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domenica 21 ottobre 2012

This Be the Verse (Larkin)

Starting up a project on guilt. This is (again?) to inspire:

This Be the Verse
By Philip Larkin
They fuck you up, your mum and dad.
They may not mean to, but they do.
They fill you with the faults they had
And add some extra, just for you.

But they were fucked up in their turn
By fools in old-style hats and coats,
Who half the time were soppy-stern
And half at one another’s throats.

Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don’t have any kids yourself.

venerdì 19 ottobre 2012

Pacífico Sul pronto



Já chegando às livrarias.
Lançamento em Brasília (Café com Letras, dia 1 de novembro), em São Paulo (7 de novembro).

Trecho (lá pela página 70 do livro, em minhas mãos agora):
O marido de Verônica teve muitas partes do seu corpo examinadas. O dermatólogo examinou longamente a pele da sua boca e do rabo dos seus olhos – concluiu que ambas estavam apenas levemente alteradas seguramente por estarem em contato com palavras quando acostumadas com coisas e vice-versa. A bioquímica colhera mostras de sua saliva e de suas lágrimas (produzidas com reagentes químicos e não com tristezas) e fora examinar ao lado. Ao paciente incomodava um pouco que a jovem pesquisadora da verdade não pudesse ser vista, em seu lugar ele persistentemente lia “descobridora de propriedades químicas das frases” o que era bastante perturbador, sobretudo quando ela começou a lhe fazer umas perguntas sobre se já lhe escapara pela boca algum evento quando ele não conseguia pronunciar frases.
- Nunca, ele respondeu, mesmo sem poder olhar a cara de quem perguntava, eu me engasgo com palavras, nunca com frases. Também nunca me aparecem frases inteiras nos meus olhos. Minhas esculturas não tem relação com as verdades ou as mentiras, são apenas aquilo que me passa pela cabeça; coisas e não o que elas fazem.
Ela examinava as miniaturas com bastante atenção; o que para o marido de Verônica era uma cena bastante estranha de ser vista: uma enorme descrição de uma pessoa manipulando objetos miniaturas de outras descrições. Era um retrato rápido dos sintomas que o afetavam; ele contou a Verônica que, ali, diante dos seus olhos, era uma descrição que segurava pessoas, cabeças e frontes. Ele se empenhava em descrever como lhe apareciam as letras segurando suas esculturas até que, depois de várias horas falando sem interrupções, engasgou. Toda a equipe médica presente no consultório naquele momento olhou fixamente para o paciente, a espera de ver um flagrante de sintoma. Foi dos demorados, mais de um minuto em contorsões labiais e com as bochechas inchadas acompanhadas de bruscos movimentos na garganta como se muita coisa estivesse passando por ali. O marido de Verônica se sentia como um artista observado no momento da composição, e seus olhos já não estavam nem cheios de susto e nem de surpresa, mas tinha uma face de quem se permitia orgulho de si mesmo. Ele mesmo tirou da sua boca uma miniatura de um conjunto de letras segurando sua própria cabeça. Não era uma imagem particularmente bonita; outras miniaturas tinham parecido ao autor mais belas, resolvidas – talvez feitas quando seu estado de humor estivesse mais tranqüilo. Porém toda a equipe se entusiasmou e queria examinar a peca o mais depressa possível. Em seguida levaram também esta escultura para o laboratório adjacente onde alguns membros da equipe tentavam determinar que tipo de neurônio era aquele que servia tão adequadamente as esculturas semânticas. A equipe já havia determinado que os neurônios eram tingidos por tintas de neurotransmissores que, de alguma maneira, adquiriam uma variedade de matizes que impressionava pela acuidade – deve ter alguma coisa que ver com a função transmissora destas substancias. No laboratório se debruçaram logo sobre a miniatura que acabava se sair; queriam determinar se havia traços das sinapses recentes pelos neurônios. Cada membro da equipe trabalhava com uma plêiade de hipóteses na cabeça; muito poucas eram dignas de serem mesmo formuladas e ainda menos eram discutidas com os demais.
Logo depois de expelir a miniatura da jovem pesquisadora em forma de letras, o marido de Verônica parou de vê-la com palavras. Isto chamou muito a atenção de Cynthia que, pela primeira vez, observava um sintoma que conectava os dois sintomas. Talvez, ela conjeturou com a rapidez que a curiosidade pelo caso lhe emprestara, a hipersemiose dos olhos – assim ela chamava por vezes a infestação de símbolos que acontecia na retina do seu paciente – fosse descarregada fazendo a língua sofrer de uma hiposemiose que fazia com que faltassem símbolos para exprimir, dentro da boca, o que o cérebro queria soltar. Era como se ela tivesse a opinião de que os símbolos saíram da língua e infectaram as pupilas e agora faziam as coisas, que deviam entrar no cérebro pelos olhos, escorregarem ate a boca. Cynthia chamou a equipe toda para contar o que alguns haviam presenciado e a maioria aparentou alguma surpresa; achavam que talvez um sintoma estivesse lentamente curando o outro. O marido de Verônica, a esta altura, não gostava que lhe falassem muito de cura – se acostumara a sua condição e apenas gostaria de entender mais como seus olhos e sua boca tinham ficado tão confundidas.
Depois de muitas horas de exames, perguntas e observações, ao cair da noite todos se reuniram para a tal ressonância. O marido de Verônica ficou muito tempo fazendo o exame – queriam ressonar seu cérebro em algum momento em que ele visse o que se lê ou fizesse o que se fala. Conseguiram que ele lesse uma barra de metal e que produzisse uma escultura bastante verossímil – segundo o depoimento de Verônica – de sua avó. (Havia um consenso entre os cientistas do cérebro de que era a avó que eles deviam pedir para o paciente tentar descrever com detalhes e por bastante tempo.) Os resultados do exame, disponíveis apenas tarde da noite, revelaram surpreendentemente pouco: o cérebro apresentava todas as características normais e não havia nenhum sinal de rotação. Apenas um exame detalhado e baseado em um algumas teorias relativamente pouco aceitas e controversas mesmo entre os médicos da equipe revelou uma anomalia: os neurônios que supostamente representavam junto ao cérebro as palavras ocasionalmente se comportavam de uma maneira anormal e que se assemelhava ao comportamento dos neurônios que, também supostamente, representavam junto ao cérebro as coisas. Esta pequena e discutível anomalia explicava muitas coisas, segundo os que acreditavam nas teorias que tornavam possível o exame, e, para alguns, era o único fragmento de explicação que eles dispunham. É claro que eles iam continuar investigando e que novos resultados estariam disponíveis em alguns dias – Cynthia manteria o paciente informado de qualquer nova suspeita e em breve teriam que encontra-lo outras vezes para exames complementares.

Disturbios nas Classes, a adaptação de Harold Pinter

Eis que, em homenagem à Flor de Insensatez, publico aqui (de novo?) os distúrbios nas
classes que performávamos nos idos dos tempos idos...

Distúrbios nas classes
(Adaptação livre de Troubles in the Works de Harold Pinter)




Na secretaria da escola, a gerente, Sra Fibra está em sua escrivaninha. Bate a porta e vai entrando o bedéu Avontades.

Fibra: Ah, Avontades, entre, entre, por favor. Sente-se.
Avontades: Obrigado, obrigado, sra Fibra.
Fibra: Recebeu minha mensagem?
Avontades: Recebi, recebi, acabo de recebe-la...
Fibra: Bom, bom, aceita um café?
Avontades: Não, obrigado, sra Fibra, hoje não...
Fibra: Bem, eu escutei dizer que há uns distúrbios nas classes...
Avontades: É, é, eu acho que se pode chamar assim...
Fibra: Bem, agora, pelos céus, sobre o que é esta coisa toda?
Avontades: Bem, eu não sei exatamente como eu posso descrever, sra Fibra...
Fibra: Ora, Avontades, eu preciso saber o que é antes de poder fazer alguma coisa a respeito.
Avontades: Bem, é simplesmente uma questão de que as crianças, bem, elas parecem que... ficaram contra as salas de aula...
Fibra: Ficaram contra?
Avontades: É, parece que elas não gostam mais tanto das... salas de aula.
Fibra: Não gostam? Mas nós temos as melhores carteiras da cidade, e temos também os melhores quadros negros, os melhores professores, os melhores gizes... os melhores apagadores! E a escola? Temos a melhor cantina, o melhor pátio, uma piscina... e as crianças estão insatisfeitas?
Avontades: Bem, as crianças estão gratas pela cantina, pela piscina, pela disciplina [pigarro]... pelo giz, pelo apagador, mas simplesmente elas não gostam mais das salas de aula...
Fibra: Mas as salas são lindas, eu estou neste negócio por toda a minha vida e nunca vi salas mais lindas!
Avontades: São lindas mesmo, sra!
Fibra: Mas quais são as salas que elas não gostam?
Avontades: Bem, por exemplo, a sala de instrução de boas maneiras à mesa com aqueles guardanapos de pano com espetos nas costas...
Fibra: Minha sala de instruções de boas maneiras à mesa? Qual é o problema com ela?
Avontades: Acho que as crianças simplesmente não gostam mais dela.
Fibra: Mas o que exatamente elas não gostam na sala?
Avontades: Ah, acho que talvez seja... a decoração...
Fibra: Mas aquela sala é perfeita!
Avontades: Elas simplesmente não acham...
Fibra: Estou estupefata!
Avontades: E não é só esta sala, por exemplo, a sala de ensinar as meninas a parecerem desprotegidas com a coleção de sapatos de salto alto da Victor Hugo...
Fibra: A sala de ensinar as meninas a parecerem desprotegidas com a coleção de sapatos de salto alto da Victor Hugo! Isto é absurdo, aquela sala é a perfeição, é linda!
Avontades: Sim, sra!
Fibra: Onde elas podem encontrar uma sala de ensinar meninas a parecerem desprotegidas melhor que esta?
Avontades: Sra Fibra, há salas e há salas...
Fibra: Sim, Avontades, há salas e há salas, mas onde há uma sala de ensinar meninas a parecerem desprotegidas melhor que esta?
Avontades: As crianças simplesmente não querem ter mais nada com a sala.
Fibra: Alucinante. O que mais? O que mais, Avontades, não tem sentido esconder nada de mim, a esta altura!
Avontades: Bem, elas fazem muita cara feia para a sala de ensinar os meninos a não chorar que já vem com carteiras que dão 50V de choque para cada lágrima derramada...
Fibra: A sala de ensinar os meninos a não chorar que já vem com carteiras que dão 50V de choque para cada lágrima derramada! Isto é absolutamente ridículo! O que elas podem ter contra a sala de ensinar os meninos a não chorar que já vem com carteiras que dão 50V de choque para cada lágrima derramada?
Avontades: As crianças estão em uma forte agitação contra a sala, sra! E a sala de ensinar a olhar sempre para a autoridade que fala não importa o que ela fale que está equipada com gás paralisante também anda bastante impopular...
Fibra: O que?
Avontades: E tem a sala de ensinar a sentar e ficar quieto e calado com a tal palmatória automática gigante que para todos os alunos que ousarem fazer um passo de d-d-d-ança...
Fibra: Como assim? Elas não gostam mais da nossa sofisticadíssima sala de ensinar a sentar e ficar quieto e calado com a tal palmatória automática gigante que para todos os alunos que ousarem fazer um passo de d-d-d-ança? Isto não faz sentido!
Avontades: Elas não gostam tanto...
Fibra: Mas é uma sala adorável, aconchegante...
Avontades: Elas parecem ter um horror a aconchegante sala de ensinar a sentar e ficar quieto e calado com a tal palmatória automática gigante que para todos os alunos que ousarem fazer um passo de d-d-d-ança.
Fibra: Estou estupefata! Nunca vi isto! Não me diga também agora que elas não gostam da nossa sala importada de ensinar a jamais tocar no cabelo dos colegas da frente, de trás e de ambos os lados que já vem com cabelos eletrificados para auxiliar o ensino?
Avontades: Elas odeiam e detestam esta sala importada de ensinar a jamais tocar no cabelo dos colegas da frente, de trás e de ambos os lados que já vem com cabelos eletrificados para auxiliar o ensino.
Fibra: Mesmo com os cabelos eletrificados levemente coloridos?
Avontades: E sem os cabelos eletrificados levemente coloridos.
Fibra: Sem os cabelos eletrificados levemente coloridos?
Avontades: E com os cabelos eletrificados levemente coloridos.
Fibra: Não com os cabelos eletrificados levemente coloridos?
Avontades: E sem os cabelos eletrificados levemente coloridos.
Fibra: Sem os cabelos eletrificados levemente coloridos?
Avontades: Sem os cabelos eletrificados levemente coloridos e com os cabelos eletrificados levemente coloridos.
Fibra: Sem os cabelos eletrificados levemente coloridos e com os cabelos eletrificados levemente coloridos?
Avontades: Sem e com!
Fibra: Mas, vejam vocês [pausa] É uma coisa que eu não consigo entender... Mas diga-me, Avontades, onde elas gostariam de estudar se elas não gostam mais de nossas salas de aula?
Avontades: Em barquinhos, no mar.





Manifesto pela Ballecketteira


Ballet é o corpo. Beckett é a alma. Balleckett é a condição humana com os cotovelos e joelhos em movimento. Somos todas inacabadas; somos todas nem começadas – nos tornamos todas beckettescas. Ballet é a alma. Beckett é a virilha. O ponto de partida de muitas felicidades humanas é uma conversa. O ponto de partida da conversa é uma substância beckettesca que existe em cada gengiva, em cada clavícula e em cada calcanhar. Ballet é calcanhar. Entre o plágio e a referência existem apenas três pétalas de diferença. Vamos condenar a alguns anos de trabalhos forçados estas pétalas que tremem. Nunca temos coragem de copiar assinando o próprio nome. Nós, balleckettentes, trememos mais que as pétalas, somos varas verdes. Não assinamos o próprio nome em parte alguma. Assinamos o nome dos outros. Vamos condenar a alguns anos de trabalho forçado estas pernas que tremem: trabalho forçado pela construção de um mundo que seja 97% feito de água, fogo, terra, ar e aquela coisa macia com a qual se fazem entrelinhas dos textos de Beckett. Por isto nos juntamos pelos pores do sol, exigimos a abolição do capitalismo às 8 da noite de amanhã, instauramos o inferno do caos para substituir o inferno da ordem e ficamos a cada dia mais convencidas das seguintes noções:
1.A falta de dinheiro é um mal. Mas pode se tornar um bem.
2.A falta de falta de dinheiro é um mal. Mas pode se tornar um bem também.
3.Aquilo que já foi perdido, já foi perdido.
4.Não temos tempo para besteiras, temos alguns minutos para becketteiras.
5.Existem duas necessidades impostas pelas forças da existência: a necessidade que temos e a necessidade que temos de ter necessidade.
6.A intuição nos faz fazer bem umas loucuras.
7.Que podemos dizer da vida que nunca foi dito? Muitas coisas. Por exemplo, que ela nem sempre é um gomo solitário de mixirica madura.
Se nós fossemos bailacketterinas confundiríamos todos os princípios com os meios e esqueceríamos os fins. Assim como somos, tenham paciência. Nossos joelhos são nossos cotovelos, nossas rugas são nossas pernas, nossas cópias piratas de palavras de Beckett são nossas sapatilhas de ponta. Não queremos nada a não ser sacudir todos os átomos que sustentam a sensatez estabelecida. Não queremos nada a não ser explodir todas as células dos pensamentos prontos. Não queremos culpar a razão por nada, mas ela vai ter que se comportar por que nós não vamos nos comportar por ela: dançamos a suspeita vaga e indolente de que não tem sentido ter sentido. Improvisem provisoriamente: não adiem para o momento certo – o momento certo é o memento errado – queiram. Deixem para as estrelas as luzes apagadas e pelas as formigas pisem com a ponta dos umbigos. Improvisem tudo. Corpo é alma. Ballett é Beckett. Soltem estes grilhões coreografados. Ninguém nunca fez mais do que bailar becketts disfarçados. Arranquem os disfarces, saiam do chão com um plié, um eleve, um camier, um mercier.
Queremos os gestos puros ao invés dos gestos ratos, apinhados de ninharias. Queremos os gestos desordenados, despedaçados, despreparados, desmiolados, desintegrados, dissimulados, desconectados e, de preferência, desabitados. Não há limite para a improvisação, nem nas mãos, nem a coluna dorsal te conta que deves calar os pássaros e escutar a voz do noticiário na televisão. Não preste atenção – finja. Não finja – finja que finges. Queremos os gestos que não caberiam em nenhuma pista de dança, em nenhum palco de dança, em nenhuma dança. Queremos dançar os gestos que jogamos fora – só porque eles não prestam para nada.