcifer
pelas ruas escuras de dentro de mim.
Milhas de medo, calçadas de insensatez, nada me detém
Quero ser mais um napoleão sem império
Em vez de homem sério sem direção.
Não ligo mais para as nascentes de onde brotam minhas fúrias
Que elas me asfixiem.
Sinto só o desejo, feito a pauladas, de reinventar tudo.

Reinventar a composição química da terra, reinventar meus olhos.
Sinto a vontade de abrir a mão, de abrir a mão de todas as minhas esperas.
Abrir mão da saliva, do muco, do suor, da lama, da remela, da poeira, da água estagnada.
Da gordura.

O homem mais feio do mundo
olha cansado os fundamentos de tantos impedimentos
e cata torrões de sal.
O homem mais frio do mundo
olha cansado as intenções de tantas humilhações
e cata torrões de sal.
O homem mais frívolo do mundo
olha cansado a contradança de tanta desconfiança
e cata torrões de sal.
O sal no chão é como a poeira no céu.
O mel sabe a sal; meu eu sabe que é só; o que é meu sabe que é pó.

Fico confuso com as batidas do meu coração,
envolto de sal. Esparramo minhas sêdes sem sede
Atropeladas pela velocidade
Enjauladas e sem possibilidades
Meu continente parafuso-solto
Na Tihuana da sanidade
O lado colorido e obscuro da minha América
Meu continente encabulado de ansiedade
Meu continente por um triz.
Meu continente na fronteira
Terra batida, marretada
Alma dilapidada, seduzida
Meus olhos cobiçam a insensatez
Que se acabe de uma vez minha terra arrasada
Meus pés querem o avesso da conquista:
Um continente levantado do chão.
Minha cabeça pensa com a inveja de quem me anexou.

Quero estar com esta pedra, como estou com o meu coração.
Mas a cada passo a frente fica mais difícil voltar atrás.

Veio o mal
E calçou perfeitamente em mim
Como uma perversa lucidez

Meus olhos viram como se desata
O rancor
Preso em todas as coisas. Tudo
Se retorce
Como a boca das gentes
Se vão a colher da minha mesa, minha mesa, minha casa,
as ruas, a cidade, minha pátria
E eu fico só,
cada dia, perto dos porcos, abraçado
a esta pedra / que não ama

Por isto eu choro e me contorço diante de ti. Dá-me
Do teu infinito ar de saúde,
Cura-me
Mas não totalmente
Deixa-me um fio do cabelo do demônio no olhar
O mundo
Merece suspeita
Sempre.

Minha insanidade imperfeita
Minha destemperança incompleta
Meu descontrole limitado
Minha loucura desconfiada
Ergo olhos para o céu––olhos que a terra come.

Não te machuque a minha ausência, meu Deus
Quando eu não mais estiver na terra
Onde agora canto amor e heresia
Outros hão ferir e amar
Seu coração e corpo. Tuas bifrontes
Valias. Mandarim e ovelha. Soberba e timidez.

Não temas
Meus pares e outros homens
Te farão viver destas duas voragens
Matança e amanhecer, sangue e poesia

Chora por mim, pela poeira que fui
Serei, e sou agora. Pelo esquecimento
Que virá de ti e dos amigos
Pelas palavras que te deram vida
E hoje me dão morte. Punhal, cegueira.

Sorria, meu Deus, por mim. De cedro
De mil abelhas tu és. Cavalo-d´água
Rondando o ego. Sorri. Te amei sonâmbula
Esdrúxula, mas te amei inteira.

E é difícil te amar inteira
É sempre mais difícil ancorar um navio no espaço
Exatamente meu peito está superlotado.