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sabato 30 aprile 2016

esses dias

Via Camille Desmoulins:
"Il n’y a pas un moment à perdre. J’arrive de l'Explanada. Mme. Dilma est en train d'être renvoyée ; ce renvoi est le tocsin d’une Saint Barthélémy des ouvriers, des périphéries, des patriotes. Ce soir même, tous les bataillons de Temer et Cunha seront la pour nous égorger. Il ne nous reste qu’une ressource, c’est de courir aux armes et de prendre des cocardes pour nous reconnaître".

venerdì 22 aprile 2016

Trechos de uma Haggadah da Hospitalidade

Em um trecho do início do último livro de Jabès, "O Livro da Hospitalidade", de 1991, ele fala sobre o conflito na palestina em uma tonalidade que me interessa. Ele começa dizendo que anti-semitismo hoje signiica: acreditar que os judeus de todo mundo devem defender israel aconteça o que acontecer. E ele prossegue: o que significa dizer "aconteça o que acontecer"? Esta expressão mesma pauta toda a sua relação com Israel (e isso no início dos ano 90) e com respeito a tudo o que ocorre e que beira o intolerável. E ele se posiciona através de uma inquietude e de uma convicção: jamais uma ferida vai curar uma ferida. E ele adiciona: sei que esta palavra é frágil e que não se apoia senão sobre ela mesma. E seguem duas vozes, como as duas vozes judaicas dos encontros do Klein e do Gross Jude de Paul Celan:
Subscrever, em princípio, a política do governo do momento no estado hebreu não é reduzir, a cada vez, a imagem do país à política do momento?
E se eu penso, no meu foro íntimo, que esta política é detestável, perigosa, nefasta para este mesmo estado, devo me calar?
Me calar em nome do que?
Me calar seria de uma certa maneira aprovar, coadunar, pelo meu silêncio, com aquilo que me agride e me revolta; com o que, além do mais, é o que eu denuncio e condeno alhures.
E seria uma traição.
Uma palavra solitária não diz, em princípio, da solidão na qual ela se debate.
Mas se esta palavra é aquela que salva, palavra íntima de dor e de razão, palavra de apelo? Este apelo, privado de ecos, se ajunta àquele dos militantes lúcidos, agrupados em torno de duas palavras solares: Justiça e Paz.
Duas palavras, dependentes uma da outra, como dois batentes de uma mesma porta. Possam Israelenses e Palestinos, juntos, abrir largamente essa porta para deixar entrar o dia.
Simplifique o discurso
Limite-se ao essencial
A força é ilusão perigosa. Esquecer isso é recusar-se a olhar a realidade de frente.
A que realidade faço alusão? Àquela que dilacera um país sem esperança mas que para sobreviver precisa continuar a ter esperança.
[…]
A chance de todo diálogo está no diálogo mesmo.

giovedì 14 aprile 2016

Duas mortes (um rascunho para um ato)

A permanência de certos conflitos no mundo são testemunha de como nos colocam para viver - e para o que está antes da vida, depois da vida, ao lado da vida e fora da vida. Não por algo mais uniforme do que uma transversalidade, não por causa de alguma condição geral que tem exemplos por toda parte, e exemplos bons (ou seja, protótipos, exemplos ideais) em algumas partes. Não pela uniformidade, talvez pelo sintoma.
Assim é com o conflito entre os Israelenses - que começaram como filhos dos judeus, reconhecidos no ocidente, e que lembravam de sua Terra sem terra - e os Palestinos - que começaram surgidos do limbo da inexistência, desconhecidos fora do oriente, e que ficavam pela terra sem Terra. Um conflito sobre como se ocupar na vida - ou seja, um conflito político, o que quer dizer sobre o emprego do tempo. Ou antes, sobre a vida regrada pelas instituições e protocolos e a violência atrás de um muro, ou atrás das câmeras, ou atrás da rotina.
Mas também um conflito sobre o que morre, como morre e não somente quem morre - o que fica fora da vida. Há a morte médica, a morte que é consequência das contingências dos órgãos dos corpos, um desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). E há a morte do suicida que explode em Dizengoff. A segunda morte é a morte de alguém, algo como o fim de um ser-para-a-morte, algo como um ente que se expressa, que se faz se desfazendo.
Tenho o medo de que se eu explodir alguma instituição ignóbil - mesmo que eu morra - as mortes causadas não vão mais ser do segundo tipo, vão ser do primeiro. Ou seja, as pessoas não vão morrer, vão simplesmente desaparecer (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado). A morte física de uma personagem política é médica, mesmo se ela for assassinada. Vão dizer: "vítima de um ensandecimento, vítima de uma violência nociva, vítima de uma vontade torta" como quem diz "vítima de um aneurisma, vítima de um câncer, vítima de uma embolia". Ninguém mais pode ser agente de uma morte, nem o assassino de seu corpo assassinado, nem o suicida de seu corpo suicidado, nem o doente terminal de seu corpo terminal. O homem que ateou fogo ao próprio corpo na frente do palácio presidencial foi levado para o hospital. Talvez curado. Medicalizado.
Leminski estava certo: antigamente é que se morria, agora sim a vida é crônica.
Ou seja, não vão deixar que a morte seja política. Há a medicina como um aparador de arestas entre o protocolo institucional e a pura violência.
Há os fatos do mundo - os fatos médicos, por exemplo. E há uma crença de que são os fatos que vão nos redimir. Um Fatismo. Pesquisas fatistas, tratados fatistas, natureza apresentada como um caso de fatismo. Mas a grama cresce entre os fatos.
É uma vontade de heroísmo? De heroísmo proscrito porque a morte não pode ser mais nossa? É uma vontade de mudar as cláusulas do contrato, ao invés de só poder sair dele. Diante do rompimento do contrato social (pelas invasões, pelas propinas, pelas chacinas, pelos genocídios), só há uma coisa a fazer, voltar ao estado de natureza? Querer outra morte é querer que se possa sair do contrato social por algum meio que não seja o do desaparecimento (a palavra de Heidegger sobre quem foi para a câmara de gás e não morreu, apenas foi matado).

martedì 12 aprile 2016

A polarização

Sempre tive vergonha de estar em um país que houve 1964. É certo que há vergonhas por toda parte, que a história dos vencedores é uma história de usurpações mais ou menos disfarçadas. 1964 foi das menos disfarçadas. O disfarce as vezes, é certo, é parte da crueldade. Nesse caso, ele foi rude e modesto como um cobertor curto, mas bastante cruel. 1964 foi uma usurpação, em nome de poucos, e o disfarce não era muito mais do que um apelo à ordem. É certo que o fascismo venceu e não sobrou muito mais a ser feito - mas sobrou alguma coisa. O suficiente para passarmos décadas nos convencendo de que 1964 havia passado. A cada virada de março para abril, um arrepio. E agora, tantos anos depois, isso. O arrepio todo dia. 1964 não acabou.

E tem a forma de uma polarização. Uma polarização que é magnética, convoca forças mesmo as que já nem pareciam feitas de metal. Estou polarizado. O que torna toda polarização difícil de ser exorcizada é que quem está em um pólo não consegue conceber outro. Há um slogan, inspirado na fala do Lula, que diz: este não será o país do ódio. E, eu penso, é melhor que este não seja o país odiável. Não concebo o outro pólo, não posso conceber. Odiável é um país que interrompa um governo decepcionante para atender aos apelos das corporações do petróleo. E sim, atender às corporações, e deixar gente miserável tem um nome: 1964. Eu suponho que 1964 também era um tempo de polarizações. Entre aqueles que queriam ordem - e era a igreja, os bons costumes, os zeladores das propriedades - e aqueles que preferiam que não houvesse 1964. Como hoje há aqueles que querem ordem - e chamam quem desvia de uma restrita taxonomia sexual de produtos de uma ideologia, os bons costumes, os zeladores das propriedades que pensam que o dinheiro dos bancos importa mais do que a distribuição de verba para a subsistência. Eu simplesmente não posso conceber o odiável defendido - ainda que tenha que conceber o odiável acontecido, acontecido quotidianamente em um país que parece um enorme museu que celebra o fascismo dos usurpadores de 1964.

Não consigo pensar fora da polarização. Mas dentro dela, há universos inteiros - negligenciados por uma estratégia de unificação rápida, ou por uma estratégia de unificação dialogada. Já a polarização não comporta universos. A polarização não é só de pontos de vista políticos - como isso pudesse ser separado das maneiras de viver que eu aprecio, das que eu adoto e das que eu abomino. A polarização não é só o alambrado na explanada que a torna arquibancada de torcidas onde o palco é mais uma vez os tais três poderes instituídos e tornados em estátuas - afinal de contas, os três poderes são um só, o deles. A polarização não é só moral, mas é moral. É certo, a luta de classes é moral.

Trata-se de uma indignação. Como podem os que estão do outro lado do cercado, ou dentro da câmara dos deputados votando pela destituição de um governo e da subsequente entrega do poder aos abutres que são mais abutres que todos os abutres (os abutres comezinhos, já que nem sequer são abutres) serem pensados senão como aqueles que amam incondicionalmente seu rico dinheirinho e querem ordem para protegê-lo e progresso para construir rodovias de alta precisão para sua corrida pelas batatas? Ou seja, eles são impensáveis. E estão ali, do outro lado da cerca, não apenas como inimigos, mas como perigosas ameaças. Talvez seja uma cegueira - talvez os outros mereçam alguma espécie de diálogo que eu não sei fazer. Talvez estejamos todos fora do caminho. Obcecados, ou mesmo manipulados. A indignação mereceria, neste caso, ser dissolvida, decomposta, desarmada. E no entanto eu não poderia colocar os dois pólos no mesmo pólo - eles são como os círculos polares da Terra, vistos de longe podem ser semelhantes, mas quem consegue vê-los de longe?

Tento dar um passo atrás. Claro, a polarização ela mesma interessa a alguns - o clima re-1964 interessa também. O próprio governo se beneficia disso para colocar uma multidão (ainda que ou demasiadamente amorfa ou demasiadamente organizada) a seu lado na rua. Ele se torna de esquerda pelas palavras mágicas "não vai ter golpe". Portanto, para que polarizar? Não deveríamos antes nos agrupar para fazer uma okupa no plenário da câmara e lutar pela democracia inventando uma e não gritando por uma formalidade de baixíssima intensidade? (Ou quem acha que uma assembléia presidida por quem tem negócios escusos na África que se não for negócio de lavagem de dinheiro é negócio de racismo econômico pode ser uma instância defensora de algum status quo que mereça ser defendido?) Não deveríamos estar todos do lado de fora talvez ateando fogo no próprio corpo em frente a um palácio presidencial para mostrar a inflamabilidade da carne de toda essa disputa que vai terminar de qualquer jeito beneficiando algum setor do capitalismo polimorfo? Não seria melhor inaugurar outra assembléia, outra praça de outros poderes que tivesse um pouco mais do que só um, dois ou três deles? Todas estas alternativas me atraem muito. Chega de ser refém da sinuca de bico que os governos de esquerda colocam seus simpatizantes: ou o mais ou menos (já que o ótimo é inimigo do bom) ou a catástrofe da direita (que geralmente é bem mais catastrófica do que os próprios governos mais à esquerda querem fazer acreditar). Seria bom romper com isso e gritar que a polarização já é um golpe.

Porém, não posso. Sinto os cheiro dos abutres comezinhos que não são abutres. Parece que é cheiro de petróleo, e é cheiro plastificado na forma de cartões de crédito - dinheiro que perde o cheiro. Tanto melhor se pudermos inventar alguma democracia para defender, mas enquanto isso estou na polarização, no medo, já que 1964 não acabou, já começou e ensinou que a democracia de baixa intensidade pode ser seguida de uma ditadura do de alta intensidade - ainda que as instituições (quem pode ainda olhar só para elas?) permaneçam as mesmas. Não consigo arredar o pé deste lado da polarização. Acho que só saio daqui quando esta praça não tiver mais nenhum poder - quando a geografia for outra. Enquanto isso, finco o pé no pólo mais justo.